Carma: diferenças entre revisões

Conteúdo apagado Conteúdo adicionado
m
Linha 171:
 
=== Oito Carmas ===
Existem oito tipos de Carma que ligam uma alma ao Samsar (o ciclo de nascimento e morte):<ref>{{Citar livro|url=https://books.google.com/books?id=JDPjCwAAQBAJ&q=eight+karmas+in+jainism&pg=PT109|título=The Soul of Jainism: Philosophy and Teachings of Jain Religion|ultimo=Shiv Sharma|primeiro=DrShiv|data=30 Marchde março de 2016|isbn=9788128813436}}</ref><ref>{{Citar livro|url=https://books.google.com/books?id=HPggiM7y1aYC&q=eight+karmas+in+jainism|título=Collected Papers on Jaina Studies|ultimo=Jaini|primeiro=Padmanabh S.|ano=2000|isbn=9788120816916}}</ref>
 
# ''Gyanavarniya'' (obstrutivo do conhecimento): como um véu impede que um rosto e seus traços sejam vistos, esse carma impede a alma de conhecer um objeto junto com detalhes sobre esse objeto. Esse carma impede a alma de perceber sua qualidade essencial de conhecimento. Na sua ausência, uma alma é onisciente. Existem cinco subtipos de carmas ''gyanavarniya'' que impedem os cinco tipos de conhecimento: ''mati gyan'' (conhecimento sensorial), ''shrut gyan'' (conhecimento articulado), ''avadhi gyan'' ([[clarividência]]), ''mana paryay gyan'' ([[telepatia]]) e ''keval gyan'' ([[onisciência]]).
Linha 177:
# ''Vedaniya'' (produtor de sensações): como lamber o mel de uma espada dá um sabor doce, mas corta a língua, esse carma faz a alma experimentar prazer e dor. A bem-aventurança da alma é continuamente perturbada por experiências de prazer e dor sensual externa. Na ausência do carma vedaniya, a alma experimenta bem-aventurança imperturbável. Existem dois subtipos deste carma; produtor de prazer e produtor de dor.
# ''Mohniya'' (ilusório): como uma abelha se apaixona pelo cheiro de uma flor e é atraída por ela, esse carma atrai a alma para os objetos que considera favoráveis, enquanto a repele dos objetos que considera desfavoráveis. Cria uma ilusão na alma de que objetos externos podem afetá-la. Este carma obstrui a qualidade essencial da felicidade da alma e impede que a alma encontre a felicidade pura em si mesma.
# ''Ayu'' (determinaçãodeterminante do tempo de vida): como um prisioneiro permanece preso por correntes de ferro (em torno de suas pernas, mãos, etc.), esse carma mantém uma alma presa em uma determinada vida (ou nascimento).
# ''Naam'' (produtor de corpos): como um pintor cria vários quadros e lhes dá vários nomes, esse carma dá às almas vários tipos de corpos (que são classificados com base em vários atributos). É o ''naamkarma'' que determina o corpo do organismo vivo no qual a alma deve entrar.
# ''Gotra'' ([[Gotra|determinante de status]]): como um oleiro faz vasos curtos e altos, esse carma confere um status baixo ou alto (social) ao corpo da alma. Cria desigualdades sociais e, na sua ausência, todas as almas são iguais. Existem dois subtipos de carma gotra: status alto e status baixo.
Linha 187:
No [[siquismo]], todos os seres vivos são descritos como estando sob a influência das três qualidades de [[maiá]]. Sempre presentes juntas em diferentes misturas e graus, essas três qualidades de maiá ligam a alma ao corpo e ao plano terrestre. Acima dessas três qualidades está o tempo eterno. Devido à influência de três modos da natureza de maiá, os [[Jiva]]s (seres individuais) realizam atividades sob o controle e alcance do tempo eterno. Essas atividades são chamadas de carma, em que o princípio subjacente é que o carma é a lei que traz de volta os resultados das ações para a pessoa que as executa.{{Carece de fontes|data=julho de 2022}}
 
