Reprodutibilidade da evolução

Reprodutibilidade da evolução é a propriedade da evolução das espécies de poder ser reproduzida[1][2]. A reprodutibilidade é uma das condições com que o filósofo Karl Popper discerne o caráter científico de um estudo ou teoria[3]. Essa condição origina-se no princípio de que não se pode tirar conclusões senão de um evento bem descrito, que aconteceu várias vezes, provocado ou registrado por pessoas distintas. Essa condição permite se livrar de erros de julgamento ou de manipulações por parte dos cientistas[4]. Criacionistas e críticos da teoria evolutiva, por vezes, afirmam que a evolução não pode ser reproduzida, e consequentemente, não se trata de uma ciência[5]. As dimensões minúsculas da reprodutibilidade da evolução tem perturbado pensadores evolucionistas como Gould ao longo dos anos[6][[2].

A evolução é reproduzível[1][2][6] no entanto, Richard Lenski aborda que:

"A evolução é notavelmente reproduzível, mas à medida que se afasta do desempenho, do tamanho da célula ou dos genes, as coisas são cada vez menos reproduzíveis." [2][7]

De acordo com Gregory Lang (2014), a reprodutibilidade e a previsibilidade da evolução podem ser quantificadas através da medição do grau de paralelismo tanto nas respostas fenotípicas quanto nas genéticas à seleção em muitas linhas replicadas[8]. As condições experimentais podem ser controladas com precisão: o tamanho das populações e as taxas de mutação podem ser ajustadas em várias ordens de grandeza e, em muitos sistemas, as populações podem ser preservadas, criando um "registro fóssil congelado"[8]. Muitos laboratórios estão agora alavancando essas ferramentas para estudar as bases moleculares da adaptação e a reprodutibilidade dos resultados evolutivos em uma variedade de sistemas de modelos. Francisco J. Ayala (2014) a reprodutibilidade dos resultados evolutivos pode ser estudada em populações microbianas que são fundadas pelo mesmo ancestral e colocadas em ambientes idênticos[9].

Ocorrências da evolução reproduzida cientificamente editar

  1. Pesquisadores da Universidade do Texas, descobriram que as mutações subjacentes às adaptações de alta temperatura em um determinado bacteriófago são surpreendentemente reproduzíveis, até as mudanças específicas na sequência de DNA[10]. Agora, os mesmos estão tentando identificar os fatores que favorecem esse tipo de previsibilidade: "É incrível ver as mudanças varrerem uma população de uma forma que sabíamos que aconteceu, mas nunca tinha visto antes." abordam esses pesquisadores[2][10].
  2. Um tipo de evolução ocorre por especiação simpátrica que envolve o cruzamento entre duas espécies aparentadas, produzindo uma nova espécie híbrida. Esse tipo de especiação não é comum em animais, já que os híbridos do cruzamento animal comumente são estéreis[11]. Um exemplo desse tipo de especiação ocorreu quando a espécie Arabidopsis thaliana hibridizou com a Arabidopsis arenosa para formar a nova espécie chamada Arabidopsis suecica. Isso ocorreu há cerca de 20.000 anos atrás[11] e esse processo de especiação foi - reproduzido em laboratório - permitindo estudar os mecanismos genéticos envolvidos nesse tipo de evolução[12].
  3. A partir da descoberta de bactérias que podem produzir novas enzimas que lhes permitam se alimentar de subprodutos de fabricação de nylon que não existiam antes da invenção do nylon na década de 1930, novas descobertas sobre a evolução da Nylonase foram feitas. De acordo com Ken Miller os cientistas foram capazes de reproduzir este acontecimento no laboratório com outra estirpe de bactérias, é um dos vários casos que mostram que a evolução pode ser observada como ocorre[13].

Ver também editar

Referências bibliográficas editar

  1. a b Elena, Santiago F.; Lenski, Richard E. (1 de junho de 2003). «Evolution experiments with microorganisms: the dynamics and genetic bases of adaptation». Nature Reviews Genetics (em inglês). 4 (6): 457–469. ISSN 1471-0056. doi:10.1038/nrg1088 
  2. a b c d e T. Appenzeller, “Test Tube Evolution, Catches Time in a Bottle,” Science, Vol.284, No. 5423, 1999, pp. 2108–2110.
  3. Casadevall, Arturo; Fang, Ferric C. (5 de fevereiro de 2017). «Reproducible Science». Infection and Immunity. 78 (12): 4972–4975. ISSN 0019-9567. PMID 20876290. doi:10.1128/IAI.00908-10 
  4. Nakagawa, Shinichi; Parker, Timothy H. (28 de outubro de 2015). «Replicating research in ecology and evolution: feasibility, incentives, and the cost-benefit conundrum». BMC Biology. 13. ISSN 1741-7007. PMID 26510635. doi:10.1186/s12915-015-0196-3 
  5. «What Did Karl Popper Really Say About Evolution? | NCSE». ncse.com. Consultado em 5 de fevereiro de 2017 
  6. a b «Is Evolution Predictable?». Science | AAAS. 15 de maio de 2014 
  7. «Richard Lenski's Web Page». msu.edu. Consultado em 5 de fevereiro de 2017 
  8. a b Lang, Gregory I.; Desai, Michael M. (5 de fevereiro de 2017). «The spectrum of adaptive mutations in experimental evolution». Genomics. 104 (0): 412–416. ISSN 0888-7543. PMID 25269377. doi:10.1016/j.ygeno.2014.09.011 
  9. 1934-, Ayala, Francisco José,; C.,, Avise, John. Essential readings in evolutionary biology. [S.l.: s.n.] ISBN 9781421413051. OCLC 854285705 
  10. a b Science, American Association for the Advancement of (25 de junho de 1999). «News this Week». Science (em inglês). 284 (5423). 2062 páginas. ISSN 0036-8075 
  11. a b Säll, T.; Jakobsson, M.; Lind-Halldén, C.; Halldén, C. (1 de setembro de 2003). «Chloroplast DNA indicates a single origin of the allotetraploid Arabidopsis suecica». Journal of Evolutionary Biology. 16 (5): 1019–1029. ISSN 1010-061X. PMID 14635917 
  12. Bomblies, Kirsten; Weigel, Detlef (1 de dezembro de 2007). «Arabidopsis: a model genus for speciation». Current Opinion in Genetics & Development. 17 (6): 500–504. ISSN 0959-437X. PMID 18006296. doi:10.1016/j.gde.2007.09.006 
  13. Miller, Kenneth R. Only a Theory: Evolution and the Battle for America's Soul (2008) pp. 80-82