Fernando Mamede

atleta português de fundo

Fernando Eugénio Pacheco Mamede ComM (Beja, 1 de novembro de 1951), mais conhecido por Fernando Mamede, é um antigo atleta português, que participou nos Jogos Olímpicos de 1972, 1976 e 1984, nas provas dos 800, 1500, 10000 metros e estafetas 4x400 m.[1] Atleta do Sporting Clube de Portugal durante toda a sua carreira, bateu recordes internacionais de atletismo. Foi um dos fundistas portugueses com maior relevo, e deteve o recorde mundial dos 10 000 metros entre 1984 e 1989. Apesar do seu reconhecido talento natural, nunca conseguiu ultrapassar as barreiras psicológicas inerentes ao desporto de alta competição, conseguindo apenas medalhar por uma ocasião, em grandes competições internacionais.[2]

Fernando Mamede
Atletismo
Nome completo Fernando Eugénio Pacheco Mamede
Modalidade Meio Fundo
Nascimento 1 de novembro de 1951 (72 anos)
Beja, Portugal
Nacionalidade portuguesa
Compleição Peso: 58 kg; • Altura: 1,74 m
Clube Sporting CP
Período em atividade (1968 - 1989)
Medalhas
Campeonatos Mundiais de Corta-Mato
Bronze Madrid 1981 corrida longa

Carreira editar

Fernando Mamede começou a sua carreira desportiva no futebol, tendo o sonho de um dia representar a equipa do seu coração, o Sporting Clube de Portugal. A passagem para o atletismo dá-se no dia em que participa no Campeonato Distrital de Corta-Mato, realizado em Beja. O jovem Mamede vence a prova, e de forma convincente, suficiente para ganhar o gosto pela modalidade, que não mais largaria. Primeiro no desporto escolar e depois ao serviço do Sporting, que o convida para o clube, logo a seguir a uma vitória sua nos 1000 metros, à frente de vários atletas federados. O jovem de Beja nem hesita e assina de imediato pela sua equipa de sempre. Apesar de representar oficialmente os Leões, continuou a residir na sua terra natal, até perfazer 18 anos de idade.

Em 1969 dá-se a mudança definitiva para a capital e o início de uma carreira notável.[3]

Foi ainda como atleta júnior que Fernando Mamede bateu o primeiro de muitos recordes nacionais absolutos. No ano de 1970, bateu o recorde nacional dos 800 metros por mais de um segundo de diferença, na cidade de Bruxelas. Estava dado o mote para uma carreira cheia de registos notáveis, às quais apenas faltariam as medalhas em grandes competições internacionais, ao serviço de Portugal. A juntar ao recorde, o atleta sagrou-se campeão nacional de pista e de corta-mato e participou no Campeonato do Mundo de juniores, em Paris. Antes da sua estreia nas Olimpíadas bisou na conquista dos seus títulos nacionais e conseguiu inúmeras vitórias em estafetas, sempre ao serviço do seu clube. O seu máximo nacional seria revalidado em 1971 por mais duas vezes, em Barcelona e Helsínquia.

Participação Olímpica editar

A primeira participação do atleta alentejano em Jogos Olímpicos acontece em 1972, numa edição marcada pelos terríveis acontecimentos do massacre de Munique. Mamede participa em três provas, 800 metros, 1500 metros e estafeta de 4x400 metros, recaindo sobre si muita esperança por parte do atletismo português. Mas surpreendentemente, em todas elas tem o mesmo destino, a precoce eliminação na fase das qualificações.[4] Sobrou apenas a pequena consolação de ter atingido o recorde de Portugal na categoria de estafetas, com o tempo de 3:10.00. Fernando Mamede deu um contributo decisivo, pois realizou o último percurso.[2] Dois anos depois da frustrante participação olímpica, estreia-se nos campeonatos da Europa, nas disciplinas de 800 metros e 1500 metros, com eliminações nas meias-finais e qualificações, respetivamente. O atleta continuava a não corresponder nas grandes competições internacionais, acusando em demasia a pressão do momento. A nível nacional, vencia tudo o que havia para vencer, somando títulos atrás de títulos, ao serviço do Sporting. Teve como treinador e figura tutelar Mário Moniz Pereira.[5]

Aos 25 anos de idade, participa pela segunda vez nos Jogos, desta feita em Montreal. Na estreia dos 800 metros acaba mais uma vez eliminado à primeira. Na prova dos 1500 metros tudo começa dentro do previsto, com a qualificação fácil para as meias-finais. Infelizmente para as cores nacionais, Mamede fez uma prova muito aquém das expectativas na sua semifinal, fazendo o pior tempo da sua série, e o segundo pior tempo no conjunto das duas provas, com 3:42.59, muito longe da sua melhor marca, que lhe daria tranquilamente um lugar na final olímpica.[1] Portugal conquistaria a sua primeira medalha olímpica da história, com a prata de Carlos Lopes nos 10 000 metros. Fernando Mamede começava a cimentar a sua fama de atleta de eleição, que nos grandes momentos cedia inevitavelmente à pressão do momento.

