Lon Nol (Prey Veng, 13 de novembro de 1913Fullerton, 17 de novembro de 1985) foi um militar e político cambodjano, por duas vezes ministro da defesa e primeiro-ministro de seu país.

Lon Nol
លន់ ន ល់
Lon Nol
Lon Nol
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Presidente da República Quemer
Período 10 de março de 1972
a 1 de outubro de 1975
Antecessor(a) Cheng Heng
Sucessor(a) Peter Khoy Saukam
Primeiro-ministro do Camboja
Período 14 de agosto de 1969
a 20 de abril de 1971
Chefe de Estado Norodom Sihanouk
Antecessor(a) Penn Nouth
Sucessor(a) Sisowath Sirik Matak
Período 25 de outubro de 1966
a 1 de maio de 1967
Chefe de Estado Norodom Sihanouk
Antecessor(a) Norodom Kantol
Sucessor(a) Son Sann
Dados pessoais
Nascimento 13 de novembro de 1913
Distrito de Pou Rieng, Prey Veng, Camboja, Indochina Francesa
Morte 17 de novembro de 1985 (72 anos)
Centro Médico St. Jude, Fullerton, Califórnia, Estados Unidos
Partido Partido Social Republicano (1972-1975)
Independente (1970-1972)
Sangkum (1955-1970)
Renovação Quemer (1947-1955)
Assinatura Assinatura de Lon Nol
Serviço militar
Lealdade Reino do Camboja
República Quemer
Anos de serviço 1952-1975
Graduação Marechal
Unidade Forças Armadas Reais Cambojanas
Conflitos Primeira Guerra da Indochina

Foi ditador, entre 1972 e 1975, quando instaurou a república após derrubar o regime monárquico do príncipe Norodom Sihanouk. Exerceu uma política pró-ocidental para desgosto de grupos opositores monárquicos e comunistas. Foi deposto por Pol Pot e o Khmer Vermelho e passou a viver no exílio até a sua morte.

Biografia editar

Foi educado pelos franceses para serviços civis. Após o ensino primário na escola de Doudart Lagreen, em Phnom Penh, continuou a sua formação na escola Chasseloup-Laubat, em Saigon, de 1928 a 1934. Em 1936, retornou ao serviço público da administração colonial francesa como juiz do tribunal de Siem Reap. No entanto, abandonou o judiciário a partir do ano seguinte para uma carreira administrativa na província de Kampong Cham.

Em maio de 1945 se tornou governador da província de Kratie. No ano seguinte, o rei Norodom Sihanouk o nomeou chefe da delegação responsável por restaurar a província de Battambang, então ocupada pela Tailândia desde 1941.

Em 1951, liderou um pequeno partido, o Renovação Khmer, criado por Nhiek Tioulong, e se tornou líder da direita autoritária. O partido acabou derrotado nas eleições de setembro. No mesmo ano ganhou a posição de chefe da polícia nacional.

Em 1952, retornou a Battambang com a patente de tenente-coronel e lutou contra os rebeldes instalados na região. Em 1954, presidiu a comissão mista instituída pelos acordos de Genebra para acompanhar a partida dos vietminhs infiltrados no país.

Em 1955, tornou-se general e foi nomeado chefe do Estado-Maior Geral das Forças do Khmer (Fark), que lhe permitiu construir relações com muitos oficiais. Em 1959, tornou-se comandante do Fark, e em 23 de julho do mesmo ano, o ministro da defesa do governo Sihanouk.

Em 1963, foi nomeado vice-primeiro-ministro e, em 1966, chegou ao cargo de primeiro-ministro, cargo, o qual, abandona no ano seguinte. Em 1969, volta a ser primeiro-ministro depois que a esquerda abandonou a vida pública para dar forma definitiva ao Khmer Vermelho.

Golpe de Estado editar

Porém, a vida de Lon Nol será recordada pelo que protagonizou entre 1970 e 1975. O governo do príncipe Norodom Sihanouk havia declarado o país neutro durante a Guerra do Vietnam, além de ter tido um papel titubeante na guerra, atitude que não era de simpatia dos Estados Unidos, que intervinham com o apoio do Vietnam do Sul contra as intenções de unificação do comunista Vietnam do Norte. Lon Nol seria então a carta-chave para deixar Norodom Sihanouk de lado e utilizar o país para satisfazer os planos norte-americanos.

O príncipe fez uma grande viagem entre Moscou e Pequim e essa foi a oportunidade para Lon Nol assumir o país como chefe de estado e declarar uma República Khmer. Em 18 de março de 1970, a Assembléia Nacional votou para depor o príncipe e concedeu todo o poder a Lon Nol entre os que contavam as disposições especiais em tempo de emergência. Em síntese, Lon Nol se tornava ditador.

Apesar dos ataques de hemiplegia, que o levaram a procurar tratamento em Honolulu, manteve a sua posição como presidente.

Guerra do Vietnam editar

O ato político envolveu o país na Guerra do Vietnam e abriu uma era de conflitos internos e externos para a nação. A primeira medida foi a de exigir aos Vietcongs que abandonassem o território cambodjano e encerrou qualquer tipo de ajuda às forças do Vietnam do Norte. O príncipe Sihanouk havia feito, em 1965 um pacto secreto com o Vietnam do Norte e a China de permitir bases militares no território. Lon Nol fazia o mesmo, porém em outra linha, permitiria ao Vietnam do Sul e Estados Unidos a mesma medida, também sob pacto secreto.

