O dipolo hertziano foi uma das descobertas fundamentais do físico alemão Heinrich Rudolf Hertz em seu esforço para a reprodução experimental dos fenômenos previstos pela eletrodinâmica de Maxwell. Diante de seus alunos na Universidade de Karlsruhe durante uma aula demonstrativa, no outono de 1886, utilizando duas bobinas ligadas a faiscadores, notou que enquanto uma faísca era gerada numa das bobinas, uma segunda era gerada na outra. No entanto esta era muito menor, pouco luminosa e seu ruído era encoberto pelo da primeira. Foi desse modo que Hertz, quase por acaso, descobriu o importante fenômeno das centelhas secundárias.
Hertz interpretou aquelas faíscas elétricas como consequência de fenômenos eletrodinâmicos que se processavam nas proximidades de circuitos oscilantes com capacitância e autoindutância mínimas. Para comprovar suas ideias, repetiu seguidamente as experiências. Logo percebeu que tinha diante de si um campo novo: o da criação das ondas eletromagnéticas e sua propagação a distância.
Em 1887 Hertz realizou sua célebre experiência, provando a propagação de ondas eletromagnéticas num meio indefinido: utilizando um fio condutor de 60 centímetros, interrompido no centro por um entreferro e terminado nas extremidades por placas metálicas de 40 centímetros quadrados, e uma bobina de indução como um gerador de alta tensão, ele carregava capacitivamente o dipolo assim constituído até a disrupção no entreferro central; o forte campo magnético ligado à descarga dava origem a uma corrente de deslocamento de sentido inverso, carregando o dipolo novamente com cargas de sinal contrário e provocando nova disrupção, agora no outro sentido; o processo continuava dando origem a um trem de ondas de amplitude amortecida e cuja frequência fundamental se pensa, hoje, ser da ordem dos 53,5 MHz (5,6 m). A dois ou três comprimentos de onda de distância, no entreferro de uma espira metálica, observou-se uma tênue faísca. Essa experiência mostrou também que as ondas que asseguravam a transferência de energia eletromagnética do dipolo para a espira poderiam ser refletidas, refratadas e polarizadas e se propagavam a uma velocidade que parecia ser a da luz, comprovando assim a teoria de Maxwell.
Desde o primeiro dipolo construído por Hertz até os dias atuais, os princípios físicos que regeram seu projeto e desenvolvimento foram sendo aprimorados e descobertas novas maneiras e tecnologias de se transmitir e receber sinais eletromagnéticos. Atualmente algumas antenas são estruturas de
extrema complexidade e importância nas comunicações e, portanto, para o desenvolvimento tecnológico humano. [1]
Campos elétrico e magnético do dipolo de Hertzeditar
Um dipolo oscilante ou hertziano constitui-se de um fio de comprimento muito fino, com uma corrente elétrica senoidal, de amplitude uniforme, e de um par de cargas iguais e de sinais contrários, e , em ambos os extremos do fio.[2][3]
Temos que, .
O campo magnético, , e campo elétrico, , desta configuração podem ser obtidos através do potenciais retardados, o potencial vetor magnético, , e o potencial escalar elétrico, .
E, como as fontes variam senoidalmente:
,
.
E se considerarmos a corrente no eixo z, a única componente espacial não nula de é
.
Para , [4] pode-se desconsiderar a contribuição da fase:
Ao analisar os resultados obtidos, vê-se que existem parcelas que decaem com potências distintas de . De acordo com que nos aproximamos ou nos afastamos da antena, cada uma destas parcelas contribui mais ou menos em relação às outras. Dessa forma distinguem-se 2 diferentes zonas de campos.
Aqui os campos são ditos campos próximos ou de campos de indução e predominam os termos com maior potência de .
Os campos ficam:
.
.
A expressão para corresponde ao campo elétrico de um dipolo elétrico estático colocado na origem do sistema de coordenadas, ainda que saibamos que neste caso ele é oscilante. Isso acontece pois estamos muito próximo do dipolo, portanto os efeitos de retardamento são desprezíveis e o campo elétrico acompanha, ao longo do tempo, o momento dipolar, como se o efeito fosse propagado instantaneamente.
está praticamente em fase com a corrente que o gera. Nesse regime a fonte é rotacional, devida à corrente na antena: em , podemos dizer que o segundo termo do lado direito quase não contribui para o campo .
está defasado temporalmente de com respeito a . Para o campo próximo contribuem mais as fontes de divergência, ou seja, as contribuições das cargas são maiores que as dos rotacionais: pesa mais que .
