William Blake

artista e poeta inglês da Era Romântica

William Blake (Londres, 28 de novembro de 1757 – Londres, 12 de agosto de 1827) foi um poeta, pintor e tipógrafo inglês. Em grande parte não reconhecido durante sua vida, Blake é agora considerado uma figura seminal na história da poesia e das artes visuais da Era Romântica. O que ele chamou de suas "Obras Proféticas" foi dito pelo crítico do século 20, Northrop Frye, como "o que é em proporção aos seus méritos o corpo de poesia menos lido na língua inglesa".[2] Sua arte visual levou o crítico do século 21, Jonathan Jones, a proclamá-lo "de longe o maior artista que a Grã-Bretanha já produziu".[3] Em 2002, Blake foi colocado em 38º lugar na votação da BBC dos 100 maiores britânicos de todos os tempos.[4] Enquanto ele viveu em Londres toda a sua vida, exceto por três anos passados em uma vila em Felpham,[5] West Sussex, ele produziu uma coleção diversificada e simbolicamente rica de obras, que abraçavam a imaginação como "o corpo de Deus"[6] ou "a própria existência humana".[7]

William Blake
William Blake
Retrato de William Blake, por Thomas Phillips
Nascimento 28 de novembro de 1757
Soho, Londres
Morte 12 de agosto de 1827 (69 anos)
Charing Cross, Londres[1]
Batizado 11 de dezembro de 1757
Residência Green Street, Broadwick Street, Broadwick Street, Poland Street, Hercules Buildings, Felpham, South Molton Street, Fountain Court, Battersea, Broadwick Street
Sepultamento Bunhill Fields
Nacionalidade Inglês
Cidadania Reino Unido da Grã-Bretanha e Irlanda, Reino da Grã-Bretanha
Etnia ingleses
Progenitores
  • James Blake
  • Catherine Hermitage
Cônjuge Catherine Blake
Irmão(ã)(s) Robert Blake, James Blake, John Blake, Richard Blake, Catherine Elizabeth Blake
Alma mater
  • Royal Academy Schools
  • Escola de Desenho Henry Pars
Ocupação Poeta, pintor, impressor
Principais trabalhos Canções de Inocência e de Experiência, O Casamento do Céu e do Inferno, Jerusalém
Género literário Poesia visionária
Movimento literário Romantismo
Obras destacadas O Matrimônio do Paraíso e o Inferno, Jerusalem, Songs of Innocence and of Experience, Vala, or The Four Zoas, Jerusalem The Emanation of the Giant Albion, Milton, O ancião de dias
Movimento estético romantismo, pintura de fadas
Assinatura

Blake viveu num período significativo da história, marcado pelo iluminismo e pela Revolução Industrial na Inglaterra. A literatura estava no auge do que se pode chamar de clássico "augustano", uma espécie de paraíso para os conformados às convenções sociais, mas não para Blake que, nesse sentido era romântico, "enxergava o que muitos se negavam a ver: a pobreza, a injustiça social, a negatividade do poder da Igreja Anglicana e do estado".[8]

Infância editar

Blake nasceu na "28ª Broad Street", no Soho, Londres, numa família de classe média. Seu pai era um fabricante de roupas e sua mãe cuidava da educação de Blake e seus três irmãos. Logo cedo a bíblia teve uma profunda influência sobre Blake, tornando-se uma de suas maiores fontes de inspiração.[9][10]

Desde muito jovem Blake dizia ter visões. A primeira delas ocorreu quando ele tinha cerca de nove anos, ao declarar ter visto anjos pendurando lantejoulas nos galhos de uma árvore. Mais tarde, num dia em que observava preparadores de feno trabalhando, Blake teve a visão de figuras angelicais caminhando entre eles.

Com pouco mais de dez anos de idade, Blake começou a estampar cópias de desenhos de antiguidades Gregas comprados por seu pai, além de escrever e ilustrar suas próprias poesias. Dentro desses desenhos, Blake encontrou sua primeira exposição às formas clássicas através do trabalho de Rafael, Michelangelo, Maarten van Heemskerck e Albrecht Dürer. O número de impressões e livros encadernados que James e Catherine conseguiram comprar para o jovem William sugere que os Blakes desfrutaram, pelo menos por um tempo, de uma riqueza confortável.[11] Quando William tinha dez anos, seus pais sabiam o suficiente de seu temperamento obstinado, e que ele não foi enviado para a escola, mas se matriculou em aulas de desenho na escola de desenho de Pars, na Strand. Ele leu avidamente sobre assuntos de sua própria escolha. Durante este período, Blake fez explorações em poesia; Seus primeiros trabalhos mostram o conhecimento de Ben Jonson, Edmund Spenser e os Salmos.[12]

Aprendizado com Basire editar

Em 4 de agosto de 1772, Blake tornou-se aprendiz do famoso estampador James Basire. Esse aprendizado, que estendeu-se até seus vinte e um anos, fez de Blake um profissional na arte. Segundo seus biógrafos, sua relação era harmoniosa e tranquila.