Esta vida é comparada a um campo no qual nosso carma é a semente. Colhe-se exatamente o que se planta; nem menos, nem mais. Essa lei infalível do carma responsabiliza todos pelo que a pessoa é ou será. Com base na soma total do carma passado, alguns se sentem próximos do Ser Puro nesta vida e outros se sentem separados. Esta é a lei do carma em [[Gurbani]] (Seri [[Guru Granth Sahib]]). Como outras escolas de pensamento indianas e orientais, o Gurbani também aceita as doutrinas do carma e da reencarnação como fatos da natureza.<ref>{{Citar web|url=http://www.gurbani.org/webart40.htm|titulo=Gurbani.org|acessodata=5 Octoberde outubro de 2008|arquivourl=https://web.archive.org/web/20070129135407/http://www.gurbani.org/webart40.htm|arquivodata=29 January 2007|urlmorta=dead}}</ref>
 
=== Taoismo ===
Linha 196:
 
=== Xintoísmo ===
Interpretado como ''[[musubi]]'', uma visão do carma é reconhecida no [[xintoísmo]] como um meio de enriquecimento, empoderamento e afirmação da vida.<ref>{{Citar livro|url=https://books.google.com/books?id=rg8UWWZPxw4C&pg=PA133|título=Shinto: A Celebration of Life|ultimo=Aidan Rankin|data=3 Februaryfevereiro de 2011|páginas=133|isbn=978-1-84694-438-3}}</ref>
 
== Discussões ==
Linha 213:
# A teoria do carma inclui tanto a ação quanto a intenção por trás dessa ação. Não só a pessoa é afetada pelo carma passado, como cria um novo carma sempre que se age com intenção – boa ou má. Se a intenção e o ato puderem ser comprovados além de qualquer dúvida razoável, um novo carma pode ser comprovado e o processo de justiça pode prosseguir contra esse novo carma. O ator que mata, estupra ou comete qualquer outro ato injusto, deve ser considerado como o agente moral desse novo carma, e julgado.
# As formas de vida não apenas recebem e colhem a consequência de seu carma passado, mas juntas elas são os meios para iniciar, avaliar, julgar, dar e entregar a consequência do carma aos outros.
# Carma é uma teoria que explica alguns males, não todos (cf. [[mal moral]] versus [[mal natural]]).<ref>Reichenbach, Bruce (1990), The Law of Karma, University of Hawai'i Press, Honolulu, {{ISBN|978-0-333-53559-2}}</ref><ref name="mdebmdeb2">Matthew Dasti ande Edwin Bryant (2013), Free Will, Agency, and Selfhood in Indian Philosophy, Oxford University Press, {{ISBN|978-0-19-992275-8}}</ref>
 
Outras escolas do hinduísmo, assim como o budismo e o jainismo que consideram o ciclo de renascimentos centrais para suas crenças e que o carma de vidas passadas afeta o presente, acreditam que tanto o livre arbítrio (''[[cetanā]]'') quanto o carma podem coexistir; no entanto, suas respostas não persuadiram todos os estudiosos.<ref name="wrkaufman" /><ref name="mdeb2">Matthew Dasti and Edwin Bryant (2013), Free Will, Agency, and Selfhood in Indian Philosophy, Oxford University Press, {{ISBN|978-0-19-992275-8}}</ref>
 
=== Indeterminação psicológica ===
Linha 223:
 
