Frente Negra Brasileira: diferenças entre revisões

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==História==
 
A Frente fundada em 16 de setembro de 1931,<ref name="onu">[http://www.onu.org.br/frente-negra-brasileira-comemora-80-anos/ Frente Negra Brasileira comemora 80 anos], Onu Brasil</ref> tendo sido reconhecida como partido político em 1936, vigendo até o [[Estado Novo (Brasil)|golpe de 1937]]. Após Getúlio Vargas declarar o fim dos partidos e agremiações políticas e das eleições livres em novembro de 1937, a FNB foi declarada ilegal e dissolvida, sobrevivendo sob o nome União Negra Brasileira até maio de 1938<ref>[http://www.blackpast.org/gah/frente-negra-brasileira-1931-1938#sthash.yPI6bven.dpuf Frente Negra Brasileira (1931-1938)] por Martins, Ana Nina em "BlackPast" (2007)</ref>. Em alguns municípios, como em [[Cássia (Minas Gerais)|Cássia]], no [[Minas Gerais|Sul de Minas]], a Frente converteu-se em sociedade recreativa e passou a se chamar Sociedade Negra Princesa Isabel para contornar a repressão, porém mesmo tomando essas medidas, foi fechada em março de 1938.<ref>[http://www.em.com.br/app/noticia/politica/2013/09/01/interna_politica,442856/frente-negra-brasileira-tem-ideais-sufocados.shtml Frente Negra Brasileira tem ideais sufocados] por Alessandra Mello publicado pelo jornal "Estado de Minas" (2013)</ref>
A Frente surgiu como decorrência da efervescência que se manifestava na comunidade negra no início do século XX. Em vários pontos do Brasil foram sendo fundados clubes e associações que procuravam fortalecer os laços da comunidade através de atividades sociais, recreativas e educativas. Era claro neste período que apesar dos negros terem obtido a libertação da escravatura em 1888, o racismo e a discriminação ainda eram onipresentes e a conquista da cidadania plena ainda estava por ser construída. Diversos jornais também vinham sendo fundados, divulgado debates e temas de interesse para os negros, ao mesmo tempo em que eram abertas escolas para melhorar sua educação. Nesta primeira fase procurava-se a integração na sociedade sem questionar profundamente sua estrutura discriminatória, sendo consideradas prioritárias a ênfase no trabalho e o aprimoramento da educação, da moral e da disciplina, como meio do negro ganhar respeitabilidade entre os brancos e habilitá-lo para a vida profissional. Até 1930 mais de 80 associações e clubes negros funcionaram na cidade de São Paulo, sem entretanto fomentarem o desenvolvimento uma consciência política forte, e tampouco as organizações de base e os partidos políticos brancos levavam em conta as demandas da população negra. Essa situação começou a mudar com a fundação do jornal [[O Clarim da Alvorada]] em 1924 e do [[Centro Cívico Palmares]] em 1926, que colocaram a política no centro dos debates.<ref name="Domingues">Domingues, Petrônio. [https://www.scielo.br/j/rbedu/a/hqBHpKJHNtbrVMgJb3Fpv9M/?lang=pt "Um 'templo de luz': Frente Negra Brasileira (1931-1937) e a questão da educação"]. In: ''Revista Brasileira de Educação'', 2008; 13 (39) </ref>
 
Em vista do abandono ao qual os negros estavam relegados pelo sistema político e social vigente, um grupo de negros fundou em 16 de setembro de 1931 a Frente Negra Brasileira. De início funcionando precariamente em um escritório no Palacete Santa Helena, em vista do rápido crescimento no número de associados, a sede foi transferida para um grande casarão na Rua Liberdade, possibilitando a expansão das suas atividades. Contava com espaços administrativos, salas para reuniões, biblioteca, um salão de beleza, barbeiro, bar, local para jogos, um salão de festas, um grupo teatral, um grupo musical, gabinete dentário, um posto de alistamento eleitoral, espaços para cursos profissionalizantes e uma escola.<ref name="Domingues"/>
 
