Usuário(a):Éric Gabriel Kundlatsch/Testes/textosAfrocentrismo

Página para rascunho e fichamento de textos para o verbete em desenvolvimento: Afrocentrismo (verbete original)

Bibliografia sugerida:

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  1. AFROCENTRICIDADE E PENSAMENTO DECOLONIAL: perspectivas epistemológicas para pesquisas sobre relações étnico-raciais (Maria Conceição Reis, Joel Severino Silva, Gabriel Swahili Sales Almeida) → dialoga com a lei do ensino das relações étnico raciais → apresenta uma introdução interessante e breve ao tema
  2. A invenção de uma tradição: as fontes históricas no debate entre afrocentristas e seus críticos[1] → Parece MUITO bom pra entender o debate mais recente e as críticas à ideia ←Primeiro Texto
  3. AFROCENTRISMO: ENTRE UMA CONTRANARRATIVA HISTÓRICA UNIVERSALISTAE O RELATIVISMO CULTURAL (P. F. De Moraes Farias)[2] → parece trazer uma boa visão geral do Afrocentrismo na discussão acadêmica até o início dos anos 2000←Segundo Texto
  4. Nossa África - ensino e pesquisa (João)
  5. Conhecimento de África, conhecimento de Africanos: Duas perspectivas sobre os Estudos Africanos (João)[3]
  6. Antiguidade e Afrocentrismo: crítica e mito na História Antiga, DURÃO, Gustavo de Andrade → (Felipe) → Aborda a questão da antiguidade (Egito)
  7. Miradas afrocêntricasem torno da africanização do Egito Antigo: entre racialização e identidades* → (Éric) → Egito

Fichamento do Texto 1:

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Bussotti, Luca; Nhaueleque, Laura António (7 de junho de 2018). «A invenção de uma tradição: as fontes históricas no debate entre afrocentristas e seus críticos». História (São Paulo): e2018005. ISSN 0101-9074. doi:10.1590/1980-4369e2018005. Consultado em 24 de agosto de 2023

