Usuário(a):Paula Jornalismo/Testes

Vida editar

Antônio Raymundo Lucena, ou “doutor” [1] como costumeiramente era chamado, nasceu em 11 de setembro de 1922 na cidade de Colinas no estado do Maranhão. Filho de José Lucena Sobrinho e Ângela Fernandes Lima Lucena foi morto por policiais militares aos 47 anos durante um cerco a sua casa na cidade de Atibaia, São Paulo, em 20 de fevereiro de 1970 [2].

Nordestino e de família pobre não conseguiu seguir com os estudos, permanecendo analfabeto até a sua morte. Fez de tudo um pouco em sua vida e começou, na infância, trabalhando no campo. Aos 12 anos de idade perdeu a visão do olho direito devido uma úlcera ocular, o que lhe fez usar um olho de vidro. Aos 17 anos além de trabalhar como apontador e para uma pequena estatal, tornou-se mestre de oficina.

Antônio casou-se duas vezes. A primeira aos 23 anos, vindo a se separar três anos depois[1]. Com o fim do relacionamento foi morar em Caxias, Maranhão, onde conheceu Damáris de Oliveira, que veio a se tornar a segunda e última mulher. À época trabalhava como mestre de serraria, mas com o nascimento do primeiro filho, em 1949, mudou-se para Fortaleza para tentar sustentar a família. Na cidade trabalhou como servente de pedreiro e no ramo da tecelagem.

Já em março de 1950 resolveu ir para São Paulo, foi num caminhão pau-de-arara (transporte) que chegou à capital. Começou como operário na Indústria Jafet [3] e após dois meses trouxe a família. Seu primeiro filho, no entanto, veio a falecer por crupe no Hospital Emílio Ribas, atualmente Instituto de Infectologia Emílio Ribas. Nesse período moravam na Rua do Manifesto no Ipiranga.

Em outubro do ano seguinte, 1951, nasceu Ariston, segundo filho do casal. Antônio foi promovido a técnico da seção de vapor e Damáris também foi empregada na Jafet, como copeira da creche[1].

Inserção na Militância editar

Logo que chegaram a São Paulo, Antônio e sua mulher se interessaram pela luta sindical e começaram a participar ativamente do movimento. No ano de 1952 construíram uma casa em São João Clímaco e influenciados por um casal de vizinhos se empenharam cada vez mais na causa comunista. Em 1953 participaram inclusive da campanha "O petróleo é nosso", organizada pelo presidente da época, Getúlio Vargas.

Lucena e Damáris já muito engajados e inseridos nas causas que acreditavam, entraram para o Partido Comunista Brasileiro - PCB, em 1954. O papel de Antônio dentro do PCB era basicamente angariar novos militantes ao partido, fazer panfletagem e vender livros[1]. Com a participação no grupo conheceu Pedro Pomar, João Amazonas e diversos nomes de esquerda. Continuou nessa atividade até o Golpe de Estado no Brasil em 1964, quando resolveu se afastar por não concordar mais com a postura tomada pelo partido.

Neste mesmo ano aposentou-se por invalidez, porém, aprendeu a atividade de consertar panelas de pressão e começou a trabalhar numa banca de feira. Logo em seguida sua mulher passou a dirigir uma Kombi para ajudar no serviço do marido[1].

Envolvimento com VPR e mudanças de nome editar

Em 1967, Lucena e Damaris vincularam se ao grupo de militantes que, no ano seguinte, assumiriam a denominação Vanguarda Popular Revolucionária - VPR. Documentos dos órgãos de segurança registraram a participação do ‘Doutor’ em ações armadas desde o final de 1967, sendo uma delas o roubo de 10 caixas de dinamite em Cajamar (Grande São Paulo), no dia 30 de dezembro.[3] Em 1969, o casal, que já vivia em clandestinidade com os filhos menores, mudou-se para a Praia Grande (litoral sul de São Paulo), residindo na Cidade Ocian e, em seguida, Embu-Guaçu, com os nomes trocados. Damaris se tornou “Rosa” e Antônio, “Zé”.

Rosa e Zé conheceram Carlos Roberto Zanirato e Eduardo Leite (o "Bacuri"), ambos assassinados pela Ditadura. Também passaram a conviver com pessoas muito importantes na luta contra o Regime: Carlos Lamarca, Darcy Rodrigues, Pedro Lobo, Iara Iavelberg, entre outros. [4] Bacuri chegou a comprar, no mesmo ano, uma casa em Atibaia (Jardim das Cerejeiras) para o casal, que agora se tornara “Dona Dulce” e “Sr. Eduardo”. Todo o material de militância escondido nas residências anteriores foi transferido para a nova moradia juntamente com alguns aparelhos médicos. Damaris e o 'Doutor' se passavam por fazendeiros e ajudavam os necessitados [2].

Ao completar 18 anos, Ariston, o filho mais velho do casal, decidiu entrar para a vida da militância. Após certa discordância, os pais e o comando da VPR aceitaram a integração do jovem no quadro de militantes. No início, Ariston cumpria tarefas simples, como levar companheiros a reuniões, buscar armas, etc. Sua primeira grande participação se deu em um importante capítulo na história da Vanguarda Popular Revolucionária: a guerrilha do Vale do Ribeira. Depois de 1969, nunca mais viu seu pai com vida e, ao sair do Vale, foi preso e detido durante nove anos.[4]

Referências

  1. a b c d e Dossiê dos mortos e desaparecidos políticos a partir de 1964, Dossiê dos mortos e desaparecidos políticos a partir de 1964.
  2. a b Prontuários, Prontuários Arquivo de Estado de São Paulo.
  3. a b [1], Comissão Especial sobre Mortos e desparecidos Políticos.
  4. a b [2], Vanessa Gonçalves da Silva (Jornal o Rebate).