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Pe. Júlio Maria De Lombaerde, MSF (Beveren-Leie, hoje distrito de Waregem (Bélgica), 07 de janeiro de 1878 - Alto Jequitibá, 24 de dezembro de 1944) foi um missionário católico belga, presbítero e religioso professo da Congregação dos Missionários da Sagrada Família. Fundador das Filhas do Coração Imaculado de Maria, dos Missionários de Nossa Senhora do Santíssimo Sacramento e das Irmãs Sacramentinas de Nossa Senhora. Nascido Júlio Emílio Alberto De Lombaerde, atualmente sua vida está sendo investigada na fase diocesana do processo de beatificação da Igreja Católica.

Vida editar

Família e infância editar

 
Pe. Júlio Maria De Lombaerde (1878-1944)

Nasceu o Pe. Júlio Maria em 07 de janeiro de 1878, sendo batizado logo no dia seguinte devido à fragilidade de sua saúde[1]. Gostava sempre de celebrar seu aniversário, portanto, no dia 08 de janeiro. Era o primogênito do casal José De Lombaerde e Sidônia Steelandt. Os sete irmãos que vieram após morreram ainda crianças, devido à infecções virais. O nono irmão, Aquiles, tornou-se também missionário depois de adulto.

Seu pai descendia de família militar emigrante de Lombardia. Homem simples, trabalhador e muito alegre. Gostava de livros e era habilidoso carpinteiro. Morreu de úlcera no estômago em 19 de setembro de 1890. Sua mãe era flamenga, descendente de holandeses, gênio expansivo e alegre. Quando menina quis entrar para o convento como sua irmã, mas acabou se casando e tornou-se mãe aos 30 anos. Quando enviuvou, protestara não mais casar-se, mas com a decisão dos filhos de abraçar a vida religiosa, resolveu e casou-se anos mais tarde com Charles Callens.

Júlio Emílio passou a infância em Waregem onde fez o curso primário. Sua formação pré-primária foi feita por religiosas num jardim de infância da cidade. Foi lá que despertou a vontade de ser missionário. Fez a 1ª comunhão em 1889 e no mesmo ano foi crismado. Guardava com todo cuidado sua fotografia com a mãe do dia da 1ª comunhão, motivo de festa e orgulho para toda a família. Aos 15 anos foi estudar no Instituto São José em Torhout, na Bélgica. Uma escola destinada para a formação de professores e dirigida por sacerdotes diocesanos. Neste colégio recobrou a vontade de ser missionário e lia assiduamente as revistas missionárias, sua principal distração. Recebeu formação rija e firme, mas bem gostava das brincadeiras nas horas permitidas.

Início da vida missionária editar

A decisão pela vida missionária, acalentada desde os tempos da infância, foi-lhe impulsionada pela visita de um bispo que trabalhava nas missões africanas. Diante da pregação do bispo e das necessidades dos povos africanos, o jovem Júlio Emílio parte Boxtel, na Holanda a fim de iniciar sua vida missionária. Em 19/10/1895 parte para a África apesar da tristeza dos familiares e desmaio de sua mãe. Aí nasceu o desejo do seu irmão Aquiles de ser missionário na África também. Em primeiro de novembro Júlio vestia o hábito de irmão branco em Maison Carrée com o nome de Optato Maria. Passou algum tempo na solidão em Iril Ali, como cozinheiro e carpinteiro, e a 18/04/1897 consagrou-se definitivamente como missionário na Congregação dos Missionários da África. Em 2/11/1897 foi enviado para Arris e passou por vários lugares da África até 1901.

Decisão pelo sacerdócio editar

Neste tempo resolveu ser sacerdote, cumprindo uma promessa pela cura que Nossa Senhora lhe concedeu. Já era um homem de barbas longas e cheias. Já contava mais de 20 anos, quando o comum era entrar para o seminário com 12, 13 anos. Visitou sua mãe e sua família em dezembro de 1901 e em fevereiro do ano seguinte já estava em Grave (Holanda) junto ao Pe. João Berthier, na “Obra das Vocações Tardias”, para se tornar sacerdote. Estava fundada a Congregação dos Missionários da Sagrada Família (MSF).

Este seminário foi fundado em 1895 pelo Pe. João Maria Berthier, um missionário francês que foi para a Holanda para iniciar uma vida de extrema pobreza num quartel de soldados, velho e feio. Júlio Emílio lá entrou e logo foi encarregado das aulas de matemática e francês. “Quem ali vivia no berço da nascente congregação praticava todos os heroísmos da pobreza”, dizia o mais tarde o Pe. Júlio Maria.

