Nhandereko
Em tradução simples, Nhandereko ou Nhanderekó significa "modo de vida do povo guarani".[1]
Representa onde a vida está e o relacionamento da vida com tudo que existe: os corpos, o espaço e o ambiente.[2] Assim, Nhandereko está interligado com todo o território, que para o povo Guarani representa a vida, contemplando todos os seres vivos, florestas, rios, plantas e animais.[1]
Definições
editarDe acordo com Macedo (2012), nhande significa "nossa" e reko significa "vida", de forma que Nhandereko representa "nossa vida".[3]
Segundo Kerexu Yxapyry, a primeira cacica Guarani reconhecida no Brasil e Coordenadora Executiva da Articulação dos Povos Indígenas do Brasil:[2]
Nhanderekó para nós é um sistema de vida e para esse sistema de vida funcionar tem que estar tudo interligado. (...) Você tem que saber o que você está fazendo, para que você está fazendo, porque.— Kerexu Yxapyry
Este conceito possui similaridade com o Bem Viver (ou Sumak Kawsay, em quíchua), que representa a filosofia de vida dos povos ameríndios andinos. Segundo o escritor equatoriano Alberto Acosta:[4]
O Bem Viver representa a vida em pequena escala, sustentável e equilibrada, como meio necessário para garantir uma vida digna para todos e a própria sobrevivência da espécie humana e do planeta.— Alberto Acosta, O bem viver: uma oportunidade para imaginar outros mundos
Nhandereko é geralmente considerado um termo oposto ao "modo de ser dos brancos", o djuruareko (djuruá representa os brancos ou não indígenas).[5]
Para alguns estudiosos, o termo se aproxima do conceito ocidental de cultura, representando aspectos da alimentação, produção, habitação, relacionamento e preceitos religiosos. Além disso, de acordo com etnólogos, o modo de viver Guarani é essencialmente religioso, permitindo então se relacionar o termo Nhandereko com a cosmologia e religiosidade desse povo.[5]
Para a cosmologia guarani, Nhanderu criou o povo guarani e arandua (sabedoria e conhecimento) para que o Nhandereko fosse possível, desde a ocupação do território até o respeito com o manejo em relação à natureza.[6] Para a líder Jerá Guarani, da Terra Indígena Tenondé Porã no extremo sul da cidade de São Paulo, esse modo de vida consiste na convivência harmoniosa com a natureza, protegendo o meio ambiente e respeitando as outras formas de vida físicas e espirituais, que são os guardiões de cada ser existente: rios, animais, árvores, pedras, cachoeiras e nascentes.[7]
O conceito Nhandereko vai também além da vivência em comunidade já que abrange um modo de vida existente a milhares de anos e que resiste inclusive ao colonialismo.[8]
Ver também
editarReferências
- ↑ a b Zampoli, Fernanda (13 de outubro de 2023). «Nhandereko, a trajetória que levou a Unesc a formar o primeiro mestre indígena». Portal Litoral Sul. Consultado em 20 de janeiro de 2024
- ↑ a b «KEREXU YXAPYRY FALA SOBRE O NHANDEREKÓ, O BEM VIVER NO MODO DE VIDA GUARANI». Portal Catarinas. 6 de agosto de 2021. Consultado em 21 de janeiro de 2024
- ↑ Macedo, Valéria (7 de dezembro de 2012). «Dos cantos para o mundo. Invisibilidade, figurações da "cultura" e o se fazer ouvir nos corais guarani». Revista de Antropologia (1). ISSN 1678-9857. doi:10.11606/2179-0892.ra.2012.46969. Consultado em 21 de janeiro de 2024
- ↑ Acosta, Alberto (2019). O Bem Viver: uma oportunidade para imaginar outros mundos. [S.l.]: Editora Elefante. 264 páginas
- ↑ a b de Rose, Isabel (2010). «Tata endy rekoe - fogo sagrado: encontros entre os Guarani, a ayahuasca e o Caminho Vermelho». UFSC. Tese de Doutorado em Antropologia Social
- ↑ Santos, Lucas (2019). «ENTRE O TRADICIONAL E O HABITUAL: CONSTRUÇÃO DO NHANDEREKO DA TEKOA PARANAPUÃ, SÃO VICENTE». UNIFESP. Trabalho de Conclusão de Curso em Terapia Ocupacional. Consultado em 22 de janeiro de 2024
- ↑ Borges, Thiago (17 de outubro de 2023). «Nhandereko em risco: Avanço de área urbana preocupa liderança indígena no Extremo Sul de SP». Periferia em Movimento. Consultado em 22 de janeiro de 2024
- ↑ Pereira, Renata (2019). «Interação ambiental como resistência e emancipação, com base no Nhandereko (Bien Vivir) Mbya Guarani». UFPR. Dissertação de Mestrado em Ciências Ambientais. Consultado em 21 de janeiro de 2024