Sinfonia em Branco, N.º2: A Pequena Rapariga Branca
Sinfonia em Branco, N.º2: A Pequena Rapariga Branca (em inglês: Symphony in White, No. 2, também conhecida como The Little White Girl, é uma pintura do artista norte-americano James McNeill Whistler.[1] O trabalho mostra uma mulher posicionada de lado junto a uma lareira, com um espelho por cima. A mulher tem na mão um leque, e veste um vestido branco. O modelo é Joanna Hiffernan, a amante do artista. Apesar de a pintura se chamar inicialmente The Little White Girl, mais tarde Whistler começou a designá-la por Symphony in White, No. 2. Ao referir-se ao seu trabalho de uma forma abstracta, ele tinha a intenção de dar ênfase à sua filosofia da "arte pela arte". Nesta pintura, Heffernan usa um anel no seu dedo direito, embora ela não fosse casada com o artista. Através deste imagem religiosa, Whistler destaca a filosofia estética que é a base do seu trabalho.
Sinfonia em Branco, N.º2: A Pequena Rapariga Branca | |
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Autor | James Abbott McNeill Whistler |
Data | 1862 |
Técnica | Óleo sobre tela |
Dimensões | 76 × 51 |
Localização | Tate Gallery, Londres |
Whistler criou a pintura no Inverno de 1864, que foi exposta na Academia Real Inglesa no ano seguinte. A moldura original continha um poema escrito pelo amigo de Whistler, Algernon Charles Swinburne – Before the Mirror (Perante o Espelho) – escrito em papel dourado. O poema foi inspirado pela pintura, e para Whistler este gesto demonstrou que as artes visuais não precisam de estar subordinadas à literatura. Apesar de serem poucas as explicações para o significado e simbolismo da pintura, os críticos encontraram alusões ao trabalho de Ingres, tal como a elementos orientais típicos do popular Japonismo.
Artista e modeloEditar
James Abbott McNeill Whistler nasceu nos Estados Unidos em 1834, filho de George Washington Whistler, um engenheiro ferroviário.[2] Em 1843, o seu pai foi trabalhar para São Petersburgo, Rússia, para onde levou família, e onde James frequentou aulas de pintura.[3] Depois de um tempo em Inglaterra, James voltou ao Estados Unidos para cumprir o serviço militar em West Point em 1851.[4] Em 1855, regressou à Europa determinado a dedicar-se à pintura. Foi viver para Paris, mas em 1859 mudou-se para Londres, onde permaneceria o resto da sua vida.[5] Ali conheceu Dante Gabriel Rossetti e outros membros da Irmandade Pré-Rafaelita, os quais teriam uma profunda influência em Whistler.[6]
É em Londres que Whistler conhece Joanna Hiffernan, o modelo que tornar-se-ia sua amante. A sua relação é descrita como um "casamento sem benefício do clero."[7] Em 1861, Whistler já tinha utilizado Joanna como modelo em outras pinturas. Em Wapping, pintado entre 1860 e 1864, Hiffernan (segundo Whistler) pintou uma prostituta.[8] O precursor de The Little White Girl foi uma pintura criada no Inverno de 1861–62, chamado de The White Girl mais tarde designado por Symphony in White, No. 1.[9] Hiffernan terá tido uma forte influência em Whistler; o seu cunhado, Francis Seymour Haden recusou um convite para jantar no Inverno de 1863–64 devido à sua presença muito dominante em casa.[10]
História da pintura e poema de SwinburneEditar
Whistler pintou The Little White Girl em 1864, com Hiffernan como modelo. Em 1865, a pintura foi exposta durante a exibição de Verão da Academia Real Inglesa; Whistler tinha oferecido The White Girl para a exibição de 1862, mas foi rejeitada.[10] Os críticos ingleses não ficaram muito impressionados com a pintura; um em particular chegou mesmo a chamá-la de "bizarra",[11] enquanto outro a definiu como "acinzentada, no geral".[12] Em 1900, contudo, foi uma das pinturas que Whistler submeteu à Exposição Universal em Paris, onde ganhou um prémio pelas pinturas.[6] O primeiro proprietário da pintura foi o fabricante de papel de parede John Gerald Potter, um amigo e patrono de.[13] Em 1893, passou para as mãos de Arthur Studd, que o entregou à National Gallery em 1919. Em 1951, foi transferido para a Tate Gallery.[14]