Em março de 1969, os Estados Unidos realizaram bombardeios secretos no norte do Cambodja com a intenção de destruir os refúgios do Vietcong, autorizados pelo recém-empossado presidente Richard Nixon e liderados pelo seu secretário de segurança nacional Henry Kissinger. Por quatorze meses foram lançadas em solo cambodjano 110 000 toneladas de bombas, que continuaram a devastar o país até 1973. Se estima que foram 539 129 toneladas no total, ou três vezes e meia a mais do que a quantidade que os americanos lançaram sobre o Japão durante a Segunda Guerra Mundial. As vítimas cambodjanas alcançaram o patamar de 600 000 mortos. As mesmas fontes da CIA determinaram que os bombardeios apenas incrementaram a popularidade do Khmer Vermelho entre os campesinos cambodjanos do norte do país. Em 1973, ocorreram as primeiras vitórias do movimento guerrilheiro esquerdista contra o exército republicano, que tomou parte de 60% do país. Sem autorização governamental, Nixon intensificou os bombardeios contra o país.

Rebeliões populares editar

O ditador ordena que toda a nação esqueça a imagem do príncipe Norodom Sihanouk, um ato que ia contra uma tradição profundamente respeitosa em relação ao seu rei. Tal ato, aparentemente insignificante, lhe trouxe uma maior antipatia popular e os campesinos passaram a atacar as casas dos governos provinciais, tentando avançar até a capital, Phnom Penh. Porém, o exército disparou contra os manifestantes e pelo menos 90 pessoas foram assassinadas.

Guerra civil editar

Porém, o pior inimigo de Lon Nol seria o Khmer Vermelho. Os bombardeios americanos produziram centenas de vítimas entre os camponeses. A supressão da monarquia levou o país a uma guerra civil entre as Forças Armadas Nacionais Khmer, aliadas a Lon Nol, e as Forças Armadas de Libertação do Povo do Cambodja que haviam sido dominadas inteiramente pelo Khmer Vermelho. Enquanto isso, o príncipe Norodom Sihanouk havia formado um governo no exílio, em Pequim, conhecido como o Real Governo da Unidade Nacional do Kampuchea, em resistência ao governo de Lon Nol. No Cambodja a resistência contra o ditador estava usando uma figura do príncipe como motivo de unidade, enquanto a figura de Lon Nol era completamente impopular entre os camponeses. Muitos campesinos se uniam à insurgência, o que foi determinante para o fim do governo.

Ante à difícil situação, o ditador pediu ajuda aos Estados Unidos. Em 18 de novembro de 1970, o presidente Nixon responde com a aprovação do Congresso de uma ajuda de US$ 85 milhões para assistência militar a Lon Nol. Nixon e a CIA manteriam estreitas relações com o ditador. Porém, o exército de Nol foi presa fácil dos movimentos comunistas, melhor equipados e com uma maior experiência, e não pôde conter nem o avanço do Vietcong, nem o do Khmer Vermelho.

A queda de Phnom Penh editar

Pouco a pouco se encerraria a tomada popular sobre a capital. Os Estados Unidos tentaram como última solução ao desastre político pactar o regresso do príncipe Norodom Sihanouk ao se dar conta do erro de haver posto de lado uma figura com um simbolismo popular inusitado. Contudo, não havia mais o que ser feito. A potência ocidental se retirou do país levando o seu aliado, o ditador Lon Nol. Em 17 de abril de 1975 a capital caiu nas mãos do Khmer Vermelho, os quais se dedicariam a eliminar todo e qualquer vestígio da breve República Khmer, de Lon Nol. Abririam, doravante, ao país um novo drama. O genocídio cambodjano.

Exílio editar

Em 1 de abril de 1975 Lon Nol renuncia e foge do país rumo ao Hawaí. A principal razão foi o temor ao tomar conhecimento de uma lista negra do Khmer Vermelho na qual havia a aprovação implícita do príncipe Sihanouk, que o seu nome era o primeiro da lista a ser executado.

Seu irmão Lon Non e alguns aliados, como Long Boret e o príncipe Sisowath Sirik Matak, além de outros, cujos nomes não estavam na lista, optaram por permanecer no país. Acreditavam que se o Khmer Vermelho tomasse o poder, o príncipe Norodom Sihanouk os controlaria. Estavam equivocados. Todos foram sumariamente executados pelo novo governo depois da tomada da capital.

O ditador deposto fugiria primeiramente para a Indonésia e depois conseguiria abrigo nos Estados Unidos. Após uma longa estada no Hawaí até 1979, Lon Nol se transferiu para a Califórnia. Não voltaria mais a ver o seu país, pois morreria em 17 de novembro de 1985.

Fontes editar

  • David Chandler, D. A History of Cambodia, Ed. O.S. Printing House, ed.2, Bangkok, 1992.
  • Nayan Chanda, N. Brother Enemy, The War after the War, MacMillan Publishing Company, New York, 1988.