Bicho-papão

ser mitológico
 Nota: Este artigo é sobre a figura mitológica. Para o jogo das crianças, veja Bicho-papão (jogo).
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O bicho-papão, bitu, papa-gente, papão, bebe papão, papa-figo, tutu, manjaléu, Coca ou mumuca[1] é um ser imaginário das mitologias infantis portuguesa e brasileira, estando também presente no resto da Península Ibérica, como na Galiza, na Catalunha e nas Astúrias.[2] O bicho-papão é a personificação do medo. É um ser mutante que pode assumir qualquer forma; é um ser ou animal frequentemente de aspecto monstruoso comedor de crianças, um papa-meninos. Está sempre à espreita e é atraído por crianças desobedientes.[3]

Que viene el Coco ("Que venha o bicho-papão/O bicho-papão está vindo") de Francisco de Goya, c. 1797.

O bicho-papão, tal como outros seres míticos como o homem do saco, sarronco ou a coca, é usado pelos pais para assustar e impedir que as crianças desobedeçam. Todas as suas representações estão associadas ao mal que pode ocorrer às crianças caso se afastem ou contrariem os pais; a expressão "porta-te bem senão vem o bicho-papão" induzia, assim, o respeito das crianças às ordens dos pais. Na Galiza, é um ser gigantesco,[4] mas pode também ser um trasgo ou duende. Mas, qualquer que seja a sua representação, o seu nome, que deriva do termo de conotação infantil "papar", revela a sua principal função: devorar crianças.

C. Cabral refere que, na Espanha, o papão tem um tamanho gigantesco, boca enorme, olhos de fogo e estômago de forno ardente.[5] Em Portugal, o papão é tema de uma antiga cantiga de embalar:

"Vai-te papão, vai-te embora
de cima desse telhado,
deixa dormir o menino
um soninho descansado."

No Brasil, há a seguinte variação dessa canção:

"Bicho papão,
sai de cima do telhado
deixe esse menino
dormir sossegado."

Etimologia editar

O nome "Papão" vem da expressão "papar", que tem o sentido de "comer", "devorar", pelo fato da principal característica atribuída ao monstro em geral ser a de comer criancinhas. O mesmo sentido tem a expressão "manjar", que deve ter originado o nome "manjaléu", provavelmente a partir de uma alteração de "manja-léguas", que possui a ideia de "veloz", "rápido".[6] "Tutu" é procedente do quimbundo kitu'tu.[7] "Boitatá" é oriundo do tupi mba'ê, coisa + ta'ta, fogo, com influência de mbói, cobra.[8] "Mumuca" possui provável origem indígena.[9] Já "coco" e "cuca" são expressões populares usada para denominar várias bestas lendárias nas culturas latino-americana e ibérica.

Ver também editar

Referências

  1. FERREIRA, A. B. H. Novo dicionário da língua portuguesa. 2ª edição. Rio de Janeiro. Nova Fronteira. 1986. p. 1 260.
  2. A Enciclopédia Dos Pesadelos pg 74
  3. Nuno Matos Valente, Bestiário Tradicional Português, 2016, Edições Escafandro, pp 14
  4. Diccionario enciclopédico gallego-castellano pg83
  5. Seres míticos y personajes fantásticos españoles pg 48
  6. FERREIRA, A. B. H. Novo dicionário da língua portuguesa. 2ª edição. Rio de Janeiro. Nova Fronteira. 1986. p. 1 082.
  7. FERREIRA, A. B. H. Novo dicionário da língua portuguesa. 2ª edição. Rio de Janeiro. Nova Fronteira. 1986. p. 1 729.
  8. FERREIRA, A. B. H. Novo dicionário da língua portuguesa. 2ª edição. Rio de Janeiro. Nova Fronteira. 1986. p. 269.
  9. FERREIRA, A. B. H. Novo dicionário da língua portuguesa. 2ª edição. Rio de Janeiro. Nova Fronteira. 1986. p. 1 170.

Ligações externas editar

 
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