Paradoxo da Igualdade de Gênero

Conceito na Psicologia e Sociologia

O paradoxo da igualdade de gênero refere-se às descobertas de uma pesquisa de Gijsbert Stoet e David C. Geary [1] que, de forma contra-intuitiva, sugere que países mais igualitários na questão de gênero tem, apesar disso, maior desequilíbrio na proporção entre homens e mulheres do que países menos igualitários em campos de ciência, tecnologia, engenharias e matemática. Esta pesquisa constatou que, em média, as meninas têm um desempenho igual ou superior aos meninos nas ciências exatas, mas, apesar disso, a proporção de mulheres em tais áreas diminui à medida que a igualdade de gênero no país aumenta. A análise foi criticada em relação a sua metodologia e conclusões.

A Pesquisa e Suas Conclusões editar

A pesquisa conduziu uma análise dos resultados da edição de 2015 do Programa Internacional de Avaliação de Estudantes (PISA) (n = 472.242 em 67 países / regiões), analisando os resultados nas questões de ciências. Essa medida foi comparada com o nível de igualdade de gênero, conforme definido pelo índice de Diferenças globais entre gêneros (DGG).

O estudo teve várias descobertas chaves, que podem ser resumidas da seguinte forma:

  • As meninas tiveram desempenho semelhante ou melhor que os meninos em dois de cada três países e estavam mais bem preparadas para o ensino superior em ciência, engenharias e matemática em praticamente todos os países examinados.
  • Mais meninas ingressaram em graduações de cursos de ciência, tecnologia, engenharias e matemática do que se formaram.
  • A diferença entre os desempenhos de meninos e meninas no PISA estava inversamente relacionada ao DGG do país.

É importante observar que a correlação com o DGG mostrada se refere a proporções e não números absolutos. Em outras palavras, não foi encontrada relação entre o número total de meninas que ingressaram e concluíram cursos em ciências, tecnologia, engenharias e matemática e o DGG do país, mas na verdade encontrou-se uma correlação com a diferença relativa do número total de garotos e garotas que concluíram esses cursos.

Possíveis Causas e Críticas editar

Os autores sugerem duas possíveis causas relacionadas para explicar o fenômeno. A primeira diz respeito à teoria do valor esperado, EVT (do acrônimo anglófono: Expected-Value Theory), que sugere que os estudantes determinem suas escolhas futuras de educação com base em seus pontos fortes. A teoria do valor esperado é frequentemente utilizada para elucidar a diferença nas escolhas profissionais entre homens e mulheres. [2] Assim, a diferença seria explicada porque as meninas escolheriam assuntos em que são relativamente mais fortes do que as áreas de ciência, engenharias, tecnologia e matemática. Em outras palavras, ao comparar a aptidão de cada aluno em várias áreas, as meninas sentem que são mais fortes em outras áreas que não às ligadas a ciências exatas. Uma explicação adicional apresentada pelo autor é que o efeito aumenta ainda mais nas sociedades com menor satisfação com a vida, conforme definido pelo Índice para uma Vida Melhor da OCDE. Uma análise estatística superficial confirma esse efeito. A lógica seria que a economia é um fator mais importante na escolha do futuro educacional em países com uma menor satisfação com a vida. Assim, em sociedades mais ricas e com mais igualdade de gênero, os alunos se sentem mais livres para escolher o futuro acadêmico com base em seus interesses, em vez de fatores econômicos.

Além disso, contrariamente ao que se supõe frequentemente, estereótipos de gênero podem não estar relacionados com a escolha da carreira [3] [4], conforme demonstraram estudos longitudinais do mesmo conjunto de dados analisados por Stoet e Gearym. Esses estudos investigaram quais são os estereótipos de gênero nas profissões através dos resultados de testes de associação implícita [3] [4] (IAT). A conclusão desses estudos é de que não foi encontrada relação entre o interesse em ciências, tecnologia, engenharias e matemática (conforme relatado via PISA), e os diferentes estereótipos de gênero, de acordo com o teste de associação implícita. [3] [4]. Outro estudo procedeu com uma metodologia diferente e mediu os estereótipos de gênero através do teste de associação implícita e também com um questionário simples. Esse estudo revelou que o estereótipo de gênero medido dessa forma carrega uma relação inversa à representação das mulheres na ciência nesses países [5] .

