Dinastia merovíngia: diferenças entre revisões

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Os '''merovíngios''' foram uma dinastia [[francos sálios|franca]] que governou os francos numa região correspondente à antiga [[Gália]], onde estão localizadas atualmente a França, a Bélgica, uma parte da Alemanha e da Suíça.<ref>Asimov, Isaac (1968). «3. Llega la oscuridad». La Alta Edad Media. Alianza. p. 75.</ref> Governaram da metade do {{séc|V}} à metade do VIII. Seus governantes se envolveram com frequência em guerras civis entre os ramos da família. No último século de domínio merovíngio, a dinastia foi progressivamente empurrada para uma função meramente cerimonial. O domínio merovíngio foi encerrado por um [[golpe de Estado]] em 751 quando [[Pepino o Breve]] formalmente depôs [[Quilderico III]], dando início à [[Dinastia Carolíngia]].
 
Eles eram citados às vezes por seus contemporâneos como os "reis de cabelos longos" (em latim ''reges criniti''), por não cortarem simbolicamente os cabelos (tradicionalmente, os líderes tribais dos [[francos]] exibiam seus longos cabelos como distinção dos cabelos curtos dos romanos e do clero). O termo "merovíngio" deriva do [[latim medieval]] ''Merovingi'' ou ''Merohingi'' ("filhos de [[Meroveu]]"), alteração de uma forma não atestada do baixo franconiano ocidental antigo, relacionada ao nome da dinastia em inglês antigo, ''Merewīowing,''<ref>Babcock, Philip (ed). ''Webster's Third New International Dictionary of the English Language, Unabridged''. Springfield, MA: Merriam-Webster, Inc., 1993: 1415</ref> com o final ''-ing'' sendo um sufixo típico [[patronímico]]. Por descender de [[Meroveu]], a primeira dinastia dos reis francos é denominada Dinastia Merovíngia.
Por descender de [[Meroveu]], a primeira dinastia dos reis francos é denominada Dinastia Merovíngia.
 
== Origens ==
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== História ==
[[imagem:Seal of Childeric I Tournai tomb.jpg|esquerda|thumb|Anel com sinete de [[Quilderico I]]. Monnaie de Paris]]
Os francos eram um povo pagão, entretanto Clóvis se converte ao [[cristianismo niceno]], graças ao bispo [[Remígio de Reims|Remígio]]. Com isso, o reino franco foi se cristianizando aos poucos. Quando Clóvis morreu em 511, o reino merovíngio incluía todos os francos e toda a [[Gália]] exceto a [[Borgonha]]. O reino, mesmo quando dividido sob diferentes reis, manteve a unidade e conquistou a Borgonha em 534. Após a queda dos [[ostrogodos]], os francos também conquistaram [[Provença]]. A partir daí, suas fronteiras com a Itália (governada pelos [[lombardos]] desde 568) e com a [[Septimânia]] visigoda permaneceram bastante estáveis.<ref>Archibald R. Lewis, "[http://links.jstor.org/sici?sici=0038-7134%28197607%2951%3A3%3C381%3ATDITRF%3E2.0.CO%3B2-8 The Dukes in the Regnum Francorum, A.D. 550-751.]" ''Speculum'' '''51'''.3 (July 1976, pp. 381-410) p 384.</ref>
 
Internamente, o reino foi dividido entre os filhos de Clóvis. O único filho que sobreviveu foi Clotário I, que governou um grande reino, mas sua sucessão gerou grandes guerras civis. A morte de um rei criava conflitos entre os irmãos sobreviventes e os herdeiros do falecido, com consequências variadas. Depois, os conflitos foram intensificados pelas contendas que tiveram como figura central [[Brunilda da Austrásia]]. No entanto, as guerras constantes muitas vezes não se constituíam em devastação geral e tomavam uma característica quase ritual, com 'regras' e normas estabelecidas.<ref>Guy Halsall, Warfare and Society in the Barbarian West, 450-900 (Routledge, London, 2003)</ref>
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O rei merovíngio era o senhor dos espólios de guerra, responsável pela redistribuição das riquezas conquistadas entre seus seguidores, apesar de estes poderes não serem absolutos. "Quando ele morria, suas propriedades eram divididas igualmente entre seus herdeiros como se fosse propriedade privada: o reino era uma forma de patrimônio."<ref>Rouche 1987, p. 420</ref> Alguns acadêmicos atribuem isso à falta de senso merovíngia de ''[[res publica]]'', mas outros historiadores criticam este ponto de vista como uma simplificação demasiada.
 
O rei indicava magnatas para serem [[conde]]s, incumbindo-os da defesa, [[administração (governo)|administração]] e do julgamento de disputas. Isto acontecia contra o pano de fundo de uma Europa recentemente isolada, sem os sistemas romanos de [[tributo|impostos]] e [[burocracia]], que os francos foram empregando em sua administração à medida que penetravam nas regiões completamente romanizadas do oeste e sul da [[Gália]]. Os condes tinham que fornecer exércitos, alistando suas ''milites'' e doando-lhes terras no seu retorno. Estes exércitos estavam submetidos ao chamado do rei por apoio militar. Havia assembleias nacionais anuais dos nobres do reino e seus exércitos onde decidia-se as principais políticas de guerra. O exército também aclamava os novos reis, erguendo-os sobre seus escudos em continuação a uma antiga prática que fazia do rei o líder do bando guerreiro. Além disso, esperava-se que o rei se mantivesse com os produtos de seus próprios domínios (''royal demesne''), o que era chamado de ''fisc''. Este sistema evoluiu gradualmente para o [[feudalismo]], e as expectativas da auto-suficiência real duraram até a [[Guerra dos Cem Anos]]. O comércio declinou com a [[queda do Império Romano]] e as propriedades agrícolas eram em sua maioria auto-suficientes. O comércio internacional que persistiu era dominado por mercadores do Oriente Médio.
 
A lei merovíngia não era uma lei universal igualmente aplicável a todos; era aplicada a cada indivíduo de acordo com sua origem: os [[francos ripuários]] eram sujeitos à sua própria ''[[Lex Ripuaria]]'', codificada numa data posterior,<ref>Beyerle and Buchner 1954</ref> enquanto a conhecida ''[[lei sálica|Lex Salica]]'' dos clãs salianos, a princípio temporariamente codificada em 511,<ref>Rouche 1987, p. 423</ref> foi invocada sob as exigências medievais posteriores no tempo dos [[Valois]]. Nisto os francos deixaram para trás borgonheses e [[visigodos]], que não tinham uma lei universal baseada na romana. No período merovíngio, a lei permaneceu como costume de memorização dos ''rachimburgs'', que memorizavam todos os precedentes nos quais ela era baseada, devido ao fato de que a lei merovíngia não admitia o conceito de criação de uma ''nova'' lei, apenas na manutenção da tradição. Essas tradições dos [[Povos germânicos]] não ofereciam nenhum código de [[Civil Law]] exigido por uma sociedade civil urbanizada, como o que [[Justiniano]] montou e promulgou no [[Império Bizantino]]. Os poucos textos merovíngios sobreviventes estão quase inteiramente preocupados com as divisões de propriedades entre herdeiros.