Revista Gallega

Semanário bilíngue galego

A Revista Gallega (subtitulada em galego: Semanario de literatura é intereses regionales) foi um semanário bilíngue galego, publicado dominicalmente em Corunha[1]. Foi fundado em 1895 por Galo Salinas Rodríguez e teve sua última edição em 1907, totalizando 640 números publicados. Autoproclamado "Órgão oficial da Liga Galega em A Corunha", durante seus doze anos de história constituiu-se na publicação emblemática do regionalismo liberal nesta cidade[2].

Revista Gallega
Seminario de literatura é intereses regionales

Capa da 1ª edição da revista, de 17 de março de 1895.
Editor Galo Salinas Rodríguez
Frequência Semanal/Dominical
Circulação Nacional
Fundação 17 de março de 1895
Última edição 30 de junho de 1907
País Galiza, Espanha
Idioma Galego e Espanhol

História e características editar

Foi dirigida por Galo Salinas Rodríguez, proprietário e fundador da mesma, como também figurava no cabeçalho do semanário; e faziam parte da equipe de redação Uxío Carré Aldao, Eladio Rodríguez González, Florencio Vaamonde Lores e Francisco Tettamancy Gastón[3]. Outros jornalistas, como Salvador Golpe Varela, Waldo Álvarez Insua e Manuel Lugrís Freire foram colaboradores próximos.

 
Galo Salinas, fundador, proprietário e diretor.

Redação editar

A sede da redação e administração da Revista Gallega foi habitualmente a Livraria Regional de Carré Aldao[4], nos mesmos locais em que se desenvolviam as célebres tertúlias da Cova Céltica, centrados desde o seu traslado à Corunha ao redor da figura de Manuel Murguía, e onde muitas iniciativas em prol do Ressurgimento político e cultural da Galiza foram idealizadas, entre elas a própria Revista Gallega[5].

 
"Aos académicos lusitás", RG 360, 9/2/1902.

Colaboradores editar

Contou com uma ampla lista de colaboradores, do mais alto nível[6][7], como Eladio Fernández Diéguez, Evaristo Martelo Paumán, Lisardo Rodríguez Barreiro, Heraclio Pérez Placer, Alfredo Brañas, Manuel Amor Meilán e Aurelio Ribalta, bem como uma notável presença feminina, como Valentina Lago-Valladares, Filomena Dato Muruais, Sofía Casanova, Emilia Pardo Bazán, Elvira Novo García, María Barbeito, Fanny Garrido, Dolores de Gortázar Serantes, Rosalía Castro, Narcisa Pérez Reoyo, dentre outros.

Conteúdo editar

Além de narrativa e poesia, o semanário publicou artigos sobre economia, política e sociedade, língua e literatura, teatro galego, emigração, história do jornalismo na Galiza, como também interessantes fotografias. A partir de 7 de março de 1897 (RG 105) começou a publicar uma Seção Bibliográfica que vinha suprir ao desaparecido Boletín Bibliográfico de la Librería Gallega. A Revista Gallega continha um extenso e múltiplo fundo documental, devido às muitas matérias as quais se ocupou[8], bem como tinha destacada a sua modernidade editorial, senso crítico e inusitada estabilidade[9]. Coincidindo com o oitavo aniversário da Revista, na edição de 15 de março de 1903 (RG 417), começou a publicar o folhetim Luisa - Páginas de un sacrificio, que não estava assinado.

Orientação Ideológica editar

Durante sua existência, a Revista Gallega reuniu um considerável prestígio jornalístico, e constituiu-se na publicação emblemática do regionalismo liberal e progressista que confluía na capital corunhesa[10] e constituiu-se na publicação emblemática do regionalismo liberal e progressista que confluía na capital corunhesa[11]; entre o 14 de novembro de 1897 (RG 140) e o 10 de julho de 1898 (RG 174) proclamou-se Órgano oficial de la Liga Gallega en la Coruña (como assim figurou no cabeçalho, em vez da propriedade do jornal, entre os citados números), acentuando as suas posições a respeito da normatização da língua galega e de seu ensino, assim como a publicação de textos neste idioma[12]. Entre as edições do dia 14 de novembro de 1897 (RG 140) e 10 de julho de 1898 (RG 174) proclamou-se "Órgão oficial da Liga Galega em A Corunha", publicando estas palavras também em seu cabeçalho durante os citados números, acentuando suas posições a respeito da normalização da língua galega e o seu ensino, assim como a publicação de textos neste idioma. Contudo, e apesar de sua manifesta vocação bilíngue, o predomínio do espanhol em suas páginas é absoluto, e o espaço ocupado pela língua galega na revista oscilou conforme o ritmo das vicissitudes políticas do regionalismo, observando-se uma progressiva diminuição dos textos em galego, durante o avanço do século XX. Porém, em todos e cada um dos números da Revista Gallega se publicou conteúdo em galego, principalmente o "Palique", normalmente assinado por Janiño ou Xaniño (Galo Salinas)[13]. Na revista também apareceram um grande número de textos, de diversos gêneros, em catalão e outras línguas europeias.

