Louco

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 Nota: Este artigo é sobre o livro de Julio Zanotta. Para a condição da mente humana, veja Loucura. Para o personagem de Turma da Mônica, veja Louco (personagem).

Louco é um livro do escritor e dramaturgo Julio Zanotta e ilustrado pelo artista plástico Pena Cabreira, publicado pela editora ao Pé da Letra em 1995.[1]

Louco
Louco
Autor(es) Julio Zanotta
Pena Cabreira
Idioma Português
País Brasil Brasil
Editora Ao Pé da Letra
Lançamento 1995
Páginas 94

Louco foi escrito em uma sala escura e silenciosa, a partir das ilustrações de Pena Cabreira, com a técnica de escrita automática usada pelos surrealistas. Zanotta espalhou uma pilha de papel em frente a cada um de 20 desenhos feitos a bico de pena por Cabreira e sequencialmente escrevia uma frase para cada um deles, cumprindo várias vezes o circuito em torno de todos buscando criar personalidades patológicas próprias para cada um deles.[1][2]

Sinopse editar

Entre a normalidade e a insanidade o mundo tece sua malha correcional e fabrica cada vez mais novas espécies de delirantes. Aqui nesse confronto da palavra com a imagem a loucura grita seu cárcere.

Louco compõe-se de um conjunto de textos curtos escritos a partir de desenhos de Pena Cabreira. Louco tem sido entendido como uma obra de ficção sobre a loucura, mas também pode ser compreendido como uma metáfora de um mundo cruel. Os textos formam um mosaico, um conjunto que nos remete a uma experiência de sofrimento e opressão. Foi editado em formato de álbum, 25 X 30, todo em papel couchê, com um projeto gráfico arrojado assinado por Marco Cena. Os desenhos a bico de pena de Cabreira são lacerantes, levam ao delírio e não fazem concessões. Convidam a uma viagem sem volta. Não escapamos ao seu fascínio, o argumento nos leva a sucumbir a um estranho sortilégio: perder o controle. Louco está dividido em 20 breves capítulos, com nomes estranhos. A escrita é ágil, seca, substantiva. Leva o leitor a encarar de frente um mundo só de sombras inarredáveis e luzes ofuscantes. É um desequilíbrio da perspectiva. O personagem (ou os personagens) não discursa. Diz. Louco é um objeto de arte, propõe o que não se esperava. Uma interpretação delirante que nos leva à exaustão.[3]

Crítica editar

"O resultado é um texto fragmentado, cru, visceral, muitas vezes escatológico. (“Não quero mais fazer imundícia no corredor. Por que eu faço? Porque são atributos dos intestinos que emergem como serpentes”) Em perfeito casamento com o desenho, mescla delírio e vocabulário técnico psiquiátrico, perversão sexual e síntese infantil."
— Jerônimo Teixeira, publicado em 31 de outubro de 1995 no Zero Hora)[1]
"Se o traço demolidor de Lordsir por si só garante a atmosfera insustentável, o texto de Zanotta logra ainda mais o adensamento de uma condição já suficientemente emparedada. Não escapamos de seu horror e fascínio, e ser humano é sucumbirão estranho sortilégio: perder o controle, prisão que para alguns é a suprema liberdade."
Paulo Bentancur, publicado em 31 de outubro de 1995 no Jornal do Comércio)[4]
Numa edição caprichadíssima, em formato 25 x 30cm, o traço incisivo, dinâmico e inquietante de Peninha ganha espaço e respira, entre os corredores de imagens grafadas no discurso destes “loucos”. Não há resquício de consideração ou qualquer tom de que se trate o tema de alto patamar da normalidade instituída."
— Airton Tomazzoni, publicado em 08 de novembro de 1996 no Jornal Porto & Virtgula)[5]
"Há certos inícios de texto que marcam para sempre, feito certas estratégias de abertura de jogo de xadrez. Daria para fazer uma antologia deles. Inícios que por serem como são nos atiram para dentro do texto sem apelação, sem volta."
Luís Augusto Fischer, publicado em 04 de maio de 1997 no Jornal ABC Domingo)[6]

Indicações editar

Ano Prêmio Categoria Resultado
1996 Prêmio Açorianos Literatura[5] Indicado[7]

Versão para o teatro editar

Louco serviu como referencia para a ópera rock Louco – A Lenda Negra de Saxon Frobenius escrita e dirigida por Julio Zanotta em 2004. A adaptação teatral do livro contava a história ficcional de Dr. Frobenius, um dos mais importantes cientistas dos Estados Unidos, que matou e esquartejou a esposa em 1952 alegando ser assediado por demônios. Após um conturbado processo judicial, o cientista foi salvo da cadeira elétrica e foi encaminhado para o hospital psiquiátrico St. Elizabeths Hospital em Washington, onde passou o resto de sua vida.[8]

O espetáculo fundiu encenação teatral e com apresentação musical, onde os atores em cena também tocavam instrumentos musicais. A apresentação era composta de uma trilha de treze musicas compostas por Mark Rockets e Fabiano Mesquita, integrantes da banda Sonix, que acompanhava o personagem central, Frobenius, interpretado por Fábio Lessa.[9]

Referências

  1. a b c «Texto e Traço Mergulhados na Loucura». Zero Hora. 31 de outubro de 1995. Consultado em 24 de março de 2021 
  2. «Mergulho no Escuro». Diário Catarinense. 26 de novembro de 1999. Consultado em 24 de março de 2021 
  3. Zanotta, Julio; Peninha, Lordsir (1995). Louco. Porto Alegre: Ao Pé da Letra. p. 3 
  4. «A Loucura é Horror, a Loucura é Fascínio». Jornal do Comércio. 31 de outubro de 1995. Consultado em 24 de março de 2021 
  5. a b «Louco». Porto & Virtgula. 8 de novembro de 1996. Consultado em 24 de março de 2021 
  6. «O dramaturgo Julio». Jornal do Comércio. 4 de maio de 1997. Consultado em 24 de março de 2021 
  7. «Ópera-Rock funde teatro e música em palco da Capital». A Notícia. 14 de janeiro de 2014. Consultado em 24 de março de 2021 
  8. «Canções sobre crime e loucura». Diário Catarinense. 24 de março de 2014. Consultado em 24 de março de 2021 
  9. «A louca trajetória de Frobenius». Diário Catarinense. 14 de janeiro de 2014. Consultado em 24 de março de 2021 

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