Templo de Diana (Nemi)

O Templo de Diana Aricina ou Templo de Diana Nemorense foi um antigo santuário romano erguido por volta de 300 a.C. e dedicado para a deusa Diana.[1] O templo estava situado na margem norte do Lago Nemi, sob as falésias da moderna cidade de Nemi (em latim: nemus Aricinum).[2] Foi um local de peregrinação na península italiana. O complexo do templo cobria uma área de 45,000 metros quadrados.

Templo de Diana
Templo de Diana (Nemi)
Ruínas do Templo de Diana em Nemi.
Localização atual
Templo de Diana está localizado em: Itália
Templo de Diana
Coordenadas 41° 43' 28.01" N 12° 42' 33.42" E
País  Itália
Local Lácio, Itália
Região Provincia di Roma
Comuna Nemi
Área 45 000 m²
Dados históricos
Época século II a.C. ao III d.C.
Civilização Romana
Notas
Administração Soprintendenza Speciale per i Beni Archeologici di Roma
Acesso público Não

Evidências históricas sugerem que a adoração de Diana em Nemi floresceu pelo menos desde o século VI a.C.[3] O templo foi abandonado em algum ponto no final do período do Império Romano. Se ainda estivesse em uso no século IV, teria sido fechado durante a perseguição aos pagãos no final do Império Romano. Porções de seus mármores e decorações foram removidas. A área do templo foi gradualmente coberta pela floresta e geralmente deixada intacta por séculos. Escavações arqueológicas amadoras no local começaram em 1600.[4][5]

Descrição editar

O complexo era extenso sob uma área de 45.000 metros quadrados[6] do perímetro de 200 metros por 175, sustentado a justante por subestruturas triangulares e a montante por nichos semicirculares em quais provavelmente haviam as estátuas e um terraço superior.[6] Ao interior da plataforma corriam dois pórticos da ordem dórica, um com colunas rebocadas em vermelho, outro com colunas de pedras cinzas escuras; eram estátuas, ambientes para sacerdotes, alojamento para os peregrinos, celas doarias, um templo, banhos hidroterápicos e até mesmo um teatro; de toda essa estrutura são visíveis uma parede de grandes nichos, uma parte do pronau com ao menos um altar votivo, e algumas lacunas.

Escavações arqueológicas editar

As primeiras escavações datam da segunda metade do século XVII por obra do Marquês Mario e Pompeo Frangipani, senhores de Nemi. A informação relativa chegou até nós em uma carta enviada pelo erudito Giovanni Argoli, secretário do cardeal Lelio Biscia, a Giacomo Filippo Tomasini e inserida em seu De donariis ac tabellis votivis liber singularis, Pádua, 1654, p. 13 e segs.[7][8][9]

As escavações que se seguiram, como a de Antonio Nibby,[10] foram realizadas sobretudo por trabalho de amadores e estudiosos estrangeiros e, portanto, em sua maior parte, os achados, especialmente estátuas de esplêndidas obras, estão agora espalhadas em museus americanos como o Museu da Universidade da Pensilvânia, o Museu de Belas Artes (Boston) ou em museus europeus, como o museu do Castelo de Nottingham e a Gliptoteca Ny Carlsberg. Outras peças podem ser encontradas no Museo delle navi romane di Nemi e nos museus romanos de Villa Giulia e nas Termas de Diocleciano.

Qualidades editar

O templo de Diana Nemorense foi precedido pelo bosque sagrado no qual havia uma imagem de culto esculpida. O templo foi considerado por Vitrúvio como sendo arcaico e "etrusco" em sua forma.[11] A. E. Gordon[12] tem observado que "a data comparativamente tardia dos restos escavados do santuário[13] não impede a dedicação do bosque no final do século VI". Andreas Alföldi tem demonstrado que a imagem de culto ainda existia em 43 a.C., quando foi refletida na moeda.[14]

Dois exemplos dos denários (RRC 486/1) retratando a cabeça de Diana Nemorense e sua estátua tripla de culto[15]

O tipo itálico da imagem de culto triforme de Diana Nemorense foi reconstruído por Alföldi a partir de uma sequência de moedas do período republicano posterior que ele conectou com uma gens de Arícia.[16] Nos primeiros exemplos, as três deusas estão diante de uma madeira esboçada, a deusa central colocando a mão direita no ombro de uma deusa e a esquerda no quadril da outra. As três são mostradas como sendo uma por uma barra horizontal atrás de seus pescoços que conecta elas. Os cortadores posteriores simplificaram a imagem. Alföldi interpretou a imagem numismática como a Diana latina "concebida como uma unidade tripla da caçadora divina, a deusa da Lua e a deusa do mundo inferior, Hécate", observando que Diana montium custos nemoremque virgo ("guardiã das montanhas e da virgem de Nemi") é tratada por Horácio como diva triformis ("deusa de três formas").[17] Diana é comumente tratada como Trivia por Virgílio e Catulo.