A invenção de uma tradição
Página Conteúdo
p. 1 RESUMO
p. 2 O Afrocentrismo, liderado por Molefi Kete Asante, desafia o paradigma eurocêntrico, propondo a primazia da civilização africana, especialmente do antigo Egito, em diversos campos do conhecimento. Asante argumenta que o pensamento filosófico se originou no Egito, não na Grécia, fundamentando essa visão em duas principais fontes: a tradição africana e a análise histórica das origens da civilização egípcia. O artigo explora principalmente a segunda fonte, destacando o caráter ideológico e político da construção histórica, uma tendência presente em várias civilizações ao longo da história, incluindo o judaísmo e os estados-nações modernos.
p. 3 O debate entre Afrocentrismo e suas críticas está enraizado na compreensão da história como uma construção de tradição que frequentemente surge durante períodos de mudanças abruptas e desestabilização da ordem sociopolítica. Essas construções frequentemente entram em conflito com os princípios da ciência histórica, que enfatiza a apuração rigorosa dos fatos. O Afrocentrismo se destaca como um movimento que desafia o Eurocentrismo globalmente, buscando universalizar a interpretação da história de um povo (africanos) como um cânone aplicável a toda a humanidade. Enquanto Afrocentristas buscam usar a história como instrumento para corroborar ideologias, seus críticos defendem a busca pela reconstrução precisa e pontual dos fatos históricos. O Afrocentrismo, com seu desejo de afirmar a primazia da civilização africana e seu princípio de "harmonia" em escala global, entra em choque com a cultura hegemônica mundial, tornando-se parte do "choque das civilizações".
p. 4 O Afrocentrismo, conforme formulado por Asante, fundamenta-se em princípios que enfatizam a Humanização, Harmonização e a Primazia do Povo Africano e da Civilização Africana, onde as fontes históricas têm a função de corroborar essa matriz ideológica e filosófica, construindo uma nova tradição e ampliando a margem de liberdade subjetiva do historiador na interpretação dos fatos. Em face das críticas à sua fiabilidade científica, os afrocentristas frequentemente respondem acusando seus oponentes de eurocentrismo, levando a um debate frequentemente mais ideológico do que científico. O Afrocentrismo surge em um contexto político e cultural, marcado pelas lutas dos afro-americanos nas décadas de 1960 a 1980, favorecido por políticas como a Affirmative Action e o fim da discriminação racial nos EUA. Esse movimento desafia o paradigma hegemônico eurocêntrico hegeliano de hierarquia das civilizações.
p. 5 O surgimento do Afrocentrismo nas décadas de 1960 a 1980 nos Estados Unidos coincidiu com um ambiente político de descontentamento entre as classes médias e médio-baixas afro-americanas, que se sentiam desprotegidas politicamente em relação a seus direitos e oportunidades. Esse clima foi marcado por um retorno ao comunitarismo em oposição ao liberalismo predominante sob a administração de Reagan. O Afrocentrismo ofereceu uma resposta ao proporcionar uma narrativa que destacava a dignidade histórico-cultural e a possibilidade de construir uma identidade coletiva baseada nas raízes culturais africanas. A origem do Afrocentrismo remonta aos anos 1970, quando John Clarke fundou a African Heritage Studies Association (AHSA) em oposição à African Studies Association (ASA), composta principalmente por indivíduos brancos. A AHSA tinha como objetivo reconstruir a história e cultura africanas a partir de uma perspectiva afrocêntrica. O Afrocentrismo propôs uma revisão completa da história universal, dando destaque ao papel dos africanos e afro-americanos na formação da modernidade. Esse movimento coincidiu com os esforços de historiadores africanos para reescrever a história de seu continente, marcando uma mudança significativa na forma como a África era abordada na historiografia. [LIVRO UNESCO]
p. 6 Anta Diop e Obenga, opuseram-se à metodologia e às conclusões da monumental obra intelectual promovida pela UNESCO sobre a história da África. O ponto de divergência foi a metodologia adotada para escrever a história do continente africano. Enquanto a UNESCO defendia uma certa hierarquia das fontes, priorizando as semelhanças materiais do povos do continente, Anta Diop e Obenga propuseram uma abordagem radicalmente diferente, enfatizando a busca por ligações linguísticas entre os idiomas africanos e a identificação da raça (cor da pele) dos egípcios como objetivo central. Essa revolução metodológica não foi aceita pelos historiadores que trabalhavam na história da África sob a égide da UNESCO, mas tornou-se uma referência crucial para movimentos afro-americanos que compartilhavam a mesma perspectiva de submeter as fontes históricas a objetivos ideológicos e políticos precisos.
p. 7 Autores como Chinweizu, Morrison e outros contribuíram para essa tendência, destacando a necessidade de uma "afrocentricidade" que enfatizasse a cultura africana. O Afrocentrismo, conforme formulado por Asante, incorpora elementos dos clássicos do pensamento africano e afro-americano, como Du Bois, Marcus Garvey, Booker T. Washington e Malcom X, além de basear-se nos estudos de Anta Diop e Obenga. Este movimento propõe uma narrativa única que valoriza o polo afrocêntrico, buscando resgatar a identidade africana e afro-americana. No entanto, algumas críticas afirmam que o Afrocentrismo não é apenas um movimento intelectual, mas também uma espécie de religião secular ou utopia, e que pode refletir uma forma de europeísmo com uma face negra. A tensão entre a ideologia e a narrativa histórica será explorada em pontos subsequentes, examinando o uso de fontes filosóficas pelo Afrocentrismo, a questão da origem dos egípcios, a ideia do Egito como uma civilização "negra" e a influência dos egípcios na cultura africana e diáspora.
p. 8 O Afrocentrismo de Asante, é "Egitocêntrico" e defende a ideia de que a civilização egípcia desempenhou um papel central na formação do conhecimento humano, incluindo filosofia, religião, ciência e ética. Os afrocentristas, seguindo a abordagem de Anta Diop e Obenga, argumentam que os Egípcios influenciaram diretamente a cultura grega, o que, por sua vez, moldou a civilização ocidental. Os argumentos afrocêntricos incluem a ideia de que os africanos foram os fundadores de todas as culturas humanas, que os conceitos egípcios, como o "Noun" (princípio unificador), foram precursores de ideias gregas semelhantes, e que filósofos gregos como Sócrates e Platão foram influenciados pelos ensinamentos egípcios.
p. 9 Anta Diop argumenta que os africanos, em particular os egípcios, possuíam uma superioridade ética devido ao ambiente climático mais favorável em que viviam. Além disso, afirmam que o colonialismo e a escravidão sofridos pelos africanos conferem a eles uma autoridade moral superior aos europeus. No entanto, essas afirmações são contestadas com base em guerras internas na África pós-colonial e na participação africana no comércio de escravos.

