Assassinato de Júlio César: diferenças entre revisões

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Conspiradores notáveis incluíam [[Pacúvio Antíscio Labeo|Pacúvio Labeo]], que respondeu afirmativamente em 2 de março, quando Bruto perguntou-lhe se era sábio um homem colocar-se em perigo se isso significasse vencer homens maus ou tolos;{{Sfn|Dando-Collins|2010|p=42–43}} [[Décimo Júnio Bruto Albino|Décimo Bruto]], que se juntou em 7 de março após ser abordado por Labeo e Cássio;{{Sfn|Dando-Collins|2010|p=46}} [[Caio Trebônio]],{{Sfn|Dando-Collins|2010|p=48–49}} [[Lúcio Tílio Cimbro]], [[Lúcio Minúcio Básilo]], e os irmãos Casca ([[Públio Servílio Casca|Públio]] e outro cujo nome é desconhecido), todos homens das próprias fileiras de César;{{Sfn|Dando-Collins|2010|p=71}} e [[Pôncio Aquila]], que havia sido humilhado pessoalmente por César.{{Sfn|Dando-Collins|2010|p=43}} De acordo com [[Nicolau de Damasco]], os conspiradores incluíam soldados, oficiais e associados civis de César e, enquanto alguns se juntaram à conspiração devido a preocupações com o autoritarismo de César, muitos outros tinham motivos de interesse próprio, como ciúme: o sentimento de que César não havia recompensado eles o suficiente ou que ele havia dado muito dinheiro para os antigos apoiadores de [[Pompeu]].{{Sfn|Strauss|2015|p=88}} Os conspiradores não se encontraram abertamente, mas secretamente reunidos nas casas uns dos outros e em pequenos grupos para elaborar um plano.{{Sfn|Strauss|2015|p=97}}
[[imagem:Jean-Léon Gérôme - The Death of Caesar - Walters 37884.jpg|thumb|Resultado do ataque com o corpo de César abandonado em primeiro plano, ''[[The Death of Caesar (Gérôme)|La Mort de César]]'' de [[Jean-Léon Gérôme]], c. 1859-1867]]
 
Primeiro, os conspiradores discutiram a adição de dois outros homens à conspiração. [[Cícero]], o famoso orador, era da confiança de Cássio e Bruto, e não fazia segredo de que considerava o governo de César opressor. Ele também tinha grande popularidade entre as pessoas comuns e uma grande rede de amigos, o que ajudava a atrair outros para sua causa.{{Sfn|Dando-Collins|2010|p=26}} No entanto, os conspiradores consideraram Cícero muito cauteloso; naquela época, Cícero tinha mais de sessenta anos e os conspiradores pensaram que ele provavelmente colocaria a segurança acima da velocidade ao planejar o assassinato.{{Sfn|Strauss|2015|p=95}} Em seguida, os conspiradores consideraram [[Marco Antônio]], de trinta e nove anos e um dos melhores generais de César.{{Sfn|Strauss|2015|p=15}} Os conspiradores concordaram em tentar recrutá-lo até que Caio Trebônio revelou que havia abordado pessoalmente Antônio no verão anterior e lhe pedido para se juntar a uma conspiração diferente para acabar com a vida de César, o que Antônio recusou. Essa rejeição à velha conspiração fez com que os conspiradores se decidissem contra o novo recrutamento de Antônio.{{Sfn|Strauss|2015|p=96}}
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Bruto discordou de ambos. Ele argumentou que matar César, e não fazer mais nada, era a opção que deveriam escolher. Os conspiradores alegaram estar agindo com base nos princípios da lei e da justiça, disse ele, e seria injusto matar Antônio. Embora o assassinato de César fosse visto como a morte de um tirano, matar seus apoiadores só seria visto como um expurgo politizado e obra dos antigos apoiadores de Pompeu. Ao manter as reformas de César intactas, ambos manteriam o apoio do povo romano, que Bruto acreditava ser contrário ao César rei, mas favorável ao César reformador. Seu argumento convenceu os outros conspiradores e eles começaram a elaborar os planos para o assassinato de César.{{Sfn|Strauss|2015|p=98}}
[[imagem:Karl Theodor von Piloty Murder of Caesar 1865.jpg|thumb|esquerda|''[[The Murder of Caesar (Piloty)|O Assassinato de César]]'' por [[Karl von Piloty]], 1865, [[Museu Estadual da Baixa Saxônia]]]]
 
