Síndrome de Mears-Irlen

Síndrome de Irlen, também referida como Síndrome de Mears-Irlen ou síndrome de sensitividade escotópica ou SI [1] é uma desordem associada à interação da luz com o mecanismo de visão humano.

História editar

Em 1980 o professor da Nova Zelândia Olive Meares descreveu as distorções visuais de alguns indivíduos enquanto liam em papéis brancos. Em 1983, o psicólogo americano Helen Irlen escreveu um artigo sobre sobreposições coloridas auxiliando as habilidades de leitura de algumas pessoas. Sintomas similares foram separadamente descritos por Meares e Irlen sem que um soubesse do trabalho do outro. Irlen, que foi o primeiro a definir sistematicamente a condição, nomeu sua descoberta de "sensitividade escotópica", embora em alguns debates posteriores nomearam o problema de síndrome de Meares-Irlen. [2]

Pesquisa editar

As desordens associadas a esta síndrome vem sendo estudadas em diversas instituições, incluindo o departamento de psicologia na Universidade Essex no Reino Unido e também na Universidade Cambridge neste mesmo país.

Na Austrália, Paul Whiting (Universidade de Sydney), criou o primeiro centro de acompanhamento da síndrome de Irlen que operou por 15 anos.[3]

Teoria editar

A Síndrome de Irlen (S.I.) é uma alteração visuoperceptual, causada por um desequilíbrio da capacidade de adaptação à luz que produz alterações no córtex visual e déficits na leitura. A Síndrome tem caráter familiar, com um ou ambos os pais também portadores em graus e intensidades variáveis. Suas manifestações são mais evidentes nos períodos de maior demanda de atenção visual, como nas atividades acadêmicas e profissionais que envolvem leitura por tempo prolongado, seja com material impresso ou computador.[4]

Sintomas editar

A fotofobia geralmente se manifesta através de queixas de brilho ou reflexo do papel branco, que compete com o texto impresso e desvia a atenção do conteúdo a ser lido, comprometendo a atenção. Luzes fluorescentes são particularmente desconfortáveis e geram irritabilidade. Até mesmo a luz solar direta, faróis de carros e postes à noite causam incomodo aos portadores da SI e cefaléias por essa exposição³. Em muitos casos, há hábito de uso constante de óculos de sol.

As alterações da habilidade de resolução viso-espacial produzem sensação de desfocamento e de movimentação das letras que pulsam, tremem, vibram , aglomeram-se ou desaparecem, impactando na atenção e compreensão do texto que esta sendo lido. As distorções à leitura foram também objeto de relatos por parte de outros autores como Meares (1980), Whiting (1985) e Robinson & Miles (1987)4,5,6.

As dificuldades com percepção de profundidade, habilidade que possibilita a correta avaliação tridimensional, tem impacto direto em atividades como dirigir, estacionar, prática de esportes com bola, de movimento em geral, descer e subir escadas, atravessar portas, passarelas, usar escadas rolantes entre muitas outras situações cotidianas, nas quais a antecipação visual constitui fator de segurança e rapidez de ajuste ao ambiente.

Os sintomas físicos da S.I. são essencialmente oculares, ocorrendo lacrimejamento, prurido e ardência ocular, tendência à esfregar os olhos e/ou tampar/fazer sombra enquanto lê, apertar e/ou piscar os olhos excessivamente, balançar ou tombar a cabeça, sensação de cansaço após 10 a 15 minutos de leitura – que é feita preferencialmente na penumbra – além de história familiar de dificuldades com leitura e fotofobia. [4]

Tratamento editar

A aplicação do Método Irlen onde ocorre a indução de estresse em atividades com alta demanda “visuoatencional” e posterior supressão após a sobreposição de uma lâmina colorida individualmente selecionada.

Uma vez determinada a transparência ideal o portador passa a usá-la sobre o texto durante a leitura ou cobrindo a tela do computador enquanto lê, obtendo benefícios imediatos no conforto visual, fluência e compreensão.

