Partido Colorado (Uruguai)

partido uruguaio
 Nota: Se procura pelo partido político de mesmo no Paraguai, veja Partido Colorado (Paraguai).

O Partido Colorado (PC; lit.: "Partido Vermelho") é um partido político uruguaio de cariz liberal centrista.[8] O partido foi fundado em 1836, sendo um dois dos mais longevos partidos da história do Uruguai, juntamente com o Partido Nacional (PN).

Partido Colorado
Partido Colorado (Uruguai)
Sigla PC
Fundador Fructuoso Rivera
Fundação 17 de setembro de 1836 (188 anos)
Sede Montevidéu, Uruguai
Ideologia
Espectro político Centro[5] à centro-direita[6] com minoria de centro-esquerda[7]
Think tank Instituto Joaquín Suárez
Ala de juventude Jovens Colorados
Afiliação nacional Coalizão Republicana
Afiliação internacional COPPPAL
Câmara dos Deputados (2024)
13 / 99
Senado (2024)
4 / 30
Intendentes (2024)
1 / 19
Prefeitos (2024)
3 / 125
Cores      Vermelho
Símbolo eleitoral
Bandeira do partido
Página oficial
partidocolorado.com.uy

O PC tem uma base ideológica diversa, que inclui desde setores liberais[9] a sociais-liberais[10][11][12] e, até certo ponto, progressistas. Tradicionalmente, tem sido associado à defesa do estado de bem-estar, da laicidade, da educação pública e dos direitos sociais. No entanto, ao longo de sua história, também adotou políticas mais liberalistas nas décadas de 1980 e 1990.

O partido tem uma base de apoio ampla mas que principalmente inclui setores urbanos e a classe média. Sua capacidade de adaptação e renovação, bem como envolvimento da consolidação da democracia e promoção de valores liberais/progressistas no moderno Estado do Uruguai, tem sido fundamental para sua sobrevivência e relevância ao longo de quase dois séculos.

Entre seus integrantes destacados que chegaram a presidência da República figuram: Fructuoso Rivera, Venancio Flores, Lorenzo Batlle, Lorenzo Latorre, Máximo Santos, Julio Herrera y Obes, José Batlle y Ordóñez, Feliciano Viera, Baltasar Brum, José Serrato, Juan Campisteguy, Gabriel Terra, Alfredo Baldomir, Juan José de Amézaga, Tomás Berreta, Luis Batlle Berres, Oscar Gestido, Jorge Pacheco Areco, Juan María Bordaberry, Aparicio Méndez, Julio María Sanguinetti, Jorge Batlle.

Visão geral da história

editar

O PC surgiu em um período de turbulência política no Uruguai, logo após a independência do país em 1825. Naquela época, o Uruguai estava dividido entre facções que disputavam o controle do Estado. O partido foi fundado por líderes como Fructuoso Rivera, o primeiro presidente do Uruguai, e representava, em suas origens, os interesses urbanos, liberais e modernizantes, em oposição ao PN, que tinha uma base mais rural e conservadora.

O nome "Colorado" (que significa "vermelho" ou "avermelhado" em espanhol) tem suas raízes nas guerras civis do século XIX, quando os partidos se diferenciavam pelo uso de fitas coloridas: os colorados usavam fitas vermelhas, enquanto os blancos (do PN) usavam fitas brancas.[13]

No final do século XIX, sob a liderança de figuras como José Batlle y Ordóñez, o PC começou a adotar uma agenda mais progressista, que incluía a promoção da educação pública, a separação entre Igreja e Estado, e a implementação de políticas sociais.[14] Batlle, que foi presidente de 1903 a 1907 e de 1911 a 1915, é uma das figuras mais emblemáticas do partido e do Uruguai, sendo creditado por transformar o Uruguai em uma das nações latino-americanas mais progressistas e estáveis.[14] Sendo assim, o chamado "batllismo" tornou-se a principal corrente ideológica do Partido Colorado.

Ao longo do século XX, ainda que uma das forças políticas dominantes no Uruguai, o PC enfrentou desafios como um golpe de Estado, uma ditadura e a ascensão de novas forças políticas. Durante a ditadura civil-militar (1973-1985), assim como outras organizações políticas, o partido foi perseguido e privado de suas atividades políticas. Já com a redemocratização em 1985, retomou o seu papel central na política uruguaia.

Nas décadas de 1980 e 1990, o partido adotou a postura neoliberal que era tendência na época. As políticas de liberalização promovidas pelo presidente colorado Julio María Sanguinetti geraram controvérsia entre as alas batllistas do sigla e a distanciaram do campo progressista.

No início do século XXI, a ascensão da coalizão de esquerda Frente Ampla (FA) desafiou a hegemonia tradicional dos partidos Colorado e Nacional. Em 2004, o PC sofreu uma derrota histórica, ficando em terceiro lugar nas eleições presidenciais, atrás da FA e do PN.

