Hiperostose frontal interna
A hiperostose frontal interna (HFI) foi descrita pela primeira vez na literatura científica pelo anatomista e patologista italiano Giovanni Battista Morgagni em 1761, após abrir o corpo de uma mulher de 40 anos, o cientista encontrou um espessamento do osso frontal do crânio, além da presença de obesidade e virilismo.[1]
A doença é caracterizada por um espessamento do osso frontal em que sua superfície interna torna-se tuberosa.[2] Normalmente, uma linha de conexão é fixada entre o osso preservado e o neoformado (Nekachalov, 2000). Esta condição afeta principalmente o osso frontal, mas pode-se estender-se aos ossos parietais e ao occipital.[3] O restante esqueleto não é afetado.[4]
Etiologia
editarA hiperostose frontal interna mostra dependência etária e sexual: a prevalência é significativamente maior no sexo feminino do que no masculino e a sua a gravidade aumentam com o envelhecimento, atingindo um pico em mulheres na pós-menopausa.[5]
A menopausa, com a diminuição relativamente repentina na produção de estrogénio, pode ser o gatilho para a ocorrência de HFI ou a sua transição para uma forma mais grave.[6] Contudo a sua etiologia ainda é incerta.[7] O aparecimento desta condição pode ter origem em várias causas como por exemplo, envelhecimento, distúrbios endócrinos,[8] obesidade e diabetes mellitus.[9]
O diagnóstico diferencial da doença inclui massas focais (por exemplo, meningiomas, osteoma), calcificação subdural e dural e processos difusos do crânio,[10] como doença de Paget, acromegalia e displasia fibrosa.[5] Características como limites claros ao longo da artéria meníngea média, linha média não afetada e uma tendência para a bilateralidade, permitem uma clara diferenciação da maioria dos processos antes mencionados.[5]
Classificação
editarPara avaliar a gravidade da hiperostose frontal interna foram atribuídos quatros tipos baseados na observação macroscópica:
- Tipo A – nódulos pequenos e discretos geralmente com menos de 10 mm de tamanho, encontradas na parte ântero medial do frontal[11]
- Tipo B – osso nodular com ligeira elevação, identificados em menos de 25% do osso frontal[12]
- Tipo C – crescimento ósseo nodular extenso com espessamento irregular de até 50% da superfície endocraniana frontal[13]
- Tipo D – super crescimento ósseo contínuo, envolvendo mais de 50% da superfície endocraniana frontal[14]
Existem quatro graus que se podem atribuir de acordo critérios radiológicos:
- Grau 0 - Ausência de formação óssea nova[15]
- Grau I - Tábua interna com osso novo endosteal num estado precoce[15]
- Grau II - Osso novo endosteal num estado mais avançado e com aparência bosselada[15]
- Grau III - Alteração severa verificando-se muita irregularidade e aumento da espessura[15]
Exemplos de casos paleopatológicos
editarHadju et. al 2009
editarEm 2009 Hajdu e seus colaboradores relataram a existência de hiperostose frontal interna em algumas séries osteoarqueológicas da Hungria. Os materiais esqueléticos são de períodos arqueológicos variados, desde a Idade do Bronze média até ao século XVIII.[16] Os resultados na tabela 1 apresentam a existência de 20 casos da doença de uma amostra total de 803 abóbadas cranianas.[16] A doença foi identificada em 5 de 412 abóbadas identificadas com homens e em 15 de 391 abóbadas identificadas como sexo feminino (1,21% e 3,83% da amostra).[16] No sexo masculino, foram registados apenas casos do tipo A e um caso, do tipo C. No sexo feminino foram registados todos os tipos, exceto o tipo D.[16] O osso frontal é o osso mais afetado e em casos de maior gravidade pode afetar os parietais e o occipital.[16]
Tipos / Sexo | Sexo Masculino | Sexo Feminino | Total |
Tipo A | 4 | 2 | 6 |
Tipo B | 0 | 7 | 7 |
Tipo C | 1 | 6 | 7 |
Tipo D | 0 | 0 | 0 |
Total | 5 | 15 | 20 |
Morita et. al 2020
editarMorita e colaboradores publicaram o caso de uma senhora japonesa de 86 anos. A causa da morte foi cardiopatia isquémica e quando o crânio foi aberto, detetou-se a presença de hiperostose frontal interna. Para se fazer a avaliação, a porção frontal da calvária foi removida e analisada por tomografia computadorizada (TC) e pequenos fragmentos do osso frontal foram processados para analisar a histologia desta condição.
A senhora não era obesa e não apresentava sinais de doenças que pudessem causar hiperostose. O crânio é de tamanho médio, e a aparência externa não apresenta modificações, mas a superfície interna do osso frontal é mais espessa. Os ossos parietais e occipital não apresentavam alterações. O cérebro tem um tamanho e peso médios, não apresentando sinais de compressão pelo crescimento ósseo.
A região saliente consiste em nódulos bilaterais e simétricos, localizados ao longo do eixo ântero-posterior. A espessura destes seis nódulos, varia de 14,0 a 18,4 mm, o que é maior do que a espessura do osso frontal normal, que varia de 5,6 a 6,9 mm. Na região onde os nódulos estão presentes, foi possível definir cinco camadas, designadas entre I-V, da camada interna para a externa. Os resultados do exame histológico mostraram que a tábua interna e as camadas I e III eram constituídas pelo osso cortical. O díploe e as camadas II e IV consistiram no osso trabecular, e a tábua externa e a camada V são constituídas por osso cortical. Também se observou um aumento no número de ossos lamelares e vasos sanguíneos no lado externo da camada I, indicando aumento da vascularização e osteogénese ativa.
De acordo com a classificação desenvolvida por Hershkovitz et al. (1999), este caso é classificado como do tipo D.
Referências
editar- ↑ Bebel. [S.l.: s.n.] 2015
- ↑ Valiente et al. [S.l.: s.n.] 2011
- ↑ Mulhern. [S.l.: s.n.] 2006
- ↑ Djonic et al. [S.l.: s.n.] 2016
- ↑ a b c Hershkovitz et al. [S.l.: s.n.] 1999
- ↑ Cvetković. [S.l.: s.n.] 2019
- ↑ She e Szakacs. [S.l.: s.n.] 2004
- ↑ Raikos et al. [S.l.: s.n.] 2011
- ↑ Verdy et al. [S.l.: s.n.] 1978
- ↑ Resnick e Niwayama. [S.l.: s.n.] 1988
- ↑ Hershkovitz et al. [S.l.: s.n.] 1999. p. Figura 1
- ↑ Hershkovitz et al. [S.l.: s.n.] 1999. p. Figura 2
- ↑ Hershkovitz et al. [S.l.: s.n.] 1999. p. Figura 3
- ↑ Hershkovitz et al. [S.l.: s.n.] 1999. p. Figura 4
- ↑ a b c d Littlejohn et al. [S.l.: s.n.] 1986
- ↑ a b c d e Hajdu et al. [S.l.: s.n.] 2009
Bibliografia
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- Djonic, D., Bracanovic, D., Rakocevic, Z., Ivovic, M., Nikolic, S., Zivkovic, V., & Djuric, M. (2016). Hyperostosis frontalis interna in postmenopausal women—Possible relation to osteoporosis. Women & health, 56(8), 994-1007.
- Hajdu, T., Fóthi, E., Bernert, Z., Molnár, E., Lovász, G., Ko, I., ... & Marcsik, A. (2009). Appearance of hyperostosis frontalis interna in some osteoarcheological series from Hungary. Homo, 60(3), 185-205.
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