Palazzo Cesi-Armellini

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Palazzo Cesi-Armellini, conhecido também apenas como Palazzo Cesi, é um palácio do final do período renascentista[1] localizado no rione Borgo de Roma e importante por diversas razões históricas e arquiteturais. É um dos poucos palácios que sobreviveram à destruição da porção central do rione Borgo (a chamada Spina di Borgo) para a construção da Via della Conciliazione para ligar a Cidade do Vaticano ao centro da cidade de forma monumental após o Tratado de Latrão na década de 1930. Ele não deve ser confundido com o Palazzo Cesi-Gaddi, nem com o Palazzo Muti Cesi e nem com um outro Palazzo Cesi, hoje destruído, que ficava perto do braço sul da Colunata de São Pedro.

Fachada atual do palácio na Via della Conciliazione.

Localização editar

O palácio está localizado hoje entre a Via della Conciliazione e a Borgo Santo Spirito, com a fachada principal ao longo da calçada sul desta última.[2] O edifício fica a leste do mais meridional dos dois propileus erigidos por Marcello Piacentini em 1950 para delimitar a Piazza Pio XIII, uma espécie de vestíbulo da Praça de São Pedro), e tem como vizinho para o leste o Palazzo Serristori, outro notável edifício renascentista.[2]

História editar

 
Portal de entrada com bandeiras da Sociedade do Divino Salvador, cuja sede é no palácio.

O primeiro palácio no local foi construído entre 1517 e 1520 pelo cardeal Francesco Armellini, possivelmente com base num projeto de Giulio Romano ou de seus seguidores.[3] Armellini, nascido em Perúgia, era um habilidoso financista[4] que, depois de se mudar para Roma, tornou-se imensamente rico e acabou nomeado cardeal e conselheiro pelo papa Leão X Médici, que o adotou.[5] Chefe do partido da família Médici em Roma e depois de quase perder todo o seu patrimônio durante o reinado de Adriano VI (r. 1522-1523), Armellini tornou-se tesoureiro do sucessor dele, Clemente VII Médici (r. 1523-1534).[5] Na posição, foi indiretamente responsável pelo saque de Roma em 1527, pois, dois anos antes, aconselhou de forma pouco sábia o papa a dispensar todos os seus soldados, o que deixou a cidade de Roma praticamente sem defesas.[5] Em 6 de maio de 1527, os landsknechts de Carlos V do Sacro Império Romano-Germânico irromperam na cidade derrubando uma parede do jardim de seu palácio enquanto ele tentava enterrar suas jóias e o tesouro papal.[6] O palácio foi saqueado pelos soldados e Armellini escapou por pouco para o Castel Sant'Angelo depois de conseguir ser puxado muralha acima num cesto.[5][6] O Palazzo Armellini era luxuoso, contava com 130 criados e havia sido decorado por artistas como Martino da Parma, Giovenale da Narni e Anderlino da Mantova.[5]

Depois da morte de Armellini em 1529, vítima da peste bubônica, o palácio foi herdado por seus parentes que, em 1565, o venderam para um nobre da família Cesi, de origem úmbria. Angelo Cesi, bispo de Todi, e seu irmão, Pier Donato, assumiram a responsabilidade de reformar o edifício e contrataram um novo projeto de Martino Longhi, o Velho, entre 1570 e 1588, que supervisionou a obra.[5][7] Os dois eram colecionadores de arte e abrigaram no palácio muitas antiguidades e uma grande coleção de livros.[8] Paolo Emilio Cesi, sobrinho de Pier Donato e também um patrono das artes, construiu a fachada do palácio em 1587, pois seu tio sofria com constante falta de dinheiro, que era todo utilizado para aumentar sua coleção de arte.[9] Em 1618, o palácio tornou-se por um curto período a sede da Accademia dei Lincei, fundada por Federico Cesi em 1603,[9] que ficava até então no Palazzo Cesi-Gaddi, na Via della Maschera d'Oro no rione Ponte. O edifício permaneceu no controle da família Cesi até sua extinção em 1799.[9] Em 1819, o edifício foi comprado pelos irmãos Giovanni Battista e Giuseppe Grazioli, membros de outra família nobre romana.[9] Depois de outras trocas de mãos, o palácio terminou sendo adquirido em 1895 pela Sociedade do Divino Salvador, que passou a utilizá-lo como sede.[10]

 
Fachada do palácio antes da reforma na década de 1930, ainda com as doze janelas de largura ao invés das atuais oito