Seus fundadores foram Alberto Orlando, Francisco da Costa Santos, David Soares, Horácio Arruda, Vitor de Sousa, João Francisco de
Araújo, Alfredo Eugênio da Silva, Oscar de Barros Leite, Roque Antonio dos Santos, Gervásio de Morais, Cantídio Alexandre, José Benedito Ferraz, Leopoldo de Oliveira, Jorge Rafael, Constantino Nóbrega, Lindolfo Claudino, Ari Cananéa da Silva, Messias Marques do
Nascimento, [[Raul Joviano do Amaral]] e Justiniano Costa.<ref name="Malatian"/> Logo aderiram outros membros, entre eles [[Arlindo Veiga dos Santos]], [[José Correia Leite]], Salathiel Campos, [[Isaltino Veiga dos Santos]], [[Jayme de Aguiar]] e [[Abdias do Nascimento]].<ref name="Malatian"/>
 
Seu primeiro presidente foi Arlindo Veiga dos Santos, que exonerou-se em 1934, sendo sucedido por Justiniano Costa. A administração era rigidamente hierarquizada e centralizada em torno da Presidência, da Secretaria e do Grande Conselho.<ref name="Domingues"/><ref name="Malatian"/> A grande maioria dos seus membros vinha das classes baixas, enquanto os cargos na administração geralmente eram entregues a membros da elite negra, que dispunham de um preparo intelectual mais sólido e uma situação econômica relativamente confortável. Foi estruturada em diversos departamentos: Jurídico-Social, Médico, Imprensa, Propaganda, Dramático, Musical, Esportivo e Instrução, e lançou um jornal próprio, ''A Voz da Raça''.<ref name="Domingues"/>
 
Tinha entre seus objetivos lutar pelos direitos sociais e políticos dos negros, buscar sua elevação moral, intelectual, artística, técnica, profissional e física, e dar assistência social, jurídica, econômica e trabalhista.<ref name="Malatian">Malatian, Teresa. [https://www.snh2017.anpuh.org/resources/anais/54/1502054947_ARQUIVO_MALATIAN_ANPUH2017.pdf "Memória e contra-memória da Frente Negra Brasileira"]. In: ''XXIX Simpósio Nacional de História da ANPUH''. Brasília, 2017</ref> Além de manter um programa de debates semanais sobre temas cívicos e políticos, a FNB tinha entre suas prioridades a educação, desenvolvendo uma postura crítica em relação à falta de diretrizes públicas educacionais para a população negra.<ref name="Domingues"/> Politicamente a Frente tendia a defender um projeto nacionalista, de viés autoritário e contrário à [[democracia]],<ref name="Domingues"/> aproximando-se do [[patrianovismo]], do [[integralismo]], do [[fascismo]] e do [[nazismo]], mas essas correntes não era uma unanimidade dentro da organização, sendo com efeito uma frente ideológica ampla e heterogênea, havendo muitos membros partidários da esquerda, o que mais tarde produziria uma cisão interna.<ref name="Malatian"/><ref name="Desafios"/> Também havia a penetração de uma significativa influência de irmandades católicas.<ref name="Malatian"/>
 
