Relação bem-fundada: diferenças entre revisões

Conteúdo apagado Conteúdo adicionado
Merrill (discussão | contribs)
wkf
Linha 1:
{{portal-matemática}}
{{wikificar|28 de Fevereiro de 2008}}
== Introdução ==
 
Em [[matemática]], uma [[relação binária]] ''R'' é uma '''relação bem-fundada''' numa [[classe]] ''X'', se e somente se, todo [[subconjunto]] não [[vazio]] de ''X'', tiver um [[elemento]] ''R'' -[[Elemento_minimal|minimal]]; ou seja, para todo [[subconjunto]] não [[vazio]] ''S'' de ''X'', existe um [[elemento]] ''m'' de ''S'' tal que para todo [[elemento]] ''s'' de ''S'', o par (''s'',''m'') não está em ''R''.
Antes de começarmos a mostrar o conceito de relações bem-fundadas, um importante axioma será apresentado: o [http://en.wikipedia.org/wiki/Axiom_of_regularity axioma da regularidade], que evita certas situações indesejadas como loop´s com conjuntos (será brevemente apresentado).
 
Em outras palavras, todo subconjunto não vazio de ''X'' possui um elemento ''m'' tal que para todo ''s'', <math>s \not\in m</math>. Desta forma, evitamos situações de loop (como mostrado no tópico acima).
== Axioma da regularidade ==
<!--
[[Image:Axioma regularidade.JPG |right|thumb| Axioma da regularidade]]</div>
-->
 
Formalizando com a lógica de predicados, temos:
O axioma da regularidade (ou [[axioma]] da fundação) diz que para todo [[conjunto]] não-[[vazio]] ''A'', contendo algum elemento ''B'', ''A'' e ''B'' são [[Conjuntos disjuntos|disjuntos]] (ou seja, <math>A \cap B=\{\varnothing\}</math>).
 
<center>
{| width="70%" style="border:1px solid #BBB; background:#FFF; padding:1em" valign="top"|}
{|
|
:<math>\forall A (A \neq \{\} \rightarrow \exists B (B \in A \land \lnot \exist C (C \in A \land C \in B)))</math>
</center> .
|}
</center>
<br>
Desta definição, temos que nenhum [[conjunto]] pode ser [[elemento]] de si prórpio e que não existe uma [[sequência]] infinita tal que (''a''<sub>i+1</sub>) não é um elemento de (''a''<sub>i</sub>) para todo ''i''.
<br>
Este é o único axioma expressando a idéia que os conjuntos ocorrem em níveis ou tipos, e é preciso utilizar a teoria cumulativa (que afirma que os níveis não têm fim) de tipos para entende-lo.
<br><br>
Para ficar mais claro, este axioma:
<br>
*Expressa a idéia que os conjuntos ocorrem em níveis ou tipos e pra isso é preciso utilizar a teoria cumulativa (que afirma que os níveis não têm fim) de tipos para entende-lo;
*Garante que a definição alternativa de [[par ordenado]] (''a'', ''b'') = {''a'', {''a'',''b''}} seja satisfatória;
*Garante que não existem conjuntos do tipo <math>X = \{\ X \}</math> ou <math>Y = \{ \varnothing, Y \}</math>, pois evita loop, já que um cojunto não poderá ter ele mesmo como elemento;
**Sendo portanto fundamental para evitar situações da forma <math>x \in x</math> ou, em geral,
 
<center>
''x''<sub>1</sub> <math>\in</math> ''x''<sub>2</sub> <math>\in</math> ''x''<sub>3</sub> <math>\in</math> ''x''<sub>4</sub> <math>\in</math> ... <math>\in</math> ''x''<sub>n</sub> <math>\in</math> ''x''<sub>1</sub> .
</center>
 
Além disso, este axioma evita descensos infinitos como mostrado logo abaixo,
 
<center>
...
''x''<sub>n</sub> <math>\in</math> ''x''<sub>n-1</sub> <math>\in</math> ... <math>\in</math> ''x''<sub>2</sub> <math>\in</math> ''x''<sub>1</sub>
</center>.
 
Com isto temos que a relacão <math>x \in y</math> é bem-fundada, pois o axioma garante a ausência de loop, fato importante para que este tipo de relação seja satisfeita.
 
