Mia Mäkelä (nascida a 6 Maio 1971), também conhecida como VJ Solu, é uma artista que combina video e performance nos trabalhos artísticos. O seu trabalho inclui, para além da performance, documentários, projectos de investigação e textos teóricos. O termo Live Cinema é uma designação que ficou largamente conhecida na Europa graças à sua tese de Mestrado sendo uma prática artística onde detém notoriedade internacionalmente.

Apresentou as suas performances e fez apresentações em todo o mundo, destacando-se o festival Ars Electronica (Linz), Museum of Contemporary Art Kiasma (Helsinki), Transmediale (Berlin), Konzerthaus (Vienna), USC (Los Angeles), USP (São Paulo), National Museum of Women in the Arts (Washington), Festival do Rio de Janeiro (Rio de Janeiro), Ex Teresa Arte Actual Museum (Mexico City), Cimatics (Brussels), New Forms Festival (Vancouver), BANFF Centre (Alberta) e CaixaForum (Barcelona).

Biografia editar

Mia Makela graduou-se em 1996 na Tampere School of Arts and Communications na Finlândia[1]. Concluiu o Mestrado em Novos Média em 2006 na Universidade de Arte e Design de Helsinkia. Viveu em Barcelona, Espanha, entre 1999 e 2008 e em Berlim, Alemanha, entre 2009 e 1012. Desde 2012 que vive na Finlândia onde está ativamente envolvida na investigação da história da cultura.

Mia Makela iniciou as suas actividades no contexto do media arte na década de 1990 altura em que se destacou como Diractora Artística em diversas empresas na Finlândia. Entre os diversos trabalhos contam-se os CD-Roms "China Discovery" (1996), "Batcave" (2000) que descreve a história de um espaço ocupado em Helsinkia, e "Passenger" (2000) sobre trajectorias do quotidiano.

Como elemento do colectivo fiftyfifty (1999-2002), organizou as oficinas Hacker Techniques, os laboratórios de som com Gameboys e o evento Playtime-live, entre outros. Uma conversa sobre estes assuntos, com Vanni Brusadin, foi publicada no livro Anarchitexts-Essays in Global Digital Resistance [2], um livro que contém ensaios radicais sobre assuntos na interligação entre as artes, a tecnologia, as culturas autónomas e as políticas do futuro. Como curadora, no contexto do ciberfeminismo, apresentou trabalho em Constanze, Brusxelas, com artigos seus publicados em diversos catálogos e revistas.

Como agitadora cultural, foi um elemento activo da cena A/V em Barcelona entre 2000 e 2008, através da organização de oficinas, a curadoria de eventos audiovisuais, exposições e festas para o Festival Sonar, ArtFutura e CCCB entre outros[3]. Organizou o Wooshiwooshi - Electronic Avalanche (2003) como parte do OFF-Sonar, em Barcelona. Este foi um evento audovisual que apresentou, na sua maioria, performances por mulheres como intensão de trazer à atenção o reduzido número de mulhers que se apresentam anualmente no festival Sónar. O seu programa de rádio, FEMMEF na estação de rádio de cariz feminista RadioPaca, baseada em Barcelona, centrava-se na apresentação de música electronica feita por mulheres. Neste programa trabalhou em proximidade com a rede internacional Female Pressure, constituida por artistas mulheres, transgenero e género não binário. É parte do catálogo LARM que reúne mulheres artistas dos países nórdicos.

Em 2004 lançou o dorkbot.org apresentando trabalho de pessoas que fazem coisas estranhas com electricidade na galeria Metronom em Barcelona. O evento atraiu grande audiência e com este evento obteve uma entrevista na revista Rolling Stone.