Profissão religiosa e ordenação editar

O Frt. De Lombaerde fez sua profissão religiosa definitiva a 04 de outubro de 1906. Recebeu as ordens menores a 23 de dezembro do mesmo ano e o subdiaconato foi recebido no dia seguinte. Sua ordenação diaconal foi celebrada no dia 06 de julho de 1097.

Foi ordenado a 13 de junho de 1908, dia de Santo Antônio, em companhia de mais 11 confrades.. Naquele mesmo ano morria o fundador de sua Congregação. Inspirado pela vida edificante do mestre, o jovem Pe. De Lombaerde empreende escrever sua biografia, publicada meses depois em francês (1910).

Vida missionária e envio para o Brasil editar

Na França, na Bélgica e na Holanda, pregou com amor e ardor, ousadia e veemência apostólicas. Fez missões paroquiais numerosas, durante quatro anos, mobilizando e trazendo à prática religiosa centenas, milhares de pessoas, reconstituindo famílias, atendendo horas a fio a pessoas que, fazia muitos anos, não se confessavam, legitimando uniões conjugais que ainda não tinham recebido o sacramento do matrimônio, libertando as pessoas de vícios e pecados.

Ele entusiasmava rapazes e moças a serem religiosos, porque ele mesmo estava entusiasmado com isso. Foram muitas as vocações que conseguiu despertar ou firmar. E a cura milagrosa de uma mãe paralítica, que permitira sua filha única ir para o convento, fez com que suas pregações sobre as vocações sacerdotais e religiosas se tornassem extraordinariamente persuasivas.

Mesmo no auge de sua missão como pregador, escritor e formador de seminário na Europa, recebe de seu superior a destinação para as missões no Brasil, que haviam sido assumidas pela Congregação anos antes. Não seria ele, tão convicto de seu voto de obediência e do mistério da Divina Providência, que iria questionar a ordem recebida ou pedir satisfações. Encerrou o estava fazendo, desfez os compromissos que ainda viriam, arrumou as malas e zarpou para o desconhecido. Embarcou no dia 25 de setembro de 1912, junto com os padres Scholl e Burgard e mais dois irmãos religiosos: Miguel e Ambrósio.

Anos de Brasil editar

Vindo para o Brasil, o Pe. De Lombaerde já usava assinar como Pe. Júlio Maria, forma de demonstrar sua filial devoção à Virgem Maria. Chega ao porto de Recife a 15 de outubro de 1912. Parte então para seu destino, a paróquia de Macapá, para a qual chega em 1913. Passa 16 anos no Norte e no Nordeste do Brasil, pregando missões, atuando como pároco e fundador de congregação religiosa. Além disso, dedica-se também à educação e ao saneamento básico como forma de melhorar as condições de saúde da população local.

Em 1928 parte para Manhumirim, no Leste de Minas - com todo o apoio de Dom Carloto Fernandes da Silva Távora, Bispo de Caratinga. Apaixonado por Nossa Senhora, quis marcar sua entrada na paróquia com um Mês de Maria vibrante, piedoso e muito bonito. Pediu que se improvisasse no interior da igreja nova, ainda em construção, um altar para coroação de Nossa Senhora. Movimentou as crianças e as famílias, que se sentiam renovados com a nova liderança paroquial.

Ali passa seus últimos 16 anos de vida, sendo o pároco, o formador do seminário e o mestre de suas congregações religiosas. Dedicou-se também à Imprensa, com seu jornal O Lutador e com a publicação de inúmeros livros.

Morte editar

No dia 24 de dezembro de 1944, domingo, partiu de automóvel para a fazenda S. José, em Vargem Grande, propriedade que ele adquirira recentemente para ajudar na manutenção do Seminário. Viajaram com ele três Irmãs Sacramentinas que iam conhecer o local de uma futura residência e escola, para as crianças da Vargem Grande.

À tarde, quando ia voltar para Manhumirim, o tempo chuvoso e a estrada de terra escorregadia não aconselhavam que fizessem a viagem. Ele, porém, achava que deveria ir, por ser véspera de Natal, e ele iria celebrar a missa da meia-noite. Saiu apesar do risco. Provavelmente não avaliasse o tamanho do perigo, porque não era motorista e andava muito pouco de carro. O motorista, por sua vez, era jovem e inexperiente e não teve coragem de enfrentar a ordem do Pe. Júlio Maria, que fez questão de descer a serra.

Aconteceu o desastre, o carro capotou duas ou três vezes na ribanceira e o Pe. Júlio ficou preso entre a ferragem do automóvel e um tronco de árvore. Os outros passageiros e o chofer não sofreram praticamente nada, fisicamente. Mas o padre não conseguiu libertar-se, e, comprimido, ia sendo sufocado, sem ar. Resistiu ainda algum tempo, pedindo que providenciassem alguém que o pudesse tirar dali: “Depressa, depressa, minha filha!” – dizia ele a uma das Irmãs. Mas o socorro veio tarde demais. E ele morreu, pronunciando estas palavras: “Meu Deus, meu Deus! Nossa Senhora do Carmo! Meu Deus!”