Para algumas das principais lideranças da frente, em particular Arlindo Veiga dos Santos, a "elevação" e integração do negro passam primeiro pela sua educação e modernização e pelo cumprimento de seus deveres cívicos, articulando um projeto não apenas antirracista, mas acima de tudo civilizatório. Os meios autoritários e disciplinadores imaginados pelas lideranças para alcançar esses objetivos eram prática comum e marcante em todas as correntes políticas da época, mas ainda é obscuro até que ponto essa ideologia era abraçada pela massa dos associados ou se era apenas produto dos dirigentes. Segundo Rodrigo de Almeida, "a doutrina de Veiga e dos estatutos da FNB são assim, de algum modo, condicionados pela doutrina maior dos anos 1930, que é o autoritarismo como instrumento de construção do moderno. [...] Mais importante do que o reconhecimento das raízes históricas e culturais do povo preto, era sua incorporação na ordem brasileira moderna".<ref>Almeida, Rodrigo Estramanho de. [https://revistas.pucsp.br/index.php/pontoevirgula/article/view/51984 "Notas para reflexão sobre a doutrina política da Frente Negra Brasileira (1931-1937)"]. In: ''Ponto & Vírgula'', 2020 (26)</ref> Para Silva & Toledo, "a perspectiva frentenegrina e sua atuação não foram de ruptura, pelo contrário, foram de aproximação e de certa forma, de sujeição e aceitação de padrões impostos pela moderna sociedade industrial e burguesa. Sua postura era de contestação, mas sua proposta era de assimilação".<ref>Silva, Antônio Carlos da & Toledo, Maria José Acedo Del Olmo. [http://www.inicepg.univap.br/cd/INIC_2013/anais/arquivos/RE_1081_1053_01.pdf "Frente Negra Brasileira: uma proposta emancipadora na perspectiva do negro"]. In: ''XVII INIC / XIII EPG / III INID''. UNIVAP, 2013 </ref> Em sua luta pelos direitos dos negros, acabava por utilizar argumentos discriminadores contra a própria comunidade, entendendo que a massa dos negros ainda não era civilizada, e para emancipar-se precisava abandonar hábitos negativos e depreciativos, como o alcoolismo e a ociosidade, e adotar valores que eram atribuídos aos brancos bem sucedidos. Em muitos artigos do ''Voz da Raça'' se fazia menção a diferenças entre os negros. Aqueles que não adotassem os valores positivos apregoados eram considerados inimigos da raça e do movimento. Como disse Hildeberto Martins, "seguir certo padrão (moral) de conduta era o caminho viável para que isso [a integração] acontecesse, e por isso não beber tanto, alisar o cabelo, seguir a doutrina cristã e estar devidamente trajado seriam exemplos da aceitação e inserção nesse processo civilizatório, calcado nos moldes de um padrão social esperado e desejável (burguês e branco)".<ref>Martins, Hildeberto Vieira. [http://pepsic.bvsalud.org/pdf/epp/v18nspe/v18nspea19.pdf "Outros personagens entraram em cena: o movimento negro e a emergência de uma política racializada"]. In: ''Estudos e Pesquisas em Psicologia'', 2018; 18 (4): 1393-1414</ref> Um artigo de Isaltino Veiga dos Santos no jornal da entidade e dirigido "aos negros de boa vontade", dizia:
 
::"[...] ou o negro brasileiro se define de uma vez por todas como gente séria, de caráter, nobre, morigerada, capaz de sacrifícios pela coletividade, capaz de compreender as grandes causas que sacodem a Pátria Brasileira e a humanidade toda, — ou deve ser varrido e aniquilado como gente perniciosa, incapaz de compreensão, incapaz de se premunir contra exploradores imorais, contra pescadores de águas turvas, contra os inimigos do próprio Negro e da Nacionalidade".<ref>''Apud'' Martins, op. cit.</ref>
 
Apesar das divergências ideológicas internas, a Frente conquistou respeito dentro da comunidade negra, na sociedade paulista e até mesmo entre a polícia,<ref name="Desafios">[https://www.ipea.gov.br/desafios/index.php?option=com_content&view=article&id=1233:reportagens-materias&Itemid=39 "O ideal libertário da Frente Negra - Movimento virou partido político e queria o poder"]. In: ''Desafios do Desenvolvimento — Revista de Informações e debates do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada'', 2009; 6 (51) </ref> expandindo-se para diversos estados e reunindo mais de 25 mil membros espalhados em várias filiais.
 