Os conspiradores acreditavam que a forma e onde eles assassinariam César faria a diferença. Uma emboscada em uma área isolada teria um impacto diferente na opinião pública em relação a um assassinato no coração de Roma. Os conspiradores tiveram várias ideias para o assassinato. Eles consideraram um ataque a César enquanto ele caminhava pela [[Via Sacra (Roma)|Via Sacra]], a "Rua Sagrada". Outra ideia era esperar para atacá-lo durante as eleições para novos cônsules. Os conspiradores esperariam que César começasse a cruzar a ponte que todos os eleitores cruzaram como parte dos procedimentos eleitorais{{Sfn|Strauss|2015|p=99}} e então o derrubariam na água, onde haveriam outros conspiradores esperando por César com adagas em punho. Outro plano era atacar em um jogo de gladiadores, o que tinha a vantagem de que ninguém suspeitaria de homens armados.{{Sfn|Parenti|2004|p=169}}
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Os senadores esperaram pela chegada de César, mas ele não apareceu. A razão para isso é que, naquela manhã, [[Calpúrnia Pisônia|Calpúrnia]], a esposa de César, foi acordada de um [[pesadelo]]. Ela sonhou que estava segurando um César assassinado em seus braços e que estava em [[luto]] por ele. Outras versões dizem que Calpúrnia sonhou que o [[frontão]] frontal de sua casa desabou e que César morreu; outra versão diz que ela sonhou com o corpo de César coberto de sangue.{{Sfn|Strauss|2015|p=107}} Calpúrnia sem dúvida ouviu os avisos de Espurina sobre um grande perigo para a vida de César, o que ajuda a explicar suas visões. Por volta de 5 horas da manhã, Calpúrnia implorou a César para não ir à reunião do Senado naquele dia.{{Sfn|Strauss|2015|p=109}} Após alguma hesitação, César concordou. Embora não fosse supersticioso, ele sabia que Espurina e Calpúrnia estavam envolvidos na política romana e decidiu ser cauteloso. César enviou [[Marco Antônio]] para demitir o Senado.{{Sfn|Strauss|2015|p=111}} Quando os conspiradores souberam dessa demissão, [[Décimo Júnio Bruto Albino|Décimo]] foi à casa de César para tentar convencê-lo a comparecer à reunião do Senado.{{Sfn|Strauss|2015|pp=120–121}} "O que você diz, César?" Disse Décimo. "Será que alguém da sua estatura prestará atenção aos sonhos de uma mulher e aos presságios de homens tolos?" César finalmente decidiu ir.{{Sfn|Strauss|2015|p=122}}
[[imagem:Vincenzo Camuccini - La morte di Cesare.jpg|thumb|esquerda|''A morte de César'' por [[Vincenzo Camuccini]], entre 1804 e 1805.]]
[[imagem:Victor Honoré Janssens - The death of Caesar.jpg|thumb|esquerda|''[[The death of Caesar (Janssens)|A morte de César]]'' por Victor Honoré Janssens, c. Década de 1690]]
 
