Transplante cardíaco heterotópico

Transplante de coração heterotópico ou transplante cardíaco heterotópico (ou em inglês “piggyback” heart transplant) é um procedimento cirúrgico no qual o coração do doador é ligado ao coração do recetor sem remoção do órgão do recetor.[1]

Este procedimento foi desenvolvido na Cidade do Cabo, há cerca de 50 anos, pelo cirurgião cardíaco Christiaan Barnard (também responsável pela realização do primeiro transplante ortotópico). [2] [3]

Primeiro transplante editar

A primeira vez que Christiaan Barnard realizou este procedimento foi a 25 de novembro de 1974 num paciente com 59 anos, com historial de 10 anos de isquemia cardíaca (ou doença arterial coronária), fumador, diabético e com um elevado limiar renal de glicose; recorrendo ao uso do coração de uma jovem de 10 anos que morreu num acidente de viação. O coração do paciente manteve o seu batimento durante todo o procedimento médico e o coração da doadora começou a bater espontaneamente num ritmo sinusal logo após o restabelecimento da circulação coronária. No mês posterior à cirurgia o paciente sofreu de vários problemas cardíacos e do sistema circulatório, mas recuperou e ficou estável 1 mês após a operação. [4]

Segundo transplante editar

O seu segundo paciente foi um homem de 47 anos, com um longo historial de doença cardíaca reumática e insuficiência aórtica que foi operado a 31 de dezembro de 1974, data em que recebeu o coração de uma jovem de 17 anos que morreu devido a grave lesões na cabeça após um acidente de mota. Tal como na primeira cirurgia, o coração doado começou a bater assim que a circulação coronária foi restabelecida, mas neste caso o coração do paciente teve de ser eletricamente desfibrilado para começar o seu normal batimento. Ao contrário do primeiro procedimento, o paciente teve uma recuperação rápida e sem complicações. [5]

Situações aplicáveis editar

Os transplantes cardíacos heterotópicos são usados, principalmente, em duas situações: quando o paciente sofre de hipertensão arterial pulmonar e quando o coração do doador é muito pequeno para desenvolver as suas funções sem auxílio. [6]

Outra situação que pode levar os médicos a escolher fazer um transplante de coração heterotópico é o caso de pacientes (principalmente crianças) que estejam na lista de transplante de coração-pulmão; nestes casos pode ser mais viável realizar apenas o transplante de coração porque, geralmente, o tempo de espera é mais curto se só se transplantar o coração e a sobrevivência a longo prazo é maior para transplante de coração apenas. [7]

Outra vantagem deste tipo de transplante é o facto de o coração do paciente poder servir de bomba auxiliar em casos de extrema rejeição e disfunção temporária do coração transplantado. [8]

Casos de hipertensão arterial pulmonar editar

Nos casos de hipertensão arterial pulmonar a pressão sanguínea é muito elevada na artéria pulmonar (artéria responsável pelo transporte de sangue do coração para os pulmões) o que, frequentemente, acontece a pessoas com cardiomiopatia. Em síntese, a fragilidade do lado esquerdo do coração (lado que bombeia sangue para o corpo) cria um bloqueio que causa o aumento de pressão sanguínea nos pulmões que se prolonga pela artéria pulmonar até ao lado direito do coração; o lado direito do coração de indivíduos com esta condição é maior porque se adaptou à pressão excessiva. [7]

Este problema não pode ser resolvido apenas com um transplante ortotópico porque o novo coração não é capaz de se adaptar à pressão elevada rápido o suficiente, logo a opção mais viável é manter o coração do paciente e transplantar o coração do doador. [7]

Referências editar

  1. https://portugues.medscape.com/verartigo/6505705?form=fpf
  2. Left Ventricular Bypass C. N. Barnard, J. G. Losman; SA Medical Journal, 1 march 1975; pp 303 https://journals.co.za/doi/pdf/10.10520/AJA20785135_26829
  3. https://pt.wikipedia.org/wiki/Christiaan_Barnard
  4. Left Ventricular Bypass C. N. Barnard, J. G. Losman; SA Medical Journal, 1 march 1975; pp 305-308 https://journals.co.za/doi/pdf/10.10520/AJA20785135_26829
  5. Left Ventricular Bypass C. N. Barnard, J. G. Losman; SA Medical Journal, 1 March 1975; pp 308-309 https://journals.co.za/doi/pdf/10.10520/AJA20785135_26829
  6. Técnica operatória em transplante cardíaco Joaquim Coutinho, João Carlos Jazbik; Revista da SOCERJ, 2002; vol XV Nº3; pp 162 http://sociedades.cardiol.br/socerj/revista/2002_03/a2002_v15_n03_art05.pdf
  7. a b c Two hearts are better than one for teddler who undergoes historic operation; October 21, 2004 https://med.stanford.edu/news/all-news/2004/two-hearts-are-better-than-one-for-toddler-who-undergoes-historic-operation.html?microsite=news&tab=news
  8. From baby to man with a piggyback heart: long-term success of heterotopic heart transplantation Sebastian Holinski, Gerd Hausdorf, Wolfgang Konertz; European Journal of Cardio-Thoracic Surgery, Volume 49, Issue 1, January 2016, Pages 348–349; Case Report