Relações livres (abreviado RLi, lê-se "érreli") são uma forma de relacionamento não-monogâmico que objetiva a autonomia de cada pessoa em suas relações afetivas e sexuais. A liberdade se refere a ter mais de um relacionamento ao mesmo tempo, permitindo a uma pessoa amar e permanecer livre.[1] É a primeira cultura não-monogâmica contemporânea originada no Brasil, em distinção às demais surgidas na Europa e na América do Norte.[2][3]

A expressão relações livres foi adotada pela primeira vez com esse sentido no manifesto Sexo, Prazer e Afetividade,[carece de fontes?] escrito coletivamente e publicado em junho de 2003 pelo grupo Família e Feminismo.[carece de fontes?] Esse grupo se originou em 2002 após uma série de oficinas organizadas por Roselita Campos, Marco Rodrigues e Eli no Fórum Social Mundial em Porto Alegre, no Rio Grande do Sul.[4][5] A temática do grupo era o feminismo e a crítica à família monogâmica ao pautar novas formas de relacionamentos e de expressão da sexualidade. A partir dos encontros e debates entre as pessoas do coletivo, foi produzido e escrito o manifesto. Posteriormente o grupo passou a se chamar Relações Livres, nomeando da mesma forma a maneira de se relacionar com plena autonomia afetiva e sexual,[6] em que as pessoas podem firmar "quantas relações quiserem, sem necessidade de autorização de seus parceiros e sem o estabelecimento de hierarquias entre as relações".[7]

O grupo inicial de Porto Alegre se articulou com outras pessoas não-monogâmicas do Brasil que se identificavam com o conceito e a identidade relações livres e formaram a Rede Relações Livres, que criou o seu primeiro blog em julho de 2009, e constituiu novos núcleos em outros estados brasileiros (como São Paulo, Rio de Janeiro, Bahia) e no Distrito Federal. O coletivo publicou o seu primeiro livro Relações livres: uma introdução com autoria de Marco Rodrigues, Roselita Campos, Rosana Sieber, Marcelo Soares e Regina Faria em 2017. As relações livres se contrapõe à monogamia como "uma construção social cujo marco identificador é a regra moral que diz: não terás mais de uma companhia afetiva/sexual ao mesmo tempo".[8]

Relações livres são uma forma de relacionamento não-monogâmico.

Ao contrário de outra cultura não-monogâmica, o poliamor, as relações livres rejeitam a noção de polifidelidade, porque nesta "ao invés do parceiro ser fiel a um, tem que ser fiel a dois ou três".[9] Isso significa a manutenção das relações de exclusividade. Para quem adota as relações livres para os seus envolvimentos sexuais e afetivos "é possível viver de várias formas: sozinho, ter múltiplos namoros, amizades coloridas, fazer parte de comunidades afetivas abertas, fazer sexo casual".[10] Não há uma hierarquia entre as relações sexuais e/ou afetivas, porque as "pessoas que vivem relações livres não predeterminam relações primárias e secundárias".[11]

O que define uma pessoa que vive relações livres "é a sua autonomia afetiva e sexual. A possibilidade de ter mais de uma companhia, se quiser. E não o número de parceiros, com quem mora, se tem filhos ou conta conjunta no banco".[12] "(…) Os sujeitos são entendidos como autônomos e livres para a expressão e a prática dos seus desejos afetivos e sexuais, podendo ter relações casuais e/ou criar laços duradouros, conforme seus interesses e afinidades, independentemente de seus outros relacionamentos".[13] Também não se procura "igualar artificialmente todas as relações como se tivessem as mesmas características. (…) Relações diferentes assumem importâncias também diferentes, conforme o momento que vivemos".[14] "Além disso, como o amor não é o valor principal, e sim a autonomia afetiva e sexual, não há desvalorização das relações casuais e sexuais, que são entendidas como prerrogativas das pessoas, conforme seus desejos e prioridades. (…) O consenso é fundamental, assim como a honestidade e a responsabilidade. A única questão não negociável é a liberdade pessoal".[15] Os rli (pessoas que vivem relações livres) não se preocupam com a forma das relações, portanto, elas podem acontecer como casais, tríades, quartetos, casuais, duradouras, apaixonadas, sem sexo, com sexo, e nas mais diversas possibilidades. "(…) A aproximação se dá por afinidades e propósitos, mais com uns, menos com outros. Espontaneamente. Como nas amizades, há compartilhamentos independentes".[16]