Traços de sua espiritualidade editar

Nota-se uma evolução no pensamento espiritual do Pe. Júlio Maria. Com o tempo foi sintetizando e purificando suas moções iniciais. Desde os tempos de França, foi influenciado pela Escola Francesa de Espiritualidade, sobretudo pelo Cardeal Pierre de Bérulle e de São Luís de Montfort. A devoção mariana, assim sendo, ocupou lugar primordial em sua formação espiritual. Publica "O Segredo da Verdadeira Devoção à Santíssima Virgem", um comentário ao Tratado da Verdadeira Devoção.

Logo, com a influência do movimento eucarístico do início do Século XX, sobretudo com São Pio X - o "Papa da Eucaristia" - a contemplação do mistério eucarístico passa a ocupar lugar privilegiado em sua doutrina espiritual. Torna-se um apaixonado pelos Congressos Eucarísticos promovidos internacionalmente sob o incentivo dos Papas. Publica "Sol Eucharístico e Trevas Protestantes" para defender os Congressos Eucarísticos contra os ataques dos protestantes. Dedica-se à catequese como forma de transformar a paróquia a partir da Eucaristia[2].

Da sua devoção à Maria e à Eucaristia nasce o livro-síntese de sua espiritualidade, "Maria e a Eucaristia", no qual traça as relações entre esses dois tema essenciais da cristã e desenvolve a razão teológica do título "Nossa Senhora do Santíssimo Sacramento".

Formado no movimento de fortalecimento do catolicismo segundo a Igreja de Roma, defende ardorosamente a instituição religiosa e, sobremaneira, o Papa. Destaca-se por reproduzir, na pequena Manhumirim, algo do movimento de união entre a Igreja e os poderes públicos encabeçado por Dom Sebastião Leme no Rio de Janeiro[3].

Fundador editar

Chegado a Macapá, Pe. Júlio Maria percebe a necessidade de irmãs que ajudassem na instrução religiosa das crianças e na educação do povo. Intui a possibilidade de formar, para isso, uma congregação religiosas com moças do próprio lugar. Nasce, assim, sua vocação de fundador de congregações religiosas. Logo mais tarde, em Minas Gerais, fundará mais duas: uma masculina e outra feminina.

Filhas do Coração Imaculado de Maria editar

Primeira congregação fundada pelo Pe. Júlio Maria, em 1916. Sua primeira sede foi a própria paróquia de Macapá. Hoje, a congregação é sediada em Caucaia-CE. As irmãs ainda hoje se dedicam à educação e à saúde, bem como na ajuda às comunidades de fé e na pregação de retiros espirituais. Seu convento-sede é uma procurada casa para encontros e retiros.

Missionários de Nossa Senhora do Santíssimo Sacramento editar

Fundada já em Manhumirim, em 1929. Sua sede, Seminário Apostólico Nossa Senhora do Santíssimo Sacramento, é um prédio de importante destaque na arquitetura da cidade. Os missionários sacramentinos, como são chamados, dedicam-se à direção de paróquias e meios de comunicação social, bem como na formação de lideranças para as comunidades cristãs[4].

Irmãs Sacramentinas de Nossa Senhora editar

As irmãs sacramentinas nascem também em 1929, em Manhumirim. Sua sede foi por muitos anos o Colégio Santa Teresinha, marco arquitetônico da cidade. Hoje é localizada em Belo Horizonte, próxima à PUC Minas. As irmãs, além de se dedicarem à saúde e à educação, desenvolvem relevante trabalho missionário em vários lugares do Brasil e também em Luanda, na Angola.

Devoção editar

Logo após sua morte já começa a despontar em Manhumirim e região uma devoção ao missionário daquela terra. Vão surgindo relatos de graças e milagres alcançados por sua intercessão. Em 2015 Dom Emanuel Messias de Oliveira, Bispo de Caratinga, inicia seu processo de beatificação que é postulado pelos superiores gerais das três congregações fundadas pelo Pe. Júlio Maria. Recebe de Roma o nihil obstat e começam os trabalhos da fase diocesana.

Recebe, assim, o título de "Servo de Deus" e é invocado com devoção por milhares de fiéis de todas as regiões do Brasil[5].