Em 1862, Whistler conheceu o poeta inglês Algernon Charles Swinburne, de quem ficou muito amigo.[15] A relação entre dois beneficiava ambos. Inspirado por Little White Girl, Swinburne escreveu um poema com o título Before the Mirror.[6] Antes de a pintura ser exibida na Academia Real, Whistler aplicou o poema, escrito numa folha de ouro, na moldura.[16] a ideia de decorar a moldura de uma pintura com um poema foi uma ideia que Whistler foi buscar a Rossetti, que também tinha colado um papel dourado com um dos seus poemas à moldura da sua pintura The Girlhood of Mary, de 1849.[17] Para Whistler, este poema sublinhava a sua ideia da natureza autónoma da pintura como meio. Mostrava que os pintores eram mais do que meros ilustradores, e que a arte visual podia ser uma inspiração para a poesia, e não apenas em sentido contrário.[16]
Na época, circulou uma ideia errada de que a pintura tinha sido inspirada no poema de Swinburne. Numa carta enviada a um jornal, Whistler recusou esta ideia, mostrando, ao mesmo tempo, respeito pelo trabalho de Swinburne; "aquelas linhas" escreveu, "só forsm escritas, no meu estúdio, depois de terminar a pintura. E a sua escrita foi um raro e amável tributo do poeta ao pintor – uma nobre reconhecimento do trabalho pela produção de um ainda mais nobre."[18] Swinburne retribuiu o cumprimento: "...seja qual for o mérito que a minha canção possa ter, não é tão bela, nem sensível no seu significado, na sua especial execução e delicada força, como o retrato de Whistler..."[19]
Composição e interpretaçãoEditar
Whistler, em particular na parte final da sua carreira, meditou sobre o seu trabalho concluindo que elas deviam de conter algum significado para além do que podia ser observado directamente na tela. Ele é conhecido por ser o proponente principal da filosofia a "arte pela arte"..[20] Whistler deve desenvolvimento desta filosofia a Swinburne, que a apresentou pela primeira vez no seu livro de 1868, William Blake: a Critical Essay.[6] Mais tarde, Whistler começou a referir-se a The Little White Girl como Symphony in White, No. 2.[9] Por uma analogia musical, ele deu mais ênfase à sua filosofia dizendo que a composição era a coisa central, não o assunto.[21]
Um dos elementos mais notáveis da pintura é o anel no dedo do modelo. Pousado na cornija, torna-se um ponto central da composição.[10] O anel era um elemento do qual Whistler estava consciente; não estava presente em The White Girl. Embora ele e Hiffernan não fossem casados, o anel mostra um desenvolvimento na sua forma de a representar na sua arte; de prostituta em Wapping, a amante em The White Girl, e finalmente uma esposa em The Little White Girl. Ao mesmo tempo, esta evolução reflectia a noção de Whistler sobre o seu posicionamento na arte inglesa: a caminho de uma maior legitimidade.[10] O anel é, também, uma alusão ao sacramento cristão do casamento, o qual atribui um aspecto religioso à estética que ele e Swinburne estavam a tentar desenvolver.[22]
Em The Little White Girl, Whistler distancia-se do realismo do pintor francês Gustave Courbet que, anteriormente, tinha tido uma forte influência em si. A pintura contrasta as suas figuras suaves e arredondadas com formas geométricas duras, utilizando "pinceladas enérgicas, transparentes e densas."[23] São vários os artistas e estilos que têm sido apontados como inspirações para The Little White Girl. A pintura tem sido comparada ao trabalho de Ingres. Apesar do estilo de pintura de Whistler ser diferente à da de Ingres em vários aspectos, ele era um admirador do artista francês, e foi inspirado pelo seu trabalho.[24] O leque na mão do modelo e o vaso em cima da cornija]são elementos orientais, e expressões do Japonismo em voga na arte europeia na época.[25] Para além destes pormenores, não há muitas pistas para o observador, e a pintura convida a uma variedade de interpretações individuais. Uma análise contemporânea no jornal The Times dizia que "o pensamento e a paixão encontram-se sob a superfície dos elementos simples, dando-lhes uma atracção indefinida."[14] O crítico de arte Hilton Kramer vê nos retratos de Whistler um charme e uma combinação de habilidades artesanais e de observação que estão em falta nas suas paisagens mais radicais.[26]
Referências
- ↑ Descrição da pintura na página da TATE
- ↑ Anderson & Koval (1994), pp. 3–6.