Inicialmente, compatibilizava o cumprimento do serviço militar obrigatório num quartel em Lisboa, depois de ter evitado embarcar para Moçambique graças ao pagamento de 15 000 escudos por parte do Sporting e da Federação Portuguesa de Atletismo, com os treinos de atletismo. Em abril de 1975, no contexto do processo revolucionário em curso (PREC), e incomodado com o tumultuoso período que se vivia nas Forças Armadas, optou por passar à disponibilidade.[5]

Vitórias internacionais editar

No antecâmara dos Europeus de Praga, 1978, Fernando Mamede ajudou o seu clube a conquistar a 1.ª Taça dos Campeões Europeus de corta-mato. Na capital checa, voltou a fraquejar, não passando do 15.º Lugar, dos 5000 metros, prova para a qual tinha naturais esperanças de medalhar, pois havia estabelecido uma das melhores marcas do ano, no meeting de Estocolmo, com o tempo de 13.17,78.[6] Os anos que se seguiram a esta desilusão, foram os melhores da sua carreira. Foi considerado o atleta do ano de 1979, pelo Clube Nacional da Imprensa Desportiva, revalidou o título de campeão da Europa por equipas, em corta-mato e sagrou-se campeão europeu ao serviço do Sporting, na prova dos 10 000 metros. No ano seguinte, e nesta mesma distância, dois grandes registos: torna-se no recordista da Europa, no Estádio José de Alvalade e bate a marca mundial do ano, com o fantástico tempo de 27 minutos e 37,88 segundos.[3] Quando conquista a medalha de bronze nos mundiais de cross, em Madrid 1981, já era considerado um dos melhores corredores do mundo. Começou por exercer funções no departamento de Contabilidade e depois no departamento de Futebol do Sporting. Posteriormente, frequentou o Curso de Comércio durante dois anos, quando optou por interrompê-lo e entrar em 1980 para os quadros da secção de Organização do Crédito Predial Português, onde desempenhou funções administrativas e de secretariado.[5]

No ano de 1982, com 31 anos de idade, sagra-se vencedor do meeting de Paris, em 10 000 metros, a sua prova de eleição. Triunfa no meeting de Zurique, em 5000 metros, no ano seguinte e na S. Silvestre em Hoilles, realizada França. Era por esta altura um valor seguro no atletismo português, faltando-lhe apenas a confirmação em provas de nomeada.

Recorde do Mundo e fracasso Olímpico editar

A desilusão que foi a participação nos primeiros campeonatos do Mundo de atletismo, realizados em Helsínquia, seria um sinal de que os problemas de índole psicológica, que o atacavam nos grandes momentos, ainda estavam bem presentes. Um atleta fortíssimo em meetings, empolgante na sua forma própria de correr, que infelizmente não confirmava todo o seu potencial nos grandes certames. Ficou em 10.º Lugar nos Mundiais, muito longe do lugar no pódio pretendido. Em dezembro de 1983, abriu a loja Mamede Sport na Avenida de Roma, em Lisboa, tendo como sócio António Montez, representante da marca Asics Tiger. A mulher de Fernando Mamede, Alzira, deixou o trabalho no Sporting e passou a dedicar-se à loja, que decoraram com os troféus e taças vencidos por Fernando Mamede.[5]

No entanto, em 1984 torna-se no recordista mundial dos 10 000 metros, numa corrida em que bateu o seu colega português e do Sporting, Carlos Lopes. Na capital sueca, Estocolmo, os dois acabaram a dar a volta à pista de mãos dadas, sinal de uma rivalidade sadia.[6] À partida para os Jogos Olímpicos de Los Angeles, nem um mês depois do seu recorde do mundo, a pressão nos ombros de Fernando Mamede era enorme. Era já o grande favorito ao ouro olímpico e a participação na prova de qualificação acentuou ainda mais o fosso para os seus concorrentes diretos. Mamede ganhou tranquilamente a sua prova, com o tempo de 28:21.87. A final, colocou os portugueses junto ao pequeno ecrã, madrugada dentro, na expectativa de vibrarem com um título olímpico português. A meio da corrida, o corredor alentejano, recordista mundial da distância, cedeu à pressão e desistiu, frustrando aquela que foi a sua grande chance de conquistar uma medalha em grandes competições, durante toda a sua carreira.[6][7]