AÀ Frentemedida fundadaque ema 16FNB defoi setembroadquirindo demaior 1931,<refrepresentatividade name="onu">[http://www.onu.org.br/frente-negra-brasileira-comemora-80-anos/no Frentecenário Negranacional, Brasileirasurgiu comemoraa 80ideia anos],de Onutransformá-la Brasil</ref>em tendopartido sidopolítico, sendo reconhecida como partido políticotal em 1936, vigendofuncionando até o [[Estado Novo (Brasil)|golpe de 1937]]. Após Getúlio Vargas declarar o fim dos partidos e agremiações políticas e das eleições livres em novembro de 1937, a FNB foi declarada ilegal e dissolvida, sobrevivendo sob o nome União Negra Brasileira até maio de 1938.<ref>[http://www.blackpast.org/gah/frente-negra-brasileira-1931-1938#sthash.yPI6bven.dpuf Frente Negra Brasileira (1931-1938)] por Martins, Ana Nina em "BlackPast" (2007)</ref>. Em alguns municípios, como em [[Cássia (Minas Gerais)|Cássia]], no [[Minas Gerais|Sul de Minas]], a Frente converteu-se em sociedade recreativa e passou a se chamar Sociedade Negra Princesa Isabel para contornar a repressão, porém mesmo tomando essas medidas, foi fechada em março de 1938.<ref>[http://www.em.com.br/app/noticia/politica/2013/09/01/interna_politica,442856/frente-negra-brasileira-tem-ideais-sufocados.shtml Frente Negra Brasileira tem ideais sufocados] por Alessandra Mello publicado pelo jornal "Estado de Minas" (2013)</ref>
 
A FNB possuía sede em São Paulo, e dezenas de cidades possuíam filiais ou grupos homônimos criados com inspiração na FNB, incluindo nos estados de Minas Gerais, Espírito Santo, Bahia, Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul, e Pernambuco.<ref>{{citar periódico |url=https://www.scielo.br/j/tem/a/yCLBRQ5s6VTN6ngRXQy4Hqn/abstract/?lang=pt |titulo=Movimento negro brasileiro: alguns apontamentos históricos |acessodata=19 de junho de 2021 |jornal=EdUFF |publicado=Universidade Federal Fluminense |ultimo=Domingues |primeiro=Petrônio |ano=2006}}</ref> Os membros da FNB eram chamados frentenegrinos.<ref>{{citar periódico |url=https://hdl.handle.net/10923/3830 |titulo=A formação de oásis: dos movimentos frentenegrinos ao primeiro congresso nacional do negro em Porto Alegre-RS (1931-1958) |acessodata=19 de junho de 2021 |publicado=Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul |ultimo=Arlinson dos Santos |primeiro=Gomes |ano=2008}}</ref>
 
Um dos principais difusores das ideias e propostas da Frente Negra Brasileira (FNB) foi o jornal ''A Voz da Raça'', criado em 18 de março de 1933, por Fernando Costa<ref>{{Citar web|titulo=A Voz da Raça - A voz da população negra excluída pós-abolição|url=http://www.palmares.gov.br/?p=53622|obra=Fundação Cultural Palmares|acessodata=2020-07-09|lingua=pt-BR|primeiro=Walisson|ultimo=Braga}}</ref>, que contou com a colaboração de inúmeros intelectuais ao longo dos anos, dentre eles, [[Plínio Salgado]]<ref>{{Citar jornal|titulo=A Voz da Raça|número=38|url=http://memoria.bn.br/pdf/845027/per845027_1934_00038.pdf|publicado=Hemeroteca Digital Brasileira|data=26 de maio de 1934|acessodata=2021-06-19}}</ref>.
Seus principais fundadores foram [[Arlindo Veiga dos Santos]], [[José Correia Leite]], [[Isaltino Veiga dos Santos]], [[Gervásio de Moraes]], [[Jayme de Aguiar]], [[Raul Joviano do Amaral]], [[Abdias do Nascimento]] e Justiniano Costa, que foi presidente da segunda diretoria e na gestão do qual ela torna-se um partido político e é fechada por [[Getúlio Vargas]] em 1937, entre outros.{{Carece de fontes|data=junho de 2021}}
 
Nas palavras de Abdias do Nascimento:
Um dos principais difusores das ideias e propostas da Frente Negra Brasileira (FNB) foi o jornal A Voz da Raça, criado em 18 de março de 1933, por Fernando Costa<ref>{{Citar web|titulo=A Voz da Raça - A voz da população negra excluída pós-abolição|url=http://www.palmares.gov.br/?p=53622|obra=Fundação Cultural Palmares|acessodata=2020-07-09|lingua=pt-BR|primeiro=Walisson|ultimo=Braga}}</ref>, que contou com a colaboração de inúmeros intelectuais ao longo dos anos, dentre eles, [[Plínio Salgado]]<ref>{{Citar jornal|titulo=A Voz da Raça|número=38|url=http://memoria.bn.br/pdf/845027/per845027_1934_00038.pdf|publicado=Hemeroteca Digital Brasileira|data=26 de maio de 1934|acessodata=2021-06-19}}</ref>.
 