=== Transferibilidade ===
Algumas escolas de religiões asiáticas, particularmente o [[budismo]] popular, permitem a transferência de mérito e demérito do carma de uma pessoa para outra. Essa transferência é uma troca de qualidade não física, assim como uma troca de bens físicos entre dois seres humanos. A prática da transferência de carma, ou mesmo sua possibilidade, é controversa. A transferência de carma levanta questões semelhantes às da [[Expiação (visão substitucionária)|expiação substitutiva]] e da punição vicária. EleEla derrota os fundamentos éticos e dissocia a causalidade e a eticização na teoria do carma do agente moral. Os proponentes de algumas escolas budistas sugerem que o conceito de transferência de mérito de carma encoraja a doação religiosa, e que tais transferências não são um mecanismo para transferir carma ruim (ou seja, demérito) de uma pessoa para outra.<ref>Ronald Wesley Neufeldt, Karma and Rebirth: Post Classical Developments, State University of New York Press, {{ISBN|978-0-87395-990-2}}</ref><ref>Ver: Keyes, Charles (1983), "Merit-Transference in the Kammic Theory of Popular Theravada Buddhism". In: Keyes, Charles; Daniel, Valentine. ''Karma''. Berkeley: University of California Press; e Woodward, F. L. (1914). "The Buddhist Doctrine of Reversible Merit". ''The Buddhist Review''. '''6'''. pp 38–50</ref>
 
No hinduísmo, os ritos de Sraddha durante os funerais foram rotulados como cerimônias de transferência de mérito de carma por alguns estudiosos, uma afirmação contestada por outros.<ref>Ronald Wesley Neufeldt, Karma and Rebirth: Post Classical Developments, State University of New York Press, {{ISBN|978-0-87395-990-2}}, pp 226, see Footnote 74</ref> Outras escolas do hinduísmo, como as filosofias [[Advaita Vedânta|vedânticas]] do Ioga e Advaita, e o jainismo sustentam que o carma não pode ser transferido.<ref name="wdointro" /><ref>Wendy D. O'Flaherty (1980), Karma and Rebirth in Classical Indian Traditions, University of California Press, {{ISBN|978-0-520-03923-0}}, Chapter 1</ref>
Linha 235:
O problema do mal é então declarado em formulações como: "por que o Deus onibenevolente, onisciente e onipotente permite que qualquer mal e sofrimento existam no mundo?" O sociólogo [[Max Weber]] estendeu o problema do mal às tradições orientais no livro ''[[Sociologia das Religiões]]''.<ref>Max Weber (Translated by Fischoff, 1993), The Sociology of Religion, Beacon Press, {{ISBN|978-0-8070-4205-2}}, pp. 129–153</ref>
 