César estava caminhando para o Senado quando avistou Espurina. "Bem, os Idos de Março chegaram!" César gritou de brincadeira. "Sim, os Idos chegaram", respondeu Espurina, "mas ainda não se foram."<ref name=":2">Plutarco. ''Plutarch's Lives''. Translated by Bernadotte Perrin. London: W. Heinemann, Nova Iorque: Macmillan, 1914–1926.</ref><ref>Butler, M. Cary, ed., C. Suetoni Tranquilli, ''Divus Iulius'' [''The Life of Julius Caesar''], Oxford: Clarendon Press, 1927, Reissued with new introduction, bibliography, and additional notes by G. B. Townsend, Bristol: Bristol Classical Press, 1982.</ref> Marco Antônio começou a entrar com César, mas foi interceptado por um dos conspiradores ([[Caio Trebônio|Trebônio]] ou Décimo Bruto) e detido do lado de fora. Ele permaneceu lá até depois do assassinato, quando então fugiu.
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[[imagem:Virgil_Solis_-_Deification_Caesar.jpg|miniaturadaimagem|esquerda|''[[Culto imperial na Roma Antiga|Deificação de Júlio César]]'', uma gravura do século XVI por [[Virgil Solis]] ilustrando a passagem de [[Ovídio]] na [[apoteose]] de César (''[[Metamorfoses]]'' 15.745-850)]]
Uma estátua de cera de César foi erguida no Fórum exibindo as 23 facadas.<ref>''[[Apiano]]'' Bellum Civile 2.147, http://penelope.uchicago.edu/Thayer/E/Roman/Texts/Appian/Civil_Wars/2*.html recovered 12-23-14</ref> Uma multidão que se aglomerava ali começou um incêndio, que danificou gravemente os prédios vizinhos. Dois dias após o assassinato, Marco Antônio convocou o Senado e conseguiu chegar a um acordo no qual os assassinos não seriam punidos por seus atos, mas todas as nomeações de César permaneceriam válidas. Ao fazer isso, Antônio provavelmente esperava evitar grandes rachaduras no governo como resultado da morte de César. Simultaneamente, Antônio diminuiu os objetivos dos conspiradores.<ref name=":0">{{Citar livro|título=The Romans: From Village to Empire|ultimo=Boatwright|primeiro=Susan|editora=[[Oxford University Press]]|ano=2012|localização=New York|isbn=978-0-19-973057-5}}</ref> O resultado imprevisto pelos assassinos foi que a morte de César, na verdade, precipitou o fim da [[República Romana]].<ref>Floro, ''Epítome'' [https://penelope.uchicago.edu/Thayer/E/Roman/Texts/Florus/Epitome/2I*.html#XVII 2.7.1]</ref> As classes baixas romanas, com as quais César era popular, ficaram furiosas porque um pequeno grupo de aristocratas havia sacrificado César. Antônio capitalizou a dor do povo romano e ameaçou os ''Optimates'', talvez com a intenção de assumir o controle de Roma. Mas, para sua surpresa e desgosto, César nomeou seu sobrinho-neto [[Augusto|Caio Otávio]] seu único herdeiro, legando-lhe o nome de César, que era imensamente poderoso, além de torná-lo um dos cidadãos mais ricos da República.<ref>Suetônio, ''Julius'' [https://penelope.uchicago.edu/Thayer/L/Roman/Texts/Suetonius/12Caesars/Julius*.html#83.2 83.2]</ref> Ao saber da morte de seu pai adotivo, Otávio abandonou seus estudos na [[Apolônia (Ilíria)|Apolônia]] e navegou pelo [[mar Adriático]] até [[Brundísio]].<ref name=":0" /> Otávio tornou-se ''Caio Júlio César Otaviano'' ou Otaviano, filho do grande César, e consequentemente também herdou a lealdade de grande parte da população romana. Otaviano, que tinha apenas 18 anos de idade na época da morte de César, provou ter habilidades políticas consideráveis e, enquanto Antônio lidava com [[Décimo Júnio Bruto Albino|Décimo Bruto]] no primeiro turno das novas guerras civis, Otaviano consolidou sua posição. Antônio inicialmente não considerou Otávio como uma verdadeira ameaça política devido à sua pouca idade e inexperiência, mas Otávio rapidamente ganhou o apoio e a admiração dos amigos e partidários de César.<ref name=":0" />
[[imagem:Marko Antonije nad Cezarom Bela Čikoš Sesija.JPG|thumb|[[Marco Antônio]] com o cadáver de César, pintado por [[Bela Čikoš Sesija]], antes de 1920]]
 
Para combater Bruto e Cássio, que formavam um enorme exército na [[Grécia romana|Grécia]], Antônio precisava de soldados, do dinheiro dos baús de guerra de César e da legitimidade que o nome de César proporcionaria para qualquer ação que tomasse contra eles. Com a passagem da [[Lei Títia|Lex Titia]] em 27 de novembro de 43 a.C.,<ref>{{Citar livro|url=https://archive.org/details/caesarslegacyciv0000osgo|título=Caesar's Legacy: Civil War and the Emergence of the Roman Empire|ultimo=Osgood, Josiah|editora=[[Cambridge University Press]]|ano=2006}}</ref> o [[Segundo Triunvirato]] foi oficialmente formado, composto por Antônio, Otaviano e [[Lépido]].<ref>Suetônio, ''Augustus'' [https://penelope.uchicago.edu/Thayer/L/Roman/Texts/Suetonius/12Caesars/Augustus*.html#13.1 13.1]; Floro, ''Epítome'' [https://penelope.uchicago.edu/Thayer/E/Roman/Texts/Florus/Epitome/2I*.html#XVI 2.6]</ref> Ele formalmente [[Apoteose|deificou]] César como [[Júlio César|Divino Júlio]] em {{AC|42|x}}, e César Otaviano passou a ser "Filho do Divino" (''Divi filius'').<ref>{{Citar livro|título=Roman Religion|ultimo=Warrior, Valerie M.|editora=Cambridge University Press|ano=2006|isbn=0-521-82511-3}}</ref> Vendo que a clemência de César resultou em seu assassinato, o Segundo Triunvirato trouxe de volta a [[proscrição]], abandonada desde a época de [[Sula]].<ref>Floro, ''Epítome'' [https://penelope.uchicago.edu/Thayer/E/Roman/Texts/Florus/Epitome/2I*.html#XVI 2.6.3]</ref> O novo regime envolveu-se no assassinato legalmente sancionado de um grande número de oponentes a fim de financiar suas 45 legiões na segunda guerra civil contra Bruto e Cássio.<ref>{{Citar livro|url=https://archive.org/details/ancientrome00paul/page/217|título=Ancient Rome: An Introductory History|ultimo=Zoch, Paul A.|editora=University of Oklahoma Press|ano=200|páginas=[https://archive.org/details/ancientrome00paul/page/217 217–218]|isbn=0-8061-3287-6}}</ref> Antônio e Otaviano os derrotaram em [[Batalha de Filipos|Filipos]].<ref>Florus, ''Epitome'' [https://penelope.uchicago.edu/Thayer/E/Roman/Texts/Florus/Epitome/2I*.html#XXXIIII 2.7.11–14]; Apiano, ''The Civil Wars'' [https://penelope.uchicago.edu/Thayer/E/Roman/Texts/Appian/Civil_Wars/5*.html 5.3]</ref>
 