Os afrocentristas atribuem o desenvolvimento ético à figura de Imhotep, considerado o "Deus dos escribas", e Ptahhotep, considerado o primeiro filósofo da humanidade. Eles argumentam que os princípios éticos egípcios, como a busca pela paz, justiça e equilíbrio, influenciaram a ética em outras culturas, incluindo a grega e a cristã. Os afrocentristas também defendem que o monoteísmo tem raízes africanas, incluindo a figura de Moisés, que é considerado africano, e a influência africana sobre o cristianismo, com argumentos relacionados à origem de Jesus e à contribuição de africanos para o pensamento cristão.

p. 10 Os Egípcios legaram importantes conhecimentos para a ciência (medicina e matemática) ocidental, no campo da filosofia, alguns afrocentristas acreditam que Sócrates era negro e que ele teria sido profundamente influenciado pelos sacerdotes egípcios, adquirindo conhecimentos e ensinamentos durante sua estada no Egito. Essa afirmação é usada para sustentar a ideia de que Sócrates desempenhou um papel central na transmissão da influência egípcia para a filosofia grega. No entanto, críticos contestam essa alegação, argumentando que não existem evidências sólidas para afirmar que Sócrates era negro e que essas afirmações se baseiam em inferências não comprovadas. Levanta-se o ponto de que a provas da provável ascendência ateniense de Sócrates, e não há relatos da época em que seja relatado este importante suposto traço do filósofo.
p. 11 Segue na refutação das ideias da herança da filosofia egípcia para a grega, alegando a impossibilidade de Aristóteles ter "roubado" as ideias egípcias na Biblioteca de Alexandria, que foi construída após sua morte. Em seguida, desvaloriza a contribuição africana para o desenvolvimento científico, argumentando que os paradigmas científicos modernos, que se baseiam na observação e nas leis naturais, só surgiram com os gregos, e ressalta que os Egípcios também estavam inseridos em uma rede de influências, e muito de seu conhecimento científico se deve ao contato com os sumérios.

Segue para o ponto onde debaterá a questão da origem dos egípcios como povo africano, ideia defendida pelos afrocentristas para sustentar a lógica do Egito Antigo como povo capaz de resumir as principais caraterísticas da tradição cultural africana, ideia defendida principalmente por Anta Diop, e que visa desbancar a teoria do Egito como civilização asiática, mediterrânea, ou ambos.

