Movimento negro no Brasil: diferenças entre revisões

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O negro tem conquistado um pouco mais de espaço na grande imprensa como repórteres, apresentadores e formadores de opinião; propagandas e peças publicitárias adotam o negro como personagem central; as redes sociais se tornaram importantes espaços de debate e reivindicação sobre questões variadas e de denúncia de casos de racismo e discriminação; tendências de moda, estética e comportamento são influenciadas pela cultura negra; muitas universidades mantêm núcleos de estudos especializados, fundando-se em 2000 a Associação Brasileira de Pesquisadores Negros; mais de setenta instituições públicas de nível superior instituíram [[Ação afirmativa|ações afirmativas]] voltadas para negros e quilombolas.<ref>Gomes, Nilma Lino. [https://www.contemporanea.ufscar.br/index.php/contemporanea/article/view/35 "Movimento negro, saberes e a tensão regulação-emancipação do corpo e da corporeidade negra"]. In: ''Contemporânea - Revista de Sociologia da UFSCar'', 2011; 1 (2) </ref> Seminários, encontros, conferências, plenárias, fóruns e outros eventos também se multiplicam.<ref name="Joana Célia"/>
 
A própria militância tem adquirido novos contornos no século XXI, com um declínio da participação nos grupos e associações que requerem filiação formal e crescimento rápido dos grupos e coletivos informais e organizações não-governamentais, pluralizando e especializando as reivindicações e trazendo para o debate uma série de outras questões por causa dos seus reflexos na população negra, como o [[feminismo]], [[machismo]], [[sexismo]], [[homofobia]] e outras,<ref>Santos, Marcio André de Oliveira dos. [https://cienciahoje.org.br/artigo/novos-rumos-do-movimento-negro/ "Novos rumos do movimento negro"]. ''Ciência Hoje'', 05/04/2019 </ref><ref name="Roncolato">Roncolato, Murilo. [https://www.nexojornal.com.br/especial/2015/11/24/A-caminhada-do-movimento-negro-no-Brasil "A caminhada do movimento negro no Brasil"]. ''Nexo Jornal'', 24/11/2015</ref> e conquistando importantes avanços em educação, saúde, assistência e inclusão.<ref name="Afro Latinas"/> Hoje o movimento está organizado em todos os estados brasileiros, com características que refletem as especificidades locais, atuando nas mais diversas áreas, como educação, saúde, mercado de trabalho, direitos humanos, gênero, comunicação, quilombos, religiosidade, juventude, relações internacionais e outras, desenvolvendo estratégias diversificadas nas lutas pela inclusão social e combate ao racismo. Segundo Passos & Nogueira, o movimento negro tem sido um importante elemento na democratização da sociedade brasileira contemporânea.<ref name="Joana Célia">Passos, Joana Célia dos & Nogueira, João Carlos. [https://periodicos.ufsc.br/index.php/politica/article/view/2175-7984.2014v13n28p105 "Movimento negro, ação política e as transformações sociais no Brasil contemporâneo"]. In: ''Política & Sociedade'', 2014; 13 (28)</ref>
 
==Legado ==
[[File:Movimento Negro.jpg|thumb|Manifestação pela igualdade racial.]]
 
O movimento negro no Brasil enfrenta uma série de dificuldades para uma atuação mais plena, incluindo dissidências internas nos campos ideológico e operacional, partidarização dos debates, articulação incompleta entre os grupos, escassez de meios materiais e oposição de importantes setores da sociedade,<ref name="Vieira"/> mas tem sido reconhecido como um agente importante na resistência ao [[conservadorismo]],<ref>Bueno, Winnie & Borges, Pedro.[https://brasil.elpais.com/brasil/2019/05/09/opinion/1557407124_160570.html "Movimento negro na linha de frente do combate ao pacote anticrime de Moro"]. ''El País'', 10/05/2019</ref> no combate ao racismo e à discriminação, na conquista de direitos, na recuperação da memória, na valorização de tradições e conhecimentos característicos da cultura negra, e na promoção de uma leitura crítica da história, propondo ao mesmo tempo a construção de uma sociedade mais justa e igualitária. Recebe o apoio de muitos estudiosos e intelectuais, está conquistando expressivo peso político e um espaço crescente nas mídias, tem promovido um sem-número de projetos culturais e educativos, e é objeto de uma grande quantidade de estudos especializados.<ref name="Vieira">Vieira, Flávia. [https://www.revistas2.uepg.br/index.php/sociais/article/view/7533 "Resistência e luta dos movimentos negros no Brasil: da rebeldia anônima na sociedade escravocrata ao enfrentamento político na sociedade de classes"]. In: ''Publicatio — UEPG'', 2015; 23 (2)</ref><ref>Gomes, Nilma Lino. "O movimento negro no Brasil: ausências, emergências e a produção dos saberes". In: ''Política & Sociedade'', 2011; 10 (18)</ref><ref name="Afro Latinas">Silva, Daniela Fernanda Gomes da. [https://periodicos.uff.br/pragmatizes/article/view/10349/7186 "Vozes Afro Latinas – A omissão da esquerda e a insurgência do movimento negro"]. In: ''pragMATIZES - Revista Latino Americana de Estudos em Cultura'', 2012; 2 (3)</ref> Segundo Lilian Gomes, "o Movimento Negro ensinou, ao longo da história, à população brasileira e suas elites, a necessidade de mudanças político-institucionais e de seus parâmetros [[epistemologia|epistemológicos]] e [[colonialismo|colonizados]], processo esse ainda repleto de fortes confrontos a serem enfrentados".<ref name="Lilian">Gomes, Lilian Cristina Bernardo. "O Movimento Negro Educador". In: ''Sapere aude'', 2018; 9 (17):341-347</ref> Segundo Passos & Nogueira, o movimento negro tem sido um importante elemento na democratização da sociedade brasileira contemporânea.<ref name="Joana Célia"/> Para Nilma Gomes,
 
::"No caso do Brasil, o movimento negro ressignifica e politiza afirmativamente a ideia de raça, entendendo-a como potência de emancipação e não como uma regulação conservadora; explicita como ela opera na construção de identidades étnico-raciais. Ao ressignificar a raça, o movimento negro indaga a própria história do Brasil e da população negra em nosso país, constrói novos enunciados e instrumentos teóricos, ideológicos, políticos e analíticos para explicar como o racismo brasileiro opera não somente na estrutura do Estado, mas também na vida cotidiana das suas próprias vítimas. Além disso, dá outra visibilidade à questão étnico-racial, interpretando-a como trunfo e não como empecilho para a construção de uma sociedade mais democrática, onde todos, reconhecidos na sua diferença, sejam tratados igualmente como sujeitos de direitos. Ao politizar a raça, esse movimento social desvela a sua construção no contexto das relações de poder, rompendo com visões distorcidas, negativas e naturalizadas sobre os negros, sua história, cultura, práticas e conhecimentos; retira a população negra do lugar da suposta inferioridade racial pregada pelo racismo e interpreta afirmativamente a raça como construção social; coloca em xeque o mito da [[democracia racial no Brasil|democracia racial]]".<ref>Gomes, Nilma Lino. [https://www.scielo.br/pdf/es/v33n120/05 "Movimento negro e educação: ressignificando e politizando a raça"]. In: ''Educação & Sociedade'', 2012; 33 (120): 727-744</ref>