A neutralização das distorções facilitará o reconhecimento das palavras lidas, mas obviamente não permitirá que a pessoa leia palavras que não sabe. Para estes indivíduos, a leitura sempre foi sinônimo de dificuldade e a rejeição tornou-se um habito incorporado – é preciso considerar que pode haver anos de atraso em relação aos leitores regulares que puderam adquirir um substancial vocabulário visual de reconhecimento instantâneo. Obviamente, o aprendizado das palavras será facilitado por não mais se apresentarem distorcidas – mas a assistência ao aprendizado será importante e sem ela a leitura permanecerá sendo uma atividade difícil e estressante.

Do mesmo modo, o uso de filtros não será o único fator necessário para o aperfeiçoamento no desempenho da leitura, porém nos casos de Síndrome de Irlen a opção pelo tratamento significará um recurso não invasivo, de baixo custo e alta resolutividade, possibilitando a seus usuários uma potencialização dos benefícios aferidos aos seus esforços acadêmicos e profissionais, além de facilitar o trabalho da equipe multidisciplinar que os assistem[5].

É interessante observar que a boa parte dos portadores não tem consciência de suas distorções à leitura, como estas aparecem após um tempo médio de 10 a 15 minutos de leitura, eles pressupõem que isto ocorra a todos – sem se dar conta de que a dificuldade é só deles – e mais ainda se estiverem sob excesso de luzes fluorescentes, contraste, cores fortes, muito volume de texto por pagina, letras menores e impressão em papel brilhante. O mais preocupante é que esta é exatamente a situação em que se aplica a prova do ENEM – centenas de estudantes com Síndrome de Irlen não identificada terão seu desempenho prejudicado pelo estresse visual e hipersensibilidade à luz, cansaço progressivo e dificuldade em manter a atenção por tempo prolongado, com erros na transferência de gabaritos e falta de compreensão por déficits na eficiência visual. [4]

Leituras recomendadas editar

Referências

  1. The difference between Irlen Syndrome and Visual Stress
  2. «Joint statement—Learning disabilities, dyslexia, and vision» (PDF). Pediatrics. 124 (2): 837–44. 1 de agosto de 2009. PMID 19651597. doi:10.1542/peds.2009-1445 
  3. «Archived copy». Consultado em 28 de março de 2014. Arquivado do original em 25 de janeiro de 2014 
  4. a b c http://fundacaoholhos.com.br/artigos/sindrome-de-irlen-dra-marcia-guimaraes/
  5. SACOMAN, Mateus Barroso (29 de maio de 2019). «A Síndrome de Irlen: diagnóstico e o contexto de intervenção». Revista Psicopedagogia. 36 (110): 222–234. Consultado em 2 de outubro de 2019 

Bibliografia editar

  • Irlen H. The Irlen Revolution. New York, Square One Publishers, 2010
  • Irlen H. Reading by the colors. New York, The Berkley Publishing Group, 1991
  • Guimarães MR, Guimarães JR, Guimarães R et all. Selective spectral fiulters in the treatment of visually induced headaches and migraines: a clinical study of 93 patients. T 29. Headche Medicine, 1 (2): 72, 2010.
  • Meares,O. Figure/ground, brightness contrast, and reading disabilities. Visible Language,14,13-29, 1980.
  • Whiting,P.R. How difficult can reading be? New insight into reading problems. Eng.Teach.Assoc. 49,49-55. 1985.
  • Robinson ,G.L. and Miles,J. The use of colored overlays to improve visual processing – a preliminary survey. The Except.Child. 34, 65-70.1987.
  • Faria L N. Frequência da Sindrome de Meares-Irlen entre alunos com dificuldades de leitura observadas no contexto escolar. [Tese Mestrado]. Belo Horizonte:Universidade Federal de Minas Gerais, 2011.
  • Tallal P. Auditory temporal perception, phonics and reading disabilities in children. Brain Lang, 9(2): 182-98, 1980.
  • Guimarães MR. Distúrbios de Aprendizado Relacionados à Visão. Rev Fund Guimarães Rosa. 3(4): 16-9, 2009.
  • Ventura, LO; Travassos, SB; Da Silva, OA; Dolan, MA. Dislexia e Distúrbios de Aprendizagem. Rio de Janeiro, Cultura Médica, Cap.18 159-174, 2011.