p. 12 É discutida a origem dos antigos egípcios, um tópico importante no contexto do Afrocentrismo. Anta Diop analisa várias hipóteses, incluindo a origem local no Baixo e Alto Egito e a origem asiática. Ele argumenta contra a ideia de que os egípcios eram de origem asiática, baseando-se na falta de evidência de uma civilização anterior e mais avançada capaz de colonizar o Egito. Além disso, ele destaca que as evidências arqueológicas apontam para o Alto Egito como o berço das primeiras formas de civilização egípcia. A discussão sobre a origem egípcia como negra também é mencionada, com referências a autores e correntes que promoveram o "mito do Egito misterioso" como berço da humanidade e da unidade cultural africana. Esse mito, associado à ideia da superioridade da raça negra, foi explorado por várias correntes, incluindo a maçonaria egitocêntrica e líderes afro-americanos como Marcus Garvey e influencia mesmo até a ideia do "rastafari". Cabe salientar a influência de textos maçônicos, que foram os primeiros a colocar o Egito como berço da civilização.
p. 13 Os afrocentristas buscam evidências da natureza negra da civilização africana em fatores ideológicos, arte, fontes histórico-literárias greco-romanas, elementos culturais, elementos linguísticos e antropologia física. No entanto, a argumentação mais convincente, de acordo com Anta Diop, relaciona-se com a suposta "falsificação da história" no século XIX, quando a grandeza da civilização egípcia foi descoberta por Champollion, mas foi revertida por seu irmão Champollion-Figeac devido a considerações políticas e coloniais que não permitiam que essa civilização fosse considerada negra. Esse processo de falsificação teria servido aos interesses do imperialismo europeu.
p. 14 Discute como a questão racial na civilização egípcia foi influenciada por interpretações divergentes das descobertas de Champollion. Champollion originalmente afirmou que os egípcios eram negros, com base em um baixo-relevo que representava as raças humanas conhecidas pelos egípcios. No entanto, seu irmão Champollion-Figeac começou a alterar essa interpretação, argumentando que a cor da pele e os cabelos lanudos não eram elementos suficientes para reconhecer os egípcios como negros. Anta Diop argumenta que essa mudança foi motivada por exigências políticas e coloniais do imperialismo europeu. O autor também menciona outros escritores, como Volney e Morton, que defenderam posições semelhantes sobre o papel dos africanos na história universal, mas cujas ideias foram suprimidas por apologistas hegelianos da história universal. Anta Diop e outros afrocentristas buscaram recuperar essas tradições e transformá-las em uma tentativa de estabelecer uma hegemonia cultural negra globalmente, embora suas teorias careçam de fontes históricas sólidas.
p. 15 Aborda as provas de natureza artística usadas pelo Afrocentrismo para argumentar que os antigos egípcios eram negros. Anta Diop e outros afrocentristas interpretam algumas representações picturais egípcias como evidência de que os egípcios eram negros, com base em uma leitura simbólica da cor da pele e dos cabelos. No entanto, muitos historiadores contemporâneos discordam dessa interpretação e argumentam que as diferenciações de cor na arte egípcia podem ser explicadas de maneira diferente, como simbolismo ou representação de inimigos. Além disso, destacam que a arte egípcia frequentemente retrata o Egito como superior aos seus vizinhos africanos e que a representação realista da cor da pele não era uma preocupação na arte egípcia, que tendia a ser estilizada. O autor também menciona a importância das pinturas nas tumbas de Ramsés III e Seti I, usadas por Anta Diop para argumentar a unidade racial e cultural entre egípcios e núbios, mas que foram contestadas por outros estudiosos como incorretas, desafiando assim a evidência central do Afrocentrismo.
p. 16 Discute as provas de natureza histórico-literária usadas pelo Afrocentrismo para argumentar que os antigos egípcios eram negros. O autor menciona que as fontes literárias não mencionam características raciais dos egípcios, o que leva os afrocentristas a recorrer a fontes posteriores e indiretas, como os escritos de Heródoto, Diodoro de Sicília e Gaston Maspero, bem como referências da Bíblia (Gênesis X, 6-16). No entanto, os críticos do Afrocentrismo questionam a credibilidade de Heródoto como historiador, argumentando que ele misturou narração literária e historiográfica e que suas fontes eram frequentemente de natureza oral e não confiáveis. Além disso, observam que Heródoto frequentemente tratava as civilizações fora de seu contexto principal de maneira secundária, o que poderia ter levado a imprecisões em suas descrições de culturas distantes no tempo e no espaço, como o Egito.
p. 17 Discute as inexatidões na cronologia e nas fontes literárias usadas pelo Afrocentrismo. Heródoto é apontado como um autor cuja credibilidade é questionável devido a várias razões, incluindo a inversão de cronologia ao colocar faraós de dinastias diferentes fora de ordem e a descrição de eventos sem evidências arqueológicas. Sua tendência de usar dramatização e seu estilo teológico na concepção da história também são citados como preocupações.