As linhas do campo magnético próximo terminam nos extremos do dipolo, onde estão as fontes de divergência.
Aqui as as fontes predominantes são as correntes ( em fase com a corrente).
Aqui os campos são ditos campos distantes ou campos de irradiação e predominam os termos com menor potência, ou seja, . Em antenas esta é a zona mais importante, já que dadas as distâncias tipicamente utilizadas numa conexão entre duas antenas, cada antena encontra-se na zona de irradiação da outra.
Os campos são:
.
.
A onda eletromagnética irradiada se expande (propaga) radialmente por todas as direções do espaço.
A dependência em de e é sempre a de uma onda esférica . Os campos decrescem com a distância com .
Os campos e dependem de e já que a onda esférica não é homogênea. A irradiação se dá com maior intensidade nas direções transversais à orientação do dipolo e é nula nas direções correspondentes ao seu alinhamento (neste caso, sobre o eixo Oz ou seja, ).
As componentes dos campos elétrico e magnético, e , estão em fase temporal e em quadratura espacial, resultando num fluxo equilibrado de energia, de forma que a onda esférica irradiada se comporta localmente como uma onda plana.
Os campos e não possuem componentes radiais.
Pode-se dizer que o campo distante é gerado pelo campo próximo, enquanto que este é gerado pelas fontes, cargas e correntes.
As linhas do campo elétrico distante são fechadas, o que mostra que são devidas a uma fonte rotacional.
As linhas do campo magnético são sempre circulares em torno do eixo do dipolo pois suas únicas fontes são o rotacional. Nesses campos predominam as correntes de deslocamento, ou seja, a variação do campo elétrico ( em fase com , por considerarmos um meio sem perdas).
Enquanto a densidade de potência muda, caindo com ,a potência total que atravessa a superfície é constante para qualquer superfície fechada que encerre a antena.
A intensidade de irradiação de uma antena é definida como [5]
.
Então,
.
donde , que é a densidade de potência dividida por .
Dividindo por obtemos o padrão normalizado de potência da antena:
.
Associado a este termo definimos o ângulo sólido A, como aquele através do qual toda a radiação da antena fluiria se a potência por unidade de ângulo sólido fosse constante sobre aquele ângulo e igual a seu valor máximo. Isso significa que para padrões típicos o ângulo sólido do feixe é aproximadamente igual à largura do feixe à meia potência. Isto é,
O ganho é definido como a razão da intensidade máxima de irradiação numa dada direção pela intensidade que seria produzida na mesma direção por uma antena de referência, com a mesma potência de entrada, geralmente uma antena ideal que geraria uma irradiação chamada isotrópica (igual para todos os sentidos) e sem perdas de intensidade.
Portanto,
é a potência de entrada.
Definindo a eficiência da antena como , temos
.
Onde é a intensidade da irradiação da antena se não houvesse perdas.
Ao perceber que a potência irradiada por uma antena é proporcional a , somos levados a definir o conceito de resistência de irradiação, a resistência que dissiparia, por efeito Joule, a mesma quantidade de energia que é irradiada pela antena.
.
Comparando com a expressão para a potência irradiada por um dipolo oscilante, temos
UNIVERSIDAD NACIONAL DE LA PLATA, FACULTAD DE INGENIERIA. Cátedra de Campos y Ondas (Resumen de Fórmulas sobre Radiación y Antenas 1).
D. Baird et al (eds.), Heinrich Hertz: Classical Physicist, Modern Philosopher, 269-280. 1998 Kluwer Academic Publisher.. Printed in Great Britain.
António Simão de Carvalho Fernandes, ANTENAS DE ONDA ESTACIONÁRIA - Métodos e Modelos de Análise, Fundação Calouste Gulbenkian - EVOLUÇÃO E INSERÇÃO HISTÓRICA DA ANTENA.
↑ Buchwald J. Z., Reflections on Hertz and the Hertzian dipole, D. Baird et al. (eds.), Heinrich Hertz: Classical Physicist, Modern Philosopher, 269-280, 1998. Kluwer Academic Publishers, Printed in Great Britain .
↑ Kraus John D., Antennas Second edition, Tata McGraw-Hill Edition, 1988.
↑ Silver Samuel (Editor), Published by: Peter Peregrinus Ltd., on behalf of the Institution of Electrical Engineers, London, United Kingndom, Microwave Antenna Theory and Design, 1984.
↑Griffiths, D. J., Eletrodinâmica p. xv, 3a ed Pearson Addison Wesley, 2011.