Dentre os trabalhos realizados nesta época, destaca-se a estampagem de imagens de igrejas góticas Londrinas, particularmente da igreja Westminster Abbey, onde o estilo próprio de Blake floresceu.

Aprendizado na Academia Real Inglesa editar

Em 1779, Blake começou seus estudos na Academia Real Inglesa, uma respeitada instituição artística londrina. Sua bolsa de estudos permitia que não pagasse pelas aulas, contudo o material requerido nos seis anos de duração do curso deveria ser providenciado pelo aluno.

Este período foi marcado pelo desenvolvimento do caráter e das ideias artísticas de Blake, que iam de encontro às de seus professores e colegas.

Casamento editar

Blake conheceu Catherine Boucher em 1782, quando ele estava se recuperando de um relacionamento que culminou em uma recusa de sua proposta de casamento. Ele contou a história de seu desgosto para Catherine e seus pais, e depois do que ele perguntou a Catherine: "Você tem pena de mim?" Quando ela respondeu afirmativamente, ele declarou: "Então eu te amo". Blake se casou com Catherine — que era cinco anos mais jovem — em 18 de agosto de 1782, na Igreja de Santa Maria, em Battersea. Analfabeta, Catherine assinou seu contrato de casamento com um X. A certidão de casamento original pode ser vista na igreja, onde um vitral comemorativo foi instalado entre 1976 e 1982.[13]

 
"Newton" de Blake (1795) demonstra sua oposição à "visão única" do materialismo científico: Newton fixa o olho em um compasso (lembrando Provérbios 8:27, uma passagem importante para Milton)[14] para escrever sobre um rolo que parece projetar de sua própria cabeça.[15]

Blake ensinou-a a ler e escrever, além de tarefas de tipografia. Catherine retribuiu ajudando Blake devotamente em seus trabalhos, durante toda sua vida.

Trabalhos editar

 
Dante e Virgílio nos portões do Inferno, A Divina Comédia.

Blake escreveu e ilustrou mais de vinte livros, incluindo "O livro de Jó" da Bíblia, "A Divina Comédia" de Dante Alighieri — trabalho interrompido pela sua morte — além de títulos de grandes artistas britânicos de sua época. Muitos de seus trabalhos foram marcados pelos seus fortes ideais libertários, principalmente nos poemas do livro Songs of Innocence and of Experience ("Canções da Inocência e da Experiência"), onde ele apontava a igreja e a alta sociedade como exploradores dos fracos.

No primeiro volume de poemas, Canções da inocência (1789), aparecem traços de misticismo. Cinco anos depois, Blake retoma o tema com Canções da experiência estabelecendo uma relação dialética com o volume anterior, acentuando a malignidade da sociedade. Inicialmente publicados em separado, os dois volumes são depois impressos em Canções da inocência e da experiência — Revelando os dois estados opostos da alma humana.

William Blake expressa sua recusa ao autoritarismo em Não há religião natural e Todas as religiões são uma só, textos em prosa publicados em 1788. Em 1790, publicou sua prosa mais conhecida, O matrimônio do céu e do inferno, em que formula uma posição religiosa e política revolucionária na época: "a negação da realidade da matéria, da punição eterna e da autoridade"

(...) Ver o mundo em grão de areia

e o céu em uma flor silvestre,

sustentar o infinito na palma da mão

e a eternidade em uma hora.(...)

"Augúrios de Inocência"[16]

Apesar de seu talento, o trabalho de gravador era muito concorrido em sua época, e os livros de Blake eram considerados estranhos pela maioria. Devido a isto, Blake nunca alcançou fama significativa, vivendo muito próximo à pobreza.

Principais obras editar

Morte editar

 
Monumento próximo ao túmulo sem marca de Blake.

No dia de sua morte, Blake trabalhava exaustivamente em A Divina Comédia de Dante Alighieri, apesar da péssima condição física que culminaria no seu fim. Seu funeral, bastante humilde, foi pago pelo responsável pelas ilustrações do livro, e apesar de sua situação financeira constantemente precária, Blake morreu sem dívidas.

Hoje Blake é reconhecido como um santo pela Igreja Gnóstica Católica, e o prêmio Blake Prize for Religious Art (Prêmio Blake para Arte Sacra) é entregue anualmente na Austrália em sua homenagem.