Esse período de declínio levou a uma reavaliação interna dentro do partido, com setores buscando renovar sua imagem e reconectarem-se com os eleitores. Sendo assim, em 2019, junto com o PN e outros partidos de centro-direita à direita, o PC passou a integrar a Coalizão Republicana. Essa coalizão chegou ao poder pela primeira vez em 2019, com a eleição de Luis Lacalle Pou para presidente da República.

Resultados eleitorais

editar

Eleições presidenciais

editar
Data Candidato(a) Vice Votos % Votos % Resultado
1.º turno 2.º turno
Eleições sob a Lei de Lemas
1938 Alfredo Baldomir César Charlone 121.259 33,9% Eleito
Eduardo Blanco Acevedo Eugenio Martínez Thedy 97.998 27,4% Não eleito
Lema 54 0%
Votos totais 219.311 61,4%
1942 Juan José de Amézaga Alberto Guani 234.127 40.7% Eleito
Eduardo Blanco Acevedo Carlos Vilaró Rubio 74,767 13.0% Não eleito
Williman Mermot 670 0,1%
Lema 66 0%
Votos totais 309.630 57,2%
1946 Tomás Berreta Luis Batlle Berres 185.715 28,6% Eleito
Rafael Schiaffino Daniel Castellanos 83.534 12,9% Não eleito
Alfredo Baldomir Juan Carlos Mussio Fournier 40.875 6,3%
Lema 372 0.0%
Votos totais 310.496 47,8%
1950 Andrés Martínez Trueba Alfeo Brum 161.262 19,6% Eleito
César Mayo Gutiérrez Lorenzo Batlle Pacheco 150.930 18,3% Não eleito
Eduardo Blanco Acevedo Cyro Giambruno 120.949 14,7%
Lema 313 0.0%
Votos totais 433,454 52.6%
1966 Óscar Diego Gestido Jorge Pacheco Areco 262.040 21,3% Eleito
Jorge Batlle Julio Lacarte Muró 215.642 17,5% Não eleito
Amílcar Vasconcellos Renán Rodríguez 77.476 6,3%
Zelmar Michelini Aquiles Lanza 48.992 4,0%
Justino Jiménez de Aréchaga Nilo Berchesi 4.064 0%
Lema 389 0%
Votos totais 607.633 49,3%
1971 Juan María Bordaberry Jorge Sapelli 379.515 22,8% Eleito
Jorge Batlle Renán Rodríguez 242.804 14,6% Não eleito
Amílcar Vasconcellos Manuel Flores Mora 48.844 2,9%
Juan Luis Pintos Torialli 5.402 0,3%
Juan Pedro Ribas Gorlero 4.025 0,2%
Lema 604 0%
Votos totais 681.624 41,0%
1984 Julio María Sanguinetti Enrique Tarigo 588.143 31,2% Eleito
Jorge Pacheco Areco Carlos Pirán 183.588 9,7% Não eleito
Lema 5.970 0,3%
Votos totais 777.701 41,2%
1989 Jorge Batlle Jorge Sanguinetti 291.944 14,20% Não eleito
Jorge Pacheco Areco Pablo Millor 289.222 14,06%
Hugo Fernández Faingold Enrique Vispo 14.482 0,70%
Lema 1.316 0,06%
Votos totais 596.964 29,03%
1994 Julio María Sanguinetti Hugo Batalla 500.760 24,7% Eleito
Jorge Batlle Federico Bouza 102.551 5,1% Não eleito
Jorge Pacheco Areco Eduardo Ache 51.935 2,6%
Votos totais 656.426 32,3%
Eleições com um único candidato por partido
1999 Jorge Batlle Luis Antonio Hierro López 703.915 32,8% 1.158.708 54,1% Eleito
2004 Guillermo Stirling Tabaré Viera 231.036 10,36% Não eleito
2009 Pedro Bordaberry Hugo de León 392.307 17,02% Não eleito
2014 Pedro Bordaberry Germán Coutinho 305.699 12,89% Não eleito
2019 Ernesto Talvi Robert Silva 300.177 12,80% Não eleito
2024 Andres Ojeda Robert Silva 392.592 16,89% Não eleito

No sistema eleitoral em vigor na época, denominado sistema Lei de Lemas, cada partido político poderia ter até três candidatos presidenciais. O resultado combinado dos votos para os candidatos de um partido determinava qual partido controlaria o poder executivo, e qualquer um dos candidatos do partido vencedor que terminasse em primeiro lugar seria declarado presidente. Este sistema foi usado desde as eleições de 1942 até as eleições de 1994, até que em 1996, um referendo alterou a constituição para restringir cada partido a um único candidato presidencial, em vigor a partir das eleições de 1999.