O problema do mal, no contexto do carma, tem sido discutido há muito tempo nas tradições orientais, tanto nas escolas teístas quanto nas não-teístas; por exemplo, nos Sutras ''[[Vedanta|Uttara Mīmāṃsā]]'', Livro 2 capítulo 1;<ref>Clooney, Francis (2005). In: [[Gavin Flood|Flood, Gavin]]. ''The Blackwell Companion to Hinduism''. Wiley-Blackwell, <nowiki>ISBN 0-631-21535-2</nowiki>. pp. 454–455.</ref><ref>Francis Clooney (1989), "Evil, Divine Omnipotence and Human Freedom: Vedanta's theology of Karma", ''Journal of Religion'', Vol. 69, pp 530–548</ref> os argumentos do século VIII de [[Adi Xancara]] no ''[[Bhashya|bhasya]]'' do [[Bramasutra|''Brahma Sutra'']] onde ele postula que Deus não pode ser razoavelmente a causa do mundo porque existe mal moral, desigualdade, crueldade e sofrimento no mundo;<ref name="bilimoria">P. Bilimoria (2007), Karma's suffering: A Mimamsa solution to the problem of evil, in Indian Ethics (Editors: Bilimoria et al.), Volume 1, Ashgate Publishing, {{ISBN|978-0-7546-3301-3}}, pp. 171–189</ref><ref>See Kumarila'sVer ''Slokavarttika'' de Kumarila; forpara a tradução Englishem translationinglês ofde partspartes ande discussionsdiscussões: P. Bilimoria (1990), "Hindu doubts about God {{Ndash}} Towards a Mimamsa Deconstruction", ''International Philosophical Quarterly'', 30(4), pp. 481–499</ref> e a discussão de teodiceia do século XI por [[Ramanuja]] em ''[[Sri Bhasya]]''.<ref name="bilimoria2013">P. Bilimoria (2013), Toward an Indian Theodicy, in The Blackwell Companion to the Problem of Evil (Editors: McBrayer and Howard-Snyder), 1st Edition, John Wiley & Sons, {{ISBN|978-0-470-67184-9}}, Chapter 19</ref> Épicos como o ''[[Mahabharata]]'', por exemplo, sugerem três teorias predominantes na Índia antiga sobre por que o bem e o mal existem {{Ndash}} uma sendo que tudo é ordenado por Deus, outra sendo pelo carma e uma terceira citando eventos casuais (''yadrccha'', यदृच्छा).<ref name="ehudson">Emily Hudson (2012), Disorienting Dharma: Ethics and the Aesthetics of Suffering in the Mahabharata, Oxford University Press, {{ISBN|978-0-19-986078-4}}, pp. 178–217</ref><ref>Manmatha Nath Dutt (1895), English translation of The Mahabharata, Udyoga Parva, Chapter 159, verse 15</ref> O ''Mahabharata'', que inclui a divindade hindu Vishnu na forma de Krishna como um dos personagens centrais do épico, debate a natureza e a existência do sofrimento a partir dessas três perspectivas e inclui uma teoria do sofrimento como decorrente de uma interação de eventos casuais. como enchentes e outros eventos da natureza), circunstâncias criadas por ações humanas passadas e os desejos atuais, volições, darma, adarma e ações atuais (''purusakara'') das pessoas.<ref name="ehudson" /><ref>Gregory Bailey (1983), Suffering in the Mahabharata: Draupadi and Yudhishthira, Purusartha, No. 7, pp. 109–129</ref><ref>[[Alf Hiltebeitel|Hiltebeitel, Alf]] (2001). ''Rethinking the Mahabharata: A Reader's Guide to the Education of the Dharma King''. University of Chicago Press, <nowiki>ISBN 978-0-226-34053-1</nowiki>. Capítulos 2 e 5</ref> No entanto, embora a teoria do carma no ''Mahabharata'' apresente perspectivas alternativas sobre o problema do mal e do sofrimento, não oferece uma resposta conclusiva.<ref name="ehudson" /><ref>P.B. Mehta (2007), The ethical irrationality of the world {{Ndash}} Weber and Hindu Ethics, in Indian Ethics (Editors: Billimoria et al.), Volume 1, Ashgate, {{ISBN|978-0-7546-3301-3}}, pp. 363–375</ref>
 
Outros estudiosos<ref>Ursula Sharma (1973), Theodicy and the doctrine of karma, ''Man'', Vol. 8, No. 3, pp. 347–364</ref> sugerem que as tradições religiosas indianas não teístas não assumem um criador onibenevolente, e algumas<ref>A escola Niaia-Vaisesica é uma das exceções em que a premissa é semelhante ao conceito cristão de um criador onibenevolente, onipotente.</ref> escolas teístas não definem ou caracterizam seu(s) Deus(es) como as religiões ocidentais monoteístas o fazem e que as divindades têm personalidades coloridas e complexas; as deidades indianas são facilitadoras pessoais e cósmicas, e em algumas escolas conceituadas como o [[Demiurgo]] de Platão.<ref name="bilimoria2013" /> Portanto, o problema da teodiceia em muitas escolas das principais religiões indianas não é significativo, ou pelo menos é de natureza diferente do que nas religiões ocidentais.<ref>G. Obeyesekere (I968), Theodicy, sin and salvation in a sociology of Buddhism, in Practical religion (Ed. Edmund Leach), Cambridge University Press, {{ISBN|978-0-521-05525-3}}</ref> Muitas religiões indianas colocam maior ênfase no desenvolvimento do princípio do carma para a primeira causa e justiça inata com o Homem como foco, em vez de desenvolver princípios religiosos com a natureza e os poderes de Deus e o julgamento divino como foco.<ref>B. Reichenbach (1998), Karma and the Problem of Evil, in Philosophy of Religion Toward a Global Perspective (Editor: G.E. Kessler), Wadsworth, {{ISBN|978-0-534-50549-3}}, pp. 248–255</ref> Alguns estudiosos, particularmente da escola [[Niaia]] de hinduísmo e Xancara no ''Brahma Sutra bhasya'', postularam que a doutrina do carma implica a existência de Deus, que administra e afeta o ambiente da pessoa, dado o carma dessa pessoa, mas depois reconhecem que isto torna o carma como violável, contingente e incapaz de resolver o problema do mal.<ref>Bruce R. Reichenbach (1989), Karma, Causation, and Divine Intervention, Philosophy East and West, Vol. 39, No. 2, pp. 135–149</ref> Arthur Herman afirma que a teoria da transmigração do carma resolve todas as três formulações históricas para o problema do mal, ao mesmo tempo em que reconhece os insights da teodiceia de Sankara e Ramanuja.<ref>Arthur Herman, The problem of evil and Indian thought, 2nd Edition, Motilal Banarsidass, {{ISBN|81-208-0753-7}}, pp. 5 com parte II e III do livro</ref>
Linha 248:
 
