Síndrome compartimental abdominal

Síndrome compartimental abdominal é o aumento da pressão intra-abdominal a ponto de provocar mau funcionamento ou falência de vários órgãos como rins, coração, pulmão, fígado e trato gastrointestinal. Possui causas e tratamentos diversos.

Tecnicamente, pode ser definida como pressão intra-abdominal (PIA) constantemente maior que 20mmHg mais a falência de pelo menos um órgão.[1] Pode ser dividida em três grupos: primário, secundário, e recorrente.[2]

Não deve ser confundido com hipertensão intra-abdominal, que seria o aumento da PIA acima de 16,2mmHg, podendo ou não ocorrer anormalidades na perfusão de alguns órgãos e queda do débito urinário. A PIA normal varia de 0 a 12mmHg.

Fisiopatologia editar

A principal característica é o aumento da pressão abdominal a ponto de comprimir vasos sanguíneos agravando em primeiro lugar o retorno venoso para o coração e a a drenagem de sangue renal. Como o diafragma tem dificuldade de se expandir, existe uma restrição na ventilação.

A pressão abdominal acima de 12mmHg já pode provocar distúrbios de perfusão.

Para o entendimento leigo editar

Uma síndrome compartimental ocorre quando a pressão dentro de uma cavidade ou loja anatômica aumenta a ponto de bloquear o fluxo venoso e/ou arterial de sangue da região.

Quando ocorre um trauma ou pancada no braço, por exemplo, ocorre uma inflamação e inchaço da região. Contudo, o braço não tem a capacidade de edemaciar indefinidamente. Os músculos da sua estrutura estão envoltos por uma membrana resistente, chamada fáscia, que delimita um espaço anatômico. Após certo ponto, o inchaço dos músculos do braço aumenta a pressão nesse espaço anatômico, fazendo com que nem mesmo o sangue consiga vencer tal resistência. Seria como um “fusca lotado”: muita gente em um espaço bem apertado, não sobra nem entra oxigênio suficiente para todos.

Isso pode ocorrer em várias regiões do corpo: o glaucoma do globo ocular(compartimento delimitado pela esclera), a hipertensão intra-craniana (compartimento delimitado pelo crânio), a síndrome compartimental da perna (fáscia da perna) e na cavidade abdominal (compartimento delimitado por músculos, fáscias e o osso da pelve).

A Síndrome Compartimental Abdominal é patologia de gravidade e comprometimento sistêmico, pois o bloqueio de fluxo sanguíneo implica o comprometimento de grandes vasos (como a veia cava) e de órgãos nobres como rins e pulmão.

Órgãos acometidos e suas alterações editar

Coração: O aumento da resistência vascular periférica e queda do retorno venoso levam à queda do débito cardíaco.

Sistema nervoso central: aumento da pressão intra-craniana.

Pulmão: Aumenta pressão intratorácica e diminui a ventilação e expansibilidade pulmonar devido à restrição do diafragma.

Rim: diminui fluxo sanguíneo e taxa de filtração glomerular. Queda do débito urinário.

Gastrointestinal: Diminui fluxo sanguíneo. Queda do pH, isquemia.

Na medicina como regra mnemônica usamos para a síndrome compartimental os "5Ps" Pain (DOR) Pulseless(Diminuição do pulso) Parestesia Paralisia Palidez

Etiologia editar

Fechamento com tensão do abdômen

Ascite e acumulo de fluido intra abdominal

Massa e tumores intra-abdominais

Pancreatite

Obstrução intestinal

Excesso de fluidos (infusão de soro fisiológico)

Trauma abdominal, pack abdominal para controle de hemorragias

Tratamento editar

O objetivo principal é tratar causa de base. O tratamento complementar pode ser cirúrgico ou não cirúrgico.

Não cirúrgico editar

Medidas gerais como jejum, esvaziamento intestinal com enemas, laxantes e passagem de sonda nasogástrica.

Controle rigoroso do balanço hídrico

Analgesia e sedação adequados.

Drenagem de excesso de fluidos da cavidade abdominal por paracentese (para retirada de ascite, por exemplo).

Cirúrgico editar

Abertura da cavidade abdominal e fechamento quando o processo de base esfriar, como a diminuição do edema das alças intestinais. A cavidade abdominal pode ser mantida aberta utilizando-se a Bolsa de Bogotá, que consiste na proteção das vísceras expostas ao ar livre com uma bolsa plástica para evitar sua desidratação e perda de calor.

Referências

  1. Cheatham, Michael (abril de 2009). «Abdominal compartment syndrome». Current Opinion in Critical Care (em ENGLISH) (2): 154–162. ISSN 1070-5295. PMID 19276799. doi:10.1097/MCC.0b013e3283297934. Consultado em 7 de dezembro de 2020 
  2. Hunt, Leanne; Frost, Steve A; Hillman, Ken; Newton, Phillip J; Davidson, Patricia M (5 de fevereiro de 2014). «Management of intra-abdominal hypertension and abdominal compartment syndrome: a review». Journal of Trauma Management & Outcomes. 2 páginas. ISSN 1752-2897. PMC 3925290 . PMID 24499574. doi:10.1186/1752-2897-8-2. Consultado em 7 de dezembro de 2020