Tuíre Kayapó

ativista dos direitos indígenas e do meio ambiente brasileira

Tuíre[nota 1] ou Tuíra Kayapó (Kokrajmoro, Amazonas, 1970) é uma líder e guerreira kayapó, ativista dos direitos indígenas e do meio ambiente. Tuíre recebeu visibilidade internacional após um registro fotográfico tirado no Encontro das Nações Indígenas do Xingu, realizado em Altamira no ano de 1989. Desde então, Tuíre permanece ativa na defesa de suas causas políticas.[3][4][5]

Tuíre Kayapó
Tuíre Kayapó
Tuíre Kayapó em 2019
Nome completo Tuíre Kayapó Mẽbêngôkre
Outros nomes Tuíra Kayapó
Conhecido(a) por ativismo indígena e socioambiental
Nascimento 1970 (54 anos)[1]
Kokrajmoro, Amazonas
Nacionalidade brasileira
Etnia kayapó (mẽbêngôkre)

Biografia editar

A mãe de Tuíre nasceu na aldeia Kokrajmoro, enquanto seu pai nasceu em Kubēnkrãkêj. Foi na aldeia Kokrajmoro que os pais de Tuíre se conheceram, e também o local de nascimento de Tuíre, que por lá residiu até seus 17 anos, até que se mudou para Kubēnkrãnkêj, onde seu pai havia nascido. O nome Tuíre foi atribuído à guerreira por sua avó e, segundo Tuíre, “foram os kubēns [brancos] que começaram a me chamar de Tuíra”.[2]

Encontro de Altamira editar

Em 1989, ocorreu em Altamira, no Pará, o 1º Encontro dos Povos Indígenas do Xingu com o objetivo, por parte da Fundação Nacional do Índio (FUNAI), em aumentar a participação dos povos indígenas na tomada de decisão de questões que os afeta diretamente.[6] Durante o encontro, Tuíre encostou um facão na face do então diretor da Eletronorte, José Antônio Muniz, em ato de protesto contra as falas de Muniz, que Tuíre considerou como centradas nos projetos econômicos da Eletronorte e à parte das questões indígenas, e também contra a depredação ambiental a ocorrer em Belo Monte, a fim de proceder a instalação de uma usina hidrelétrica sobre o rio Xingu.[7] Junto a este ato, que foi recebido por silêncio entre os participantes, Tuíre declarou: "“A eletricidade não vai nos dar a nossa comida. Precisamos que nossos rios fluam livremente. O nosso futuro depende disso. Nós não precisamos de sua represa".[8]

 
A foto icônica de Tuíre Kayapó, captada por Paulo Jares, durante o 1º Encontro dos Povos Indígenas do Xingu (1989)
"Há um vídeo que mostra a cena. Flashes de câmera espocam; há uma barreira de fotógrafos e participantes em torno da mesa de uma audiência pública em Altamira, no dia 21 de fevereiro de 1989. O cacique Kayapó Paulinho Paiakã e o ambientalista (à época deputado federal) Fábio Feldmann ladeiam o engenheiro, então diretor da Eletronorte, José Antônio Muniz Lopes. A jovem Tuíre está ornada com uma faixa de contas no cabelo sobre a testa, dois longos colares de miçangas (um azul, outro, vermelho). Suas mãos estão pretas pela mistura de carvão e jenipapo. Tuíre fala palavras indignadas primeiro batendo a lâmina do facão contra a superfície da mesa, depois brandindo-o no alto em frente ao engenheiro. Feldmann, em pé, então se senta. Tuíre, neste momento, pressiona a lâmina na face direita, em seguida na face esquerda de Lopes, cuja cabeça cede ligeiramente para os lados sob a pressão do instrumento. Tão logo realiza seu ato, Tuíre vira as costas para a mesa e sai. Por trás da mesa, um bloco de corpos masculinos permanece estático enquanto tudo se desenrola: os homens não se mexem, nenhum braço se levanta. Feldmann observa a reação do engenheiro e a saída de Tuíre." —Cássio Martinho[9]
 
