Alcídio Abrão (São José da Bela Vista, São Paulo, 18 de Agosto de 1925São Paulo, 3 de Março de 2011), foi um químico brasileiro. Foi um dos primeiros pesquisadores do Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares (IPEN), e teve papel destacado na pesquisa de energia nuclear.

Carreira editar

Abrão formou-se em Química pela USP em 1951, instituição onde também obteve licenciatura em Química e especialização em Química Tecnológica Orgânica e Inorgânica pela escola Politécnica da USP.[1] Em 1971, tornou-se doutor em Ciências, com distinção, pelo Instituto de Química da USP, com a tese intitulada Estudo do Comportamento de Extração de Vários Elementos por Aminas de Cadeias Longas na Presença de Tioureia como Agente Complexante.[2]

De 1952 a 1957, trabalhou como pesquisador nas Indústrias Químicas Orquima S.A, atuando na produção, análise e processamento de terras raras e outros minerais, como óxido de európio para uso nuclear, bem como urânio yellowcake. No IPEN, trabalhou na Divisão de Radioquímica de 1957 a 1965; de 1965 a 1985, foi chefe do Centro de Engenharia Química, e Diretor de Materiais e Ciclo do Combustível entre 1985 e 1991.[1] O pesquisador manteve suas atividades no Centro de Química e Meio Ambiente do instituto até 2010, quando se afastou por motivos de saúde. Ele desenvolvia estudos para a área de células de combustível como coordenador de um projeto apoiado pelo CNPq para introduzir melhorias na obtenção de hidrogênio.

Membro de associações científicas nacionais, dentre elas a SBPC e a Associação Brasileira de Química, membro titular da Academia de Ciências do Estado de São Paulo, fundador da Sociedade Brasileira de Química (SBQ), da American Chemical Society e da American Nuclear Society (ANS)[3].

Realizações editar

Líder científico da equipe que dominou a tecnologia de fabricação do hexafluoreto de urânio.

Abrão foi um dos fundadores da pós-graduação do IPEN, tendo orientado a primeira tese defendida no programa, e diversos outros depois. Sua produção científica inclui mais de 180 trabalhos publicados, além de livros e capítulos de livros.[4]

Colaborou na elaboração da redação e acompanhamento de quinze processos de patentes relacionados aos trabalhos executados no Departamento de Engenharia Química do IPEN. Abrão assinou três patentes, relacionadas à obtenção de compostos de urânio de pureza nuclear via troca iônica; produção de tetrafluoreto de urânio por via aquosa; preparação do tricarbonato de amônio e uranilo (TCAU) por precipitação direta e contínua da fase orgânica da coluna de lavagem.

Recebeu homenagens e distinções de instituições no país e no exterior, entre elas o Diploma de Honra ao Mérito e a Medalha Carneiro Felipe, pela Comissão Nacional de Energia Nuclear; a Medalha Mérito Tamandaré, pelo Ministério da Marinha; e o diploma honor al merito universitário", pela Universidade Nacional de Assunção (Paraguai). Tornou-se em 1996 Comendador da Ordem Nacional do Mérito Científico - Área Tecnológica. Recebeu o prêmio Fritz Feigl, pelo Conselho Regional de Química em 1999. Em 2000, foi homenageado como Pesquisador Emérito do IPEN.[5]

Em entrevista para o jornal Órbita IPEN, em 2003,[1][5] Alcídio comentou sobre o desenvolvimento do ciclo do combustível nuclear:

Tudo começou pequeno e depois foi crescendo. Projetamos e construímos unidades para a produção de diversos compostos de urânio, necessários para o seu processo de enriquecimento isotópico. Fomos pioneiros no Brasil a desenvolver a complexa tecnologia do flúor, uma condição necessária para conseguirmos a tecnologia de fabricação do hexafluoreto de urânio. Repassamos toda esse conhecimento, essencial para o enriquecimento do urânio, para a Marinha. Geramos várias patentes. Pode-se escrever um belo livro sobre a historia do desenvolvimento científico e tecnológico feito no IPEN. Uma verdadeira epopéia.

Em sua homenagem, foi nomeado no IPEN o Auditório Alcídio Abrão.[5]

Referências

  1. a b c Avritscher, Waldemar (2011). «Alcídio Abrão». CRQ-IV. Consultado em 22 de setembro de 2020 
  2. Abrão, Alcídio (21 de agosto de 1971). «Estudo do comportamento de extração de vários elementos por aminas de cadeias longas na presença de tiouréia como agente complexante». Consultado em 22 de setembro de 2020 
  3. «Ciência brasileira perde Alcídio Abrão» (PDF). ABTS. 2011. Consultado em 22 de setembro de 2020 
  4. Bueno, Lilian (4 de março de 2011). «Boletim Eletrônico: Especial - Nota de Falecimento». PubliSBQ. SBQ. Consultado em 22 de setembro de 2020 
  5. a b c «Apresentação». IPEN. Consultado em 22 de setembro de 2020 

Ver também editar

Ligações Externas editar