== Definição de relação bem-fundada ==
 
Na [[matemática]], uma [[relação binária]] ''R'' é uma '''relação bem-fundada''' numa [[classe]] ''X'', se e somente se, todo [[subconjunto]] não [[vazio]] de ''X'', tiver um [[elemento]] ''R''-[[Elemento_minimal|minimal]]; ou seja, para todo [[subconjunto]] não [[vazio]] ''S'' de ''X'', existe um [[elemento]] ''m'' de ''S'' tal que para todo [[elemento]] ''s'' de ''S'', o par (''s'',''m'') não está em ''R''.
<br>
Em outras palavras, todo subconjunto não vazio de ''X'' possui um elemento ''m'' tal que para todo ''s'', <math>s \not\in m</math>. Desta forma, evitamos situações de loop (como mostrado no tópico acima).
<br>
<br>
Formalizando com a lógica de predicados, temos:
<br>
<center>
{| width="70%" style="border:1px solid #BBB; background:#FFF; padding:1em" valign="top"|}
{|
|
<center>
:<math>\forall S \exists m \forall s ((S \subseteq X \and S \neq \{\})</math> → <math>((m \in S\and s \in S) \and \neg (s \in m)))
</math>.
</center>
|}
</center>
 
Equivalentemente, assumindo uma função de [[Axioma da escolha|escolha]] qualquer, uma relação será bem-fundada se e somente se essa relação não contiver cadeia [[Conjunto contável|descendente infinitamente enumerável]], isto é, se não existir uma seqüência ''x''<sub>0</sub>, ''x''<sub>1</sub>,... de elementos de ''X'', tal que ''x''<sub>n+1</sub>''Rx''<sub>n</sub> para todo número natural ''n''.
 
<br><br>
Na teoria das [[Relação de ordem|estruturas ordenadas]], uma [[ordem parcial]] é dita bem-fundada se a [http://en.wikipedia.org/wiki/Strict_order#Strict_and_non-strict_partial_orders ordem estrita] correspondente é uma [[relação]] bem-fundada. Se a ordem for uma [[Topologia da ordem|ordem total]], então ela é dita [http://www.cs.utexas.edu/users/moore/acl2/v2-9/WELL-FOUNDED-RELATION.html bem-ordenada].
 
<br><br>
Na [[teoria dos conjuntos]], um conjunto ''ß'' é dito um conjunto bem-fundado se a relação de [[ Conjunto|pertinência]] for bem-fundada no [http://en.wikipedia.org/wiki/Transitive_set fecho transitivo] de ''ß''. O axioma da regularidade, o qual é um dos axiomas de [[Axiomas de Zermelo-Fraenkel|Zermelo-Fraenkel]] na teoria dos conjuntos, afirma que todos os conjuntos são bem-fundados.
 
<br>
== Algumas definições: ==
 
<br>
*O conjunto vazio é um conjunto bem-fundado;
*Toda coleção de conjuntos bem-fundados, é um conjunto bem-fundado;
Linha 82 ⟶ 30:
==Indução e Recursão==
Se (''X'', ''R'') é uma relação binária bem-fundada e ''P''(''x'') é alguma propriedade dos elementos de ''X'', queremos mostrar que ''P''(''x'') vale para todos os elementos de ''X'', então é suficiente mostrar que:
 
<br>
Considerando a propriedade ''P'' como sendo "olhos claros" e a relação <math>yRx</math> significando "''y'' é pai de ''x''".
 
<br>
<center>
Se ''x'' é um elemento de ''X'' e ''P''(''y'') é verdadeiro para todo ''y'' tal que ''y'' se relaciona com ''x'' (<math>yRx</math>), então ''P''(''x'') deve ser também verdadeiro.
</center>
Talvez o significado considerado para a propriedade ''P'' e para a relação ''R'' não seja tão expressivo para este caso, pois se ''y'' for pai de ''x'', não necessariamente ''x'' terá olhos claros (como seu pai), mas há significado mais expressivo a ser considerado.
 
<br>
Relações bem-fundadas dão suporte não apenas à indução, mas também a construções de objetos por recursão transfinita. Seja (''X'', ''R'') uma relação bem-fundada conjuntista e ''F'' uma função que determina um objeto ''F''(''x'', ''g'') para cada <math>x \in X</math> e cada função parcial ''g'' em ''X''. Então existe uma única função ''G'' tal que para cada <math>x \in X</math>,
 
<br>
<br>
<center>
:<math>G(x)=F(x,G\vert_{\{y: y\,R\,x\}})</math> .
</center>
 
<br>
Isto é, se queremos construir uma função ''G'' em ''X'', podemos definir ''G''(''x'') usando os valores de ''G''(''y'') tais que <math>yRx</math>. Como um exemplo, consideremos a relação bem-fundada (<math>\mathbb{N}</math>,''S''), onde <math>\mathbb{N}</math> é o conjunto de todos os [[números naturais]] e ''S'' é o gráfico da função sucessor x->x+1. Então uma indução sobre ''S'' é a [[indução]] matemática usual e a [[recursão]] em ''S'' se trata da recursão primitiva. Se considerarmos a [[relação de ordem]] (<math>\mathbb{N}</math>,<), obtemos a indução completa e a recursão sobre curso de valores. A asserção de que (<math>\mathbb{N}</math>,<) é bem-fundada é também conhecida como [[Princípio da boa-ordenação|princípio da boa ordenação]].
 