Lista de Livros Publicados editar

Sua profícua carreira de escritor floresceu em quase uma centenas de publicações nos mais variados estilos: espiritualidade, homilética, teologia dogmática, eucaristia, mariologia, polêmica, dentre outras. Alguns títulos:

  1. Um Apôtre De Nos Jours Ou La Vie Et L’esprit Du Três R. P. Jean-Berthier
  2. Um Grito De Alarme (Tradução Portuguesa Em Manuscrito De Um Cri De Détresse).
  3. Mar Journée Avec Marie
  4. O Segredo Da Verdadeira Devoção
  5. Les Principes Théologiques De La Vi D’intimité Avec Marie
  6. Les Enseignements De
  7. Contemplações Evangélicas - I: Os Pódromos Do Calvário
  8. A Contemplação Sobrenatural
  9. Formulário Dos Exercícios E Orações Da Congregação Das Irmãs De Nossa Senhora Do Santíssimo Sacramento
  10. Constituições Da Congregação Dos Missionários Sacramentinos De Nossa Senhora
  11. O Perigo Dos Colégios Protestantes
  12. Palhaçada Protestante
  13. Um Homem De Sete Cabeças
  14. A Mulher E A Serpente
  15. Pequeno Manual Das Associadas Do Sagrado Coração De Jesus (De Manhumirim)
  16. Objeções E Erros Protestantes
  17. Resposta Irrefutáveis Às Objeções Protestantes
  18. Mois De Marie Des Missions
  19. Pourquoi Jáime Marie?
  20. Um Apóstolo De Nossos Dias (Esboço Biográfico De D. Carloto Fernandes Távora, Bispo De Caratinga)
  21. Os Segredos Do Espiritismo
  22. Polêmicas De Doutrina, De Ciências E De Bom Senso
  23. Lampejos De Doutrina, De Ciências E De Bom Senso
  24. Ataques Protestantes Às Verdades Católicas
  25. O Cristo, O Papa E A Igreja
  26. Formulário Dos Exercícios E Orações Da Congregação De Nossa Senhora Do Santíssimo Sacramento (Sacramentinos De Nossa Senhora)
  27. O Anjo Da Luz
  28. A Mulher Bendita
  29. O Anjo Das Trevas
  30. Contemplações Evangélicas Ii: A Subida Do Calvário
  31. O Evangelho Dominical
  32. Maria E A Eucaristia
  33. Sol Eucarístico
  34. O Diabo, Lutero E O Protestentismo
  35. Um Anjo Da Eucaristia
  36. Constituições Da Congregação Das Irmãs Sacramentinas De Nossa Senhora
  37. Balbúrdia Protestante
  38. O Evangelho Das Festas Litúrgicas
  39. Deus E O Homem
  40. Comentário Eucarístico
  41. Comentário Moral
  42. Estatutos Do Hospital E Asilo São Vicente De Paulo
  43. Comentário Apostólico
  44. Método Prático Da Hora Santa
  45. Estatuto Do Serviço De Maternidade E Proteção À Infância E À Adolescência “Darci Vargas” De Manhumirim
  46. Comentário Litúrgico Ou Comentário Da Vida Litúrgica
  47. O Fim Do Mundo Está Próximo? – Livraria Boa Imprensa – Rio De Janeiro
  48. Almas Sacramentinas
  49. Aventuras De Chiquinho Dos
  50. A Papisa Joana
  51. Luz Nas Trevas
  52. São Gabriel, Maomé E O Islamismo (Obra Póstuma)
  53. Comentário Dogmático
  54. Sexo E Vínculo (Obra Póstuma)
  55. Règlement (Notas Espirituais / Obra Póstuma) 

Notas editar

  1. BOTELHO, Pe. Demerval Alves (1944). História dos Missionários Sacramentinos - I Volume. Belo Horizonte: O Lutador. 20 páginas 
  2. Cf. "A Catequese Eucarística do Pe. Júlio Maria", dissertação de mestrado defendida pelo Pe. Marcos Antônio A. Duarte na Faculdade Jesuíta de Filosofia e Teologia. Disponível em [http://www.faculdadejesuita.edu.br/documentos/171014-nmmJ3Sry6ceHK.pdf].
  3. Cf. "O Rebanho de Pedro e os Filhos de Lutero", dissertação de mestrado defendida pelo Prof. Daniel Soares Simões na Universidade da Paraíba. Disponível em [http://www.dominiopublico.gov.br/pesquisa/DetalheObraForm.do?select_action=&co_obra=115690].
  4. «Missionários Sacramentinos de Nossa Senhora». sacramentinos.org.br. Consultado em 22 de março de 2016 
  5. «Pe. Júlio Maria De Lombaerde, o Lutador a caminho dos altares - Revista O Lutador». Revista O Lutador. Consultado em 22 de março de 2016