Projeção (psicologia)
Em psicologia, projecção é um mecanismo de defesa no qual os atributos pessoais de determinado indivíduo, sejam pensamentos inaceitáveis ou indesejados, sejam emoções de qualquer espécie, são atribuídos a outra(s) pessoa(s). De acordo com Tavris Wade, a projecção psicológica ocorre quando os sentimentos ameaçados ou inaceitáveis de determinada pessoa são reprimidos e, então, projetados em alguém ou algo.[1]
A projecção psicológica reduz a ansiedade por permitir a expressão de impulsos inconscientes, indesejados ou não, fazendo com que a mente consciente não os reconheça. Um exemplo de tal comportamento pode ser o de culpar determinado indivíduo por um fracasso próprio.[1] Em tal caso, a mente evita o desconforto da admissão consciente da falta cometida, mantém os sentimentos no inconsciente e projecta, assim, as falhas em outra(s) pessoa(s) ou algo.
A teoria foi desenvolvida por Sigmund Freud e posteriormente refinada por sua filha Anna Freud e, por conta de tal ação, ela também é chamada de "Projecção Freudiana" em certas literaturas.[2][3]
Precedentes históricos
editarUm precursor importante na formulação do princípio da projecção foi Giambattista Vico[4][5] e uma formulação anterior pode ser encontrada no escritor grego Xenófanes (c.c. 570 – c. 475 a.C.), que observou que "os deuses do etíopes eram inevitavelmente negros com narizes achatados, enquanto os dos trácios eram loiros com olhos azuis." Em 1841, Ludwig Feuerbach, foi o primeiro a empregar este conceito como a base para uma crítica sistemática da religião.[6][7][8][9]
Definição
editarSegundo Freud, a projecção é um mecanismo de defesa psicológico em que determinada pessoa "projecta" seus próprios pensamentos, motivações, desejos e sentimentos indesejáveis numa ou mais pessoas.[10] Para alguns psicanalistas e psicólogos trata-se de um processo muito comum que todas as pessoas utilizam em certa medida.[10] Peter Gay define projecção como "a operação de expulsar os sentimentos ou desejos individuais considerados totalmente inaceitáveis, ou muito vergonhosos, obscenos e perigosos, atribuindo-os a outra pessoa."[11]
Para entender o processo, podemos considerar uma pessoa que tem pensamentos de infidelidade durante um relacionamento. Em vez de lidar com tais pensamentos indesejáveis de forma consciente, o indivíduo os projecta de forma inconsciente no outro, e começa a acreditar que o outro é que tem pensamentos de infidelidade ou, até mesmo, que ele/ela tem outros "casos". Nesse sentido, a projecção psicológica está relacionada com a recusa, que é o único mecanismo de defesa mais primitivo que a própria projecção. Como todos os mecanismos de defesa, a projecção psicológica fornece uma função para que a pessoa possa proteger sua mente consciente de um sentimento que, de outra forma, seria repugnante.
Compartimentação, divisão e projeção são formas em que o ego continua a fingir que está totalmente no controle em todos os momentos, quando, na realidade, se trata da experiência humana de transferir modos de agir e/ou motivos instintivos e emocionais, com os quais o "eu" não concorda.[12] Ademais, é comum, no trauma profundo, os indivíduos não serem capazes de acessar memórias verdadeiras, ou intenções e experiências, mesmo sobre sua própria natureza, porque a projecção é a sua única ferramenta de uso.[12]
Usos históricos
editarO filósofo Ludwig Feuerbach estabeleceu paralelos entre sua teoria da religião com a ideia de projeção psicológica, escrevendo que a ideia de uma divindade antropomórfica trata-se de uma projeção dos medos e ansiedades dos homens.[13]
Robert Bly escreveu Um Pequeno Livro na Sombra Humana" totalmente baseado na ideia de projeção. A "Sombra"—termo usado na psicologia analítica junguiana para descrever uma variedade de projeções psicológicas—refere-se a "projeção material". Marie-Louise von Franz ampliou o conceito de projeção para descobrir fenômenos sobre mitologia em seu Padrões de Criatividade Espelhados nos Mitos de Criação, em que ela escreve: "...onde quer que saibam quando a realidade pára, onde tocam o desconhecido, eles projetam uma imagem de arquétipo."[14]
Contraprojeção
editarQuando se aborda o trauma psicológico o mecanismo de defesa é, por vezes, contraprojeção, incluindo a obsessão de continuar e manter-se numa situação recorrente do trauma e a obsessão compulsiva com a percepção do autor do trauma ou sua projecção.
Carl Gustav Jung escreveu que "todas as projeções provocam contraprojeção quando o objeto está inconsciente da qualidade projetada pelo sujeito."[15]
O conceito havia sido antecipado por Friedrich Nietzsche:
"Aquele que luta com monstros deve acautelar-se para não tornar-se também um monstro. Pois quando se olha muito tempo para um abismo, o abismo também olha para você."
Ver também
editarReferências
- ↑ a b Wade, Tavris “Psychology” Sixth Edition Prentice Hall 2000 ISBN 0-321-04931-4
- ↑ Shepard Simon. "Basic Psychological Mechanisms: Neurosis and Projection". The Heretical Press. Acessado em 7 de Março, 2008.
- ↑ Neuwirth, Rachel. "A Case of Freudian Projection". American Thinker, 30 de Dezembro, 2006. Acessado em 7 de Março, 2008.
- ↑ Harvey, Van A. (1997). Feuerbach and the interpretation of religion. [S.l.]: Cambridge University Press. p. 4. ISBN 0521470498
- ↑ Cotrupi, Caterina Nella (2000). Northrop Frye and the poetics of process. [S.l.]: University of Toronto Press, Scholarly Publishing Division. p. 21. ISBN 080208141X
- ↑ Harvey, Van A. (1997). Feuerbach and the interpretation of religion. [S.l.]: University of cambridge. p. 4. ISBN 0521586305
- ↑ Feuerbach, Ludwig (1841). The Essence of Christianity. [S.l.: s.n.]
- ↑ Mackey, James patrick (2000). The Critique of Theological Reason. [S.l.]: Cambridge University press. p. 41–42. ISBN 0521169232
- ↑ Nelson, John K. (1990). «A Field Statement on the Anthropology of Religion». ejournalofpoliticalscience
- ↑ a b "Defenses". www.psychpage.com. Acesso: 03-11-2008.
- ↑ Freud: A Life for Our Time, p. 281
- ↑ a b Trauma and Projection
- ↑ Encyclopædia Britannica.
- ↑ «Karl Wolfe Psychological Projection». Consultado em 17 de maio de 2009. Arquivado do original em 19 de julho de 2009
- ↑ Beyond Good and Evil, trans. R. J. Hollindale (London: Penguin, 1973), p. 102.