Além disso, Diodoro de Sicília, um escritor grego do século I, é criticado por usar fontes exclusivamente gregas, nunca egípcias, e por basear suas informações em testemunhas orais de informantes nativos que podem não ser confiáveis. Suas deduções, como a origem egípcia de heróis gregos, são consideradas mais baseadas em mitos do que em fatos históricos, levantando dúvidas sobre a validade de suas afirmações. Em geral, enfatiza as limitações das fontes literárias usadas para apoiar a ideia de que os antigos egípcios eram negros.

p. 18 Explora as provas culturais apresentadas pelo Afrocentrismo para estabelecer uma relação entre os antigos egípcios e as culturas africanas contemporâneas. Essas provas são de natureza mais indireta em comparação com as provas artísticas, histórico-literárias e históricas discutidas anteriormente.

Primeiro, são mencionados os elementos do totemismo, da circuncisão, da prática de Kingship (monarquia) e da cosmogonia como elementos compartilhados entre os egípcios e várias populações africanas contemporâneas. No entanto, o autor destaca que essas conexões são ambíguas e baseadas em interpretações, e as semelhanças podem ser superficiais. A composição social é outro ponto de comparação, com Anta Diop argumentando que a estratificação social do Egito era semelhante à de outras partes da África. No entanto, o autor observa que essa estratificação era comum em muitas sociedades antigas, não apenas no Egito, e questiona a validade dessa evidência. Além disso, o respeito mútuo entre os indivíduos no Egito é destacado como um princípio compartilhado em toda a África. No entanto, o autor menciona que a ideia de que a escravatura era rara ou benigna na África pré-colonial é questionável, já que havia evidências de escravatura em muitas sociedades africanas antes do colonialismo. O autor argumenta que as provas culturais apresentadas pelo Afrocentrismo para demonstrar uma unidade cultural africana são ambíguas e frequentemente baseadas em interpretações, e a ideologia desempenha um papel significativo na leitura dessas provas.

p. 19 O autor explora as provas linguísticas apresentadas pelo Afrocentrismo, que argumenta que a língua egípcia antiga está relacionada às línguas africanas contemporâneas. Anta Diop sugere que esses grupos linguísticos compartilham uma origem comum, mas o autor destaca que essa teoria é contestada por outras pesquisas, que argumentam que as línguas bantu, por exemplo, têm suas raízes em outras regiões da África. Destaca-se estudos recentes que demonstram que a linguagem pode sim ter se originado na África, mas não no Egito, como proposto pelos afrocentristas, mas sim na costa sul-ocidental, desbancando a teoria da unidade linguística africana com o centro no Antigo Egito.
p. 20 Aborda as provas da antropologia física e da genética apresentadas pelo Afrocentrismo para argumentar a origem africana e negra dos antigos egípcios. No entanto, ele destaca que esses dados contradizem essa visão, apontando para a análise dos crânios egípcios e estudos genéticos que sugerem que os antigos egípcios não eram nem "negros" nem "brancos", mas sim uma população com origens predominantemente indígenas e uma alta continuidade ao longo do tempo.
p. 21 O autor explora a ideia de difusionismo defendida pelo Afrocentrismo, que busca demonstrar a influência da cultura egípcia na cultura grega e, por extensão, ocidental. O difusionismo é utilizado para responder a duas questões fundamentais: comprovar a influência egípcia sobre a cultura grega e estabelecer a origem única das civilizações africanas contemporâneas a partir do Egito. O autor menciona quatro modalidades através das quais o Afrocentrismo busca alcançar esses objetivos: invasão militar egípcia na Grécia, transferências demográficas, trocas comerciais e a presença de intelectuais gregos nas escolas egípcias.
p. 22 Discute a utilização do difusionismo pelo Afrocentrismo como uma maneira de afirmar a influência egípcia na cultura grega e estabelecer uma origem comum para as civilizações africanas contemporâneas. No entanto, o autor argumenta que as fontes usadas pelos afrocentristas para sustentar essas influências egípcias são duvidosas, destacando que testemunhas como Platão e Heródoto não podem ser consideradas historiadores fiéis. Além disso, o autor questiona a validade das alegações de migrações massivas da África Oriental para o resto do continente, argumentando que as evidências históricas não sustentam essa teoria. Ele enfatiza que a polêmica em torno dessas questões é principalmente ideológica e filosófica, refletindo um desejo de desafiar a visão eurocêntrica da história e se propondo a romper o paradigma hegeliano da história.
p. 23 Neste trecho final do texto, o autor argumenta que a polêmica entre os afrocentristas e seus críticos é como um "diálogo entre surdos" porque ambos os grupos têm objetivos e abordagens diferentes. Os afrocentristas buscam reivindicar um lugar importante na história humana e criar um paradigma alternativo ao eurocêntrico, enquanto os críticos enfatizam a necessidade de rigor científico na pesquisa histórica.

