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Culto imperial na Roma antiga

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Fachada do templo romano originalmente dedicado a Augusto - França

O culto imperial foi introduzido em Roma no início do Principado de Augusto e teve uma grande importância no processo de centralização do poder e unificação do Império Romano, espandindo-se rapidamente por todas as províncias.

Um imperador falecido considerado digno de honra podia se tornar uma divindade do Estado romano (divus) através de uma cerimônia de apoteose concedida pelo Senado. A concessão da apoteose servia de julgamento sobre as ações dos governantes imperiais, da qual eram excluídos imperadores impopulares ou considerados indignos.

Antecedentes

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Nas últimas décadas da República Romana, seus líderes vinham assumindo regularmente poderes extra-legais por conta das sucessivas guerras civis. Após sua vitória na batalha de Munda, Júlio César tornou-se ditador perpétuo de Roma e adotou uma série de atitudes que levantaram suspeitas a respeito de suas intenções e levaram ao seu brutal assassinato em 44 a.C. Após sua morte, César foi o primeiro romano a se tornar oficialmente um deus, sendo aclamado pela multidão e reconhecido pelo Senado como divus Julius. O jovem herdeiro de César, Otávio, realizou a cerimônia de apoteose de seu pai adotivo e em 40 a.C. Marco Antônio assumiu seu compromisso como flamen (sacerdote) do divus Julius.[1] Porém, a lealdade de Antônio a seu falecido patrono não se estendeu ao herdeiro de César e os dois se enfrentaram numa guerra civil que culminou com a vitória de Otávio na batalha de Áccio em 31 a.C.

A transição da República para o Principado

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Nos anos subseqüentes a vitória no Áccio, uma das grandes preocupações de Otávio era criar uma forma de governo em que o poder permanecesse concentrado em suas mãos sem que a ordem republicana tradicional fosse formalmente modificada. Temendo ter o mesmo fim de Júlio César, recusou os poderes ditatoriais que lhe foram oferecidos pelo Senado e procurou centralizar o poder de forma gradual, acumulando títulos e cargos que dessem fundamento legal ao seu domínio político.[2] Segundo o historiador Werner Eck, devido a esta não alteração dos princípios básicos da ordem republicana, os senadores viam Augusto como um deles. Em outras palavras, “Augusto restaura a velha república sob seu nome”.[2] Em 28 a.C. ele foi agraciado com o título de princeps (“primeiro cidadão” ou “primeiro entre iguais”), o que demonstra o propósito de se conservar a essência da República, pelo menos simbolicamente.

Fundamentos do culto imperial

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Apoteose de Antonino Pio - Vaticano

Uma vez no poder, Augusto implementou uma série de leis que visavam regular hábitos e costumes da sociedade romana em relação ao consumo, o casamento e o adultério. O objetivo desta legislação era restaurar os “padrões tradicionais de moralidade” em Roma e promover a unidade familiar dos nobres.[3] Assim, Augusto tornou-se o árbitro moral de todas as famílias romanas, desempenhando o papel que coube tradicionalmente ao pater familias nas famílias individuais. Enquanto o pater familias atuou como juiz em assuntos da casa, Augusto tinha poder, através de sua tribunicia potestas (23 a.C.) e sua censoria potestas (19 a.C.), para ditar e aplicar a legislação moral em todo o mundo romano.[3] Além disso, ele promoveu os valores religiosos tradicionais da República, restaurando templos, recriando sacerdócios antigos e revivendo antigas cerimônias religiosas. Assim como o pater familias serviu como líder da família no cumprimento dos deveres religiosos, Augusto como pontifex maximus (12 a.C.) assumiu o comando das práticas religiosas do Estado.[3]

Finalmente, em 2 a.C., Augusto recebeu o título de pater patriae (“pai da pátria”), que confirmava a sua autoridade de pater sobre a sociedade romana e teve grande importância no desenvolvimento do culto imperial. É em decorrência desta manifestação de poder que o culto ao imperador surgirá como a forma mais plena da dominação política, social e religiosa do princeps sobre a população do Império Romano. Entretanto, o culto não era direcionado à pessoa do imperador em si, mas à sua essência divina (numen), o que o colocava como um ser mortal (divinizado apenas após a sua morte pela cerimônia da apoteose) e o diferenciava dos demais deuses e entidades que constituíam a crença religiosa dos romanos.

O culto imperial entre os gregos

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Segundo o historiador Simon Price, a prática do culto imperial entre os gregos da Ásia Menor era uma forma de demonstrar sua lealdade perante Roma. As cidades gregas, com seus ideais de autonomia e liberdade, teriam encontrado na classificação do governante em termos divinos um disfarçe para a novidade das monarquias, colocando o culto ao imperador no âmbito dos cultos tradicionais dos deuses.[4] Se em Roma a apoteose do imperador ocorria apenas após sua morte, no mundo grego, por outro lado, o impulso inicial do culto estava na figura do imperador reinante, que poderia ser chamado de theos (Deus) ainda em sua vida. Não houve ritual público no mundo grego para marcar o funeral de um imperador – que era um ritual importante em Roma – e em conseqüência, houve discrepância considerável entre a lista oficial de divi romanos e os destinatários dos cultos no Oriente grego.[4]

Referências

  1. Beard et al. “Religious of Rome vol.1”.
  2. a b Eck, Werner. “The Age of Augustus”.
  3. a b c Keeffe, Anne. “Augustus as Paterfamilias”.
  4. a b Price, Simon. “Rituals and Power. The Roman Imperial Cult in Asia Minor”.

Bibliografia

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  • BEARD, Mary, NORTH, John, PRICE, Simon. Religious of Rome vol.1. Cambridge University Press, 1996.
  • ECK, Werner. The Age of Augustus. Blackwell Publishing, 2007.
  • O'KEEFFE, Anne. Augustus as Paterfamilias. Universidade da Georgia, 2004.
  • PRICE, Simon. Rituals and Power. The Roman Imperial Cult in Asia Minor. Cambridge University Press, 1986.