Teófanes (camareiro)

Teófanes (em grego: Θεοφάνης; romaniz.:Theophánes; fl. c. 925-945) foi um oficial palaciano bizantino e conselheiro chefe do imperador Romano I Lecapeno (r. 920–944) durante grande parte de seu reinado. Ele foi também um ativo e capaz diplomata, e liderou a defesa naval de Constantinopla contra a invasão rus' de 941.

Teófanes
Nacionalidade Império Bizantino
Ocupação Oficial e cortesão
Fólis do imperador Romano I Lecapeno (r. 920–944)
Selo do imperador Pedro I (r. 927–969) com Irene Lecapena (r. 927–966)

Vida editar

Nada se sabe sobre a origem e infância de Teófanes.[1] Aparece pela primeira vez nas fontes em outubro de 925, como protovestiário imperial, quando tornou-se o mais próximo conselheiro (paradinástevo) do imperador Romano I Lecapeno (r. 920–944) após a queda de do auxiliar chefe anterior, João Místico. Diferente de Místico, Teófanes provaria ser capaz e leal a seu mestre, e permaneceu a figura chefe do governo pelo restante do reinado de Romano I.[2][3][4]

Naquele tempo, o Império Bizantino estava enredado numa prolongada e desastrosa guerra com o Simão I (r. 893–927). Em 927, contudo, Simeão morreu, e seu filho infante, Pedro I (r. 927–969), ascendeu o trono sob a regência de seu tio Jorge Sursúbulo.[5] Apesar de suas vitórias, a Bulgária estava exausta de décadas de guerra, e estava por sua vez ameaçada nas fronteiras ao norte pelos magiares. Consequentemente, os búlgaros decidiram fazer a paz com Constantinopla. As negociações, que ocorreram em Mesembria, provaram-se bem-sucedidas: não apenas a paz foi acordada, mas os laços entre a Bulgária e o Império Bizantino foram fortalecidos pelo casamento dinástico de Pedro com Maria Lecapena, a neta do imperador bizantino.[6] Teófanes desempenhou um papel crucial nas negociações antes da assinatura final da trégua, e, junto com Sursúbulo, foi testemunha do casamento de Pedro e Maria.[4][7] Teófanes mostrou suas habilidades diplomáticas novamente em abril de 934, quando um grande raide magiar desceu pela Trácia. Ele encontrou os invasores em pessoa e alcançou termos para a retirada deles e para a libertação dos presos em trocas de somas em dinheiro.[8]

 
Frota comandada por Teófanes foi vitoriosa na guerra contra os rus' em 941. Iluminura do Escilitzes de Madri
 
Teófanes (direita, beijando a imagem) recebe o Mandílio. Escilitzes de Madri

Logo, contudo, Teófanes teria a oportunidade de adquirir glória militar também: no começo do verão de 941, os bizantinos receberam a notícia da Bulgária que uma frota rus' de aproximados 1 000 navios estava velejando em direção ao Bósforo e Constantinopla. Naquele ponto, a capital estava quase-indefesa, pois o exército lutava no Oriente sob João Curcuas e a marinha confrontava os árabes no mar Mediterrâneo.[9] 15 quelândios velhos foram descobertos em um dos portos de Constantinopla, preparados, equipados com sifões para lançar fogo grego, e colocados sob comando de Teófanes. O esquadrão improvisado encontrou os rus' na entrada do Bósforo, e com o fogo grego, expulsou-os.[10][11] A maioria dos atacantes então virou-se para leste e aportou na Bitínia, saqueando a província. Como as forças bizantinas locais reuniram-se lá e o exército começou a chegar do Oriente, os rus' viram-se cada vez mais restritos. Tentando evitar os bizantinos e retornar para sua terra natal, numa noite de setembro tentaram cruzar para a Trácia. Teófanes, contudo, que fora colocado sob comando da marinha inteira, estava vigilante e a frota rus' foi aniquilada. Teófanes retornou em triunfo à capital, onde foi elevado para o posto de paracemomeno como recompensa.[12][13]

Ao mesmo tempo, as vitórias de Curcuas no Oriente trouxeram não apenas novos territórios ao Império Bizantino: em 944, forçou a cidade de Edessa para entregar uma das relíquias mais sagradas da cristandade, o Mandílio. Teófanes foi enviado como chefe da delegação bizantina para recebê-lo de uma embaixada edessena no rio Sangário, e daí transmiti-lo a Constantinopla, onde foi recebido com grande pompa e cerimônia.[4][14] Este triunfo, contudo, seria o último de Romano. Seus filhos mais velhos e coimperadores, Estêvão e Constantino, derrubaram-o em dezembro de 944 e exilaram-o na ilha de Prote. Logo depois, outro golpe palaciano depôs-os também e restaurou o poder do imperador legítimo, Constantino VII Porfirogênito (r. 913–959).[15] Teófanes foi um dos poucos oficiais do regime anterior a permanecer no poder; logo, contudo, conspirou junto do patriarca de Constantinopla Teofilacto Lecapeno para retornar Romano de seu exílio e restaurá-lo ao trono bizantino. O golpe foi descoberto em algum momento em 947, e Teófanes foi deposto e exilado. A data e lutar de sua morte são desconhecidos.[4][16]

Referências

  1. Runciman 1988, p. 69.
  2. Runciman 1988, p. 68–69.
  3. Jenkins 1987, p. 241.
  4. a b c d Kazhdan 1991, p. 2061.
  5. Runciman 1988, p. 96.
  6. Runciman 1988, p. 96–97.
  7. Runciman 1988, p. 97–98.
  8. Runciman 1988, p. 105.
  9. Runciman 1988, p. 111.
  10. Runciman 1988, p. 111–112.
  11. Jenkins 1987, p. 250–251.
  12. Runciman 1988, p. 112.
  13. Jenkins 1987, p. 251.
  14. Runciman 1988, p. 230.
  15. Runciman 1988, p. 146–149.
  16. Runciman 1988, p. 235–236.

Bibliografia editar

  • Jenkins, Romilly (1987). Byzantium: The Imperial Centuries, AD 610–1071. Toronto, Ontário, Canada: University of Toronto Press. ISBN 0-8020-6667-4 
  • Kazhdan, Alexander Petrovich (1991). The Oxford Dictionary of Byzantium. Nova Iorque e Oxford: Oxford University Press. ISBN 0-19-504652-8 
  • Runciman, Steven (1988). The Emperor Romanus Lecapenus and His Reign: A Study of Tenth-Century Byzantium (em inglês). Cambridge: Cambridge University Press. ISBN 0-521-35722-5 

Precedido por
Desconhecido
Último mencionado: Constantino Bárbaro
Paracemomeno bizantino
941–947
Sucedido por
Basílio Lecapeno