Pedículo do Congo

O Pedículo do Congo (já referido como o Pedículo do Zaire; em francês la botte du Katanga, significando 'Bota do Katanga') é a saliência a sudeste da Província de Alto Catanga da República Democrática do Congo, que divide a vizinha Zâmbia em dois lóbulos. Na área, o pedículo é parecido em tamanho com o País de Gales ou Nova Jérsia. 'Pedículo' é usado no sentido de 'um pequeno pé'. 'Pedículo do Congo' ou 'o Pedículo' também é usado para referir a estrada Congo Pedicle, que passa por ele.

Forma de borboleta da Zâmbia formada pelo pedículo do Congo

O Pedículo do Congo é um exemplo de limites impostos pelos poderes europeus em África no início da Partilha de África,[1] que foram estabelecidos pelos interesses, e normalmente não consideravam limites políticos ou tribais pré-existentes.[2]

Como está localizado na extremidade sudeste no país, o seu fim oriental está mais perto das cidades capital de 17 outros países africanos que a sua própria, Quinxassa.

Reivindicações territoriais britânicas e belgas

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A Companhia Britânica da África do Sul (CBAS) de Cecil Rhodes abordou Katanga pelo sul, o Estado Livre do Congo (ELC) do Rei belga Leopoldo II abordou pelo noroeste. Katanga sudeste era controlada pelo reinado Yeke ou Garangaze de Msiri sediado em Bunkeya, e a CBAS e o ELC competiram para assinar tratados com ele, enquanto tentava jogar um contra o outro.[3]

Depois da morte de Msi, o ELC foi mais rápido a consolidar a sua reivindicação do território de Msiri chamado 'Garanganza', e mais tarde Katanga, oeste para cima de Luapula. Desde 1885 eles já tinham reivindicado terras a norte da bacia hidrográfica do Congo-Zambeze. A CBAS foi deixada com terra a sul da bacia hidrográfica e este de Luapula. A Conferência de Berlim de 1884-85 foi organizada pela Alemanha para resolver o desfecho da Partilha de África. Não estabeleceu limites reais, mas concordou em áreas de influência, incluindo o controlo do ELC sobre o Congo. Fronteiras detalhadas foram deixadas para negociações bilaterais.[3]

 
Mapa mostrando o Pedículo do Congo em relação às fronteiras formadas pelo rio Luapula e pela bacia hidrográfica Congo-Zambeze.

Negociação de fronteiras

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O problema principal do lado belga e britânico sob a fronteira do Katanga no sudeste era a falta de uma característica geográfica óbvia para a fronteira seguir, pois o limite da baía hidrográfica Congo-Zambezi e a Luapula não se encontram. Separados por um distância de 70 a 150 km, eles correm num arco curvando a sudeste e depois nordeste, percorrendo quase paralelo mas gradualmente ficando próximos, e chegariam ao planalto entre os Lagos Tanganica e Niassa se o Rio Chambeshi, considerada o fluxo de origem final do Rio Congo, fossem aceites como sendo o mesmo rio que o Luapula.

Do ponto de vista britânico, a escolha óbvia para a fronteira teria sido a linha sudoeste para nordeste da baía hidrográfica para Luapula. Falhando acordar nisso, uma segunda opção seria continuar para sul da linha do vale Luapula-Lago Mweru (longitude 28º 35') que forma a parte mais longa norte-sul da fronteira, até fazer interseção da baía hidrográfica Congo-Zambezi, então todo o país imediatamente a este de uma lina norte-sul por Ndola seria então Rodésia do Norte. Mas os belgas esperavam por acesso para as áreas repletas do Pântano Bangweulu e pressionou para as fronteiras se colarem ao rio e baía hidrográfica. Em negociações para um tratado alguma 'negociação' de territórios esteve envolvido no Congo nordeste, Sudão e Uganda.[4] Também havia a questão de como quão leste nos pântanos do Bangweulu e planície de inundação o Pedículo se devia estender. O rei de Itália foi chamado para adjudicar, e ele desenhou uma linha norte-sul (um linha de longitude) por um ponto no mapa onde o Luapula se pensava sair dos pântanos do Lago Bangweulu, que deu nascimento ao Pedículo: 70 a 100 km de largura e cerca de 200 quilómetros de comprimento.

Acordo Anglo-Belga de 12 de maio de 1884

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O acordo foi incorporado neste tratado maior, que lidou maioritariamente com Equatória.

