Mentiras & Diamantes

Mentiras & Diamantes é um romance do escritor português J. Rentes de Carvalho que foi publicado inicialmente em 2013 pela editora Quetzal.

Mentiras & Diamantes
Autor(es) J. Rentes de Carvalho
Idioma português
País Portugal Portugal
Assunto Tráfico de diamantes
Gênero Romance, thriller
Editora Quetzal
Lançamento Abril de 2013
Páginas 316
ISBN 978-989-722-095-1
Cronologia
Mazagran
Pó, Cinza e Recordações

De Mentiras & Diamantes diz o próprio autor que é “um romance totalmente diferente dos que antes tinha escrito”, “uma obra de ficção no género a que Graham Greene chamava entertainment".[1]

Trata-se de escritor que confessa ser “lento a escrever, muito exigente” consigo mesmo e de “uma escrita cuidada, com alguma coisa de música”,[2] tanto no diálogo, como na narração e na descrição: “Noite de calma, a temperatura uma carícia, em parte nenhuma ruído, os cães, deitados, pareciam dormir”.[3]:206

Síntese editar

Jorge Ferreira, «o conde», recebe na sua quinta algarvia uma jovem e bela inquilina inglesa que pretende escrever um livro. O anfitrião é um homem educado, atraente e rico, mas reservado em extremo, não se lhe conhecendo amigos, amantes ou relações familiares, o qual partilha a grande casa senhorial com duas amas idosas e uma governanta. O seu passado esonde um trauma que o acompanha até ao presente e que ele procura esquecer.[3]:Contracapa

Ela, Sara Langton, filha de um milionário italiano, é impulsiva e aventureira, «viciada em liberdade», o que não consegue concliliar com a reclusão e a disciplina que a escrita exige.[3]

Tudo parece concorrer para que estas duas personagens se aproximem lentamente e que comecem a conhecer o que as atormenta - a Jorge, os episódios do passado, a Sara, a dificuldad em escrever algo que lhe agrade para o seu livro.[3]

Mas a súbita visita de «Biafra» - "vistoso fato de linho branco, cravo na botoeira, panamá na mão - que vem chantagear Jorge, origina uma série de revelações, desenlaces, homicídios, suicídios e desaparecimentos entre a Nigéria, Marrocos, Algarve, Londres e Amesterdão, tendo como pano de fundo o tráfico de diamantes e um país corrupto e corrompido, entregue aos seus segredos de família.[3]

Apreciação editar

Para Carlos Nogueira, Mentiras & Diamantes sem ser um livro sobre a identidade de quem narra, como acontece em Ernestina ou em La Coca, não deixa de ser um romance de identidades e de conhecimento sério do mundo. Mentiras & Diamantes não é apenas a história de Jorge Ferreira e de Sara Langton, a relação de intimidade que se vai estabelecendo entre estas duas personagens não diminui a relevância dos múltiplos e variados temas, motivos e recursos técnicos do livro.[4]

Prossegue Carlos Nogueira referindo que, construído como thriller, Mentiras & Diamantes começa por tocar na questão da memória na vida pessoal e intransmissível de cada um. A sua originalidade reside no equilíbrio que se estabelece entre o grande contexto em que a ação decorre e a especificidade de cada personagem. Em certa medida, Mentiras & Diamantes é um romance de investigação sobre o tráfico de diamantes, o crime organizado e os jogos de influências, e ao mesmo tempo uma reflexão sobre os tormentos, as angústias, os atos e os desejos do ser humano imerso num certo ambiente.[4]

Também para Carlos Nogueira, a intriga é muito rica e mesmo complexa em termos de personagens e casos que se encadeiam, mas as várias linhas diegéticas nunca deixam de se relacionar entre si. Tanto no discurso do narrador como no das personagens há referências constantes e discretas a elementos anteriores. Existem, do princípio ao fim, incertezas, mistérios e enigmas que nunca são desvendados. À medida que o romance avança, percebe-se que quem comanda as redes de poder e de interesses permanece impune e manobra desde instâncias a que poucos têm acesso.[4]

Ainda para Carlos Nogueira, em Mentiras & Diamantesa linguagem dos diálogos é económica e coloquial e a naturalidade e a expressividade do texto apontam para um trabalho prosódico minuciosamente ponderado e rico. Romance de ação e simultaneamente de consciência das personagens, a expressão rítmica aproxima-o da poesia, em particular nas passagens sobre a paisagem portuguesa nortenha.[4]

Finalmente para Carlos Nogueira, não sendo um libelo contra Portugal, este romance não recusa a denúncia direta e a sátira ou a crónica de costumes em que J. Rentes de Carvalho é também mestre. A densidade psicológica e os comportamentos obsessivos das personagens fazem deste romance um thriller muito singular e imprevisível que inclui episódios de grande violência e momentos de ternura e entrega ao outro, jogos de eloquência e ocultação, perversões sexuais e cenas de sexo puro e desinibido.[4]

Referências

  1. “Até onde se pode ir”, entrevista concedida ao JL – Jornal de Letras, Artes e Ideias, n.º 1109, 03 a 16 de Abril de 2013, p. 21., citado por Carlos Nogueira em [1]
  2. “J. Rentes de Carvalho”, entrevista concedida a Fernando Venâncio, in Ler. Livros & Leitores, n. 124, Maio de 2013, p. 57, citado por Carlos Nogueira em [2]
  3. a b c d e João Cabrita,J. Rentes de Carvalho, Mentiras & Diamantes, Quetzal, 2013
  4. a b c d e Carlos Nogueira, "J. Rentes de Carvalho, Mentiras & Diamantes, Lisboa, Quetzal Editores, 2013.", 2014, Colóquio/Letras, [3]