{{Quote|texto=::"Alguns dos dirigentes da FNB desde a década de vinte se esforçavam tentando articular um movimento. Houve, assim, um projeto de reunir o Congresso da Mocidade Negra, em 1928, em São Paulo, o que não chegou a se concretizar. (...) As pessoas e as ideias já vinham de antes, mas foi no início dos anos trinta que o movimento se institucionalizou na forma da Frente Negra Brasileira. (...) Como movimento de massas, foi a mais importante organização que os negros lograram após a abolição da escravatura em 1888.
Nas palavras de Abdias do Nascimento:<ref name=":0">{{citar livro|url=http://www.dhnet.org.br/verdade/resistencia/livro_memorias_1_exilio.pdf|título=Memórias do Exílio, Brasil 1964-19??|ultimo=|primeiro=|editora=Editora e Livraria Livramento Ltda|local=São Paulo, SP|páginas=27-28|acessodata=14-10-2017}}</ref>
 
{{Quote|texto=Alguns dos dirigentes da FNB desde a década de vinte se esforçavam tentando articular um movimento. Houve, assim, um projeto de reunir o Congresso da Mocidade Negra, em 1928, em São Paulo, o que não chegou a se concretizar. (...) As pessoas e as ideias já vinham de antes, mas foi no início dos anos trinta que o movimento se institucionalizou na forma da Frente Negra Brasileira. (...) Como movimento de massas, foi a mais importante organização que os negros lograram após a abolição da escravatura em 1888.
::"A Frente fazia protestos contra a discriminação racial e de cor em lugares públicos... sob a perspectiva de integrar os negros na sociedade nacional. Dessa forma combatia a FNB os hotéis, bares, barbeiros, clubes, guarda-civil, departamentos de polícia, etc. que vetavam a entrada ao negro, o que lembrava muito o movimento pelos direitos civis dos negros norte-americanos. Uma perspectiva que eu hoje critico. Minhas lembranças não são muito seguras, mas acho que o movimento ia além das reivindicações citadas. (...) Apesar da barreira da língua, da pobreza dos meios de comunicação, a FNB permanecia alerta a todos os gestos emancipacionistas acontecidos em outros países. Foi uma vanguarda com o objetivo de preparar o negro para assumir uma posição política e econômica na representação do povo brasileiro ao Congresso Nacional".<ref name=":0">{{citar livro|autorurl=http://www.dhnet.org.br/verdade/resistencia/livro_memorias_1_exilio.pdf|fontetítulo=Memórias do Exílio, Brasil 1964-19??|ultimo=|primeiro=|editora=Editora e Livraria Livramento Ltda|local=São Paulo, SP|páginas=27-28|acessodata=14-10-2017}}</ref>
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A Frente fazia protestos contra a discriminação racial e de cor em lugares públicos... sob a perspectiva de integrar os negros na sociedade nacional. Dessa forma combatia a FNB os hotéis, bares, barbeiros, clubes, guarda-civil, departamentos de polícia, etc. que vetavam a entrada ao negro, o que lembrava muito o movimento pelos direitos civis dos negros norte-americanos. Uma perspectiva que eu hoje critico. Minhas lembranças não são muito seguras, mas acho que o movimento ia além das reivindicações citadas. (...) Apesar da barreira da língua, da pobreza dos meios de comunicação, a FNB permanecia alerta a todos os gestos emancipacionistas acontecidos em outros países. Foi uma vanguarda com o objetivo de preparar o negro para assumir uma posição política e econômica na representação do povo brasileiro ao Congresso Nacional.|autor=|fonte=}}
 