Outros estudos contestaram a ideia de que o interesse declarado é uma boa medida de interesse intrínseco. [6] [7] [8] Por exemplo, um estudo descobriu que o número de mulheres que já trabalham em uma determinada área prediz os estereótipos que as pessoas têm sobre essa área. [9] Outro estudo encontrou uma relação entre o sexismo percebido em determinados cursos de graduação e o interesse que as meninas manifestam por essa área. [6] Outros estudos apontaram ainda que o interesse que as crianças manifestam por uma determinada área tem uma grande sobreposição com as expectativas e estereótipos de gênero de pais e professores sobre ciências, tecnologia, engenharias e matemática.

Por exemplo, um estudo mostrou que a probabilidade de um pai crer que seu filho se interessará por ciências exatas é menor quando esse filho é uma menina e tal crença é um forte preditor do desenvolvimento de aptidões nas ciências. [7] Outros estudos longitudinais mostraram um efeito semelhante entre as expectativas que a mãe possui sobre o sucesso da filha em carreiras de ciências exatas e as escolhas profissionais posteriores da menina. [8] Muitos desses estudos longitudinais foram realizados em escolas de ensino médio ou com alunos da faixa etárias correspondente, mostrando que esse efeito está presente antes da idade em que o PISA seria realizado. [7] [8] [10]

Referências

  1. Stoet, Gijsbert; Geary, David C. (14 February 2018), "The Gender-Equality Paradox in Science, Technology, Engineering, and Mathematics Education" (PDF), Psychological Science, 29 (4): 581–593, doi:10.1177/0956797617741719, PMID 29442575
  2. Petersen, J.; Hyde, J. S. (2014). «Gender-Related Academic and Occupational Interests and Goals». In: Liben; Bigler. The Role of Gender in Educational Contexts and Outcomes. Col: Advances in Child Development and Behavior. 47. [S.l.: s.n.] pp. 43–76. ISBN 9780124115828. doi:10.1016/bs.acdb.2014.04.004 
  3. a b c McCoy. «Countries with Less Gender Equity Have More Women in STEM--Huh?». Scientific American Blog Network  |nome3= sem |sobrenome3= em Authors list (ajuda)
  4. a b c «gender». Adam Mastroianni 
  5. «Women's Representation in Science Predicts National Gender-Science Stereotypes: Evidence From 66 Nations» (PDF). Journal of Educational Psychology. 107: 631–644. doi:10.1037/edu0000005 
  6. a b Ganley. «Gender Equity in College Majors: Looking Beyond the STEM/Non-STEM Dichotomy for Answers Regarding Female Participation». American Educational Research Journal. 55: 453–487. ISSN 0002-8312. doi:10.3102/0002831217740221 
  7. a b c Tenenbaum. «Parent-child conversations about science: The socialization of gender inequities?». Developmental Psychology. 39: 34–47. ISSN 0012-1649. doi:10.1037//0012-1649.39.1.34 
  8. a b c Bleeker. «Achievement in Math and Science: Do Mothers' Beliefs Matter 12 Years Later?». Journal of Educational Psychology. 96: 97–109. ISSN 0022-0663. doi:10.1037/0022-0663.96.1.97 
  9. «Women's Representation in Science Predicts National Gender-Science Stereotypes: Evidence From 66 Nations» (PDF). Journal of Educational Psychology. 107: 631–644. doi:10.1037/edu0000005 
  10. Lavy. «On The Origins of Gender Human Capital Gaps: Short and Long Term Consequences of Teachers' Stereotypical Biases» (PDF). doi:10.3386/w20909