Jesus curando o cego perto de Jericó

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Jesus curando o cego perto Jericó é um dos milagres de Jesus narrado nos três evangelhos sinóticos.(Marcos 10:46–52, Mateus 20:29–34 e Lucas 18:35–43) Segundo a tradição cristã, o milagre teria ocorrido quando Jesus passava perto de Jericó, antes da paixão.

Jesus curando o cego perto de Jericó.
Séc. XVII. Por Eustache Le Sueur, atualmente na Galeria Sanssouci, em Potsdam, na Alemanha.

Narrativa bíblica editar

O Evangelho de Marcos fala apenas de um homem chamado Bartimeu (literalmente "filho de Timeu") como estando presente quando Jesus deixava Jericó, tornando-o uma das poucas pessoas curadas por Jesus a quem é atribuído um nome.

«Chegaram a Jericó. Ao sair Jesus da cidade com seus discípulos e com uma grande multidão, estava sentado à beira da estrada um cego mendigo, chamado Bartimeu, filho de Timeu. Quando soube que era Jesus o Nazareno, começou a clamar: Jesus, filho de Davi, tem compaixão de mim! Muitos mandaram que se calasse, mas ele clamava ainda mais: Filho de Davi, tem compaixão de mim! Jesus parou e disse: Chamai-o. Chamaram o cego, dizendo-lhe: Tem ânimo; levanta-te, ele te chama. Lançando de si a sua capa, de um salto levantou-se e foi ter com Jesus. Perguntou-lhe Jesus: Que queres que eu te faça? Respondeu-lhe o cego: Mestre, que eu tenha vista. Disse-lhe Jesus: Vai, a tua fé te curou. No mesmo instante recebeu a vista, e o foi seguindo pela estrada.» (Marcos 10:46–52)

O Evangelho de Mateus tem um relato similar, com dois cegos nas imediações de Jericó, mas não nos dá nomes. No Evangelho de Lucas, também aparecem dois cegos de nome desconhecido, mas o evento ocorre quando Jesus estaria chegando à Jericó e não saindo:

«Saindo eles de Jericó, acompanhou a Jesus uma grande multidão. Dois cegos, sentados à beira do caminho, sabendo que Jesus passava, clamaram: Senhor, filho de Davi, tem compaixão de nós! A multidão mandou que se calassem, mas eles clamavam cada vez mais: Tem compaixão de nós, Senhor, filho de Davi! Jesus, parando, chamou-os, e perguntou-lhes: Que desejais que eu vos faça? Responderam: Senhor, que se nos abram os olhos. Jesus, condoído, tocou-lhes os olhos; no mesmo instante recuperaram a vista, e seguiram-no.» (Mateus 20:29–34)

Estes homens seriam a segunda cura de cegos na viagem de Jesus desde Betsaida (veja Jesus curando o cego de Betsaida) até Jerusalém, via Jericó.[1] É possível, mas não certo, que Bartimeu tenha ouvido sobre a primeira cura e, assim, sobre a reputação de Jesus.[2]

Filho de David editar

Vernon K. Robbins enfatiza que a cura do cego Bartimeu é a última das curas de Jesus em Marcos e tem uma função de transição, pois liga o ministério de Jesus sobre o sofrimento, morte e ressurreição do Filho do Homem em Marcos 8-10 com as atividades de Jesus, já como "Filho de David", em Jerusalém.[3][4] Ele afirma que esta perícopa também é o clímax da tradição de curas milagrosas em Marcos, pois trata-se de uma história que sublinha a ênfase de Marcos na incapacidade dos discípulos de compreenderem o messianismo de Jesus (sua "cegueira") com a necessidade de seguir Jesus até Jerusalém, onde ele personifica o rei sofredor-mártir num formato que o torna palatável para os gentios como Filho de Deus.[5]

Paula Fredriksen, que acredita que títulos como "Filho de David" foram aplicados a Jesus apenas após a crucificação e ressurreição, argumenta que Marcos e Mateus colocaram esta cura juntamente com a proclamação de "Filho de David" imediatamente antes da "partida para Jerusalém, o já há muito profetizado local de seus sofrimentos".[6] O título "Filho de David" é messiânico[1][7] e, assim, a exclamação de Bartimeu foi, de acordo com Marcos, o primeiro reconhecimento "público" do Cristo após a Confissão de Pedro, privada.

