Papeceno (em armênio/arménio: Բաբկեն Ոթմսեցի; romaniz.:Babgen/Papken Otmsetsi; m. 515/516) ou Apovipecenes (em latim: Apovipcenes),[1] foi o católico de todos os armênios da Igreja Apostólica Armênia de 490/491 a 515/516.

Papeceno
Papeceno de Otmus
Bandeira da Igreja Apostólica Armênia
Nascimento
Otmus
Morte 515/516
Nacionalidade Armênio
Ocupação Bispo
Título
Religião Igreja Apostólica Armênia

Biografia editar

Papeceno nasceu na vila de Otmus, no cantão de Vananda, na região de Cars no noroeste da Armênia medieval.[2][3] Sucedeu em 490 ou 491[4] o católico João I Mandacúnio e, como seu antecessor, trabalhou em estreita colaboração com o marzobã Baanes I.[5] Em sua morte em 515/516, foi sucedido por Samuel de Arzeque.[6]

Papeceno é conhecido por convocar o Primeiro Concílio de Dúbio em 505/506, que reuniu em Dúbio, a sede catolicossal, armênios, ibéricos e albaneses.[6] A razão para esta reunião era a recepção do Henótico do imperador bizantino Zenão (r. 474–475; 476–491),[7] enquanto a Igreja Armênia e a Igreja Bizantina ainda estavam em comunhão,[8] de modo a combater as mudanças recentes na Igreja do Oriente, nomeadamente a introdução do nestorianismo por Barsauma.[9] O ato sinodal do conselho indica:

Os sínodos foram realizados em vários lugares, às vezes Bendosabora e às vezes em Assuristão pelos líderes desta seita sacrílega: Acácio, Barsauma, Mir-Narses (bispo de Zabe), João (bispo de Carca de Bete Seloque, metropolita de Bete Garmai), Paulo (bispo de Carca de Ledã), Mica (bispo de Lasom) e outros em comunhão com eles, que concordaram com os discursos e a impiedade de Nestório, Diodoro de Tarso e Teodoro de Mopsuéstia.[10]

O concílio, que não é documentado diretamente por uma carta de Papeceno preservada no Livro das letras da Igreja Armênia,[11] condenou veementemente o nestorianismo.[12] Embora esta carta não mencione uma única vez o nome "Calcedônia",[11] alguns historiadores, principalmente armênios, com base na História da Armênia do católico de todos os armênios João V de Drascanaquerta (século X), consideram que o concílio marca o rompimento da Igreja Armênia com o calcedonismo, enquanto outros autores, principalmente ocidentais, datam este evento no Segundo Concílio de Dúbio em 555; a historiadora Nina Garsoian argumenta que o fato remonta a 518, quando o imperador bizantino Justino I (r. 518–527) abandonou o Henótico de Zenão,[13] diferente de Anastácio I Dicoro (r. 491–518) que o seguiu.[14]

Ver também editar

Precedido por
João I Mandacúnio
Católico de todos os armênios
490/491-515/516
Sucedido por
Samuel de Arzeque

Bibliografia editar

  • Boisson-Chernorhokian, Patricia (1996). «Vision chalcédonienne et non chalcédonienne de la liste des patriarches de l'Église arménienne jusqu'au xe siècle». In: Nina Garsoian. L'Arménie et Byzance : histoire et culture. Paris: Publicações da Sorbona. ISBN 2-85088-017-5 
  • Fortescue, Adrian (2001). Eastern Churches Trilogy: The Lesser Eastern Churches. Piscataway, Nova Jérsei: Gorgias Press. ISBN 0971598622 
  • Garsoian, Nina (1996). L'Arménie et Byzance : histoire et culture. Paris: Publications de la Sorbonne. ISBN 9782859443009 
  • Grousset, René (1947). Histoire de l’Arménie des origines à 1071. Paris: Payot 
  • Hovannisian, Richard G. (1997). Armenian People from Ancient to Modern Times vol. I: The Dynastic Periods: From Antiquity to the Fourteenth Century. Nova Iorque: Palgrave Macmillan. ISBN 978-1-4039-6421-2 
  • Lequien, Michel (1740). Oriens Christianus, in quatuor patriarchatus digestus. Paris: Tipografia Régia 

Referências

  1. Lequien 1740, p. xliii.
  2. Hovannisian 1997, p. 111.
  3. Boisson-Chernorhokian 1996, p. 38.
  4. Garsoian 1996, p. 100.
  5. Grousset 1947, p. 230.
  6. a b Grousset 1947, p. 236.
  7. Garsoian 1996, p. 104.
  8. Boisson-Chernorhokian 1996, p. 39.
  9. Fortescue 2001, p. 81.
  10. Garsoian 1996, p. 187.
  11. a b Garsoian 1996, p. 105.
  12. Dédéyan 2007, p. 199.
  13. Garsoian 1996, p. 111.
  14. Grousset 1947, p. 234.