 
N.º 521 (10º aniversário) com seu conselho de redação.

Fim da publicação editar

Depois de 12 anos de inquebrável adesão regionalista[14], e de superar diversas dificuldades, a Revista Gallega cessou a sua publicação em 30 de junho de 1907 (RG 640), logo após seu diretor aceitar ser cônsul geral da República Oriental do Uruguai em Madrid[15]. O cargo fora oferecido pelo novo presidente deste país, o conservador reformista Claudio Williman (1907-1911), do Partido Colorado, velho amigo de Salinas desde a sua passagem por Montevidéu[16], e a quem dedicou amplo espaço no último número do jornal.

Numa tentativa de substituir a Revista Gallega, foram criados, por exemplo, o semanário bilíngue A Nosa Terra(1907-1908)[17], que chegaria a publicar 60 edições, erguendo a bandeira do regionalismo[18], já na encruzilhada perante novas realidades históricas.

Bibliografia editar

  • Barreiro Fernández, Xosé Ramón (1993): “La gran revista del regionalismo coruñés”, Galicia 138 (13.11.1993), suplemento cultural de La Voz de Galicia, A Coruña, 2.
  • Cañada Acebal, Silverio, ed. (2003-2009). Gran Enciclopedia Galega. Lugo: Grupo El Progreso.
  • Carballo Calero, Ricardo (1975) [1963]. Historia da literatura galega contemporánea. Vigo: Editorial Galaxia. p. 426. ISBN 84-7154-227-7.
  • Fernández Pulpeiro, Juan Carlos (1981). Apuntes para la historia de la prensa del siglo XIX en Galicia. Sada: Ediciós do Castro. ISBN 84-7492-082-5.
  • Máiz Suárez, Ramón (1984). O rexionalismo galego: organización e ideoloxía (1886-1907). Sada: Publicacións do Seminario de Estudos Galegos - Ediciós do Castro. pp. 170–176. ISBN 84-7492-205-4.
  • Molina Sánchez, César Antonio (1989). Prensa literaria en Galicia (1809-1920). Vigo: Edicións Xerais de Galicia. ISBN 84-7507-395-6.
  • Santos Gayoso, Enrique (1990). Historia de la prensa gallega (1800-1986). Sada: Ediciós do Castro. ISBN 84-7492-489-8.
  • ———— (1995). Historia de la prensa gallega II (1800-1993). Sada: Ediciós do Castro. ISBN 84-7492-767-6.
  • Tettamancy Gastón, Francisco (1917): Víctor Said Armesto (Traballo leído na noite do 3 de agosto de 1917, con motivo do homenaxe consagrado pol-a “Irmandade da Fala” na Cruña para honral-a memoria de tan ilustre escritor. C’unha folla de Murguía, e un colofón de Carré Aldao), Imprenta Obreira, A Cruña.
  • Vilavedra Fernández, Dolores, coord. (1997). Diccionario da literatura galega II. Publicacións periódicas. Vigo: Galaxia. pp. 421–422. ISBN 84-8288-137-X.
  • ———— (2004). Diccionario da literatura galega IV. Termos e institucións literarias. Vigo: Galaxia. pp. 379–380. ISBN 84-8288-656-8.

