Qenqenet é, segundo a mitologia e a astronomia egípcia, a região do céu logo acima do horizonte e que designa, em oposição a Mesqet, a área de entrada no Tuat.

Panorama editar

Qenqenet é o lugar onde , Hórus e os decanos se detém quando inicia-se o pôr do sol, ou seja, pouco antes de sua morte, antes de desaparecerem completamente sob o horizonte. Portanto, Qenqenet também é, mitologicamente, “o lugar antes do renascimento”.

A localização de Qenqenet foi extensamente debatida entre os egiptólogos, pois em vários textos ela também foi documentada sendo “nos arredores do céu e no Tuat”. Qenqenet tem um papel importante especialmente nos textos das pirâmides. Assim, Kurt Sethe[1], Arielle Kozloff[2] e Ronald Wells[3] imaginaram que pudesse se tratar da Via Láctea. Tal hipótese foi desconsiderada após análises aprofundadas de outros textos, já que as novas evidências referem-se claramente a uma “região fronteiriça entre o céu e as estrelas”.

Depois de extensa revisão por parte de Harco Willems[4], Rolf Krauss[5] e Arno Egberts[6], a localização de Qenqenet foi definida como a mesma do horizonte. Após a conclusão da pesquisa sobre o papiro pBM 47.218.50 e da questão do Mesqet-Santuário[7], ficou claro que as novas hipóteses estão de acordo com as referências contidas no Papiro de Brooklyn, que só menciona explicitamente os pontos cardeais leste e oeste. Finalmente, as revisões do Livro de Nut demonstram que a localização precisa de Qenqenet é a região do portão de entrada do Tuat, que se encontra logo acima do horizonte.

Nos textos do Livro Egípcio dos Mortos, a região foi descrita em detalhes: “imergindo Rá em Qenqenet, pode fazer lá tudo quanto é possível, embora da maneira como fora negociado na ilha de chamas”, que está diretamente relacionada ao sinuoso córrego Merencha, no Tuat, e que abrange a região de Aaru. “Hórus, o falcão, medindo 1000 côvados, sobe e desce de Qenqenet, local de seu nascimento, seus cursos d’água. Oh, Qenqenet, eu entrei em ti. Eu vi o meu pai, eu reconheci a minha mãe. Já que cedo me levantei, pesquei peixe… eu sei o nome desse deus, o senhor do sagrado. Quando ele faz a colheita (em Sekhet-Aaru), eu me torno um arado e também vou colher.” - Capítulo 110 do Livro dos Mortos

Ver também editar

Notas editar

Este artigo é uma tradução do artigo correspondente em língua alemã.

Bibliografia editar

  • Rolf Krauss: Astronomische Konzepte und Jenseitsvorstellungen in den Pyramidentexten. Harrassowitz, Wiesbaden 1997, ISBN 3-447-03979-5.
  • Bertha Porter, Rosalind L. B. Moss: Topographical bibliography of ancient Egyptian hieroglyphic texts, reliefs, and paintings. Band 1: The Theban Necropolis; Private tombs. Griffith Institut, Oxfort 1994.
  • Alexandra von Lieven: Grundriss des Laufes der Sterne – Das sogenannte Nutbuch. The Carsten Niebuhr Institute of Ancient Eastern Studies (u. a.), Kopenhagen 2007, ISBN 978-87-635-0406-5, S. 136–137.

Referências editar

  1. Kurt Sethe: Die altägyptischen Pyramidentexte. Nach den Papierabdrücken und Photographien des Berliner Museums. 1, Text, 1. Hälfte, Spruch 1-468 (Pyr. 1-905). Olms, Hildesheim 2001 (Nachdruck von 1908), ISBN 3-487-02593-0, S. 315.
  2. ↑ Arielle Kozloff u. a.: Egypt’s dazzling sun: Amenhotep III and his world. Cleveland Museum of Art in cooperation with Indiana University Press, Cleveland 1992, ISBN 0-940717-16-6, S. 336–337.
  3. ↑ Ronald Wells: The Mythology of Nut and the Birth of Ra. In: Studien zur altägyptischen Kultur. Band 19, 1992, S. 305–321.
  4. ↑ Harco Willems: The coffin of Heqata (Cairo JdE 36418): A case study of Egyptian funerary culture of the Early Middle Kingdom. Peeters, Leuven 1996, ISBN 90-6831-769-5, S. 262–270.
  5. ↑ Rolf Krauss: Astronomische Konzepte und Jenseitsvorstellungen in den Pyramidentexten. Harrassowitz, Wiesbaden 1997, ISBN 3-447-03979-5, S. 254–255.
  6. ↑ Arno Egberts: In quest of meaning: A study of the ancient Egyptian rites of consecrating the meret chests and driving the calves. Nederlands Institut voor het Nabije Oosten, Leiden 1995, ISBN 90-6258-208-7, S. 292–293.
  7. ↑ Jean-Claude Goyon: Confirmation du pouvoir royal au nouvel an. [Brooklyn Museum 47.218.50]. Planches (= Bibliothèque d'Étude. [BdE] Band 52). Institut Francais d'Archéologie Orientale (IFAO), Kairo 1972, S. 93–94.
  1. Sethe, Kurt, 1869-1934.; Berlin Museum. (1987). Die altägyptischen Pyramidentexte : nach den Papierabdrücken und Photographien des Berliner Museums 2. Nachdruckaufl ed. Hildesheim: G. Olms. ISBN 3-487-02593-0. OCLC 20774956 
  2. Kozloff, Arielle P.; Berman, Lawrence Michael, 1952-; Delange, Elisabeth.; Cleveland Museum of Art.; Kimbell Art Museum.; Galeries nationales du Grand Palais (France) (1992). Egypt's dazzling sun : Amenhotep III and his world. Cleveland: Cleveland Museum of Art in cooperation with Indiana University Press. ISBN 0-940717-16-6. OCLC 25546540 
  3. «II. Warum und wozu »Studien zur visuellen Kultur«?». Bielefeld: transcript Verlag. ISBN 978-3-8394-0990-9 
  4. Willems, Harco. (1996). The coffin of Heqata : (Cairo JdE 36418) : a case study of Egyptian funerary culture of the early Middle Kingdom. Leuven: Uitgeverij Peeters en Departement Oriëntalistiek. ISBN 90-6831-769-5. OCLC 35028819 
  5. Krauss, Rolf. (1997). Astronomische Konzepte und Jenseitsvorstellungen in den Pyramidentexten. Wiesbaden: Harrassowitz. ISBN 3-447-03979-5. OCLC 39457626 
  6. Egberts, A. (1995). In quest of meaning : a study of the ancient Egyptian rites of consecrating the Meret-chests and driving the calves. Leiden: Nederlands Instituut voor het Nabije Oosten. ISBN 90-6258-208-7. OCLC 34928691 
  7. Goyon, Jean Claude. (1974). Confirmation du pouvoir royal au nouvel an : Brooklyn Museum Papyrus 47.218.50. [S.l.]: Institut francais d'archéologie orientale. OCLC 3828273