Relações entre Chade e Sudão


As relações entre Chade e Sudão referem-se às relações entre os governos do Chade e do Sudão. As populações do leste do Chade e do oeste do Sudão estabeleceram laços sociais e religiosos muito antes da independência dos dois países e estas relações permaneceram fortes apesar das disputas entre os governos.[1] Nos últimos tempos, as relações de ambos têm sido tensas devido ao conflito em Darfur e uma guerra civil no Chade, onde os dois governos acusam o outro de apoio.

Relações entre Sudão e Chade
Bandeira do Sudão   Bandeira do Chade
Mapa indicando localização do Sudão e do Chade.
Mapa indicando localização do Sudão e do Chade.
  Sudão
  Chade

História editar

A base para a inimizade política entre essas duas nações foi estabelecida no início dos anos 1960, quando um governo de tendência sulista no Chade ofendeu muitos muçulmanos sudaneses.[1] O Sudão permitiu que os rebeldes da FROLINAT se organizassem, treinassem e estabelecessem bases no oeste do Sudão e realizassem incursões ao Chade a partir da província de Darfur, no Sudão. [1] Os refugiados de ambos os países fugiram através de sua fronteira mútua. [1]

Depois do golpe de Estado que depôs o presidente do Chade François Tombalbaye em 1975, as relações entre os presidentes Jaafar Numayri e Félix Malloum (os chefes de Estado do Sudão e do Chade, respectivamente) foram surpreendentemente cordiais, em parte porque ambas as nações temiam a desestabilização líbia.[1] O Sudão patrocinou conversações entre os líderes do exército rebelde do Chade no final da década de 1970 e exortou Malloum a incorporá-los em seu governo[1] (Numayri promoveu os talentos e a inteligência de Habré em particular, e persuadiu Malloum a nomear Habré ao cargo político em 1978). Esses laços seriam rompidos em parte devido às calorosas relações de Numayri com o líder líbio Muamar Gadafi.[1]

Como a violência no Chade aumentou entre 1979 e 1982 e o Sudão enfrentou sua própria rebelião interna, as relações deterioraram-se depois que Numayri foi deposto em 1985. [1] Em 1988, Habré atacou o Sudão por permitir que as tropas líbias fossem estacionadas ao longo da fronteira do Chade e por continuar a permitir incursões contra o território chadiano a partir do Sudão. [1]

No momento do golpe de Estado de Bashir, em junho de 1989, o oeste de Darfur estava sendo usado como campo de batalha por tropas leais ao governo chadiano de Hissein Habré e rebeldes organizados por Idriss Déby, apoiados pela Líbia.[2] Deby era do grupo étnico zagauas, que residiam em ambos os lados da fronteira Chade-Sudão, e os zagauas de Darfur lhes forneciam apoio e asilo.[2] Centenas de zagauas do Chade também fugiram para o Sudão para buscar refúgio dos combates. [2] O Conselho do Comando Revolucionário para a Salvação Nacional não estava preparado para um confronto com o Chade, que já estava prestando assistência ao Movimento Popular de Libertação do Sudão, e assim tendia a fazer vista grossa quando as forças chadianas cruzavam para o Darfur na perseguição dos rebeldes.[2]

Em maio de 1990, soldados chadianos invadiram a capital provincial de El-Fasher, onde resgataram companheiros feridos que estavam sendo detidos em um hospital local. [2] Durante o verão, as forças chadianas queimaram dezoito aldeias sudanesas e sequestraram 100 civis. O Movimento Patriótico de Salvação (Mouvement Patriotique du Salut) de Deby forneceu armas aos zagauas sudaneses e as milícias árabes, ostensivamente para que pudessem se proteger das forças chadianas. [2] As milícias, no entanto, usaram as armas contra seus próprios rivais, principalmente o povo Furis, e várias centenas de civis foram mortos em conflitos civis durante 1990. [2] O governo foi substituído quando Deby finalmente derrotou Habré em dezembro de 1990. [2] O novo governo em N'Djamena sinalizou sua disposição para boas relações com o Sudão, fechando o escritório do Movimento Popular de Libertação do Sudão. [2] No início de 1991, Omar al-Bashir visitou o Chade para negociações oficiais com Deby sobre laços bilaterais. [2]