Tuíre Kayapó no 14º Acampamento Terra Livre, 2017

Após a visibilidade que o ato de manifestação de Tuíre recebeu, o projeto da Eletronorte, que se chamava Usina Hidrelétrica de Kararaô foi rebatizado para Usina Hidrelétrica de Belo Monte.[10] Com o ato que realizou neste encontro, Tuíre se tornou mundialmente reconhecida graças ao registro fotográfico captado por Paulo Jares, que circulou o mundo estampando revistas e jornais.[11][12]

Ligações externas editar

Notas

  1. Tuíre é o nome original (endônimo) da líder kayapó, que lhe foi atribuído por sua avó.[2]

Referências

  1. «Território Kayapó sofre com expressivo processo de contaminação, desmatamento, destruição e garimpo ilegal». Mapa de Conflitos Envolvendo Injustiça Ambiental e Saúde no Brasil. Consultado em 8 de fevereiro de 2021. A informação foi baseada nesse trecho: "O evento foi internacionalmente conhecido não só pela agenda de reivindicações, mas também pelo enfrentamento direto da indígena Mebêngôkré/Kayapó Tuíra, então com 19 anos. Ela encostou a lâmina de seu facão no rosto do engenheiro da estatal, José Antonio Muniz Lopes, em um gesto de advertência, e este registro circulou na impressa local e internacional." 
  2. a b Ferreira, Luciana (1 de janeiro de 2019). «Multiplicidade encarnada». Escola de Ativismo. Consultado em 8 de fevereiro de 2021. "Mas, para termos certeza, perguntamos a ela: “E como você gostaria de ser chamada, então?” Ela responde com um sorriso: “Tuíre foi o nome que minha avó me deu! 
  3. Almeida, Marina (15 de março de 2020). «A força das mulheres indígenas». XIV Aldeia Multiétnica. Aldeia Multietnica. Consultado em 8 de fevereiro de 2021. Cópia arquivada em 8 de fevereiro de 2021 
  4. Ávila, Cristina (29 de abril de 2019). «Lideranças indígenas se mantêm em Brasília para audiências». Extra Classe. Consultado em 8 de fevereiro de 2021. Cópia arquivada em 28 de outubro de 2020 
  5. Éboli, Evandro (2 de maio de 2019). «Indígena que usou facão contra autoridade pressiona deputado bolsonarista». VEJA. VEJA. Consultado em 8 de fevereiro de 2021. Cópia arquivada em 27 de abril de 2019 
  6. «Como 'fim do mundo' causado por Belo Monte reuniu indígenas separados há quase um século». BBC News Brasil. Consultado em 8 de fevereiro de 2021 
  7. Fainguelernt, Maíra Borges; Fainguelernt, Maíra Borges (junho de 2016). «A trajetória histórica do processo de licenciamento ambiental da usina hidrelétrica de Belo Monte». Ambiente & Sociedade. Ambiente & Sociedade (2): 245–264. ISSN 1414-753X. doi:10.1590/1809-4422ASOC0259R1V1922016. Consultado em 7 de fevereiro de 2021 
  8. «Em um país anti-indígena – quando não querem ouvi-los – a imagem vale muito mais do que mil palavras». Revista Philos. 19 de abril de 2020. Consultado em 8 de fevereiro de 2021 
  9. Martinho, Cássio (7 de fevereiro de 2021). «Tuíra, a imagem». Escola de Ativismo. Consultado em 7 de fevereiro de 2021. Cópia arquivada em 1 de dezembro de 2020 
  10. Fleury, Lorena Cândido; Almeida, Jalcione (1 de dezembro de 2013). «A construção da Usina Hidrelétrica de Belo Monte: conflito ambiental e o dilema do desenvolvimento». Ambiente & Sociedade (4): 141–156. ISSN 1414-753X. doi:10.1590/S1414-753X2013000400009. Consultado em 7 de fevereiro de 2021. Cópia arquivada em 1 de dezembro de 2020 
  11. «Morre Paulo Jares, o fotógrafo de VEJA que revelou os conflitos amazônicos». VEJA. VEJA. 20 de agosto de 2019. Consultado em 8 de fevereiro de 2021 
  12. Fonseca, Lucas Milhomens (2018). Movimentos sociais e redes de mobilização na Amazônia: o caso da Hidrelétrica de Belo Monte (Tese de Doutorado) 
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