Luiz Alberto Mendes

Luiz Alberto Mendes (São Paulo, 4 de maio de 1952 - São Paulo, 8 de abril de 2020) foi um escritor paulistano.

Biografia editar

Mendes nasceu em 1952, no bairro Vila Maria e passou boa parte da vida entre reformatórios e penitenciárias.[1] Já aos 7 anos roubava por diversão. O pai, alcoólatra, o espancava, levando-o a fugir de casa aos 11 anos, indo morar nas ruas. Foi preso várias vezes desde os 12 anos, mas sempre acabava fugindo.[2] Foi processado 47 vezes e condenado 19, somando mais de 100 anos de pena.[3] Aos 19 anos, entrou em um posto de gasolina e anunciou um assalto. Um segurança reagiu e, na troca de tiros, acabou ferido mortalmente. Mendes acabou preso e condenado a 78 anos de prisão. Já encarcerado, teve sua pena aumentada após matar um outro prisioneiro que o tentou estuprar.[2]

Durante a epidemia da AIDS, Mendes presenciou o péssimo tratamento que os doentes recebiam na cadeia. Começou a trabalhar com os infectados e conheceu uma enfermeira travesti chamada Michele Caolha, que o apresentou aos livros.[2] Tomou gosto pela escrita através de cartas que enviava para fora do presídio.[3] Começou a ler até 10h por dia e, mais tarde, a dar aulas dentro da prisão.[2]

Cumpriu 31 anos e 10 meses de prisão por roubo e homicídio.[4] No cárcere, continuou cometendo crimes e somou mais de cem anos de pena.[2] Em 2004, saiu da prisão e continuou escrevendo, dando aulas e palestras e ministrando cursos e oficinas para presidiários.[1]

Em 1º de abril de 2020, foi internado em estado grave após sofrer um aneurisma. Morreu uma semana depois, no dia 8.[3]

Carreira literária editar

Através do dramaturgo Fernando Bonassi, que escrevia o roteiro de Carandiru e realizava ações de incentivo à leitura e escrita no presídio, o médico e escritor Dráuzio Varella conheceu Mendes e recebeu dele, em 1999, os rascunhos de Memórias de um Sobrevivente. Varella levou os escritos para a editora Companhia das Letras, que decidiu publicar o livro.[4] A obra foi escrita totalmente à mão dentro do presídio e foi publicada enquanto o autor ainda estava cumprindo pena.[4] Memórias de um Sobrevivente traz histórias do tempo em que Mendes esteve atrás das grades. Lançado em 2001, o livro foi um sucesso de vendas. No mesmo ano, o escritor começou a ser colunista da Revista Trip.[2] Mendes ainda publicaria mais duas obras pela Cia. das Letras, Às Cegas, em 2005, e Confissões de um Homem Livre, em 2015.

Obras publicadas editar

. Memórias de um sobrevivente, Companhia das Letras, 2001

. Tesão e prazer: memórias eróticas de um presidiário, Geração Editorial, 2004

. Às cegas, Companhia das Letras, 2005

. Cela forte, Editora Global, 2012

. Desconforto, Editora Reformatório, 2014

. Confissões de um homem livre, Companhia das Letras, 2015

Referências

  1. a b «Escritor Luiz Alberto Mendes morre aos 68 anos». Correio Braziliense. 9 de abril de 2020. Consultado em 28 de abril de 2020 
  2. a b c d e f «Uma vida em muitas». Revista Trip. Consultado em 28 de abril de 2020 
  3. a b c «Morre Luiz Alberto Mendes, autor do livro 'Memórias de um Sobrevivente'». Folha de S.Paulo. 9 de abril de 2020. Consultado em 28 de abril de 2020 
  4. a b c Lourenço, Marina (27 de abril de 2020). «Luiz Alberto Mendes era um talento preso no Carandiru, diz Drauzio Varella». Folha de S.Paulo. Consultado em 28 de abril de 2020