Fernando Mamede continuou a vencer os vários meetings e campeonatos nacionais disputados, até ao final da sua carreira. O seu recorde mundial de 10 000 metros só caiu em 1989, para o mexicano Arturo Barrios, numa prova disputada em Berlim. Foi o maior feito da carreira do corredor de Beja, que durou 21 anos. Para a história ficaram as suas impressionantes marcas, mas também a fragilidade psicológica, dum atleta, que tinha potencial para outros patamares, mas a quem faltou outro tipo de acompanhamento e preparação mental para os momentos decisivos.

A 4 de fevereiro de 1989, foi agraciado com o grau de Comendador da Ordem do Mérito.[8]

Nos últimos anos da carreira desportiva, o Crédito Popular Português recusava dar-lhe as dispensas a que tinha direito por ser atleta de alta competição. Em 1990, deixou funções no Crédito Popular Português e foi trabalhar novamente para o Sporting, como adjunto de Mário Moniz Pereira. Saiu do Sporting pouco depois, tendo sido afastado por José de Sousa Cintra, a quem não apoiou para a presidência do clube. Antes de se reformar, trabalhou ainda na Câmara Municipal da Azambuja e depois novamente no Sporting.[5]

Em Beja, foi nomeado em sua homenagem o Complexo Desportivo Fernando Mamede.[5]

Vida pessoal editar

Fernando Mamede nasceu a 1 de novembro de 1951, em Beja, numa casa da Rua da Casa Pia, filho único de Joaquim, alfaiate, e de Custódia, doméstica. Aos três anos, teve uma doença pulmonar grave que quase lhe tirou a vida. O pai, Joaquim Mamede, acabaria por falecer em novembro de 1972, aos 48 anos, depois de ter tido uma trombose.[5]

Casou na igreja de S. José, em Lisboa, a 5 de setembro de 1971, com Alzira da Conceição Ponte Brás, então com 24 anos, natural de Algoz, Silves, e sua colega no Departamento de Contabilidade do Sporting Clube de Portugal. Do casamento nasceu uma filha, Patrícia Mamede, a 15 de novembro de 1973, no Hospital de Santa Maria, em Lisboa.[5]

Palmarés editar

Jogos Olímpicos editar

Campeonatos do Mundo editar

Campeonatos da Europa editar

Feitos Desportivos editar

  •   Campeonato Mundial de Corta-Mato, Madrid 1981 - (Medalha de Bronze)
  • 27 recordes nacionais
  • 1 recorde mundial (10000 metros)
  • 3 recordes europeus
  • 20 títulos nacionais

Recordes pessoais editar

Referências

  1. a b Evans, Hilary; Gjerde, Arild; Heijmans, Jeroen; Mallon, Bill; et al. «Perfil no Sports Reference». Sports Reference LLC (em inglês). Olympics em Sports-Reference.com. Cópia arquivada em 4 de dezembro de 2016 
  2. a b Infopédia. «Fernando Mamede». Infopédia. Consultado em 21 de agosto de 2012 
  3. a b Centenário Sporting.com (2007). «GRANDES ENTREVISTAS UNIVERSO SPORTING - FERNANDO MAMEDE». Centenário Sporting.com. Consultado em 20 de agosto de 2012 
  4. Federação Portuguesa de Atletismo (2012). «1972 Munique». Federação Portuguesa de Atletismo. Consultado em 20 de agosto de 2012 
  5. a b c d e f g h «Fernando Mamede: muito mais que um desistente». Diário de Notícias. Consultado em 30 de novembro de 2023 
  6. a b c Record (jornal desportivo) (3 de janeiro de 2003). «Fernando Mamede: O eterno incompreendido». Record (jornal desportivo). Consultado em 22 de agosto de 2012 
  7. Centenário Sporting.com (2007). «Fernando Mamede». Centenário Sporting.com. Consultado em 22 de agosto de 2012 
  8. «Cidadãos Nacionais Agraciados com Ordens Portuguesas». Resultado da busca de "Fernando Eugénio Pacheco Mamede". Presidência da República Portuguesa. Consultado em 11 de agosto de 2019 

Ligações externas editar