VJing editar

Mia Makela inicou o seu percurso na performance audiovisual como parte integrante do grupo de improvisação DADATA em 2001, um projecto desenvolvido em torno da arte radical ligada com o projecto de software NATO. Foi o encontro com este grupo que a motivou a iniciar a incursão nos visuais manipulados ao vivo[4]. Depois da dissolução do grupo DADATA, em 2002, Mia Makela seguiu uma carreira a solo como VJ SOLU. No ano seguinte, a sua performance visual com a música de Heidi Mortenson abriu o festival Transmediale em Berlim. Desde então tem feito performances por todo o mundo. Entre as muitas parcerias com DJs e artistas sonoros, destacam-se as suas participações no Zagreb Biennale of Music (2003), festival Cimatics, Bruxelas (2003, 2008), Museum of Contemporary Art de Helsinkia (2003), SONIC ACTS, Amsterdão (2002,2004), SONAR, Barcelona (2004,2005), AVIT, Birmingham (2003), MAPPING, Genebra (2005) e TRANSIT_MX na Cidade do México (2005).

Live Cinema editar

Por volta do ano de 2006, na procura de uma abordagem mais dialogante, ocorreu uma mudança de contexto no seu trabalho. No sentido de enquadrar o seu trabalho diferenciando-se da cena clubbing e dos festivais audiovisuais, desenvolveu o contexto em torno da designação Live Cinema como tema da sua tese de mestrado. O nome da tese, "LIVE CINEMA - language and elements", foi lhe concedido pela Universidade de Arte e Design de Helsinkia em 2006). A tese está publicada online e a partir dela Mia Makela apresentou-a inúmeras vezes. Este termo tem sido utilizados por muitos artistas como resposta a preocupações de contexto semelhantes.

“Live Cinema is often considered to be another branch of VJing (Video Jockey). However, although VJs and Live Cinema practitioners share the same software and similar methods, their contexts are different, ... As such, many Live Cinema creators feel the need to separate themselves from the VJ scene altogether, in order to establish their own artistic goals, which would rarely find an appreciative audience in the club environment”[5]

Em busca de narrativas não lineares através da linguagem visual nas suas performances, Mia Makela, e vez de texto, tem preferência por som e iamgem. As performances de Mia Makela têm sido descritas como contendo o foco mistico e narrativas oniricas[6]. Estudiosa do shamanismo, a própria artista refere-se à sua ação enquanto performer como um acto shamânico. Referências à poesia visual de William Blake têm sido identificadas nas suas performances. O realizador Andrei Tarkovsky é uma influência central, como identificado pela própria artista no seu texto publicado no livro "Cinemas Transversais", resultante de uma conferência proferida na Universidade de São Paulo, Brasil. A Kaamos Trilogy, um conto audiovisual sobre a iluminação é dedicado ao realizador. Para além desta trilogia, Mia Makela é autora de IX (2009) e Suonombra (2011). Ambas as performances recorrem às forças da natureza da Islândia como inspiração. O material de base para as performances provém igualmente da Islândia. O seu trabalho é definido por recorrer do processamento de material videográfico através do cálculo de algoritmos até que o material original se tranformar em sintético e irreal.

Os espectáculos comissariados incluem a remistura dos filmes de Almodovar, com a orquestra da RTVE e em colaboração com a equipa de produção do realizador, para o evento Noche en Blanco (2008) em Madrid e a remistura do filme Secrets of the Soul, um dos primeiros filmes sobre psicoanálise, do realizador G.W. Pabst, em colaboração com a violoncelista Mia Zabelka e apresentado no Konzerthaus em Viena, Áustria. É da sua autoria a peça TV-Jam (2006) apresentada na Fundación Rodríguez, em Vitoria. Em 2007 misturou jogos de video arcade no CCCB, em Barcelona. Outras aventuras na cena audiovisual incluem visuais generativos para os concertos de Zabelka: M (2011) e Z (2013) em colaboração com a programadora Eva Schindling. Em 2013 criou os visuais para a ópera Figure de la Terre, em Berlin, onde utilizou animação ao vivo e visuais generativos.