Referências

  1. «Blake & London». The Blake Society 
  2. Frye, Northrop and Denham, Robert D. Collected Works of Northrop Frye. 2006, pp 11–12.
  3. Jones, Jonathan. «Blake's heaven». The Guardian. UK 
  4. «BBC – Great Britons – Top 100». Internet Archive. Consultado em 12 de abril de 2013. Cópia arquivada em 4 de dezembro de 2002 
  5. Thomas, Edward. A Literary Pilgrim in England. 1917, p. 3.
  6. Yeats, W. B. The Collected Works of W. B. Yeats. 2007, p. 85.
  7. Wilson, Mona. The Life of William Blake. The Nonesuch Press, 1927. p. 167.
  8. "Um profeta obscuro e genial." Por José Antônio Arantes, bacharel em língua e literatura pela USP - tradutor, entre outros, dos autores Virginia Woolf (Nova Fronteira), William Blake e James Joyce (Iluminuras).
  9. poets.org/William Blake, retrieved online 13 June 2008
  10. Bentley, Gerald Eades and Bentley Jr., G. William Blake: The Critical Heritage. 1995, p. 34-5.
  11. Eades, Bentley, Gerald (2001). The stranger from paradise : a biography of William Blake. [S.l.]: Yale University Press. ISBN 0300089392. OCLC 1014520248 
  12. Wilson, Mona (dezembro de 1933). «THE LIFE OF WILLIAM BLAKE». The Journal of Nervous and Mental Disease. 78 (6). 690 páginas. ISSN 0022-3018. doi:10.1097/00005053-193312000-00091 
  13. «Inscriptions in the Parish Church of St. Mary, Battersea». Notes and Queries. 12 de agosto de 1916. ISSN 1471-6941. doi:10.1093/notesj/s12-ii.33.125 
  14. Baker-Smith, Dominic. Between Dream and Nature: Essays on Utopia and Dystopia. 1987, p. 163.
  15. Kaiser, Christopher B. Creational Theology and the History of Physical Science. 1997, p. 328.
  16. Bronowski, J. (1973/1979). A ascensão do homem(The Ascent of Man). Trad. Alejandro Ludlow Wiechers, Francisco Rebolledo López, Víctor M. Lozano, Efraín Hurtado y Gonzalo González Fernández. Londres/Bogotá: BBC/Fondo Educativo Interamericano.