Em 1939, durante as obras para a abertura da Via della Conciliazione, o palácio, que até então tinha sua fachada principal na via Borgo Vecchio, escapou da demolição, mas foi modificado com base num projeto de Marcello Piacentini e Attilio Spaccarelli.[10] O número de janelas foi reduzido de doze para oito, o pátio foi reduzido (até então um típico jardim em forma de anel renascentista) e a ala leste foi demolida, incluindo a escadaria monumental e a torre angular.[10][11] Durante a ocupação alemã de Roma na Segunda Guerra Mundial, o palácio abrigou muitas pessoas (principalmente judeus) que fugiam dos nazistas[10] sob os cuidados do segundo superior geral da Sociedade do Divino Salvador, o padre Pancrazio Pfeiffer, que também foi instrumental na decisão de declarar Roma uma cidade aberta para evitar um bombardeio.[10] Entre 1944 e 1946, outra ala do palácio foi construída ao longo da via Borgo Santo Spirito.[10] Em 2004, uma parte do palácio foi transformada em hotel e o edifício ainda permanece sob os cuidados da Sociedade atualmente.[12]

Descrição editar

Apesar das reformas realizadas no século XX, o palácio conseguiu preservar sua característica do final do Renascimento[10] e, juntamente com Palazzo Torlonia, o Palazzo dei Penitenzieri e o Palazzo Serristori, é um dos quatro palácios renascentistas no Borgo que sobreviveram à demolição da Spina di Borgo entre 1937 e 1950. A elegante fachada de tijolos na porção inferior da fachada está coberta por um revestimento rusticado e nela estão incorporadas entradas para lojas.[13] O portal principal, que mudou de lugar durante a redução da fachada de doze para oito janelas, é flanqueada por dois pilares dóricos que sustentam um entablamento com métopes compostas por elementos arquitetônicos referentes à família Cesi.[13] A pedra angular do portal, por exemplo, está decorada com o brasão da família.[13] A porção superior da fachada é de tijolos aparentes com lesenas duplas que a dividem em quadrados onde se abrem as janelas, cujas molduras estão decoradas com a inscrição "P.DONATUS.CAR.CAESIUS.", o nome de Pier Donato Cesi em latim.[13][11] No canto oeste está afixado um escudo com um prótomo representando a cabeça de um leão.[10]

O jardim originalmente tinha um formato quadrado, com cinco arcos suportados por pilares com capitéis toscanos no piso térreo e jônicos no piso nobre.[13] Durante a renovação da ala oeste, que era decorada com afrescos do século XVI representando putti e paisagens, dois arcos foram demolidos e, por isso, o jardim atualmente é retangular.[13] A lógia no jardim ainda está decorada com um ciclo de afrescos renascentistas representando a vida do rei Salomão alternados com tondos representando mulheres e putti alados.[14] Atrás dela estão diversas salas decoradas durante o Renascimento com afrescos e elaborados tetos em caixotões, o mais notável dos quais o que está decorado com o brasão da família Cesi.[14] Em 1950, uma sala de estar no piso térreo foi decorada com dez afrescos representando as sedes da Sociedade do Divino Salvador ao redor do mundo.[14]

Referências

  1. Borgatti (1926) p. 211
  2. a b Gigli (1992), Inside front cover
  3. Spagnesi (2003) p. 51n
  4. Gigli (1992) p. 108
  5. a b c d e f Gigli (1992) p. 110
  6. a b De Caro (1962)
  7. Castagnoli (1958) p. 419
  8. Gigli (1992) p. 112
  9. a b c d Gigli (1992) p. 114
  10. a b c d e f g h Gigli (1992) p. 116
  11. a b Cambedda (1990) p. 46
  12. «Palazzo Cesi» (em italiano). www.palazzocesi.it 
  13. a b c d e f Gigli (1992) p. 118
  14. a b c Gigli (1992) p. 120

Bibliografia editar

  • Borgatti, Mariano (1926). Borgo e S. Pietro nel 1300 – 1600 – 1925 (em italiano). Roma: Federico Pustet 
  • Ceccarelli (Cecarius), Giuseppe (1938). La "Spina" dei Borghi (em italiano). Roma: Danesi 
  • Castagnoli, Ferdinando; Cecchelli, Carlo; Giovannoni, Gustavo; Zocca, Mario (1958). Topografia e urbanistica di Roma (em italiano). Bologna: Cappelli 
  • De Caro, Gaspare (1962). «Armellini Medici, Francesco». Enciclopedia Italiana (em italiano). Roma: Dizionario Biografico degli Italiani 
  • Gigli, Laura (1992). Guide rionali di Roma (em italiano). Borgo (III). Roma: Fratelli Palombi Editori. ISSN 0393-2710 
  • Cambedda, Anna (1990). La demolizione della Spina dei Borghi (em italiano). Roma: Fratelli Palombi Editori. ISSN 0394-9753 
  • Spagnesi, Gianfranco (2003). La Basilica di San Pietro, il borgo e la città (em italiano). [S.l.]: Jaca book, Milano. ISBN 88-16-40605-4 

Ligações externas editar