Martírio de Santa Catarina (Gaspar Dias)

pintura a óleo sobre madeira de carvalho de 1570-90 presumivelmente de Gaspar Dias

O Martírio de Santa Catarina ou Degolação de Santa Catarina é uma pintura a óleo sobre madeira de carvalho pintada cerca de 1570-90 presumivelmente pelo pintor português Gaspar Dias e que se encontra actualmente no Museu Nacional de Arte Antiga, em Lisboa.[1]

Martírio de Santa Catarina
Martírio de Santa Catarina (Gaspar Dias)
Autor Gaspar Dias (?)
Data c. 1570-90
Técnica pintura a óleo sobre madeira
Dimensões 211,5 cm × 157 cm 
Localização Museu Nacional de Arte Antiga, Lisboa

O Martírio de Santa Catarina representa a execução da mártir cristã Catarina de Alexandria de acordo com a tradição sobre a sua vida e morte no tempos das perseguições aos cristãos pelo império romano. Na parte inferior do painel, como uma predela, estão representados três santos franciscanos (da esquerda para a direita): São Boaventura, São Francisco e São Bernardino de Siena.[1]

O Martírio de Santa Catarina, bem como o seu par no MNAA, o Casamento místico de S. Catarina, tem três bustos de santos franciscanos. Não havendo documentação segura, é provável que as duas pinturas tenham sido pintadas para o Convento de Santa Catarina de Ribamar,[2] fundado em 1551 pelo infante D. Luís e pela sua cunhada D. Isabel, duquesa de Bragança. Mas terá existido antes da construção deste Convento franciscano uma capela dedicada a S. Catarina o que poderá explicar a junção nas pinturas dos dois temas religiosos.[3]

Os modelos de composição, a graciosidade idealizada das figuras femininas e a tensão muscular das masculinas, o desenho mais curvo das vestes, tanto coladas aos corpos como soltas em artificiosos enrolamentos, são um exemplo da evolução significativa da pintura portuguesa que então começava a incorporar modelos do maneirismo italiano. Um dos principais pintores desta nova corrente foi Gaspar Dias, que nesta época era o mais conceituado pintor em Lisboa. Apenas se conhecem documentalmente obras suas mais tardias, mas é possível que esta pintura de grandes dimensões, bem como o seu par, corresponda a uma fase inicial da sua carreira.[3]

Descrição e estilo editar

Em primeiro plano e no centro da composição, Santa Catarina está ajoelhada no chão momentos antes de ser degolada por um soldado que tem alçada a espada com que vai desferir o golpe. Atrás do algoz vê-se a cara de três outros soldados e o capacete de um outro e oito hastes de lanças.[1]

No quarto inferior da pintura, a toda a largura, estão representados três santos franciscanos, sendo o fundador da Ordem, São Francisco, ao centro, São Boaventura, à esquerda, e São Bernardino de Siena, do lado direito.[1]

Em fundo, à esquerda, há uma paisagem campestre com pastores e rebanhos e arvoredo, e numa montanha afunilada o túmulo da santa. Na vertical acima da cabeça da Santa vê-se a sua assunção ao céu.[1]

Para o historiador de arte Vítor Serrão, o Martírio de Santa Catarina, de identificação desconhecida, revela um mestre personalizado que compõe com finura, vestes elegantemente matizados, estudado tratamento de luz, desintegração prospética dos planos, e personagens de porte serpentinato. Mas é sobretudo como paisagista amplamente comprovado em segundos planos, como consequência ilógica da cena do martírio, que a obra surge mais perturbadora e fantástica, pela ambiguidade e irracionalismo maneirista aí revelados e com um arrojo de empreitada palaciana.[4]

Referências editar

  1. a b c d e Ficha sobre a obra na Matriznet, [1]
  2. Ficha informativa sobre o Convento de Santa Catarina de Ribamar na página web da Torre do Tombo, [2]
  3. a b Nota lateral sobre a obra na exposição permanente do MNAA
  4. Vítor Serrão, "A pintura maneirista e o desenho", em História da Arte em Portugal, Vol. 7 "O Maneirismo", 1986, Publicações Alfa, Lisboa, pág. 65.

Ligação externa editar