Para Abdias, o fracionamento da FNB se deveu à polarização política das lideranças do movimento. Enquanto [[Arlindo Veiga dos Santos]], que atuava em [[São Paulo]], liderava o [[Patrianovismo|Movimento Patrianovista]], movimento nacionalista, tradicionalista, católico e monarquista alinhado à [[Ação Integralista Brasileira]] e recrutava membros que em sua predominância eram funcionários públicos, empregados domésticos e trabalhadores do setor de serviços, José Correia Leite, que atuava em [[Santos]], se filiava ao pensamento socialista e recrutava membros que eram predominantemente trabalhadores do [[Porto de Santos]].<ref name=":0" /> Correia Leite, junto com José de Assis Barbosa e outros ativistas, acabou fundando em São Paulo em 1932 o [[Clube Negro de Cultura Social]] como uma oposição à Frente.<ref>Michelette, Pâmela Torres. [http://www2.assis.unesp.br/cedap/cat_imprensa_negra/biografias/jose_correia_leite.html "Imprensa Negra: José Correia Leite"]. Faculdade de Ciências e Letras da Universidade Estadual Paulista, 2008 </ref>
 
Apesar dessas divergências, a FNB ampliou constantemente sua quantidade de participantes e sua influência na política nos meados da década de 1930.<ref>{{citar livro|título=Novo História: conceitos e procedimentos 9|ultimo=Dreguer|primeiro=Ricardo|ultimo2=Toledo|primeiro2=Eliete|editora=Saraiva|ano=2012|local=São Paulo}}</ref> Alguns de seus membros depois fundaram a [[Associação dos Negros Brasileiros]] em 1943.<ref>Silva, Mário Augusto Medeiros da. "Fazer História, Fazer Sentido: Associação Cultural do Negro (1954-1964)". In: ''Lua Nova: Revista de Cultura e Política'', 2012 (85)</ref>
 
A posição ideológica direitista e ultranacionalista da Frente ainda provoca controvérsias na comunidade negra e entre os acadêmicos. Para Márcio Barbosa, "a Frente teve de lidar com diversas contradições. Seu primeiro Presidente, Arlindo Veiga dos Santos, era patrianovista, isto é, monarquista, e, embora sempre afirmasse que essa sua posição não interferia em seu papel como frentenegrino, as maiores críticas à Frente e muitas das cisões que surgem derivam dessa postura e da linha autoritária que a diretoria teria imprimido à Frente, com a formação, por exemplo, de uma milícia".<ref>Barbosa, Márcio. [https://fpabramo.org.br/2011/11/10/frente-negra-brasileira-gestando-um-projeto-politico-para-o-brasil/ "Frente Negra Brasileira: Gestando um projeto político para o Brasil"]. Fundação Perseu Abramo, 10/11/2011 </ref> Na análise de André de Oliveira,
 
::"Para os estudiosos da Frente Negra Brasileira, a combinação do fascismo e da luta do negro contra o racismo é resultado de inexperiência política, de determinação histórica, de importações sem sentido ou pode ser vista como esdrúxula. Dada a importância histórica da FNB, seu fascismo incomoda os grupos anti-racistas atuais, seja por pertencerem a tendências de esquerda e democráticas, seja, pela lembrança do genocídio perpetrado pelos regimes fascistas. [...] Não há dúvidas que a FNB utilizou o imaginário totalitário de caráter fascista e eugênico. Estas idéias circulavam com enorme aceitação nas primeiras décadas do século XX. Mas, perde-se muito da 'Gente Negra Nacional' se a estudarmos como apenas uma construção sintonizada com o imaginário da época. Tentar justificar o fascismo ou relegá-lo a um segundo plano frente às conquistas frentenegrinas, pode por a perder a riqueza da complexa teia de articulações organizada para fundamentar a 'Gente Negra Nacional'."<ref>Oliveira, André Cortes de. [http://repositorio.unicamp.br/jspui/handle/REPOSIP/281498 ''Quem é a "Gente Negra Nacional"?: Frente Negra brasileira e A Voz da Raça (1933-1937)'']. Mestrado. Universidade Estadual de Campinas, 2005, pp. 28-29; 113-114</ref>
Alguns de seus membros depois fundaram a [[Associação dos Negros Brasileiros]] em 1943.<ref>Silva, Mário Augusto Medeiros da. "Fazer História, Fazer Sentido: Associação Cultural do Negro (1954-1964)". In: ''Lua Nova: Revista de Cultura e Política'', 2012 (85)</ref>
 
==Ver também==