=== Filosofia grega ===
[[Will Durant]] considerava que, como a doutrina do carma, para os gregos, toda desmedida contra a ordem cósmica (''[[hybris]]'') gerava um efeito negativo correspondente de retribuição, efetuado por [[Nêmesis (mitologia)|Nêmesis]].<ref>{{Citar livro|url=https://www.google.com.br/books/edition/The_Life_of_Greece/17sEhzZ-MokC?hl=pt-BR&gbpv=1&dq=%22The+law+of+hybris+and+nemesis+is+another+doctrine+of+karma%22&pg=PT356|título=The Life of Greece: The Story of Civilization, Volume II|ultimo=Durant|primeiro=Will|data=2011-06-07|editora=Simon and Schuster|lingua=en}}</ref> As doutrinas [[Platonismo|platônica]] e [[Plotino|plotiniana]] foram vistas como elaborando uma teoria eticizada do ciclo do renascimento, comparável à doutrina indiana do carma.<ref>{{Citar livro|url=https://books.google.com.br/books?id=oTV9-CY0q-wC&pg=PA27&lpg=PA27&dq=%22karma%22|título=Philosophy and Salvation in Greek Religion|ultimo=Adluri|primeiro=Vishwa|data=2013-04-30|editora=Walter de Gruyter|lingua=en}}</ref><ref name=":02">{{Citar livro|url=https://books.google.com.br/books?id=IEK4Qgm7Z0kC&pg=PA287|título=Karma and Rebirth: A Cross Cultural Study|ultimo=Obeyesekere|primeiro=Gananath|data=2006|editora=Motilal Banarsidass Publishe|lingua=en}}</ref> [[Platão]], admitindo também a teoria reencarnatória, afirma em ''[[Leis (diálogo)|Leis]]'' 9.870:<ref name=":02" /><blockquote>"A vingança é exigida por esses crimes na vida após a morte, e quando um homem retorna a este mundo novamente, ele é inelutavelmente obrigado a pagar a pena prescrita pela lei da natureza - a sofrer o mesmo tratamento que ele próprio infligiu à sua vítima. , e concluir sua existência terrena encontrando um destino semelhante nas mãos de outra pessoa."</blockquote>Plotino, em ''[[Enéadas]]'' 3.2.13:<ref name=":02" /><blockquote>“Assim, um homem, uma vez governante, será feito escravo porque abusou de seu poder e porque a queda é para seu bem futuro. Aqueles que usaram mal o dinheiro ficarão pobres - e para os bons a pobreza não é obstáculo. Aqueles que mataram injustamente, são mortos por sua vez, injustamente em relação ao assassino, mas com justiça em relação à vítima, e aqueles que devem sofrer são lançados no caminho daqueles que administram o tratamento merecido. Não é um acidente que torna um homem escravo; ninguém é prisioneiro por acaso; todo ultraje corporal tem sua devida causa. O homem uma vez fez o que agora sofre. (...) Daí surge aquela palavra espantosa "[[Adrasteia (mitologia)|Adrasteia]]" [a Retribuição Inevitável]; pois na verdade esta ordenança é uma Adrasteia, a própria justiça e uma sabedoria maravilhosa."<ref>{{Citar web|ultimo=Plotino|url=https://www.sacred-texts.com/cla/plotenn/enn199.htm|titulo=Terceira ''Enéada'', Tratado Segundo, seção 13|acessodata=2022-07-15|website=www.sacred-texts.com}}</ref></blockquote>
 