Ligações externas editar

Referências

  1. Foi publicada aos sábados, por meio da chamada Lei do descanso dominical, entre as edições RG 496 (17.09.1904) e a RG 576 (31.03.1906).
  2. Máiz (1984: 170-176); Molina (1989: 114-123); Barreiro (1993)
  3. Carballo Calero (1975: 426); Máiz (1984: 171); Molina (1989: 114); Santos Gayoso (1990: 328).
  4. Rua Real 30; RG 1 (17.03.1895: 1) e ss. Em outubro de 1900 esta livraria trasladou-se ao número 31 da rua Real; RG 292 (21.10.1900: 6) e ss. E em julho de 1903 à rua Rego de Auga 16; RG 432 (28.06.1903: 1) e RG 433 (05.07.1903: 1) e ss. A Librería Regional de Carré permaneceria neste local do Rego de Auga até o seu fechamento definitivo em 1908. Só nas últimas semanas de vida (dez números) se levou a redação e impressão às oficinas de Fortunato García Ybarra (rua Real 66), quem além disso se encargou da administração da publicação e introduziu no mesmo importantes novidades gráficas; RG 630 (21.04.1907: 1 e 6) a RG 640 (30.06.1907: 1 e 6).
  5. F. Tettamancy: Víctor Said Armesto (1917: 12-14); ver também: “Carré Aldao”, GEG (VIII: 55); “Cova Céltica”, GEG (XII: 183); “Cova Céltica”, DLG IV (2004: 375-376).
  6. DLG II (1997: 421-422).
  7. Nela colaboraron cáseque todos os escritores galegos do seu tempo (Nela colaboraram praticamente todos os escritores galegos de seu tempo)(); Carballo Calero (1975: 426). La flor y nata de la intelectualidad gallega (); Barreiro (1993).
  8. Molina (1989: 133).
  9. Carballo Calero (1975: 426). Fernández Pulpeiro (1981: 158). Supo conciliar la defensa de un ideario regionalista con la modernidad editorial, ya que estamos ante una publicación urbana, moderna, crítica y de gran contenido cultural; Barreiro (1993). Segundo Molina (1989: 114), a publicidade foi o principal sustento econômico do jornal; ver também, com relação à publicidade na RG, Fernández Pulpeiro (1981: 155).
  10. Estas razones (), permiten destacar a la REVISTA GALLEGA muy por encima de cualquier otra publicación, pues de las 12 restantes que había en La Coruña en 1896, la REVISTA era la de mayor prestigio, pues no sólo las revistas de La Coruña reproducían sus artículos, sino las de otras provincias [gallegas] (), continentes (), y de otras regiones españolas (); Fernández Pulpeiro (1981: 158). Esta revista é unha das publicacións culturais e políticas más importantes do século XIX en Galicia; Molina (1989: 114). Una de las más importantes publicaciones literarias salidas de Galicia; Santos Gayoso (1995: 133).
  11. Máiz (1984: 170-176); Molina (1989: 114-123); Barreiro (1993)
  12. Fernández Pulpeiro (1981: 155); GEG (XXXVIII: 113); DLG II (1997: 421-422).
  13. “O púbrico”, RG 640 (30.06.1907: 5), nota assinada por G. Salinas.
  14. “Nuestra bandera”: Es la de Galicia. (); RG 1 (17.03.1895: 1). “El primer aniversario”: () Todo, pero todo por Galicia. Todo, pero todo para Galicia. Ante la amada Región nada. En pos de la Región amada todo. (); RG 53 (15.03.1896: 1). “El segundo aniversario”: () trabajamos en pro de Galicia, y no hay obstáculo por accidentado que fuere que haga decaer nuestro ánimo, porque siempre y á toda hora hemos de hallar alientos para compendiar nuestras aspiraciones en esta frase: ¡VIVA GALICIA!; RG 106 (14.03.1897: 1). “El tercer aniversario”: () ¿Qué vino á hacer la REVISTA GALLEGA al iniciar sus pasos en la prensa periódica? Pues vino á hacer patria, á unir voluntades, á tratar de quebrantar antagonismos existentes entre pueblos hermanos, á poner muy en alto el pendón de Galicia… y lo hemos conseguido. Mas nuestras aspiraciones no se contrajeron á que la región gallega fuera una é indivisible: (). El regionalismo, pues, se abre camino y es ya idea que no espanta, estando todos conformes en que, desnuda del ropaje del platonismo en el que se envolvía, es hoy partido político y como tal dispuesto á la lucha. (); RG 157 (13.03.1898: 1). “El cuarto aniversario”: () El regionalismo ha sido, es y será nuestra divisa y á él hemos confiado la salvación del país. (); RG 209 (12.03.1899: 