Bartimeu editar

São Bartimeu
 
Jesus curando o cego perto de Jericó
Ícone búlgaro retratando o encontro de Jesus com o cego Bartimeu, pertencente a comunidade ortodoxa de Brashlyan, c. século XIX
Discípulo
Nascimento século I a.C.
Provavelmente em Jericó
Morte século I
Progenitores Pai: Timeu
Veneração por Igreja Ortodoxa
Festa litúrgica Sexto domingo após a Páscoa
  Portal dos Santos

Sabemos que o nome "Bartimeu" é raro por diversos motivos. Primeiro, por alguém curado por Jesus ter sido nomeado. Segundo, por ser um estranho híbrido semita-grego com uma tradução explícita ("filho de Timeu"). Alguns estudiosos vêem nisto uma confirmação de que se trata de uma figura histórica[8], enquanto que outros vêem um significado especial nesta história por ser, hipoteticamente, uma referência figurativa à obra "Timeu", de Platão, que traz os principais discursos cosmológicos e teológicos do filósofo e que trata da "visão" como origem de todo o conhecimento.[9]

De acordo com Bruce Robinson, um padre episcopal, Bartimeu pode ser comparado com vantagens aos apóstolos e outros na história de Marcos, por ser diferente deles:

Ele primeiro chama conforme o grupo passa e, quando Jesus pergunta o que ele quer, ele vai direto ao assunto. Sem barganhas sobre posição ou status, como Tiago e João. Sem questões legais complicadas, como os fariseus. Sem jogar com o público, como o jovem rico - que queria ter certeza de que todos soubessem que ele guardava os mandamentos desde jovem. Bartimeu não estava tentando impressionar ninguém, não estava buscando uma medalha de ouro por seus atos. Não queria ser o maior no vindouro Reino dos Céus e nem se sentar à direita de Jesus em sua glória
 
The Rev. Bruce Robison[10].

Ao atirar fora seu manto em Marcos 10:46–52, Bartimeu abriu mão de tudo o que possuía para seguir Jesus.[1][2][7]

O papa Bento XVI já comparou a Igreja Católica ao cego Bartimeu.[11] A Igreja Ortodoxa lhe dedica na liturgia como memória o sexto domingo após a Páscoa.[12][13]

Referências

  1. a b c "Reflections: The blind Bartimaeus: Mark 10:46-52," October 24, 2009, The Manila Bulletin, The Manila Bulletin website, citing365 Days with the Lord, (St. Paul's, Makati City, Philippines) from St. Paul's website (dead link)[ligação inativa]. Accessed October 28, 2009.
  2. a b Phyllis Kersten, "What Bartimaeus wanted: Mark 10:46-52," Christian Century, October 20, 2009, found at Christian Century website. Accessed October 28, 2009.
  3. Jesus the Teacher: A Socio-Rhetorical Interpretation of Mark by Vernon K. Robbins 2009, ISBN 978-0-8006-2595-5 41-43.
  4. Vernon K. Robbins, “The Healing of the Blind Bartimaeus (10:46-52) in the Marcan Theology,” Journal of Biblical Literature 92 (1973), 224-243 [1]
  5. Vernon K. Robbins, "The Reversed Contextualization of Psalm 22 in the Markan Crucifixion: A Socio-Rhetorical Analysis" [2] (1992)
  6. Fredriksen, From Jesus to Christ, p. 181.
  7. a b Barrie Wetherill, "Jesus cures blind Bartimaeus," from The Life of Jesus Christ, found at easy English Bible study. Accessed October 28, 2009.
  8. Vincent Taylor. The Gospel according to St. Mark. 1966 St. Martin's Press Inc. p 448.
  9. Mary Ann Tolbert, Sowing the Gospel: Mark's World in Literary-Historical Perspective 1996, Fortress Press. p189.
  10. Bruce Robison, "Sermon, Sunday, October 25, 2009, Twenty-First after Pentecost, 2009, on Mark 10: 46-52 (RCL Proper 25B)," found at The Rector's Page. Accessed October 28, 2009.
  11. "Pontiff Urges African Church to Have Courage," October 25, 2009, from ZENIT's Web page Arquivado em 16 de março de 2012, no Wayback Machine., found at catholic.net website. Access October 28, 2009.
  12. Greek Orthodox Patriarchate of Alexandria & All Africa (9 de junho de 2013). «6th Sunday of Pascha». VDocuments (em inglês). Consultado em 22 de março de 2024 
  13. Ukranian Catholic Eparchy of Edmonton. «Sixth Sunday of Pascha: Sunday of the Man Born Blind» (em inglês). Consultado em 22 de março de 2024 

Ver também editar

Bibliografia editar

Ligações externas editar