<br>
<br>
Existem outros casos especiais de indução bem-fundada. Quando a relação bem-fundada é ordenação usual na classe de todos os [[números ordinais]], a técnica é chamada de [[Indução matemática|indução transfinita]]; quando o conjunto bem-fundado é um conjunto de estruturas de dados recursivamente definidas, a técnica é chamada de [[indução estrutural]] (método de demonstração em que a proposição vale para todas as estruturas minimais, e que se valer para as subestruturas de uma determinada estrutura ''S'', então deverá valer para ''S'' também). Quando a relação bem-fundada é pertinência de conjuntos na na classe universal, a técnica é conhecida como ∈ - [[indução]].
 
== Exemplos ==
Relações bem-fundadas não totalmente ordenadas:
 
<br>
*Os [[inteiros]] (<math>\mathbb{Z}</math>) positivos {1,2,3...} com a ordem definida por ''<math>a<b</math>'' [[se e somente se]] ''a'' [[divisor|divide]] ''b'' e ''a'' &ne; ''b''.
*O conjunto de todas as [[Cadeia de caracteres|strings]] finitas sobre um alfabeto fixo, com a ordem definida por ''<math>s<t</math>'' se e somente se ''s'' é uma substring própria de ''t''.
Linha 123 ⟶ 69:
às vezes implicitamente, a relação alternativa ''R''' definida de tal modo que <math>aR'b</math> se apenas se <math>aRb</math> e ''a'' &ne; ''b''. No contexto dos números naturais isso significa que a relação <, que é bem-fundada, é usada em vez da relação ≤, que [http://en.wikipedia.org/wiki/Non-well-founded_set_theory não é bem-fundada]. Em alguns textos, a definição de uma relação bem-ordenada é uma versão modificada da definição acima, proposta com o intuito de incluir esta convenção.
 
=={{Ver também}}==
==Algumas relações matemáticas==
 
*[[Relação transitiva]]
{| width="950%" style="border:1px solid #68A; background:#EED; padding:1em" valign="top"|}
*[[Relação binária]]
*[[Relação de ordem]]
*[[Relação de equivalência]]
*[[Relação composta]]
*[[Relação inversa]]
 
==Referências==
{|
|
* Relação estrita
* [[Relação transitiva]]
|
* [[Relação binária]]
* Relação simétrica
|
* [[Relação de ordem]]
* Relação assimétrica
|
* [[Relação de equivalência]]
* [[Relação composta]]
|
* [[Relação inversa]]
* Relação de compatibilidade
|}
 
*JONES, Roger Bishop, Dec.2006. [http://www.rbjones.com/rbjpub/pp/doc/t005.pdf Well Founded Relations]
<!--
==Imagens==
<gallery>
Image:Revista_tico_tico.jpg |
Image:Revista_tico_tico.jpg |
</gallery>
-->
 
*TAYLO, Paul. [http://www.cs.man.ac.uk/~pt/Practical_Foundations/html/s26.html Practical Foundations of Mathematics]
==Referências==
 
* LARRECQ, Jean Goubault. [http://citeseer.ist.psu.edu/goubault-larrecq01wellfounded.html Well-Founded Recursive Relations]
[1] JONES, Roger Bishop, Dec.2006.
 
[http://www.rbjones.com/rbjpub/pp/doc/t005.pdf Well Founded Relations]
*CONIGLIO, Marcelo Esteban.''Teoria axiomática dos conjuntos''. Universidade estadual de Campinas-SP, Brasil.
<br>
 
[2] TAYLO, Paul.
*FORSTER, Thomas.''Logic, Computation and Set Theory''. 14 jan. 2002.
[http://www.cs.man.ac.uk/~pt/Practical_Foundations/html/s26.html Practical Foundations of Mathematics]
<br>
[3] LARRECQ, Jean Goubault.
[http://citeseer.ist.psu.edu/goubault-larrecq01wellfounded.html Well-Founded Recursive Relations]
<br>
[4]CONIGLIO, Marcelo Esteban.''Teoria axiomática dos conjuntos''.
Universidade estadual de Campinas-SP, Brasil.
<br>
[5]FORSTER, Thomas.''Logic, Computation and Set Theory''. 14 jan. 2002.
<br>
[6] [http://pt.wikipedia.org/wiki/Rela%C3%A7%C3%A3o_de_equival%C3%AAncia Relação de equivalência]
 
{{semiw}}
[[Categoria:Teoria dos conjuntos|Relacao bem-fundada]]
[[Categoria:Álgebra|Relacao bem-fundada]]
[[Categoria:Lógica|Relacao bem-fundada]]
 
{{semiw}}