Fascículo uncinado

entidade anatômica

O fascículo uncinado é um trato de associação da substância branca no cérebro humano que conecta partes do sistema límbico, como o hipocampo e a amígdala no lobo temporal, com os frontais, como o córtex orbitofrontal. Apesar da sua função ser desconhecida, ela é afetada em várias condições psiquiátricas. É o último trato da substância branca a amadurecer no cérebro humano.

Anatomia editar

O fascículo uncinado é um feixe em forma de gancho que liga as porções anteriores do lobo temporal com o giro frontal inferior e as superfícies inferiores do lobo frontal. Ele faz isso surgindo lateralmente à amígdala e ao hipocampo no lobo temporal, curvando-se em uma trajetória ascendente atrás da cápsula externa para dentro do córtex insular e continuando até a parte posterior do giro orbital.[1]

O comprimento médio do fascículo uncinado é de 45 milímetro (mm) com um intervalo de 40 a 49 mm. Por sua vez, seu volume em adultos é de 1425,9 ± 138,6 milímetros cúbicos, sendo ligeiramente maior nos homens (1504,3 ± 150,4) do que nas mulheres (1378,5 ± 107,4).[2]

Tem três partes: uma extensão ventral ou frontal, um segmento intermediário chamado isthmus ou segmento insular e um segmento temporal ou dorsal.[3]

Função editar

A função do fascículo uncinado não é conhecida, embora tradicionalmente seja considerada parte do sistema límbico.[2]

A imagem de tensor de difusão, um modelo de reconstrução disponível a partir de uma ressonância magnética de difusão, mostra uma anisotropia fracionada maior no lado esquerdo do que no direito. A diferença nesta medida de anisotropia tem sido associada à especialização hemisférica esquerda para a linguagem..[4] No entanto, o uso de estimulação elétrica cerebral sobre ele não atrapalha a linguagem, sugerindo que ela pode não estar envolvida na linguagem, embora seja possível que essa interrupção não tenha acontecido porque foi funcionalmente compensada por vias alternativas.[5]

A capacidade de autoconsciência autonômica que está revivendo os eventos anteriores como parte do passado como entidade contínua ao longo do tempo tem sido associada ao fascículo uncinado direito como tem proficiência em memória verbal-auditiva e memória declarativa à integridade do fascículo uncinado esquerdo.[6][7]

Desenvolvimento editar

O fascículo uncinado tem o mais longo período de desenvolvimento em termos de anisotropia fracionária, já que sozinho entre as principais faixas de fibras brancas continua a se desenvolver além dos 30 anos de idade.[8]

Aparenta ser vulnerável em termos de desenvolvimento. Em homens de 12 anos de idade que eram prematuros, anormalidades medidas por anisotropia fracionada no uncinado anterior esquerdo correlacionaram-se com o QI verbal, o QI em escala total e os pontos revisados pelo Teste Vocabulário de Imagens Peabody (Peabody Picture Vocabulary Test-Revised).[9] Em crianças de 10 anos de idade que sofreram privação socioemocional, o fascículo uncinado esquerdo mostra redução da anisotropia fracionada em comparação com outras crianças, e isso pode estar por trás de suas dificuldades cognitivas, sócio emocionais e comportamentais.[10]

Significado clínico editar

Anormalidades nos feixes de fibras do fascículo uncinado associado a ansiedade social,[11] doença de Alzheimer,[12] transtorno bipolar,[13] e depressão em idosos que já estiveram presentes na adolescência ou no início da idade adulta.[14]

Tais anormalidades também se ligam a esquizofrenia.[13][15][16] Naqueles com transtorno de personalidade esquizotípica, a anisotropia fracionada reduzida no fascículo uncinado direito associa traços de personalidade e sintomas clínicos de ideias de referência, suspeita, afeto restrito, extroversão reduzida e ansiedade social, enquanto aqueles do lado esquerdo associam inteligência geral, verbal e memória visual e desempenho executivo.[17][18] A maior anisotropia fracionada à esquerda do que a direita do fascículo uncinado está ausente naqueles com esquizofrenia.[19]

