Mulheres parisienses com traje da Argélia (O Harém)

pintura de Pierre-Auguste Renoir

Mulheres parisienses com traje da Argélia (O Harém) é uma pintura a óleo sobre tela do pintor impressionista francês Pierre-Auguste Renoir data de 1872. Pelas suas características, esta pintura faz parte da fase inicial de Renoir: a retratação de figuras, estrutura vertical, cores quentes e os trajes argelinos, são demonstrativos da influência de Mulheres Argelinas em sua Casa de Delacroix.[1] Esta obra foi recusada pelo Salão de Paris em 1872, e acabou por ser rejeitada por Renoir que acabou por vendê-la por uma pequena quantia. Encontra-se no Museu Nacional de Arte Ocidental em Tóquio. Acredita-se que uma das modelos para essa obra foi Lise Tréhot, que tinha um relacionamento amoroso com Renoir.[2] Foi uma das últimas pinturas em que Tréhot trabalhou para Renoir.[2]

Mulheres parisienses com traje da Argélia
Mulheres parisienses com traje da Argélia (O Harém)
Autor Pierre-Auguste Renoir
Data 1872
Gênero pintura de género
Técnica Pintura a óleo
Dimensões 156 cm x 129 cm
Localização Museu Nacional de Arte Ocidental

Orientalismo na Pintura editar

No século XIX, a temática orientalista esteve muito presente nas produções artísticas francesas pois, nesse período, a colonização do Magrebe pela França estava em andamento.[3] As pinturas frequentemente eram realizadas com base em relatos de viajantes europeus, muitas vezes patrocinados pelos países colonizadores,[4] sendo portanto impossível dizer que as obras desta temática retratem fielmente a realidade dos países em questão. Além disso, os relatos foram escritos em uma perspectiva colonial e racista, outro fator de distorção a ser considerado.[5] Mesmo o termo Harém tomou uma conotação no ocidente que difere de seu sentido original: casa residencial majoritariamente habitada por mulheres, geralmente reunindo diversas gerações e relações femininas: co-esposas, mães e filhas, avós e netas, noras e sogras, etc.[6]

O quadro em questão, de 1872, mostra disposições típicas do orientalismo na pintura: mulheres seminuas em momentos íntimos, geralmente ligados à beleza e ao cuidado do corpo (eram frequentes quadros que retratavam saunas femininas, por exemplo). É possível observar também a tendência de retratar objetos orientais como tapetes, jóias e sapatos.[5]

Na cena elaborada por Renoir em Mulheres parisienses com traje da Argélia (O Harém), vê-se uma mulher ao centro, de pele e cabelos claros, sentada sobre um tapete, sendo atendida por duas mulheres de cabelos negros. A primeira tem em suas mãos um pequeno aplicador de Kohl, maquiagem oriental para o contorno dos olhos, enquanto a outra segura um espelho pelo qual a mulher loira se vê. Ao fundo, no canto superior direito do quadro, observa-se uma quarta mulher dentro do quarto, que espreita por uma janela, como se estivesse se escondendo de algo exterior ao mesmo tempo que tenta enxergá-lo. A mulher que segura a maquiagem também olha em direção à janela ao fundo do cômodo. Esse posicionamento dos corpos femininos é típico na pintura orientalista: algumas mulheres olham para o exterior ao mesmo tempo em que uma cena sensual acontece dentro. Isso remeteria à ideia de espera pelo estrangeiro ou até mesmo de esconder um mistério feminino oriental.[7]

Homenagem a Delacroix editar

Na década de 1870, Renoir rejeitou temporariamente o realismo de Gustave Courbet e Édouard Manet, favorecendo as questões da cor e do drama inspirado por seu ídolo, Delacroix. Ele pintou O Harém em homenagem às Mulheres de Argel de Delacroix (1834, Louvre),[8] que mais tarde descreveu como "a imagem mais bela da existência".[9]

O título do quadro de Renoir remete à natureza artificial da pintura orientalista, deixando claro que eram mulheres parisienses em trajes argelinos. Também pode ser uma referência humorística ao fato de que Delacroix foi forçado a pintar Mulheres de Argel em estúdio usando modelos francesas depois de não ter conseguido acesso adequado ao alojamento feminino em Argel durante sua viagem, em 1832.[9]

Roger Benjamin descreveu o Harém como uma "desmistificação naturalista do Oriente" e de natureza de releitura artística.[9] Foi rejeitado para o Salão de 1872[10] que Benjamin argumenta como fato que deu fim nas experiências de Renoir com o Orientalismo na década de 1870.[9] Embora os trajes e a cultura argelinas fossem bem conhecidos na França em meados do século XIX como resultado do envolvimento colonial francês no país, Renoir não visitou a Argélia até 1881.[11]

Referências

  1. Museu Nacional de Arte Ocidental
  2. a b BERK JIMINEZ, Jill (2013). Dictionary of Artists' Models. New York & Abingdon: Routledge. pp. 526–527 
  3. «Spheres of influence prior to world war ii - Protectorates and Spheres of Influence». www.americanforeignrelations.com (em inglês). Consultado em 19 de setembro de 2017 
  4. MELLO, Kátia (26 de novembro de 2003). «As mil e uma faces da Argélia». ISTOÉ. Consultado em 22 de setembro de 2017 
  5. a b THORNTON, Lynne (1993). La femme dans la peinture orientaliste. Paris: ACR Édition 
  6. MERNISSI, Fatima. Rêves de Femmes: Une Enfance au Harem. [S.l.]: Le Livre de Poche 
  7. TROMANS, Nicholas. «Nineteenth-century Orientalist painting» 
  8. «Parisiennes in Algerian Costume or Harem». 3 de julho de 2017. Consultado em 24 de setembro de 2017 
  9. a b c d BENJAMIN, Roger (2003). Renoir and Algeria. New Haven: Yale University Press 
  10. BAILEY, Colin B. (1997). Renoir's Portraits: Impressions of an Age. New Haven: Yale University Press. p. 108 
  11. JORDANOVA, Ludmilla (2012). The Look of the Past: Visual and Material Evidence in Historical Practice. Cambridge: Cambridge University Press