Tesouro de Bedoya
O Tesouro de Bedoya é um conjunto de jóias de ouro datados nos séculos II – I a.C, e anéis e moedas romanas, encontradas em San Román de Doniños, e que se conserva no Museu Provincial de Pontevedra, na Galiza (Espanha).
Conformam o conjunto dois pares de arrecadas, uma diadema e anéis e moedas de época romana e da Idade do Ferro da Cultura Castreja.
História
editarSeu nome provém da família que o encontrou, já que a incerteza sobre o lugar do achado não permitiu dar ao conjunto um apelativo local.[1]
No momento da sua descoberta o achado de jóias pré-históricas com moedas de época romana marcou um fito na história da arqueologia galega, sendo um feito comum em outros achados da Península Ibérica.
A princípios dos anos 40 do século XX, no lugar de Chousa – Barca de Acima,[2] na paróquia de San Román de Doniños,[3] D. Francisco Bedoya Fojo mandou limpar as pedras de uma eira contígua à sua casa. Perto do antigo poço o servinte encontrou um pequeno recipiente de bronze com um conteúdo brilhante. Seu amo, frente da importância do encontrado, ocultou-o temeroso no desvão da sua casa durante aproximadamente dez anos, ao mesmo tempo em que ordenava remover completamente a eira na procura de mais tesouros.
Passou o tempo e numa visita de Justo Bedoya[4] e sua filha ao doutor Echevarri em Santiago de Compostela, disseram a este, apaixonado da numismática, o que tinham guardado. O doutor Echevarri pela sua parte comentou-o ao seu amigo e diretor do Museu de Pontevedra Xosé Filgueira Valverde e ambos acordaram que na próxima visita da família Bedoya à consulta levassem as peças. Filgueira Valverde verificou a autenticidade das peças e aconselhou à família que as depositassem num museu. Deste jeito a 12 de Outubro de 1953 o tesouro passou a fazer parte dos fundos do Museo Provincial de Pontevedra, em troca do pago por parte da Deputación Provincial de Pontevedra de 30.000 pesetas.
Características
editarO conjunto está composto pelas seguintes peças:
- Uma diadema de ouro.
- Duas arrecadas de ouro de tipo barquiforme.
- Duas arrecadas de ouro de tipo laberintiforme.
- Um anel signatário de ouro com entalhe.
- Um anel de ouro com uma ametista engarzada.
- Dois áureos, datados entre os anos 54 a 85 d.C., um de Nero e o outro de Domiciano.
- Vinte sete denários de prata datados entre os anos 63 a.C. a 91 d.C.
- Um recipiente, tigela de bronze com tapa, que continha no seu interior o tesouro.
O conjunto de jóias, finamente trabalhadas, são uma representação de um alto nível tecnológico e artístico da ourivesaria castreja e, ao mesmo tempo, mostra as relações com outras culturas afastadas.
A equipa do Grupo de Arqueologia da Terra de Trasancos valoram como possíveis assentamentos vinculados com o achado aos próximos Castro de Vilasánchez[5] e o Castro dos Mouros[6] a um quilômetro do lugar mas com contato visual com ele.
A procedência dos materiais com o que foram elaboradas as peças é muito difícil de determinar à falta de um estudo sobre a mineração na antiguidade na província da Corunha. Não faltam povoados castrejos nessas terras relacionados com a mineração como a próxima mina de Cobas, no lugar de Covarradeiras, paróquia de San Martiño de Cobas.
As arrecadas
editarTipologicamente um par é de tipo laberintiforme e o outro barquiforme:
- Laberintiforme. Decorada em ambas as caras com o fios funiculares coroando as lâminas e fios laminares no torso exterior. Encontraram-se exemplares com tipologia paralela em achados em Burela e no Castro de Baronha. Este tipo é denominado "IB de Pérez Outeiriño". As peças penduravam-se mediante um dupla sistema, pendurando uma pequena cadeia ou cordão, dos quais não ficam vestígios, e por meio de um sistema de pinzamento.
- Barquiforme. Conhecido como tipo "ID de Pérez Outeiriño". É de estrutura tubular aberta. Está decorada profusamente e cuidadosamente. Apresentam oito pares de moscas cada uma delas elaboradas com muito detalhe formando uma filigrana a base de fios, lamininhas e grânulos ordenados em pirâmide (um conjunto de quatro formas) ou isolados.
A diadema
editarTrata-se de uma peça trabalhada numa camada muito fina de ouro[7] com a forma de retângulo alongado, com os lados curvos e com um grande arco de arame grosso de seção retangular em cada extremo.
Quando chegou ao museu a peça encontrava-se fraturada em 3 pedaços e apresentava claras evidências de ter sido restaurada já na antiguidade.
Decora-se por meio da técnica do repujado, tanto usando estampilhas como punções. Adorna-se com uma série de motivos ordenados em 3 linhas de fileiras compostas por uma seqüência de circulinhos e pequenos pontos rodeando um friso central no qual se desenvolvem, uma cena composta por duas aves aquáticas, outra composta por motivos alongados colocados verticalmente, e o centro enquadrado por uma fileira de círculos. A faixa central decora-se com uma seqüência de aspas e diferentes temas nos lugares onde se cruzam.
Frente à meticulosidade do esquema decorativo contrasta a torpeza da execução, constatável nas irregularidades e falhos de fatura presentes na peça.
Notas
- ↑ como sim ocorreu com o tesouro de Caldas ou o da Agolada.
- ↑ coordenadas 43 22 35.6 N/ 8 28 54.6 W
- ↑ No antigo concelho de Serantes e hoje no atual concelho de Ferrol.
- ↑ Filho de Francisco.
- ↑ Também conhecido com o nome de Castro dos Pucheiros.
- ↑ Também conhecido como Castelo dos Gafos.
- ↑ "de 0,1 mm de grossura e com um peso de 17,75 gramas, tem 54 mm de largo e 410 mm de longo". BÓVEDA FERNÁNDEZ, María José: "As Diademas Castrexas de Galicia", Revista de Guimarães, Volume Especial, II, 1999, pp. 539-560.
Bibliografia
editar- (em galego) Vázquez Varela, J.M; Yzquierdo Perrín, R; García Iglesias, J.M e Castro, Antón (1996). 100 obras mestras da arte galega. Nigra Arte. [S.l.: s.n.] ISBN 84-87709-50-8
- «O tesouro de Bedoya: análise de localización. Grupo de Arqueoloxía da Terra de Trasancos. Anuário Brigantino 2000, nº 23. p. 11 a 20.» (PDF) (em galego)
- «BÓVEDA FERNÁNDEZ, María José: "As Diademas Castrexas de Galicia", Revista de Guimarães, Volume Especial, II, 1999, pp. 539-560» (PDF) (em galego)