Em 2009, foi implicado em psicopatia — indivíduos com uma pontuação alta na Lista de Verificação de Psicopatia e uma história associada de comportamento violento pareciam ter anormalidades nela.[20]

Referências

  1. Kier LE, Staib LH, Davis, LM, Bronen, RA (1 de maio de 2004). «MR Imaging of the Temporal Stem: Anatomic Dissection Tractography of the Uncinate Fasciculus, Inferior Occipitofrontal Fasciculus, and Meyer's Loop of the Optic Radiation.». Am J Neuroradiol. 25 (5): 677–691. PMID 15140705. Consultado em 19 de dezembro de 2007 
  2. a b Hasan, KM; Iftikhar, A; Kamali, A; Kramer, LA; Ashtari, M; Cirino, PT; Papanicolaou, AC; Fletcher, JM; Ewing-Cobbs, L (2009). «Development and aging of the healthy human brain uncinate fasciculus across the lifespan using diffusion tensor tractography». Brain Research. 1276: 67–76. PMC 2693464 . PMID 19393229. doi:10.1016/j.brainres.2009.04.025 
  3. Peltier, J; Verclytte, S; Delmaire, C; Pruvo, JP; Godefroy, O; Le Gars, D (2010). «Microsurgical anatomy of the temporal stem: clinical relevance and correlations with diffusion tensor imaging fiber tracking.». Journal of Neurosurgery. 112 (5): 1033–8. PMID 19612976. doi:10.3171/2009.6.JNS08132 
  4. Rodrigo, S; Naggara, O; Oppenheim, C; Golestani, N; Poupon, C; Cointepas, Y; Mangin, JF; Le Bihan, D; Meder, JF.; et al. (2007). «Human subinsular asymmetry studied by diffusion tensor imaging and fiber tracking». American Journal of Neuroradiology. 28 (8): 1526–31. PMID 17846205. doi:10.3174/ajnr.A0584 
  5. Duffau, H; Gatignol, P; Moritz-Gasser, S; Mandonnet, E (2009). «Is the left uncinate fasciculus essential for language? A cerebral stimulation study.». Journal of Neurology. 256 (3): 382–9. PMID 19271103. doi:10.1007/s00415-009-0053-9 
  6. Levine, B; Black, SE; Cabeza, R; Sinden, M; McIntosh, AR; Toth, JP; Tulving, E; Stuss, DT (1998). «Episodic memory and the self in a case of isolated retrograde amnesia.». Brain : A Journal of Neurology. 121. ( Pt 10) (10): 1951–73. PMID 9798749. doi:10.1093/brain/121.10.1951 
  7. Mabbott, DJ; Rovet, J; Noseworthy, MD; Smith, ML; Rockel, C (2009). «The relations between white matter and declarative memory in older children and adolescents.». Brain Research. 1294: 80–90. PMID 19632208. doi:10.1016/j.brainres.2009.07.046 
  8. Lebel, C; Walker, L; Leemans, A; Phillips, L; Beaulieu, C. (2008). «Microstructural maturation of the human brain from childhood to adulthood». NeuroImage. 40 (3): 1044–55. PMID 18295509. doi:10.1016/j.neuroimage.2007.12.053 
  9. Constable, RT; Ment, LR; Vohr, BR; Kesler, SR; Fulbright, RK; Lacadie, C; Delancy, S; Katz, KH; et al. (2008). «Prematurely born children demonstrate white matter microstructural differences at 12 years of age, relative to term control subjects: an investigation of group and gender effects». Pediatrics. 121 (2): 306–16. PMID 18245422. doi:10.1542/peds.2007-0414 
  10. Eluvathingal, TJ; Chugani, HT; Behen, ME; Juhász, C; Muzik, O; Maqbool, M; Chugani, DC; Makki, M. (2006). «Abnormal brain connectivity in children after early severe socioemotional deprivation: a diffusion tensor imaging study». Pediatrics. 117 (6): 2093–100. PMID 16740852. doi:10.1542/peds.2005-1727 
