Tainacan
Tainacan é um plugin de código aberto para WordPress, voltado para criação de repositórios digitais. Com foco na gestão e publicização de acervos digitais de diversas naturezas, o plugin é usado em especial por museus, instituições culturais e educacionais que buscam organizar e expor suas coleções, através de metadados customizados, filtros avançados e diferentes modos de visualização. Foi desenvolvido com a ideia de prover uma solução tecnológica para a difusão e interoperabilidade de acervos digitais que seja compatível com o cenário das instituições culturais brasileiras.[1] Sua origem está nas discussões acerca da construção de uma política pública de acervos culturais digitais no Brasil.[2] Desde seu lançamento em 28 de maio de 2018, o plugin tem ganhado popularidade em especial no Brasil e no México.
Tainacan | |
---|---|
Desenvolvedor | Comunidade Tainacan |
Plataforma | Web |
Modelo do desenvolvimento | Software Livre |
Versão estável | 0.18.6 |
Idioma(s) | Português, Espanhol, Inglês |
Sistema operacional | Linux, Windows, MacOS |
Gênero(s) | Repositórios Digitais |
Licença | GNU GPL v3 |
Estado do desenvolvimento | Ativo |
Página oficial | https://tainacan.org/ |
Repositório | https://github.com/tainacan/tainacan |
História editar
O projeto Tainacan teve início em 2014, coordenado por pesquisadores da Universidade Federal de Goiás, como o componente técnico e de pesquisa na concepção de uma política nacional de acervos digitais culturais, no Ministério da Cultura do Brasil. O Plano Nacional de Cultura (PNC), vigente nesse período, mencionava explicitamente a criação uma "política nacional de digitalização e atualização tecnológica de laboratórios de produção, conservação, restauro e reprodução de obras artísticas, documentos e acervos culturais mantidos em museus (...)".[3] Pesquisas realizadas sobre o tema mostravam que a construção de uma política de acervos culturais digitais para o país enfrentava desafios como a escassez de financiamento, a ausência de equipes qualificadas para lidar com o tema nas instituições e a elevada curva de aprendizagem gerada pela adoção de novas tecnologias da informação.[4]
De início não havia intenção de se desenvolver um software, mas sim investigar critérios de avaliação para sistemas de bibliotecas digitais e com eles se realizar a comparação de ferramentas de criação de acervos disponíveis no mercado.[5][6] O desenvolvimento do software surgiu a partir da publicação do edital de Preservação e Acesso aos Bens do Patrimônio Afro-Brasileiro, pelo Ministério da Cultura, com o objetivo de "mobilizar a sociedade civil e pesquisadores em particular em uma articulação ampla para uma Política Nacional de Acervos Digitais".[7] A inciativa buscava validar ideias, metodologias e processos de trabalho para elaboração dos insumos em torno da construção de uma política nacional de acervos digitais.
As pesquisas desenvolvidas apontaram desafios técnicos para a implementação da maioria dos sistemas nas instituições culturais brasileiras, justificando a elaboração de um protótipo que atendesse melhor aos desafios de gestão e difusão de acervos. Dentre as decisões tomadas neste processo, esteve a escolha da plataforma WordPress como base, para o aproveitamento do seu ecossistema de desenvolvedores, plugins e temas. O protótipo inicial foi elaborado como um tema, mas tal estratégia foi deixada de lado em favor da criação de um plugin em 2017, para que se permitisse a escolha de diferentes temas no futuro.
No ano de 2016, o Instituto Brasileiro de Museus em diálogo com o Ministério da Cultura decidiu adotar e promover o Tainacan como a solução técnica do projeto Plataforma Acervo.[8] O projeto tem por objetivo oferecer uma solução tecnológica para o campo as instituições museais e de patrimônio, visando a organização, difusão e gestão da documentação dos acervos. A partir desse ano, é então estabelecida uma nova cooperação entre o Ibram e a Universidade Federal de Goiás com esse objetivo.