O Segundo Triunvirato foi, em última análise, instável e não pôde resistir a invejas e ambições internas. Antônio detestava Otaviano e passava a maior parte de seu tempo no Oriente, enquanto Lépido favorecia Antônio, mas se sentia obscurecido por seus dois colegas. Após a [[revolta siciliana]], liderada por [[Sexto Pompeu]], eclodiu uma disputa entre Lépido e Otaviano sobre a alocação de terras. Otaviano acusou Lépido de usurpar o poder na Sicília e de tentativa de rebelião e, em 36 a.C., Lépido foi forçado ao exílio em [[Circeios|Circeo]] e despojado de todos os seus cargos, exceto o de [[pontífice máximo]]. Suas antigas províncias foram concedidas a Otaviano. Antônio, entretanto, casou-se com a amante de César, [[Cleópatra]], com a intenção de usar o fabulosamente rico [[Egito ptolomaico]] como base para dominar Roma. Posteriormente, eclodiu uma [[Última Guerra Civil da República Romana|terceira guerra civil]] entre Otaviano de um lado e Antônio e Cleópatra do outro. Esta guerra civil final culminou na [[Batalha de Áccio|derrota deste último em Ácio]] em 31 a.C.; as forças de Otaviano perseguiriam Antônio e Cleópatra até [[Alexandria]], onde ambos [[Morte de Cleópatra|se suicidariam]] em 30 a.C.. Com a derrota total de Antônio e a marginalização de Lépido, Otaviano, reestilizado como "[[Augusto]]", nome que o elevou à condição de divindade, permaneceu, em 27 a.C., como o único mestre do mundo romano e passou a estabelecer o [[Principado romano|Principado]] como o primeiro "[[Imperador romano|Imperador]]" Romano.<ref>Florus, ''Epitome'' [https://penelope.uchicago.edu/Thayer/E/Roman/Texts/Florus/Epitome/2I*.html#XXXIIII 2.34.66]</ref>
 
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imagem:Jean-Léon Gérôme - The Death of Caesar - Walters 37884.jpg|Resultado do ataque com o corpo de César abandonado em primeiro plano, ''[[The Death of Caesar (Gérôme)|La Mort de César]]'' de [[Jean-Léon Gérôme]], c. 1859-1867
imagem:Karl Theodor von Piloty Murder of Caesar 1865.jpg|''[[The Murder of Caesar (Piloty)|O Assassinato de César]]'' por [[Karl von Piloty]], 1865, [[Museu Estadual da Baixa Saxônia]]
imagem:Marko Antonije nad Cezarom Bela Čikoš Sesija.JPG|Marco Antônio com o cadáver de César, pintado por [[Bela Čikoš Sesija]], antes de 1920
imagem:Death of Julius Caesar 2.png|''[[The Assassination of Julius Caesar (Sullivan)|O Assassinato de Júlio César]]'' por [[William Holmes Sullivan]], c. 1888, [[Royal Shakespeare Theatre]]
imagem:Victor Honoré Janssens - The death of Caesar.jpg|''[[The death of Caesar (Janssens)|A morte de César]]'' por Victor Honoré Janssens, c. Década de 1690
imagem:Vincenzo Camuccini - La morte di Cesare.jpg|''A morte de César'' por [[Vincenzo Camuccini]], entre 1804 e 1805.
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== Lista de conspiradores ==