Eleições legislativas

editar
Data Votos % Deputados +/– Senadores +/- Status Cl.
1916 60.420 41,2%
87 / 218
  87   2.º
1917 63.617 49,4% Desconhecido   1.º
1919 Concorreu como várias facções
1922 Concorreu como várias facções
1925 Concorreu como várias facções
1928 Concorreu como várias facções
1931 Concorreu como várias facções
1933 Concorreu como várias facções
1934 139.832 56,1%
55 / 99
  5
15 / 30
  15   1.º
Senado 125.981 57,0%
1938 219.362 58,4%
64 / 99
  9
15 / 30
  0   1.º
Senado 219.375 60,6%
1942 328.596 57,1%
58 / 99
  6
19 / 30
  4   1.º
Senado 328,599 57,2%
1946 310.556 46,3%
47 / 99
  11
15 / 30
  4   1.º
Senado 310.390 46,3%
1950 433.628 52,3%
53 / 99
  6
17 / 30
  2   1.º
Senado 433.440 52,9%
1954 444.429 50,6%
51 / 99
  2
17 / 31
  0   1.º
1958 379.062 37,7%
38 / 99
  13
12 / 31
  5   2.º
1962 521.231 44,5%
44 / 99
  6
14 / 31
  2   2.º
1966 607.633 49,3%
50 / 99
  6
16 / 30
  2   2.º
1971 681.624 41,0%
41 / 99
  9
13 / 30
  3   1.º
1984 777.701 41,2%
41 / 99
  0
13 / 30
  0   1.º
1989 596.964 29,03%
30 / 99
  11
9 / 30
  4   2.º
1994 656.426 32,3%
32 / 99
  2
11 / 31
  2   1.º
1999 703.915 32,8%
33 / 99
  1
10 / 30
  1 Coalizão   2.º
2004 231.036 10,36%
10 / 99
  23
3 / 30
  7 Oposição   3.º
2009 392.307 17,02%
17 / 99
  7
5 / 30
  2 Oposição   3.º
2014 305.699 12,89%
13 / 99
  4
4 / 30
  2 Oposição   3.º
2019 300.177 12,80%
13 / 99
  0
4 / 30
  0 Coalizão   3.º
2024 392.592 16,89%
17 / 99
  4
5 / 30
  1 ASA   3.º

Eleições do Conselho Nacional de Administração e do Conselho Nacional de Governo

editar
Data Votes % Assentos +/- Cl.
1925 Concorreu como várias facções
1926 Concorreu como várias facções
1928 Concorreu como várias facções
1930 165.069 52,1% Desconhecido 1.º
1932 107.664 67,0% Desconhecido   1.º
Abolido em 1933, restabelecido como Conselho Nacional de Governo
1954 444.429 50,6%
6 / 9
  6 1.º
1958 379.062 37,7%
3 / 9
  3   2.º
1962 545.029 521.231
3 / 9
    2.º
Conselho Nacional abolido em 1966, sistema presidencial restabelecido

Referências

  1. Nahum, Benjamín; Barrán, José Pedro (1982). El nacimiento del batllismo (em espanhol). [S.l.]: Ediciones de la Banda Oriental 
  2. «Ideas y Valores» (em espanhol). Partido Colorado. 10 de abril 2016 
  3. Moreira, Constanza (2004). «Final de juego: del bipartidismo tradicional al triunfo de la izquierda en Uruguay». Ediciones Trilce. p. 167 
  4. Caetano, Gerardo; Lanzaro, Jorge Luis (2000). La "segunda" transición en el Uruguay: gobierno y partidos en un tiempo de reformas (em espanhol). [S.l.]: Comisión Sectorial de Investigación Científica. p. 381 
  5. [2][3][4]
  6. Lanzaro, Jorge (maio de 2015), Uruguay 2014: elecciones competitivas y partido de izquierda predominante, Revista SAAP, ISSN 1853-1970, 9 (1), pp. 11–41, consultado em 13 de fevereiro de 2023 
  7. Historia Económica del Uruguay. Tomo III: La economía del batllismo y de los años veinte (em espanhol). [S.l.]: Fin de Siglo. 2005. p. 435. ISBN 9974493501 
  8. DORATIOTO, Francisco Fernando Monteoliva. Espaços nacionais na América Latina: da utopia bolivariana à fragmentação. São Paulo: Brasiliense, 1994, p. 23.
  9. Claps, Manuel Arturo; Lamas, Mario Daniel (1999). El batllismo como ideología (em espanhol). [S.l.]: Cal y Canto 
  10. Giudici, Roberto B.; González Conci, Efraín (1959). Batlle y El Batllismo (em espanhol). [S.l.]: Medina 
  11. «El elegido para renovar a los colorados» (em espanhol). 25 de fevereiro de 2018 
  12. «Julio María Sanguinetti: "Uruguay no va a dejar pasar un acuerdo con la Unión Europea"» (em espanhol). 6 de março de 2020 
  13. PIVEL DEVOTO, Juan E. (1956). Historia de los partidos y de las ideas políticas en el Uruguay. La definición de los bandos 1829-1838. 2.ed. Montevideo: Editorial Río de la Plata,. [S.l.: s.n.] 
  14. a b NAHUM, Benjamín (1990). La Época Batllista. Montevideo: Editorial Banda Oriental,. [S.l.: s.n.]