A primeira versão do plugin Tainacan foi publicada no repositório de plugins do WordPress no dia 28 de Maio de 2018, sob o nome de Tainacan Alpha 0.1. Desde então, tem sido mantido por meio de bolsas de pesquisa e desenvolvimento via diferentes projetos financiados por instituições públicas e privadas. Através destes projetos, boa parte das funcionalidades criadas para o software são demandadas e validadas pelo uso nas instituições fomentadoras. Um dos primeiros acervos lançados neste esquema foi o do Museu do Índio, em novembro de 2018, com mais de 19.918 itens publicados.[9] Em dezembro do mesmo ano, o Museu Histórico Nacional inaugurava também seu acervo online usando o Tainacan, sendo o primeiro museu vinculado ao Instituto Brasileiro de Museus a fazê-lo, iniciando uma série de lançamentos que seguiriam nos anos seguintes.[10] Em meados de 2019, por meio de pesquisadores da Universidad Nacional Autónoma de México, iniciou-se a discussão para uso do Tainacan nos acervos de museus mexicanos, o que motivou a tradução do software para espanhol.
Em 2021, com o crescimento da comunidade, sua lista de emails de usuários foi substituída por um fórum Discourse, onde são discutidas dúvidas de uso em português, espanhol, francês e inglês.[11]
Recursos editar
Gestão do Acervo editar
No painel administrativo do Tainacan, é possível realizar a criação de coleções. Tais coleções são agrupadores conceituais de itens, os objetos digitais que compõem o repositório digital. Nas coleções, são definidos os metadados que servirão de descritores para os itens. Os metadados podem ser de diferentes tipos, dentre os quais estão:
- Texto simples;
- Texto longo;
- Número;
- Data;
- Lista de seleção;
- Taxonomia;
- Relacionamento;
- Usuário;
- Composto;
Diferentes tipos de metadado representam diferentes formulários para entrada dos dados, assim como diferentes formas de se criar filtros para se realizar buscas sobre estes dados.
Feita a configuração de metadados de uma coleção, pode-se criar itens, seja individualmente, seja utilizando-se de ferramentas de edição em massa ou importação de dados oriundos de planilhas em CSV. Cada alteração feita nestes processos é registrada através de um registro de logs, e há níveis de permissão de usuários para se delimitar que dados podem ser alterados ou não.
Nas versões 0.17 e 0.18 foram lançadas, respectivamente, as funcionalidades de se realizar a submissão pública de itens e o painel de relatórios com gráficos a respeito do acervo.
Exibição do Acervo editar
O Tainacan cria páginas na estrutura do site WordPress para exibição das listagens de itens configuradas no painel administrativo. Além da listagem de todos os itens e dos itens de cada coleção, é possível também se acessar listagens de itens por termo de taxonomia. Na página de um determinado item, é possível ver o documento em si, anexos e os metadados públicos.
Além das páginas geradas automaticamente, é possível se utilizar da estrutura de páginas do WordPress para se criar apresentações ao conteúdo usando os blocos gutenberg do plugin. Desde de sua versão 5.0, o WordPress usa como editor de conteúdo o esquema de blocos que podem ser configurados para se exibir diferentes conteúdos, sejam estes estáticos ou dinâmicos em uma página.[12] Um exemplo deste tipo de conteúdo seria um carrossel de itens de uma coleção do Tainacan, ou mesmo uma nuvem de palavras formada por termos de uma taxonomia.
Além do visual, o Tainacan também oferece a exposição dos dados através de uma API Restful, que busca permitir a criação de novas interfaces de consumo das informações públicas e projetos de interoperabilidade.
Nome e Identidade Visual editar
O nome Tainacan vem da lenda de Tainá-can dos povos indígenas Carajás. É uma entidade retratada por uma estrela, considerada a estrela vésper ou estrela d’alva, a primeira estrela a brilhar no anoitecer, possibilitando a percepção do espaço, suas diversidades, dimensões, galáxias e conexões.