Trabalhou para o Ministério da Educação de Espanha no processo que levou à confirmação de VJ como uma profissão oficial em 2008. Em 2015, recebeu uma comissão do AVA-festival em Birmingham para a construção de uma linha do tempo do audiovisual. (http://www.tiki- toki.com/timeline/entry/374072/LIVE-AV-Trajectories/#vars!date=1193-07-29_23:06:47!) Os artigos sobre Live Cinema e Cultura Digital foram publicados em diversas línguas, entre elas, checo e basco. O seu objectivo tem sido trazer as mulheres para as práticas do VJing e Live Cinema. Nesse sentido organizou a oficina entitulada "VJ workshop for girls" (2003) em aldeias remotas da Catalunha e tem influenciado centenas de estudantes por todo o mundo. A extensa lista de colaboradores inclui DJ Rupture, Miguel Marin, Hildur Guddnadottir, Mia Zabelka, Crossroads, Zahra Mani, Dudu Tsuda&Marcus Bastos, Pekka Kuusisto, Tero Vänttinen, Miika Hyytiäinen, James Andean, Heidi Mortenson, DADATA entre outros. As colaborações em performances Spoken word inclui Ray Loriga e Kate Pendry.

Outros projectos editar

A partir de 2010 os seus trabalhos artísticos têm uma componente de investigação mais profunda numa aproximação a assuntos relacionados com a ecologia e com preocupações políticas e sociais. Destas mudanças resulta o projecto Green Matters – Handbook for algae gatherers (2011) que parte de um processo de decoberta de diversas áreas do conhecimento, entre elas a biologia marinha, processos tradicionais de weaving, sustentabilidade, políticas regionais do Mar Báltico bem como preservação natural. A investigação decorreu ao longo de dois anos e o resultado é um manual em vídeo que viu a sua primeira exibição no Turku2011 Capital Cultural Europeia. Desde então já foi apresentado em diversos eventos, entre eles Imagining Science-network of screenings em New York (2014), Berlin (2014) e Abu Dhabi (2015). Outro projecto, Healing Heritages (2012-2013), consiste na documentação das prátcias tradicionais dos curandeiros adivasi a partir de uma viagem com percurso por diversas aldeias indigenas na índia. Zootopia (2015) é apresentado como um guia áudio feminista e alternativo ao Zoo de Helsinkia e é baseado em investigação de campo bem como da história dos zoos combinado com a investigação mais recente sobre animais não humanos.

Para além do seu trabalho artístico, desenvolveu também alguns conceitos culturais: Night of the Beamers, um evento de projecções para o festival AAVE que decorre em Helsinkia (2014-). Gold Diggers, uma oficina onde se ensina a reciclar lixo electronico com o Trashlab para o festival Pixelache (2014); Cabin Walks & Talks (2016) que consiste em incursões de campo em grupos constituidos por artistas e cientistas. Tem sido elemento activo em diversas organizações destacando-se o seu trabalho para o festival Pixelache.

Referências

  1. http://www.av-arkki.fi/en/artists/mia-makela_en/#sthash.k6YJhvvp.dpuf
  2. Richardson, Joanne (Ed.) (2005). Anarchitexts: Voices from the Global Digital Resistance. Autonomedia.
  3. Interview: Mia Makela, a.k.a. VJ SOLU, by Jean Poole, 18 October 2005 - http://www.e-poets.net/PlainText/page05-003a.shtml
  4. Interview: Mia Makela, a.k.a. VJ SOLU, by Jean Poole, 18 October 2005 - http://www.e-poets.net/PlainText/page05-003a.shtml
  5. Mia Makela (Ed.) (2008). Introduction. LIVE CINEMA, in a:minima magazine. http://media.wix.com/ugd/537cac_cc46e8f84d404f85932d1b1734dff20b.pdf
  6. http://proyectoidis.org/mia_makela/

Bibliografia editar

Makela, Mia (2016). O processo de composição de visuais em tempo real. In Moran, Patricia (Ed.) Cinemas Transversais. P.187 – 190. São Paulo: Illuminuras. Mia Makela (Ed.) (2008). Introduction. LIVE CINEMA, in a:minima magazine.


Ligações Externas editar

http://miamakela.net https://vimeo.com/user372251 https://monoskop.org/Mia_Makela