Lineamento Pernambuco

O Lineamento Pernambuco é uma zona de cisalhamento transcorrente que atravessa o estado brasileiro de Pernambuco, possuindo mais de 700 km de extensão com direção E-W, além de ramificações. Faz parte da porção central da Província Borborema, foi formada no final da Orogênese Brasiliana, com idade de 591Ma, Período Ediacarano, final do Neoproterozóico.[1] O Lineamento corroborou para a formação de algumas bacias sedimentares devido a reativações ao longo do tempo geológico.[2]

Geologia editar

Contexto Geotectônico editar

A história de formação do Lineamento Pernambuco está associada ao terreno que ele está inserido, a Província Borborema. Trata-se de um cinturão de dobramentos Pan-Africano no Brasil e África formado no decorrer do ciclo Brasiliano, resultado da convergência e colisão de blocos continentais arqueanos e paleoproterozóicos durante a amalgamação do Gondwana.[1] Estudos mais recentes estabeleceram a idade específica para o Lineamento, cerca de 591 ± 4 Ma (Período Ediacarano – Neoproterozóico), corresponde ao final do ciclo Brasiliano, desse modo, a hipótese de formação mais aceita atualmente consiste em considerar o Lineamento Pernambuco como uma zona de cisalhamento intracontinental, ou seja, desenvolvida dentro de um único bloco crustal em estágios finais e tardios da Orogenia Brasiliana.[1]

O Lineamento é uma grande estrutura geológica que possui grande importância na história e no desenvolvimento de modelos geotectônicos da Província Borborema,[3] e de algumas bacias sedimentares associadas. A orogênese brasiliana está associada com o desenvolvimento de um sistema de zonas de cisalhamento que ocorrem por aproximadamente 200.000 km² ao longo de toda a Província Borborema,[4] portanto, elas são utilizadas para subdividi-la em domínios e facilitar o entendimento. O Lineamento Pernambuco está inserido entre o Domínio Central e o Domínio Sul.[1] Ademais, o Lineamento também separa bacias sedimentares mais recentes, ao norte, tem-se a Bacia Sedimentar Recife-João Pessoa e ao sul, localiza-se a Bacia Vulcano-Sedimentar do Cabo.

Esquema Tectono-Estratigráfico editar

As seguintes unidades tectônicas são reconhecidas para o pré-cambriano pernambucano:

  • Terrenos do Domínio da Zona Transversal (localizada entre os Lineamentos Patos e Pernambuco)
    • Granjeiro/Ouricuri: Caracterizado por unidades do Arqueano e do Neoproterozóico/ Cambriano, além de coberturas cenozóicas.
    • Piancó/Alto Brígida: Inclui unidades que vão desde o Arqueano até o Cambriano
    • Alto Pajeú: Os litotipos deste terreno são datados do Paleoproterozóico ao Cambriano.
    • Alto Moxotó: Possui unidades do Arqueano ao Cambriano, além de coberturas cenozóicas.
    • Rio Capibaribe: Inclui em seu arcabouço estratigráfico unidades datadas do Paleoproterozóico ao Cambriano, e também coberturas cenozóicas.
  • Terrenos do Domínio Externo (localizado ao sul do Lineamento Pernambuco):
    • Terreno Riacho do Pontal: Seus litotipos vão do Mesoproterozóico ao Cambriano, além de possuir coberturas cenozóicas.
    • Terreno Pernambuco/ Alagoas: Abriga unidades datadas do Paleomesozóico ao Cambriano

O Lineamento Pernambuco (Síntese da Geologia de Pernambuco, 2021) atravessa também sequências Fanerozóicas, sendo elas duas Bacias Sedimentares situadas dentro da Província Costeira e Continental Marginal: a Faixa Sedimentar Costeira Pernambuco/Paraíba e a Bacia do Jatobá.

Faixa Sedimentar Costeira Pernambuco/Paraíba editar

Divididas pelo Lineamento Pernambuco,[5] há duas Bacias dentro dessa faixa. Ao norte do lineamento, encontra-se a Bacia Sedimentar Recife-João Pessoa e ao sul, localiza-se a Bacia Vulcano-Sedimentar do Cabo.