As oferendas votivas, nenhuma anterior ao século IV a.C.,[18] encontradas no bosque de Arícia retratam ela como uma caçadora e, além disso, abençoando homens e mulheres com filhos, e garantindo às gestantes um parto fácil.[19] A inscrição dedicatória, há muito desaparecida, foi copiada por sua curiosidade como testemunho da união política das cidades latinas, a Liga Latina[20] por Catão, o Velho e transmitida, talvez incompletamente, pelo gramático Prisciano:

Lucum Dianium in nemore Aricino Egerius Baebius Tusculanus dedicavit dictator Latinus. hi populi communiter: Tusculanus, Aricinus, Lanuvinus, Laurens, Coranus, Tiburtis, Pometinus, Ardeatis Rutulus

Diana Nemorense não foi traduzida para a Roma Republicana pelo rito chamado evocatio, como era realizado para Juno de Veios, mas permaneceu uma estrangeira ali, em um templo fora do pomério, aparentemente no Aventino.[21]

Uma inscrição votiva da época de Nerva indica que Vesta, a deusa romana da lareira, do lar e da família, também foi venerada no bosque de Nemi.[22]

The Golden Bough editar

Diz a lenda que o sumo sacerdote de Diana em Nemi, conhecido como Rex Nemorensis, sempre foi um escravo fugitivo que só poderia obter a posição derrotando seu predecessor em uma luta até a morte.[23] Sir James George Frazer escreveu sobre este bosque sagrado em The Golden Bough, baseando sua interpretação em breves observações em Estrabão (5.3.12), Pausânias (2.27.24) e no comentário de Sérvio sobre a Eneida (6.136). A lenda conta a história de uma árvore que ficava no centro do bosque e era fortemente protegida. Ninguém tinha permissão de quebrar seus galhos, com a exceção de um escravo fugitivo, a quem era permitido, se pudesse, quebrar um dos galhos. Ele então teve em troca o privilégio de envolver o Rex Nemorensis, o atual rei e sacerdote de Diana, em uma luta até a morte. Se o escravo prevalecesse, ele se tornaria o próximo rei enquanto pudesse derrotar seus adversários. Entretanto, Joseph Fontenrose criticou a suposição de Frazer de que um rito desse tipo realmente ocorreu no santuário,[24] e não existem registros contemporâneos que apoiem a existência histórica do Rex Nemorensis.[25]