Em 24 de dezembro de 2005, o Chade declarou-se em um "estado de beligerância" com o vizinho Sudão. O conflito na região fronteiriça de Darfur tornou-se um caso cada vez mais binacional à medida que um número crescente de sudaneses fugiam para campos de refugiados no Chade e as tropas do governo sudanês, aviões de guerra e milícias cruzavam a fronteira para atacar rebeldes sediados no Chade.[3][4]

O Chade rompeu relações diplomáticas com o Sudão pelo menos duas vezes em 2006 por acreditar que o governo sudanês estava apoiando financeiramente e com armas os rebeldes da Frente Unida para a Mudança e em retaliação ao apoio militar do Chade aos rebeldes do Movimento pela Justiça e Igualdade em Darfur. Dois acordos foram assinados, o Acordo de Trípoli, que foi assinado em 8 de fevereiro e não conseguiu acabar com os combates, e posteriormente o Acordo de N'Djamena.

Embora o Governo do Chade e o Governo do Sudão tenham assinado o Acordo de Trípoli, terminando oficialmente as hostilidades, os combates continuaram. Em 11 de agosto de 2006, o Chade e o Sudão retomaram as relações a pedido do presidente líbio Muamar Gadafi.[5]

Os presidentes do Sudão e do Chade, Omar al-Bashir e Idriss Déby, assinaram um acordo de não-agressão em 13 de março de 2008, com o objetivo de interromper as hostilidades transfronteiriças entre as duas nações africanas.[6]

Situação atual editar

Em 11 de maio de 2008, o Sudão anunciou que estava cortando relações diplomáticas com o Chade, afirmando que o último estava ajudando rebeldes em Darfur a atacar a capital sudanesa, Cartum.[7] Seis meses depois, em novembro de 2008, as relações foram reatadas.

O relacionamento entre Sudão e Chade melhorou significativamente depois que o presidente do Chade, Idriss Deby, visitou Cartum em 9 de fevereiro de 2010. O acordo resultante permitiu o Chade expulsar os rebeldes do Movimento pela Justiça e Igualdade, que havia apoiado anteriormente, mudando dramaticamente a dinâmica de Darfur.[8] O Chade e o Sudão também se comprometeram com patrulhas de fronteira militares conjuntas. O Sudão ocupou o comando desta última força durante os primeiros seis meses, após o qual foi entregue ao Chade conforme o acordo de rotação de seis meses.[9]

Referências

  1. a b c d e f g h i Byrnes, Rita M. "Relations with Nigeria and Sudan". Chad: A Country Study (Thomas Collelo, editor). Library of Congress Federal Research Division (December 1988). Este artigo incorpora o texto a partir desta fonte, que é de domínio público.
  2. a b c d e f g h i j Hooglund, Eric. "Foreign Relations: Chad". Sudan: A Country Study (Helen Chapin Metz, editor). Library of Congress Federal Research Division (June 1991). Este artigo incorpora o texto a partir desta fonte, que é de domínio público.
  3. «Chad in 'state of war' with Sudan». BBC News 
  4. «Chad declares "state of belligerence" with Sudan». Reuters 
  5. «Chad and Sudan resume relations». BBC News. 9 de agosto de 2006 
  6. «Chad, Sudan sign peace deal». CNN. 13 de março de 2008 
  7. Sudan cuts Chad ties over attack, BBC, 11 de maio de 2008
  8. AU chief expresses concern over Chad-Sudan, AFP, 1 de março de 2009
  9. Sudan, Chad agree to end proxy wars, Mail & Guardian, 9 de fevereiro de 2010