=== Cristianismo ===
Linha 261:
Segundo Lynn F. Sharp, um precursor da ideia de reercarnação com teor cármico no século XIX foi [[Jean Reynaud]], um republicano e [[Socialismo utópico|reformador socialista]] com ideais românticos, cristãos e [[Renascença céltica|neodruidistas]] que formulou uma doutrina de justificação e teria influenciado a formação posterior da [[doutrina espírita]] por [[Allan Kardec]]. Reynaud afirmou:<ref name=":04">{{Citar livro|url=https://books.google.com/books?id=CsFbaq9ysOIC&newbks=0&printsec=frontcover&pg=PA18&dq=%22karma%22+%22jean+reynaud%22&hl=pt-BR|título=Secular Spirituality: Reincarnation and Spiritism in Nineteenth-century France|ultimo=Sharp|primeiro=Lynn L.|data=2006|editora=Lexington Books|lingua=en}}</ref><blockquote>"Assim, somos a causa de nosso próprio nascimento (...) Não somos, portanto, passivos neste fato capital do nascimento, que representa de alguma forma tudo o que há em nossa vida de fatal ou preordenado [incluindo] (.. .) as qualidades essenciais de nossos corpos e nossas mentes, de nossa educação, de nosso status, de nosso país e nossas relações mais comuns na sociedade" "precisamente aquelas circunstâncias que constituem as posições particulares que, por seus esforços anteriores, mereceram do céu "</blockquote>No espiritismo, a chamada "lei de causa e efeito" é análoga à doutrina do carma, e por vezes os termos são intercambiáveis.<ref>{{Citar livro|url=https://books.google.com/books?id=gFxlEAAAQBAJ&newbks=0&printsec=frontcover&pg=PT141&dq=%22carma%22+%22lei+de+causa+e+efeito%22&hl=pt-BR|título=O espiritismo de A a Z|data=2021-10-10|editora=FEB Editora|editor-sobrenome=Sobrinho|editor-nome=Geraldo Campetti|local=Brasília|lingua=pt-PT}}</ref><ref>Hess, David J. (2010). ''Spirits and Scientists: Ideology, Spiritism and Brazilian Culture''. Penn State Press.</ref> Porém aqui, Kardec afirma que a doutrina das penas e recompensas futuras têm sua confirmação no ensino dos espíritos e no raciocínio da justiça divina.<ref name=":04" /><ref>{{Citar web|ultimo=Kempf|primeiro=Charles|url=http://www.espiritualidades.com.br/Artigos/K_autores/KEMPF_Charles_tit_Fundamentos_da_Espiritualidade_do_Espiritismo-Os.htm|titulo=Os Fundamentos da Espiritualidade do Espiritismo|acessodata=2022-07-16|website=Espiritualidade e Sociedade}}</ref><ref>Cavalcanti, Maria Laura Viveiros de Castro (2008). ''[https://static.scielo.org/scielobooks/zffb8/pdf/cavalcanti-9788599662274.pdf O mundo invisível: cosmologia, sistema ritual e noção de pessoa no espiritismo]''. Rio de Janeiro: Centro Edelstein de Pesquisa Social. ISBN 978-85- 99662-27-4. ''[https://web.archive.org/web/20220202101105/https://static.scielo.org/scielobooks/zffb8/pdf/cavalcanti-9788599662274.pdf Arquivado]'' na Wayback Machine em 2 de fevereiro de 2022.</ref>
 
