João de Arruda
João d'Arruda Botelho da Câmara (Ponta Delgada, 12 de maio de 1774 — Conceição, Ribeira Grande, 31 de janeiro de 1845), mais conhecido por João de Arruda, morgado, genealogista e membro ilustre da governança da cidade de Ponta Delgada, foi um profundo estudioso da história local e de genealogia que se destacou no campo da investigação sobre as fontes documentais relevantes para a história açoriana.[1]
João de Arruda | |
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Nascimento | 12 de maio de 1774 Ponta Delgada |
Morte | 31 de janeiro de 1845 Ribeira Grande |
Cidadania | Reino de Portugal |
Ocupação | historiador |
Biografia
editarInteressado pela história e pelas letras, percorreu os cartórios, bibliotecas e arquivos camarários e paroquiais da ilha de São Miguel, com o objectivo de organizar os documentos aí existentes que fossem relevantes para a história dos Açores. Interessado por genealogia, dedicou grande atenção à documentação que permitisse historiar as instituições vinculares da ilha e as genealogias das famílias mais proeminentes. Para além disso, embora sem formação especializada em paleografia, transcreveu grande parte do manuscrito da obra Saudades da Terra, de Gaspar Fructuoso, tarefa a que se dedicou em pleno.[1]
Consciente da importância do conhecimento seguro acerca das instituições vinculares, iniciou em fins do século XVIII a elaboração de um catálogo onde organizou os elementos que foi recolhendo sobre genealogias e administrações de vínculos, com base no estudo das linhagens e a apresentação das linhas masculinas, já que entendia que «a linha masculina é a principal, e única em cada morgado», e femininas. A obra regista a instituição de morgadios e capelas e regista as casas vinculares de São Miguel, com as respectivas administrações. A obra está organizada em torno do conceito de “casa vincular” ou “casa vinculada”, associando casa, nome e vínculo. O trabalho de foi preservada e estudado por Ernesto do Canto, que o continuou e anotou nas últimas décadas do século XIX.[2]
Em resultado da sua aturada investigação documental, produziu uma notável obra manuscrita, a que deu o título de Memórias genealógicas proveitosas aos moradores desta Ilha que compos João d'Arruda Botelho da Câmara desta mesma Ilha anno de 1790, documento que deu origem a um manuscrito intitulado «Notícias históricas, genealógicas e vinculares da ilha de São Miguel. Extratos de testamentos dos que instituíram vínculos em São Miguel e seus instituidores e administradores», o qual, com as anotações de Ernesto do Canto, foi editado em 1995 pelo Instituto Cultural de Ponta Delgada.[3]
Numa advertência, inserta no início do seu texto, fez notar que «se em todos os países gravassem em mármore as suas descobertas, e histórias, e não ficassem em papel que o vento leva, e fogo devora, e a humidade apodrece, e desfaz, não se duvidaria de muitos factos da antiguidade, e por isso com grande despeza mandei lavrar dezasseis pedras de quatro palmos quadrados, aonde fiz gravar em letra redonda os sucessos mais notáveis da história e descobrimentos destas ilhas dos Açores e da Madeira».[4] As inscrições são um conjunto de 16 pedras de basalto registando o que entendia serem os factos mais importantes da história açoriana e das suas genealogias.
As pedras que mandou lavrar foram originalmente colocadas numa ermida no Pico Arde, Ribeira Grande, e posteriormente oferecidas pelo seu filho, Francisco de Arruda Botelho, a Gonçalo de Athaíde Corte Real Bettencourt. Após estarem em mostra na Exposição de 1901, realizada aquando da visita do rei D. Carlos I de Portugal à ilha de São Miguel, foram oferecidas ao Museu Carlos Machado por Luís de Athaíde Corte Real da Silveira Estrela.[5] Estão expostas no claustro do Convento de Santo André, núcleo-sede do Museu Carlos Machado.
Entre os episódios inscritos, consta o descobrimento das ilhas de Santa Maria (primeira pedra) e São Miguel (segunda pedra), o grande sismo de 1522 que assolou Vila Franca do Campo (quinta pedra), a elevação de Ponta Delgada a cidade (nona pedra, onde também se inscreve a derrota de D. António Prior do Crato na batalha naval de Vila Franca do Campo) e a expulsão dos jesuítas, em 1766 (décima quinta pedra).
Notas
- ↑ a b Pedras basálticas de Botelho da Câmara - Museu Carlos Machado.
- ↑ José Damião Rodrigues, "Endogamia, consanguinidade e reprodução social: O mercado matrimonial das elites açorianas no Antigo Regime", pp. 204-205. In Carlota Santos e Paulo Teodoro de Matos (coordenadores), A Demografia das Sociedades Insulares Portuguesas. Séculos XV a XXI, CITCEM – Centro de Investigação Transdisciplinar «Cultura, Espaço e Memória», Braga, 2013 (ISBN: 978-989-8612-06-9).
- ↑ João de Arruda Botelho da Câmara, Instituições Vinculares e Notas Genealógicas. Leitura diplomática e tratamento de texto de Nuno Álvares Pereira. Ponta Delgada: Instituto Cultural de Ponta Delgada, 1995 [1997].
- ↑ Morgado João d'Arruda Botelho da Câmara, Instituições vinculares e notas genealógicas, pp. 2-3. Ponta Delgada: Instituto Cultural de Ponta Delgada, 1995.
- ↑ Luís Bernardo Leite de Ataíde, Catalogo da secção de arte do Museu Municipal de Ponta Delgada Carlos Machado, p. 11. Ponta Delgada, Typ. Ruy Moraes, 1921.