O autor destaca a importância do historiador na análise das fontes para discernir entre a verdade e o mito. Ele argumenta que a metodologia para estudar a história africana não deve ser diferente da aplicada a outras áreas da disciplina e que a busca pela verdade deve ser a prioridade. Cita famoso historiador africano ao dizer "“A história Africana não precisa de regras especiais, de ‘invenções’, de idealizações românticas, de pias ilusões. Aquilo que é necessário é o mesmo que é necessário para qualquer outro tipo de história, a verdade, da maneira tanto completa quanto ela pode ser razoavelmente determinada” (WILLIAMS, 1964, p. 6)."

Fichamento do Texto 2:

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Farias, P. F. De Moraes (27 de janeiro de 2003). «Afrocentrismo: entre uma contranarrativa histórica universalista e o relativismo cultural». Afro-Ásia (29-30). ISSN 1981-1411. doi:10.9771/aa.v0i29-30.21061. Consultado em 24 de agosto de 2023

Afrocentrismo: entre uma contranarrativa histórica universalista e o relativismo cultural
Página Conteúdo
p. 317 Apresenta que abordará o tema a partir de 5 livros, e baseado no estudo de Wilson Jeremiah Moses. Defende que o “afrocentrismo” não é uma doutrina monolítica.
p. 318 Se apresenta como uma corrente tanto de pesquisadores e professores, quanto de universidades. Com a internet, ganha novo folego ao divulgar suas ideias. Reação ao racismo branco gera uma literatura "pitoresca ou extravagante". Surge nos estados unidos do século XIX, muito antes de ter partidários na própria áfrica, num momento que qualquer gota de sangue negro já servia para identificar como "negro". Tem como colaboradores vários autores brancos (muitos judeus) e negros.
p. 319 Os cinco trabalhos que abordam uma vertente do afrocentrismo centrada no Egito antigo, que eram negros, semelhantes aos africanos sub-saarianos, e os considera como a fonte da civilização grega e ocidental. Argumentam que todas as culturas africanas descendem do Egito. O primeiro livro, "History in Black", compara narrativas afrocêntricas com narrativas judaicas antigas e explora a história do Egito nas fontes clássicas. O autor, Shavit, aborda o afrocentrismo como parte de movimentos que buscam raízes tribais ou raciais no passado distante, semelhantes ao pan-eslavismo e pangermanismo.
p. 320 "History in Black," de Shavit, analisa o afrocentrismo em relação às relações entre as comunidades judias e negras nos Estados Unidos. Ele argumenta que sua pesquisa não foi motivada por essas tensões, mas sim pelos paralelos estruturais nas respostas à modernidade dadas por afro-americanos e judeus desde o século XIX. Ambas as comunidades buscaram demonstrar sua riqueza em civilização para combater preconceitos arraigados na cultura ocidental da época.
p. 321 Aborda a visão de judeus "caananitas" que abordam o pan-hebraísmo e alegam que os hebreus foram a primeira civilização colonial da história, espalhando colônias por todo o mediterrâneo. Também revisita os clássicos gregos. Duas correntes similares em método (pan-hebraismo e afrocentrismo)
p. 323 Saber secreto -> arca da aliança -> permitiu colombo chegar às américas. Relaciona os antigos hebreus com a influência grega nas filosofofias e nas ciências, de forma similar às ideias afrocentristas.
p. 324 Citação comum em universidades americanas de que os egipcíos já possuiam aeroplanadores, de forma a coloca-los na sociedade científico-tecnológica moderna. Debate entre assimilacionismo e separatismo dentro do afrocentrismo. Considera o autor de Afrotopia, Wilson Jeremiah Moses, de-masiado  confiante  de  que,  nos  Estados  Unidos,  o  afrocentrismo  sejaapenas uma tradição popularesca inofensiva e alega que o livro Wonders, do estudioso afro-americano Henry Louis Gates Jr. faz concessões ao afrocentrismo radical.
p. 325 Afrocentrismes -> importância de estudar também ao sul do equador, na áfrica austral e na américa do sul, para além da anglofonia e da francofonia. Destaca o maior interesse na frança para aprender língua egípcia antiga (benéfico para a egiptologia) e destaca o recente aparecimento, na África, de narrativas orais neotradicionais sobre antigas migrações a partir do Egito.