Na teosofia, [[Helena Blavatsky]] incorporou o conceito de carma a partir das doutrinas indianas, o qual também foi divulgado por [[Annie Besant]] e [[Rudolf Steiner]] dentro dos novos movimentos do [[esoterismo ocidental]].<ref>{{Citar livro|url=https://books.google.com/books?id=DouBAgAAQBAJ&newbks=0|título=Encyclopedia of New Religious Movements|ultimo=Clarke|primeiro=Peter|data=2004-03|editora=Routledge|lingua=en}}</ref><ref>{{Citar livro|url=https://books.google.com/books?id=GodzjIfO7e8C&newbks=0|título=Western Esotericism and the Science of Religion: Selected Papers Presented at the 17th Congress of the International Association for the History of Religions, Mexico City 1995|ultimo=Faivre|primeiro=Antoine|ultimo2=FaivreHanegraaf|primeiro2=HanegraafWouter J.|data=1998|editora=Peeters Publishers|lingua=en}}</ref><ref>{{Citar livro|url=https://books.google.com/books?id=iaRWtgXjplQC&newbks=0&printsec=frontcover&pg=PA251&dq=%22karma%22+%22theosophy%22+%22blavatsky%22&hl=pt-BR|título=Karma and Rebirth: Post Classical Developments|ultimo=Neufeldt|primeiro=Ronald W.|data=1986-01-01|editora=SUNY Press|editor-sobrenome=Neufeldt, Ronald W.|lingua=en|capitulo=In Search of Utopia: Karma and Rebirth in the Theosophical Movement}}</ref> O teosofista [[I. K. Taimni]] escreveu: "Karma nada mais é do que a Lei de Causa e Efeito operando no reino da vida humana e provocando ajustes entre um indivíduo e outros indivíduos que ele afetou por seus pensamentos, emoções e ações".<ref>I.K. Taimni ''Man, God and the Universe'' Quest Books, 1974, p. 17</ref>
 
Nos movimentos da [[Nova Era]], o carma é assimilado de uma maneira otimista, considerando-o como uma oportunidade de evolução espiritual progressiva, em meio à interconexão cósmica e o livre-arbítrio, e muitas vezes rejeitando-se seu caráter oficial oriental de punição ou retribuição.<ref>{{Citar livro|url=https://books.google.com/books?id=uNmmDwAAQBAJ&newbks=0&printsec=frontcover&pg=PA286&dq=%22new+age%22+%22karma%22&hl=pt-BR|título=New Age Religion and Western Culture: Esotericism in the Mirror of Secular Thought|ultimo=Hanegraaff|primeiro=Wouter J.|data=2018-09-24|editora=BRILL|lingua=en}}</ref> No [[neopaganismo]] [[Wicca|wiccano]], derivou-se dele a chamada "[[Lei Tríplice]]".<ref>{{Citar livro|url=https://books.google.com/books?id=nDdcVt9-jnMC&newbks=0&printsec=frontcover&pg=PA344&dq=%22threefold+law%22+%22karma%22+%22buckland%22&hl=pt-BR|título=The Encyclopedia of Witches, Witchcraft and Wicca|ultimo=Guiley|primeiro=Rosemary|data=2008|editora=Infobase Publishing|lingua=en}}</ref> Alusões ao conceito também se difundiram na [[cultura popular]].<ref>{{Citar livro|url=https://books.google.com.br/books?hl=pt-BR&id=qJesBwAAQBAJ&q=karma|título=The Routledge Companion to Religion and Popular Culture|ultimo=Lyden|primeiro=John C.|ultimo2=Mazur|primeiro2=Eric Michael|data=2015-03-27|editora=Routledge|lingua=en}}</ref>