  • Bacia Sedimentar Recife-João Pessoa: O pacote sedimentar que repousa sobre as unidades do embasamento pré-cambriano é do Grupo Paraíba. Ele é composto por uma sequência de sedimentos continentais (Formação Beberibe) e marinhos (formações Gramame e Maria Farinha).
  • Bacia Vulcano-Sedimentar do Cabo: Ela inclui uma sequência vulcano-sedimentar chamada de Grupo Pernambuco. Ele é constituído da base para o topo pelos conglomerados, arcósios, arenitos grosseiros e siltitos da Formação Cabo, pelas manifestações vulcânicas, subvulcânicas e plutônicas da Formação Ipojuca, pelos calcários da Formação Estivas e pelos conglomerados e arcósios da Formação Algodoais.
Bacia do Jatobá editar

Os sedimentos desta bacia registram a evolução da fragmentação intracontinental que dividiu Gondwana em América do Sul e África. Da base para o topo, suas unidades litoestratigráficas são: Grupo Jatobá (formações Tacaratu e Inajá), Grupo Brotas (formações Aliança e Sergi), Grupo Santo Amaro (Formação Candeias), Grupo Ilhas, Grupo Massacará (Formação São Sebastião), Formação Marizal, Grupo Santana (formações Crato e Romualdo), Formação Exu e coberturas cenozóicas.[6]

Estrutural editar

O Lineamento Pernambuco é uma zona de cisalhamento rúptil-dúctil[3] da Província Borborema formada no Evento Brasiliano. A zona de cisalhamento principal (Lineamento Pernambuco) é de orientação E-W e destral, e de forma geral, as estruturas menores de orientação E-W são destrais, enquanto as NE-SW são sinistrais.[7]

A deformação se caracteriza pela existência de foliação milonítica penetrativa, com lineação de estiramento.[7] A foliação é indicada por cristais orientados de biotita, fitas de quartzo e porfiroclastos de feldspatos. Em regiões menos deformadas ocorrem foliações S-C, mas onde a deformação é alta há transposição das estruturas S pelas C. A diferença da deformação nas rochas é controlada principalmente pela reologia dos materiais.

Atualmente a zona de cisalhamento responde a esforços compressionais de direção E-W e de tensão na direção N-S.[8]

Eventos sísmicos editar

Na região do Lineamento Pernambuco ocorrem diversos eventos sísmicos, os quais ocorrem por reativação de falhas e são conhecidos desde o século XIX.[2]

Caruaru, no estado de Pernambuco, é a cidade que mais concentra sismos nas proximidades do Lineamento Pernambuco.[2] Mas o sismo de maior magnitude registrado teve epicentro localizado em um distrito da cidade de São Caetano, PE, ocorreu no dia 20 de maio de 2006 e alcançou 4,0 mR e intensidade VI MM.[2]

Reativações[8]: editar

Referências

  1. a b c d «Geochemistry and geochronology of orthogneisses across a major transcurrent shear zone (East Pernambuco shear zone, Borborema Province, Northeast Brazil): Tectonic implications». Journal of South American Earth Sciences (em inglês): 285–301. 1 de abril de 2019. ISSN 0895-9811. doi:10.1016/j.jsames.2019.02.015. Consultado em 22 de agosto de 2021 
  2. a b c d LIMA NETO, H.C. (2013). Sismicidade e correlação com feições geológicas: o caso do Lineamento Pernambuco e seu entorno. Tese de Doutorado. Natal: UFRN. 
  3. a b CASTELLAN, P. (2020). Mecanismos de deformação na Zona de Cisalhamento Pernambuco Leste, Província Borborema, NE Brasil. Tese de Doutorado. Brasília: UnB 
  4. «The Borborema shear zone system, NE Brazil». Journal of South American Earth Sciences (em inglês) (3-4): 247–266. 1 de julho de 1995. ISSN 0895-9811. doi:10.1016/0895-9811(95)00012-5. Consultado em 22 de agosto de 2021 
  5. «A Estratigrafia da Bacia Paraíba: Uma Reconsideração». www.bibliotekevirtual.org. Consultado em 22 de agosto de 2021 
  6. Guzmán, J.; Fambrini, G.L.; Oliveira, E.V.; Usma, C.D. (31 de julho de 2015). «Estratigrafia da Bacia de Jatobá: Estado da Arte». Estudos Geológicos (1): 53–76. ISSN 1980-8208. doi:10.18190/1980-8208/estudosgeologicos.v25n1p53-76. Consultado em 22 de agosto de 2021 
  7. a b Neves, Sérgio Pacheco; Mariano, Gorki; Lima, Cristiane Marques (28 de agosto de 2018). «AVALIANDO A REATIVAÇÃO DE ESTRUTURAS DO EMBASAMENTO PRECAMBRIANO NA FORMAÇÃO DAS BACIAS SEDIMENTARES CONSTEIRAS: O CASO DA ZONA DE CISALHAMENTO PERNAMBUCO LESTE». Estudos Geológicos (1). ISSN 1980-8208. Consultado em 22 de agosto de 2021 
  8. a b COSTA, D.F.B. (2011). Reativações rúptéis da Zona de Cisalhamento Pernambuco e correlação com a sismicidade recente: resultados preliminares. Campinas: XIII Simpósio Nacional de Estudos Tectônicos e VII International Symposium on Tectonics