É de se prever uma aliança entre afrocentristas e a narrativa pós-colonial. AQUI CITA DIOP E ASANTE. discutem um projeto ainda em curso: Black Athena, de Martin Bernal. Aborda lado a lado a narrativa eurocêntrica e a afrocêntrica --> na pressa de refutar o afrocentrismo, reproduz a ideia deles de que não há nada além dos dois. "Negróides" na América pré-colombiana (?)

p. 326 Crítica a Obenga (discípulo de Diop) em relação a tese da formação dos idiomas bantu, alegando levar uma ideia européia da difusão dos idiomas indo-europeus. Problema na interpretação das cores das imagens egípcias, que eram de natureza simbólica e não naturalística. "Na  Parte  4  de  Afrocentrismes,  Vittorio  Morabito  analisa  textos judaicos e bíblicos que inspiraram o rastafarianismo, as igrejas “etiopianistas”da África do Sul, e também a African Hebrew Israelite Community (Co-munidade  Africana  Hebraica  Israelita),  fundada  em  Chicago  em  1965" --> IMPORTANTE PARA FALAR DA RELIGIÃO
p. 327 Christine Douxami -> representação de faraós no carnaval de salvador. Renascenças das ideias de Diop no movimento Renascença Africana na África do Sul. --> Destaca a importância de Black Athena.
p. 328 Projeto Black Athena como fracasso político e de pouca utilidade para populações africanas e asiáticas --> modelo "científico" de historiografia já superado de Bernal e entendimento superficial de ideologia, tanto antiga, quanto moderna. --> resultou em posições racistas e anti-semíticas entre alguns afrocentristas. Pretende demonstrar às influências semítica nos egípcios aos afrocentristas e a contribuição egípcia aos gregos para os estudiosos brancos. Para Pathé Diagne, Bernal quer uma semitização da história do Egito e da Núbia, e não apenas da Grécia e da Mesopotâmia.
p. 329 Bernal tenta uma aliança entre afro-americanos e judeus americanos. Resposta hostil de Obenga ao Afrocentrismes. Polêmica do termo Kmt.
p. 330 Polêmica do termo Kmt como "terra negra" ou como "O Negro" que se referiria à origem negra dos egípcios. -> "melanésia" "áfrica negra" -> expressões criadas a partir de seus observadores.
p. 331 The Painful Demise of Eurocentrism, de Asante -> nega a aproximação com o pós-modernismo, criticando estruturalistas e marxistas.
p. 332 The Painful Demise -> declara que o afrocentrismo visa substituir uma arquinarrativa única, hegemônica e universalmente falsa por outra. Asante chama a atenção para a existência de afrocentristas “chineses, holandeses, alemães e japoneses”. os africanos “não projetam nenhum universalismo que não seja um esforço e projeto combinado, coletivo, daraça humana”. Não nega a acusação de "psicologismo", inclusive reforça os perigos psicológicos embasado em Franz Fanon.
p. 333
p. 334
p. 335
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p. 337
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p. 342
p. 343

Ideia de Estrutura

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[Pensei nessa estrutura após ler o primeiro texto]

Afrocentrismo

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O Afrocentrismo é uma perspectiva cultural, histórica e política que enfatiza a centralidade da cultura africana e da diáspora africana na história da humanidade. Este movimento desafia o paradigma eurocêntrico, que historicamente colocou a Europa como o centro do mundo, reivindicando a importância das contribuições africanas para a civilização global.