1). “El quinto aniversario”: () En nuestro corazón hay un solo sentimiento y en nuestro cerebro un solo pensamiento: el amor á la región gallega; el triunfo del regionalismo… (); RG 261 (11.03.1900: 1). “El sexto aniversario”: La REVISTA GALLEGA ha realizado un milagro: cumplió el sexto año de su vida pública: () una senda de sacrificios () que enardece á los que tienen fe en sus ideales, si son tan patrióticos como el Regionalismo. (); RG 312 (10.03.1901: 1). “El séptimo aniversario”: () Nuestro credo es hoy el mismo que preconizamos en el primer número de nuestro periódico; todo por la región gallega y todo para la región gallega. () á esta región sueño de nuestras ansias todo nuestro amor, toda nuestra adhesión y todos nuestros sentimientos compendiados en esta frase: ¡DIOS Y LA PATRIA GALLEGA!; RG 365 (16.03.1902: 1). “El octavo aniversario”: La REVISTA GALLEGA cumple hoy su octavo año de existencia periodística, consagrada á levantar el buen nombre de esta idolatrada región á la que hemos dedicado todos nuestros esfuerzos y los medios de que pudimos disponer. Solos en la lucha, ni nos arredró [sic] el abandono ni nos importaron los obstáculos (); RG 417 (15.03.1903: 1). “El noveno aniversario”: () recibimos elogios que por entero rendimos ante el altar de la patria de nuestra alma, repitiendo una vez más con la efusión y vehemencia del fanático patriota: ¡VIVA GALICIA!; RG 469 (13.03.1904: 1). “El décimo aniversario”: () Aferrados á nuestros ideales nos cupo la suerte de contar con lectores cultos, sensatos y patriotas, y nuestras armas templadas al fuego del entusiasmo avivado por el amor á la región gallega, no se han embotado, y brillantes y pulidas consérvanse tan punzantes y afiladas como cuando la primera vez entraron en lid, y continuarán del mismo modo para defender lo bueno y herir la maldad que solapadamente quiera salirnos al paso, ó con intentos de rebajar á nuestra idolatrada región. (); RG 521 (11.03.1905: 2). “El undécimo aniversario”: () nunca pudiéramos imaginar que aquí, en esta tierra donde tantas revistas apenas vivieron la vida de una flor, pudiese la nuestra sostenerse tantos años y continuar con los mismos arrestos juveniles que cuando comenzamos á luchar en defensa de Galicia. Y es que en cuantos trabajos hemos publicado, pusimos al lado de la honradez de nuestros principios, las palpitaciones de nuestro corazón que late por amor á Galicia (); RG 574 (17.03.1906: 1). “El duodécimo aniversario”: REVISTA GALLEGA (…) hállase hoy con el mismo vigor, con iguales entusiasmos, con idéntica lozanía que cuando publicó su primer número, cuyo programa ha venido cumpliendo a conciencia, con aquella constancia que caracteriza á los que tienen la persuasión de que llenan un sagrado deber: () luchamos por Galicia y no tenemos para que repetir lo que en cientos de veces hemos dicho respecto á los sentimientos que nos mueven hacia la bien amada región, núcleo de nuestras ansias. (); RG 626 (17.03.1907: 1).
  15. “Nuestro director”, RG 637 (09.06.1907: 3).
  16. “El presidente del Uruguay”, RG 625 (10.03.1907: 1); Salinas emigrou ao Uruguai em 1864, de onde retornaria à Espanha em 1876.
  17. Redacción y Administración: Riego de Agua, 16 —Librería de Carré—. Coruña: ANT 1 (04.08.1907: 6) e ss.
  18. El Regionalismo es un régimen de libertad, y tiene por objeto instaurar el principio natural de la variedad en la unidad, reconociendo la personalidad de las regiones dentro del Estado, y proclamando el derecho que tienen de regir por sí propias sus particulares intereses. Los regionalistas gallegos reconocen y declaran como absolutamente necesaria para la feliciadad de la Patria, las más estrecha y fraternal unión de todas las regiones que constituyen el Estado español; pero también anhelan vivamente en todos los órdenes de la vida de los pueblos, el particular bienestar de Galicia mediante una amplísima libertad regional y municipal; ANT 1 (04.08.1907: 1) e ss., é a solene proclamação que figurou sobre o cabeçalho em todos os números deste jornal.