- ↑ Weintraub (1974), pp. 6–9.
- ↑ Anderson & Koval (1994), pp. 26–31.
- ↑ MacDonald (1999).
- ↑ a b c d Spencer (2004)
- ↑ Weintraub (1974), p. 71.
- ↑ Spencer (1998), p. 306.
- ↑ a b Craven (2003), p. 342–3.
- ↑ a b c d Spencer (1998), p. 309.
- ↑ Laver (1951), p. 107.
- ↑ Anderson & Koval (1994), p. 353.
- ↑ Prettejohn (1999), p. 66.
- ↑ a b Wilton (1997), p. 116–7.
- ↑ Taylor (1978), p. 32.
- ↑ a b Spencer (1998), p. 311.
- ↑ Horowitz (1978–80), p. 125.
- ↑ Prettejohn (1998), p. 89.
- ↑ Weintraub (1974), p. 98.
- ↑ Batchelor (2002), p. 219.
- ↑ Spencer (1998), p. 300.
- ↑ Prettejohn (1998), p. 64.
- ↑ Taylor (1978), p. 30.
- ↑ Sutton (1960), pp. 460–1.
- ↑ Merrill (1994), p. 687.
- ↑ Kramer & Kimball (1974), pp. 72–3.
BibliografiaEditar
- Anderson, Ronald; Koval, Anne (1994). James McNeill Whistler: Beyond the Myth. London: John Murray. ISBN 0-7195-5027-0
- Batchelor, Bob (2002). The 1900s. Westport, Conn.; London: Greenwood Press. ISBN 0-313-31334-2. Consultado em 9 de setembro de 2009
- Craven, Wayne (2003). American Art: History and Culture. New York: McGraw-Hill. ISBN 0-07-141524-6. Consultado em 9 de setembro de 2009
- Horowitz, Ira M. (1979–80). «Whistler's Frames». Art Journal. 39: 125. Consultado em 12 de setembro de 2009. (pede subscrição (ajuda)) Verifique data em:
|ano=
(ajuda) - Kramer, Hilton; Kimball, Roger (1974). The Age of the Avant-Garde: An Art Chronicle of 1956-1972. London: Secker and Warburg. pp. 72–3. ISBN 0-436-23685-0. Consultado em 9 de setembro de 2009
- MacDonald, Margaret F. (1999). «Whistler, James (Abbott) McNeill». Grove Art Online. Oxford: Oxford University Press. Consultado em 9 de setembro de 2009. (pede subscrição (ajuda))
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- Prettejohn, Elizabeth (1999). After the Pre-Raphaelites: Art and Aestheticism in Victorian England. Manchester: McGraw-Manchester University Press. ISBN 0-7190-5405-2. Consultado em 12 de setembro de 2009
- Spencer, Robin (1998). «Whistler's 'The White Girl': Painting, Poetry and Meaning». The Burlington Magazine. 140. Consultado em 9 de setembro de 2009. (pede subscrição (ajuda))
- Spencer, Robin (2004). «Whistler, James Abbott McNeill (1834–1903)» ((Requer subscrição ou ser sócio da biblioteca pública do Reino Unido)) . Oxford Dictionary of National Biography. Oxford: Oxford University Press. doi:10.1093/ref:odnb/36855
- Sutton, Denys (1960). «A Whistler Exhibition». The Burlington Magazine. 102. pp. 460–1. Consultado em 12 de setembro de 2009. (pede subscrição (ajuda))
- Taylor, Hilary (1978). James McNeill Whistler. London: Studio Vista. ISBN 0-289-70836-2
- Weintraub, Stanley (1974). Whistler: A biography. London: Collins. ISBN 0-00-211994-3
Ligações externasEditar
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