O símbolo ou ícone usado na identidade visual faz referência a esta estrela através da intersecção de elementos. As cores usadas na identidade visual também têm papel importante de relacionar diferentes níveis da hierarquia na interface, sendo o azul escuro indicativo do nível repositório como um todo, e o azul turquesa representativo do nível de coleções.[13]
Tecnologia editar
Como plugin do WordPress, o Tainacan tem seu backend desenvolvido em PHP e banco de dados MySQL/MariaDB. O frontend do painel administrativo é um aplicativo de página única desenvolvido em Javascript, mais especificamente com a framework Vue.js, consumindo os dados do banco via API em JSON. Os blocos gutenberg, além do Vue usam também de React.
Referências editar
- ↑ Martins, Dalton; Martins, Luciana. «Desafios e aprendizados na implantação do Projeto Tainacan no Instituto Brasileiro de Museus» (PDF). Revista Eletrônica Ventilando Acervos: 91-107. Consultado em 7 de outubro de 2021
- ↑ Martins, Dalton; Miranda, Calíope. «Iniciativas brasileiras em torno da construção de uma política nacional para acervos digitais de instituições de memória: o desafio da memória em tempos de cultura digital.». Políticas Culturais em Revista: 16-46. Consultado em 9 de outubro de 2021
- ↑ BRASIL (2 de outubro de 2010). «Lei nº 12.343, de 2 de dezembro de 2010. Institui o Plano Nacional de Cultura/PNC, cria o Sistema Nacional de Informações e Indicadores Culturais/SNIIC e dá outras providências.». Brasília: Presidência da República. Casa Civil. Subchefia para Assuntos Jurídicos. Consultado em 19 de maio de 2010
- ↑ Balbi, F.M.; Zendron, P. «O setor de acervos memoriais brasileiros e os dez anos de atuação do BNDES: uma avaliação a partir da metodologia do Quadro Lógico.» (PDF). Revista do BNDES: 7-67. Consultado em 15 de dezembro de 2020
- ↑ MARTINS, Dalton Lopes; SILVA, Marcel F. (2017) [2017]. «Critérios de avaliação para sistemas de bibliotecas digitais: uma proposta de novas dimensões analíticas». InCID: Revista de Ciência da Informação e Documentação. 8 (1): 100-121. Consultado em 30 de maio de 2021
- ↑ MARTINS, Dalton Lopes; SILVA, Marcel F.; SIQUEIRA, Joyce (2018). «Comparação entre sistemas para criação de acervos digitais: análise dos softwares livres DSpace, EPrints, Fedora, Greenstone e Islandora a partir de novas dimensões analíticas». InCID: Revista de Ciência da Informação e Documentação. 9 (1): 52-71. Consultado em 30 de maio de 2021
- ↑ UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO (2013). «Edital: Preservação e acesso aos bens do patrimônio Afro-Brasileiro» (PDF). PROEXT/PROPESQUFPE. Recife. Consultado em 29 de maio de 2021
- ↑ «Acervo em Rede e Projeto Tainacan». Museus. Consultado em 9 de outubro de 2021
- ↑ «Museu do Índio lança acervo digital». 28 de novembro de 2021. Consultado em 5 de outubro de 2021
- ↑ «Museu Histórico Nacional publica acervo digital inédito com Tainacan». Consultado em 9 de outubro de 2021
- ↑ «Uma nova casa para a comunidade Tainacan». Site Oficial do Tainacan. 26 de maio de 2021. Consultado em 5 de outubro de 2021
- ↑ «A nova experiência de edição com Gutenberg». Consultado em 5 de outubro de 2021
- ↑ «Identidade Visual». Consultado em 5 de outubro de 2021
Ligações externas editar
- Site Oficial do Tainacan
- Wiki do Tainacan (Documentação)
- Discourse do Tainacan (Fórum de Discussão)
- Código Fonte no Github
- Tainacan Manual do Usuário