Referências

  1. RODRIGUES, Marco; CAMPOS, Roselita; SIEBER, Rosana; SOARES, Marcelo; FARIA, Regina (2017). Relações livres: uma introdução. Porto Alegre: Editora Regina Faria. p. 20. ISBN 9788592313609 
  2. Goncalves, Italo Vinicius (23 de junho de 2022). «Projetos poliamorosos em rede : narrativas de casais não monogâmicos em busca de um novo amor». Consultado em 12 de fevereiro de 2024 
  3. Flick, Milena (19 de fevereiro de 2016). «Poliamor e Relações Livres: do amor à militância contra a monogamia compulsória, de Mônica Barbosa». Cadernos de Gênero e Diversidade (2). ISSN 2525-6904. doi:10.9771/cgd.v2i2.20478. Consultado em 12 de fevereiro de 2024 
  4. Soares, Mayana Rocha (5 de novembro de 2021). «Nós: afetos e literatura». Consultado em 12 de fevereiro de 2024 
  5. Pilão, Antonio Cerdeira (4 de novembro de 2022). «Ativismos não-monogâmicos no Brasil contemporâneo: a controvérsia poliamor ± relações livres». Sexualidad, Salud y Sociedad (Rio de Janeiro): e22205. ISSN 1984-6487. doi:10.1590/1984-6487.sess.2022.38.e22205.a. Consultado em 12 de fevereiro de 2024 
  6. RODRIGUES, Marco; CAMPOS, Roselita; SIEBER, Rosana; SOARES, Marcelo; FARIA, Regina (2017). Relações livres: uma introdução. Porto Alegre: Editora Regina Faria. p. 46. ISBN 9788592313609 
  7. BARBOSA, Mônica (2011). Movimentos de resistência à monogamia compulsória: a luta por direitos sexuais e afetivos no século XXI (PDF). Salvador: Dissertação de mestrado. p. 54 
  8. RODRIGUES, Marco; CAMPOS, Roselita; SIEBER, Rosana; SOARES, Marcelo; FARIA, Regina (2017). Relações livres: uma introdução. Porto Alegre: Editora Regina Faria. p. 26. ISBN 9788592313609 
  9. BARBOSA, Mônica (2011). Movimentos de resistência à monogamia compulsória: a luta por direitos sexuais e afetivos no século XXI (PDF). Salvador: Dissertação de mestrado. p. 69 
  10. LINS, Regina Navarro (2017). Novas formas de amar. São Paulo: Planeta. p. 46. ISBN 9788542211771 
  11. RODRIGUES, Marco; CAMPOS, Roselita; SIEBER, Rosana; SOARES, Marcelo; FARIA, Regina (2017). Relações livres: uma introdução. Porto Alegre: Editora Regina Faria. p. 49. ISBN 9788592313609 
  12. RODRIGUES, Marco; CAMPOS, Roselita; SIEBER, Rosana; SOARES, Marcelo; FARIA, Regina (2017). Relações livres: uma introdução. Porto Alegre: Editora Regina Faria. p. 55. ISBN 9788592313609 
  13. BORNIA Junior,, Dardo Lorenzo (2018). Amar é verbo, não pronome possessivo: etnografia das relações não-monogâmicas no sul do Brasil (PDF). Porto Alegre: Tese de doutorado. p. 49 
  14. RODRIGUES, Marco; CAMPOS, Roselita; SIEBER, Rosana; SOARES, Marcelo; FARIA, Regina (2017). Relações livres: uma introdução. Porto Alegre: Editora Regina Faria. p. 56. ISBN 9788592313609 
  15. BORNIA Junior, Dardo Lorenzo (2018). Amar é verbo, não pronome possessivo: etnografia das relações não-monogâmicas no sul do Brasil (PDF). Porto Alegre: Tese de doutorado. p. 50 
  16. LINS, Regina Navarro (2017). Novas formas de amar. São Paulo: Planeta. p. 161. ISBN 9788542211771