Stay-behind

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As células stay-behind (literalmente "ficar atrás", em inglês) constituíam redes clandestinas ligadas à OTAN, durante o período da Guerra Fria. Implantadas em 16 países da Europa Ocidental, essas células visavam deter a ameaça de uma ocupação pelo bloco do Leste e estavam sempre prontas para ser ativadas em caso de invasão pelas forças do Pacto de Varsóvia. A mais famosa delas era a rede italiana Gladio .

A existência dessas células só foi revelada pelos meios de comunicação nos anos 1990, embora William Colby, ex-diretor da CIA, já tivesse descrito a gênese desses grupos, desde 1978, em suas memórias.[1]

História editar

Operações stay-behind de porte significativo aconteceram durante a Segunda Guerra Mundial. O Reino Unido instalava unidades auxiliares. Os partisans no território soviético ocupado pelo Eixo, no início da década de 1940, operaram com um elemento stay-behind.[2][3]

Durante a Guerra Fria, a Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN) coordenou e a Agência Central de Inteligência (CIA) e o Serviço Secreto de Inteligência Britânico (SIS) ajudaram a criar redes clandestinas stay-behind em muitos países europeus, com a intenção de ativá-las, se eventualmente aquele país fosse invadido pelo Pacto de Varsóvia. De acordo com Martin Packard, elas foram "financiadas, armadas e treinadas em atividades secretas de resistência, incluindo assassinato, provocação política e desinformação". Essas organizações clandestinas eram criadas e administradas sob os auspícios dos serviços de inteligência e recrutavam seus agentes entre a população civil. Essas redes stay-behind civis especialmente selecionadas (ou SBOs) foram criadas em muitos países ocidentais, tais como Itália, Holanda, Bélgica, Luxemburgo, França, Alemanha, Suíça, Noruega, Áustria e outros, incluindo o Irã. Elas se preparavam para organizar a resistência, a sabotagem e a obtenção de informações em território ocupado (OTAN). A mais famosa dessas redes clandestinas foi a Operação Gladio italiana, cuja existência foi reconhecida pelo primeiro-ministro italiano Giulio Andreotti em 24 de outubro de 1990.[4]

Muitos esconderijos de armas encontrados na Itália, Áustria, Alemanha e Holanda, entre outros países, estavam à disposição desses "exércitos secretos". Ainda em 1996, o Reino Unido revelou ao governo alemão a existência de esconderijos de armas e equipamentos em Berlim Ocidental. O conteúdo desses esconderijos dá uma ideia do equipamento fornecido para as redes stay-behind alemãs. Em dois desses locais secretos, enterrados na floresta de Grunewald, a polícia encontrou caixas com pistolas 9 mm e munições, facas, equipamento de navegação, um 'rádio espião' RS-6, vários manuais, livros de reconhecimento de tanques e aeronaves, um frasco de conhaque e chocolate, bem como uma cópia de Total Resistance, o manual de guerrilha escrito em 1957 pelo major suíço Hans von Dach.[5]

Durante a Guerra Fria, as unidades militares stay-behind eram geralmente unidades de reconhecimento, vigilância e definição de alvos de longo alcance, e eram destinadas especificamente a operações na fase inicial de uma potencial guerra (dia D a D+1-5). Essas unidades iriam rapidamentedeslocar-se para a frente, unir-se à retaguarda ou 'força agressiva de retardamento' e 'ficar atrás' quando essas forças se retirassem, deixando-se ultrapassar pelas tropas do Pacto de Varsóvia em avanço. Explorando locais ocultos previamente reconhecidos e esconderijos de armas, munições e rádios, elas começariam então a conduzir operações de inteligência, no que é chamado de vigilância estática secreta, bem como a definição de alvos de alto valor, tais como quartéis-generais inimigos, concentrações de tropas e sistemas de armas atômicas. Elas também executariam as tarefas de demolição, no que era referido como o 'cinturão de demolição', em locais onde era provável que ocorressem gargalos para as formações inimigas. Outra tarefa teria sido a assistência a escape e evasão (E&E) para pilotos abatidos e outros que precisassem de repatriação.[6]

Os regimentos do SAS e da Honourable Artillery Company, do Exército Territorial do Reino Unido desempenhariam o papel de stay-behind no setor britânico da Alemanha Ocidental.[7][8]

Referências

  1. William Colby e Peter Forbath, Trente ans dans la CIA, Presses de la Renaissance, Paris, 1978, p. 111-112
  2. Collins, John M. (1998). Military Geography. [S.l.]: Potomac Books, Inc. p. 122. ISBN 9781597973595. Consultado em 28 de setembro de 2013. The Pripet Swamp, which created a great gap between German Army Group Center and Army Group North soon after ... June 1941, made it impossible for large military formations to conduct mutually supporting operations. Attempts to bypass such extensive wetlands proved perilous, because outflanked Soviet stay-behind forces and partisans pounced on logistical troops as soon as German spearheads disappeared. 
  3. Gill, Henry A. (1998). Soldier Under Three Flags: Exploits of Special Forces' Captain Larry A. Thorne. [S.l.]: Pathfinder Publishing, Inc. p. 45. ISBN 9780934793650. Consultado em 28 de setembro de 2013. The Finns soon became seriously hindered and harassed by Soviet forces operating in their rear areas. Some of these units were left to operate as stay-behind or partisan units as the Soviets retreated. 
  4. Packard, Martin (2008). Getting It Wrong: Fragments From a Cyprus Diary 1964. UK: AuthorHouse. p. 364. ISBN 978-1-4343-7065-5 
  5. Sinai, Tamir (8 de dezembro de 2020). «Eyes on target: 'Stay-behind' forces during the Cold War». War in History. 0968344520914345 páginas. doi:10.1177/0968344520914345 – via SAGE Journals  p.16
  6. Sinai, pp.5-6
  7. Ballinger, Adam (1994). The quiet Soldier. [S.l.: s.n.] ISBN 978-1-85797-158-3 
  8. Sinai, Tamir (8 de dezembro de 2020). «Eyes on target: 'Stay-behind' forces during the Cold War». War in History. 0968344520914345 páginas. doi:10.1177/0968344520914345 – via SAGE Journals  p.12-13

Bibliografia adicional editar

  • (em inglês) Nato's Secret Armies: Operation Gladio and Terrorism in Western Europe, por Daniele Ganser, ISBN 0-7146-5607-0
  • (em francês)"Enquête parlementaire sur l'existence en Belgique d'un réseau de renseignement clandestin international, rapport fait au nom de la Commission d'enquête par MM. Erdman et Hasquin." Sénat de Belgique, 1990-1991 (ref. : 1117-4)

Ligações externas editar

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