Comissão do Limite Anglo-Belga, 1911-1914

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À medida que a região foi examinada mais de perto, tornou-se evidente que havia uma série de problemas no terreno. A Luapula não corre sempre num só canal; existem ilhas, pântanos, e múltiplos canais; e o canal principal pode mudar de acordo com a altura do rio. É particularmente confusa a sul de Bangweulu, onde não existe um canal claro a sair dos pântanos mas uma massa emaranhada de canais em pântanos e várzeas dez quilómetros mais largos, e a linha de longitude do rei passava-os em múltiplos pontos.[3]

A Comissão do Limite Anglo-Belga foi estabelecida em 1911 para examinar os limites no terreno, resolvendo os problemas e marcando a fronteira com postes e torres de madeira usados para triangulação. A régua do rei italiano foi movida oeste para um ponto onde cortou um canal claramente definido num sítio. Finalmente, o trabalho foi completo em 1914.

Consequência para a Rodésia do Norte/Zâmbia

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Como consequência de Katanga alcançar o Pedículo, ganhou um apoio nos Pântanos de Bangweulu e potenciais recursos minerais, embora aconteceu que, a divisão do principal minério de cobre entre o Congo e a Rodésia do Norte foi determinada pela baía hidrográfica Congo-Zambezi e não seria afetada pela existência do Pedículo. Foi o falhanço do BCAS a conseguir que Msiri assinasse Garanganza como um protetorado britânico que perdeu o Cinturão de cobre congolês para a Rodésia do Norte, e alguns no BCAS queixaram-se que os missionários britânicos Frederick Stanley Arnot e Charles Swan poderiam ter feito mais para ajudar, embora a sua missão Assembleias dos Irmãos tinha uma política de não se involver em política.[5] Uma vez que Msiri foi morto pelo ELC era demasiado tarde para tentar de novo, e consequentemente o líder responsável da expedição ELC, o Capitão canadiano William Grant Stairs era visto por alguns na Rodésia do Norte como um traidor do Império britânico.[6]

Questões estratégicas para a Zâmbia

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Os problemas para a Zâmbia só surgiram 50 anos depois, com a crise do Congo de 1960-63. O Pedículo separa a Província de Luapula e a parte ocidental da Província do Norte do centro industrial e comercial do Cinturão de Cobre do país. Isto é agravado pelo facto de que na ponta do Pedículo, onde o rio Luapula flui para fora do sistema Bangweulu, os pântanos do rio têm pelo menos 6 quilômetros de largura e a planície de inundação tem 60 quilómetros de largura, tornando uma estrada impossível com os recursos disponíveis durante a maior parte do século 20. A estrada mais a sul possível para Luapula, mantendo-se em território zambiano, foi empurrada, por estas circunstâncias, por mais 200 quilómetros ao norte, contornando o Lago Bangweulu.

Estrategicamente, o Pedículo do Congo é um problema para a Zâmboa, embora não para a RD do Congo. Também afetando comunicação por pelo menos um quarto do país com o centro e oeste, expõe potencialmente uma maior parte da Zâmbia, que aproveitou da paz por mais de 100 anos, para entrar em conflito em Katanga, o que não aconteceu. Zâmbia foi testemunha de violência em Katanga entre fações armadas e pelo exército contra civis que ocasionalmente passou para a Zâmbia, ou que afetou os cidadãos que viajam na estrada Pedicle.[7] Em certas alturas, foi-lhes fechado fazendo com que dar uma grande volta a norte e este de Bangweulu seja a única opção. Além disso, crime entre fronteiras e tráfico de armas tem sido um problema no Cinturão de cobre, como caça no Pântano Bangweulu.[8]

Referências

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  1. Francis M. Deng: Africa and the New World Dis-Order: Rethinking Colonial Borders. Brookings Review, Vol. 11, Spring 1993
  2. Ieuan Griffiths: "The Scramble for Africa: Inherited Political Boundaries", The Geographical Journal, Vol 152 No 2, July 1986, pp 204-216.
  3. a b c David Gordon: Decentralized Despots or Contingent Chiefs: Comparing Colonial Chiefs in Northern Rhodesia and the Belgian Congo. KwaZulu-Natal History and African Studies Seminar, University of Natal, Durban, 2000.
  4. «Uganda page». www.angelfire.com. Consultado em 28 de julho de 2024 
  5. http://www.dacb.org/stories/demrepcongo/crawford_daniel.html Arquivado em 2007-09-27 no Wayback Machine Dr. J. Keir Howard: "Crawford, Daniel" and "Arnot, Frederick", in Dictionary of African Christian Biography
  6. «NRZam». www.nrzam.org.uk. Consultado em 28 de julho de 2024 
  7. Mwelwa C. Musambachime: "Military Violence against Civilians: The Case of the Congolese and Zairean Military in the Pedicle 1890–1988". International Journal of African Historical Studies, Vol. 23, No. 4 (1990)
  8. http://timesofzambia.com.zm[ligação inativa] Times of Zambia website accessed 6 February 2007.