História

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O Afrocentrismo, liderado por figuras proeminentes como Molefi Kete Asante, Anta Diop e Obenga, emergiu nas décadas de 1960 a 1980, coincidindo com um período de descontentamento entre a população afro-americana, que buscava uma identidade cultural sólida e a revalorização de suas raízes africanas. Este movimento se destaca como um desafio ao eurocentrismo, buscando uma narrativa que valorize a primazia africana na história universal.

Fundamentos Ideológicos

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Os fundamentos do Afrocentrismo incluem a busca pela humanização, harmonização e a primazia do povo africano e da civilização africana. Os afrocentristas argumentam que muitos dos princípios filosóficos e culturais que influenciaram a civilização ocidental têm raízes na África, especialmente no antigo Egito. Eles acreditam que os egípcios desempenharam um papel central na formação do conhecimento humano, incluindo filosofia, religião, ciência e ética.

Conflito com a Perspectiva Eurocêntrica

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O Afrocentrismo entrou em choque com a cultura hegemônica mundial, tornando-se parte do "choque das civilizações". Os afrocentristas defendem a ideia de que as contribuições africanas foram sistematicamente subestimadas pela narrativa eurocêntrica. Esse conflito ideológico levou a debates acalorados sobre a validade das alegações afrocentristas.

Questões de Origem e Raça

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Uma das questões centrais do Afrocentrismo diz respeito à origem e raça dos antigos egípcios. Argumenta-se que eles eram africanos negros, e essa afirmação é usada para sustentar a ideia do Egito Antigo como um povo capaz de resumir as principais características da tradição cultural africana. No entanto, essas alegações são contestadas por críticos que enfatizam guerras internas na África pós-colonial e a participação africana no comércio de escravos.

Evidências Apresentadas
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Os afrocentristas apresentam várias formas de evidência para apoiar suas alegações, incluindo provas artísticas, literárias, históricas, culturais, linguísticas e antropológicas. No entanto, muitas dessas evidências são interpretadas de maneira ideológica e carecem de fundamentação sólida. Críticos questionam a validade das fontes usadas e a interpretação dada a elas. Linguísticas: [4][5]

Controvérsias

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O debate entre afrocentristas e seus críticos é complexo e muitas vezes polarizado. Enquanto afrocentristas buscam reivindicar um lugar importante na história humana e criar um paradigma alternativo ao eurocêntrico, seus críticos enfatizam a necessidade de rigor científico na pesquisa histórica. Essa controvérsia é como um "diálogo entre surdos", onde ambos os lados têm objetivos e abordagens diferentes.

Referências

  1. Bussotti, Luca; Nhaueleque, Laura António (7 de junho de 2018). «A invenção de uma tradição: as fontes históricas no debate entre afrocentristas e seus críticos». História (São Paulo): e2018005. ISSN 0101-9074. doi:10.1590/1980-4369e2018005. Consultado em 24 de agosto de 2023 
  2. Farias, P. F. De Moraes (27 de janeiro de 2003). «Afrocentrismo: entre uma contranarrativa histórica universalista e o relativismo cultural». Afro-Ásia (29-30). ISSN 1981-1411. doi:10.9771/aa.v0i29-30.21061. Consultado em 24 de agosto de 2023 
  3. Hountondji, Paulin J. (1 de março de 2008). «Conhecimento de África, conhecimento de Africanos: Duas perspectivas sobre os Estudos Africanos». Revista Crítica de Ciências Sociais (80): 149–160. ISSN 0254-1106. doi:10.4000/rccs.699. Consultado em 24 de agosto de 2023 
  4. Ngugi wa Thiong'o (2011). Decolonising the mind: the politics of language in African literature. Col: Studies in African literature Reprinted ed. Oxford: Currey [u.a.] 
  5. Santos, Artur Epifanio dos (14 de setembro de 2020). «DA TESE DE DIOP ÀS CONTRANARRATIVAS DO EGITO NEGRO: OUTRAS EPISTEMOLOGIAS NUMA ESCOLA PLURIDIMENSIONAL». Interfaces Científicas - Direito (2): 311–328. ISSN 2316-381X. doi:10.17564/2316-381X.2020v8n2p311-328. Consultado em 26 de outubro de 2023