Bibliografia editar

  • Peter Ackroyd (1995). Blake. Sinclair-Stevenson. ISBN 1-85619-278-4.
  • Donald Ault (1974). Visionary Physics: Blake's Response to Newton. University of Chicago. ISBN 0-226-03225-6.
  • ----- (1987). Narrative Unbound: Re-Visioning William Blake's The Four Zoas. Station Hill Press. ISBN 1-886449-75-9.
  • Stephen C. Behrendt (1992). Reading William Blake. London: Macmillan Press. ISBN 0-312-06835-2 .
  • G.E. Bentley (2001). The Stranger From Paradise: A Biography of William Blake. Yale University Press. ISBN 0-300-08939-2.
  • ----- (2006). Blake Records. Second edition. Yale University Press. ISBN 0-300-09685-2.
  • ----- (1977). Blake Books. Clarendon Press. ISBN 0-19-818151-5.
  • ----- (1995). Blake Books Supplement. Clarendon Press.
  • Harold Bloom (1963). Blake’s Apocalypse. Doubleday.
  • Jacob Bronowski (1972). William Blake and the Age of Revolution. Routledge & K. Paul. ISBN 0-7100-7277-5 (hardback), ISBN 0-7100-7278-3 (pbk.)
  • ----- (1944). William Blake, 1757–1827. A man without a mask. Secker and Warburg, London. Reprints: Penguin 1954; Haskell House 1967.
  • Helen P. Bruder (1997). William Blake and the Daughters of Albion. Basingstoke: Macmillan Press, and New York: St. Martin’s Press. ISBN 0-333-64036-5.
  • G. K. Chesterton, William Blake. Duckworth, London, n.d. [1910]. Reprint: House of Stratus, Cornwall, 2008. ISBN 0-7551-0032-8.
  • Steve Clark and David Worrall, eds (2006). Blake, Nation and Empire. Basingstoke: Macmillan Press, and New York: St. Martin’s Press.
  • Tristanne J. Connolly (2002). William Blake and the Body. New York: Palgrave Macmillan.
  • S. Foster Damon (1979). A Blake Dictionary. Revised edition. University of New England. ISBN 0-87451-436-3.
  • Michael Davis (1977) William Blake. A new kind of man. University of California, Berkeley.
  • Morris Eaves (1992). The Counter-Arts Conspiracy: Art and Industry in the Age of Blake. Cornell University Press. ISBN 0-8014-2489-5.
  • David V. Erdman (1977). Blake: Prophet Against Empire: A Poet's Interpretation of the History of His Own Times. Princeton University Press. ISBN 0-486-26719-9.
  • ---- (1988). The Complete Poetry & Prose of William Blake. Anchor. ISBN 0-385-15213-2.
  • R. N. Essick (1980). William Blake: Printmaker. Princeton University Press. ISBN 0-691-03954-2.
  • ---- (1989). William Blake and the Language of Adam. Clarendon Press. ISBN 0-19-812985-8.
  • R. N. Essick & D. Pearce, eds. (1978). Blake in his time. Indiana University Press.
  • Michael Ferber, The Social Vision of William Blake. Princeton University Press, Princeton, 1985.
  • Irving Fiske (1951). Bernard Shaw's Debt to William Blake. London: The Shaw Society [19-page phamphlet].
  • Northrop Frye (1947). Fearful Symmetry. Princeton University Press. ISBN 0-691-06165-3.
  • ---- ed. (1966). Blake. A collection of critical essays. Prentice-Hall.
  • Alexander Gilchrist, Life and Works of William Blake, (2d ed., London, 1880). Reissued by Cambridge Univ., 2009. ISBN 978-1-108-01369-7.
  • Jean H. Hagstrom, William Blake. Poet and Painter. An introduction to the illuminated verse, University of Chicago, 1964.
  • James King (1991). William Blake: His Life. St. Martin's Press. ISBN 0-312-07572-3.
  • Saree Makdisi, William Blake and the Impossible History of the 1790s. University of Chicago Press 2003.
  • Benjamin Heath Malkin (1806). A Father's Memoirs of his Child Longsmans, Hurst, Rees, and Orme, Paternoster Row, London. {See Arthur Symons, William Blake (1907, 1970) at 307–329.}
  • Peter Marshall (1988). William Blake: Visionary Anarchist. Freedom Press. ISBN 0-900384-77-8
  • Emma Mason, "Elihu's Spiritual Sensation: William Blake's Illustrations to the Book of Job," in Michael Lieb, Emma Mason and Jonathan Roberts (eds), The Oxford Handbook of the Reception History of the Bible (Oxford, OUP, 2011), 460–475.
  • W.J.T. Mitchell (1978). Blake's Composite Art: A Study of the Illuminated Poetry. Yale University Press. ISBN 0-691-01402-7.
  • Victor N. Paananen (1996). William Blake. Twayne Publishers, New York. ISBN 0-8057-7053-4.
  • Laura Quinney (2010). William Blake on Self and Soul. Harvard University Press. ISBN 978-0-674-03524-9.
  • Kathleen Raine, William Blake. Oxford University 1970.
  • George Anthony Rosso Jr. (1993). Blake's Prophetic Workshop: A Study of The Four Zoas. Associated University Presses. ISBN 0-8387-5240-3.
  • Gholam Reza Sabri-Tabrizi (1973). The ‘Heaven’ and ‘Hell’ of William Blake (New York, International Publishers).
  • Basil de Sélincourt, William Blake (London, 1909).
  • June Singer, The Unholy Bible: Blake, Jung, and the Collective Unconscious (New York: Putnam 1970). Reprinted as: Blake, Jung, and the Collective Unconscious (Nicolas-Hays 1986).
  • Sheila A. Spector (2001). "Wonders Divine": the development of Blake's Kabbalistic myth, Bucknell UP.
  • Algernon Charles Swinburne, William Blake: A Critical Essay. John Camden Hotten, Piccadilly, London, 2d. ed., 1868.
  • Arthur Symons, William Blake. A. Constable, London 1907. Reprint: Cooper Square, New York 1970. {Includes documents of contemporaries about Wm. Blake, at 249–433.}
  • E.P. Thompson (1993). Witness Against the Beast. Cambridge University Press. ISBN 0-521-22515-9.
  • Joseph Viscomi (1993). Blake and the Idea of the Book (Princeton University Press). ISBN 0-691-06962-X.
  • David Weir (2003). Brahma in the West: William Blake and the Oriental Renaissance (SUNY Press).
  • Jason Whittaker (1999). William Blake and the Myths of Britain (London: Macmillan).
  • W. B. Yeats (1903). Ideas of Good and Evil (London and Dublin: A. H. Bullen). {Two essays on Blake at 168–175, 176–225}.
  • A Comparative Study of Three Anti-Slavery Poems Written by William Blake, Hannah More and Marcus Garvey: Black Stereotyping by Jérémie Kroubo Dagnini for GRAAT On-Line, January 2010.
  • William Blake, o estranho que virou santo Parana-online - consultado em 10 de outubro de 2010
  • (61) 995735602 - ရာဖေးလ် Lange

Traduções editar

Ligações externas editar

Outros projetos Wikimedia também contêm material sobre este tema:
  Citações no Wikiquote
  Imagens e media no Commons