Ver também editar

Referências

  1. Ghini, Giuseppina (1992). Il Museo delle navi romane e Il Santuario di Diana di Nemi. Roma: Ist. Poligrafico dello Stato. ISBN 978-8824002462 
  2. Quilici, L., S. Quilici Gigli. «Places: 422917 (Diana, T.)». Pleiades. Consultado em 6 de abril de 2021 
  3. Gordon, A.E. (1932). "On the Origin of Diana", Transactions and Proceedings of the American Philological Association 63 (1932, pp. 177-192) p 178.
  4. Maria Grazia Picozzi (2003). Jane Fejfer; Tobias Fischer-Hansen; Annette Rathje, eds. «Orfeo Boselli and the Interpretation of the Antique». Museum Tusculanum Press. The Rediscovery of Antiquity: The Role of the Artist: 103–104. ISBN 9788772898292. A letter by Giovanni Argoli dated in 1637, referred to in De donariis ac tabellis votivis by Jacopo Filippo Tomasini, informs us that (perhaps in the same year) the Frangipane, owners of the Rocca of Nemi and the land below, had carried out excavations which had brought to light many votive terracottas as well as a fragmentary statue, understood to be that of Diana herself: «simulacrum numinis ipsum, venatorio habitu succintum, mutilum tamen, mancumque; quid deterius est, capite ancisum» (Tomasini 1654, 13). 
  5. Luigi Devoti (1987). Campagna romana viva (em italiano). 4. [S.l.]: Associazione tuscolana Amici di Frascati. p. 90. Le prime ricerche effettuate con carattere di ufficialità, se così possiamo dire, risalgono alla seconda metà del secolo XVII per opera dei Marchesi Mario e Pompeo Frangipani Signori di Nemi. Le notizie relative ci sono pervenute per una lettera inviata da Giovanni Argolo segretario del Cardinale Lelio Biscia al Tomassini e inserita nel suo scritto «DE DONARIIS VETERUM.» 
  6. a b Coarelli 1981, p. 100-103.
  7. Luigi Devoti (1987). Campagna romana viva. 4. [S.l.]: Associazione tuscolana Amici di Frascati. p. 90. Le prime ricerche effettuate con carattere di ufficialità, se così possiamo dire, risalgono alla seconda metà del secolo XVII per opera dei Marchesi Mario e Pompeo Frangipani Signori di Nemi. Le notizie relative ci sono pervenute per una lettera inviata da Giovanni Argolo segretario del Cardinale Lelio Biscia al Tomassini e inserita nel suo scritto «DE DONARIIS VETERUM.» 
  8. Gilda Bartoloni, Piera Bocci Pacini (1996). Maria Grazia Picozzi, Filippo Carinci, ed. «De Donariis». Studi in memoria di Lucia Guerrini, Vicino Oriente, Egeo-Grecia, Roma e mondo romano – Tradizione dell'antico e collezionismo di antichità. L'Erma di Bretschneider. p. 440. Ma l'importanza che riveste Nemi nella trattazione di Tomasini è oltremodo sottolineata dalla lettera che gli viene inviata da G. Argoli, su suggerimento del suo mecenate, il cardinale Lelio Biscia, il quale, mentre villeggiava a Genzano, aveva avuto in dono da Mario e Pompeo Frangipane alcune terrecotte votive, rinvenute da questi ultimi nella loro proprietà a Nemi. Tomasini pubblica integralmente la lettera di Argoli, con le annesse «imagunculas sinopica delineatas». 
  9. Maria Grazia Picozzi (2003). Jane Fejfer; Tobias Fischer-Hansen; Annette Rathje, ed. «Orfeo Boselli and the Interpretation of the Antique». The Rediscovery of Antiquity: The Role of the Artist (em inglês). Museum Tusculanum Press. pp. 103–104. A letter by Giovanni Argoli dated in 1637, referred to in De donariis ac tabellis votivis by Jacopo Filippo Tomasini, informs us that (perhaps in the same year) the Frangipane, owners of the Rocca of Nemi and the land below, had carried out excavations which had brought to light many votive terracottas as well as a fragmentary statue, understood to be that of Diana herself: “simulacrum numinis ipsum, venatorio habitu succintum, mutilum tamen, mancumque; quid deterius est, capite ancisum” (Tomasini 1654, 13). 
  10. Antonio Nibby,Analisi storico-topografico-antiquaria della carta de' Dintorni di Roma, Aricia – L’Ariccia.
  11. Vitruvius, 4.8.4.
  12. Gordon, The Cults of Aricia, 7f.
  13. The complicated histories of excavations at Nemi is traced in English in Mysteries of Diana: The Antiquities from Nemi in Nottingham Museums (Castle Museum, Nottingham, 1983). See also F. Coarelli, I santuari del Lazio in età repubblicana (Rome, 1987:165-85).
  14. Alföldi, "Diana Nemorensis", American Journal of Archaeology (1960:137-44) p 141.
  15. (CNG)
  16. Alföldi 1960:137-44. A small marble head from Nemi in the Museo delle Terme, suggested Enrico Paribeni, was an archaising replica of the form the goddess took at Nemi, in American Journal of Archaeology 1961:55f; see also P.J. Riis, "The cult image of Diana Nemorensis" Acta Archaeologica 37 (Copenhagen) 1966:37-65. Further examples of these denarii are at Coinarchives.com.
  17. Horace, Carmine 3.22.1.
  18. Alföldi 1960::141 and bibliography.
  19. Wissowa, Realencyclopädie der classischen Altertumswissenschaft.
  20. Now dated to the late sixth century.
  21. The Arician origin of Diana of the Aventine is disputed in some ancient sources and by some modern commentators; for an Arician origin, see A. Alföldi, Early Rome and the Latins (1971:85ff).
  22. C. Bennett Pascal demonstrated that Vesta was not synthesized with Diana Nemorensis, as had been assumed, in "Rex Nemorensis", Numen 23.1 (April 1976:23-39) p 28ff.
  23. Porteous, A. (2001). The Forest in Folklore and Mythology. Courier Corporation. ISBN 0486420108, 9780486420103
  24. Fontenrose, J. (1966). The Ritual Theory of Myth. University of California Press, ch. 3.
  25. Gordon, Arthur E., "On the Origin of Diana," 186; and Encyclopedia Britannica, 1911, "Nemorensis Lacus," 369, which cites Strabo, Pausanius, and Servius as the first sources for the rex N. legend.

Bibliografia editar

Ligações externas editar

 
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