  11. Phan, KL; Orlichenko, A; Boyd, E; Angstadt, M; Coccaro, EF; Liberzon, I; Arfanakis, K (2009). «Preliminary evidence of white matter abnormality in the uncinate fasciculus in generalized social anxiety disorder.». Biological Psychiatry. 66 (7): 691–4. PMC 2743779 . PMID 19362707. doi:10.1016/j.biopsych.2009.02.028 
  12. Yasmin, H; Nakata, Y; Aoki, S; Abe, O; Sato, N; Nemoto, K; Arima, K; Furuta, N; et al. (2008). «Diffusion abnormalities of the uncinate fasciculus in Alzheimer's disease: diffusion tensor tract-specific analysis using a new method to measure the core of the tract». Neuroradiology. 50 (4): 293–9. PMID 18246334. doi:10.1007/s00234-007-0353-7 
  13. a b McIntosh, AM; Maniega, SM; Lymer, GK; McKirdy, J; Hall, J; Sussmann, JE; Bastin, ME; Clayden, JD; et al. (2008). «White matter tractography in bipolar disorder and schizophrenia». Biol Psychiatry. 64 (12): 1088–92. PMID 18814861. doi:10.1016/j.biopsych.2008.07.026 
  14. Taylor, WD; Macfall, JR; Gerig, G; Krishnan, RR. (2007). «Structural integrity of the uncinate fasciculus in geriatric depression: Relationship with age of onset». Neuropsychiatr Dis Treat. 3 (5): 669–74. PMC 2656303 . PMID 19300596 
  15. Kubicki, M; Westin, CF; Maier, SE; Frumin, M; Nestor, PG; Salisbury, DF; Kikinis, R; Jolesz, FA; et al. (2002). «Uncinate fasciculus findings in schizophrenia: a magnetic resonance diffusion tensor imaging study». American Journal of Psychiatry. 159 (5): 813–20. PMC 2803760 . PMID 11986136. doi:10.1176/appi.ajp.159.5.813 
  16. Kawashima, T; Nakamura, M; Bouix, S; Kubicki, M; Salisbury, DF; Westin, CF; McCarley, RW; Shenton, ME. (2009). «Uncinate fasciculus abnormalities in recent onset schizophrenia and affective psychosis: a diffusion tensor imaging study». Schizophr Res. 110 (1–3): 119–26. PMC 2749228 . PMID 19328656. doi:10.1016/j.schres.2009.01.014 
  17. Nakamura, M; McCarley, RW; Kubicki, M; Dickey, CC; Niznikiewicz, MA; Voglmaier, MM; Seidman, LJ; Maier, SE; et al. (2005). «Fronto-temporal disconnectivity in schizotypal personality disorder: a diffusion tensor imaging study». Biol Psychiatry. 58 (6): 468–78. PMC 2768055 . PMID 15978550. doi:10.1016/j.biopsych.2005.04.016 
  18. Gurrera, RJ; Nakamura, M; Kubicki, M; Dickey, CC; Niznikiewicz, MA; Voglmaier, MM; McCarley, RW; Shenton, ME; et al. (2007). «The uncinate fasciculus and extraversion in schizotypal personality disorder: a diffusion tensor imaging study». Schizophr Res. 90 (1–3): 360–2. PMC 1876710 . PMID 17126532. doi:10.1016/j.schres.2006.10.003 
  19. Park, HJ; Westin, CF; Kubicki, M; Maier, SE; Niznikiewicz, M; Baer, A; Frumin, M; Kikinis, R; et al. (2004). «White matter hemisphere asymmetries in healthy subjects and in schizophrenia: a diffusion tensor MRI study». NeuroImage. 23 (1): 213–23. PMC 2794419 . PMID 15325368. doi:10.1016/j.neuroimage.2004.04.036 
  20. Craig, Michael C; Marco Catani; Q Deeley; R Latham; E Daly; R Kanaan; M Picchioni; P K McGuire; T Fahy; Declan G M Murphy (9 de junho de 2009). «Altered connections on the road to psychopathy». Molecular Psychiatry. 14 (10): 946–53, 907. PMID 19506560. doi:10.1038/mp.2009.40. Consultado em 5 de agosto de 2009. Resumo divulgativoThe Times