Billy Gammon

missionária brasileira

Willie Humphreys Gammon, também conhecida como Billy Gammon (Lavras, 1 de julho de 191625 de setembro de 1974) foi uma professora e missionária brasileira da Igreja Presbiteriana.

Willie Humphreys Gammon
Conhecido(a) por inovou o ensino religioso presbiteriano pelo qual foi denunciada na Ditadura
Nascimento 1 de julho de 1916
Lavras, Minas Gerais, Brasil
Morte 25 de setembro de 1974 (58 anos)
Brasília, Brasil
Nacionalidade brasileira
Alma mater
Instituições Universidade de Brasília

Desenvolveu vários trabalhos de alfabetização de adultos, conscientização da juventude e atuou contra a ditadura militar brasileira. Abrigou estudantes e líderes que eram perseguidos, presos e torturados pelo regime em seu apartamento, tentando obter apoio de pessoas influentes para libertar presos políticos. Sua atuação acabou desagradando líderes conservadores da igreja que acabaram por denunciá-la aos militares.[1]

Biografia editar

Billy nasceu na cidade mineira de Lavras, em 1916. Era filha de Samuel Rhea Gammon, arquiteto, e Clara Gennet Moore Gammon, missionários cristãos norte-americanos.[2] Estudou na Escola Carlota Kemper e cursou o ensino médio no Instituto Presbiteriano Gammon, fundado por seu pai.[1][2] O casal de missionários também fundou a ESAL, escola de agricultura que deu origem à Universidade Federal de Lavras.[3]

Viajando para os Estados Unidos, Billy ingressou no St. Andrews Presbyterian College, na Carolina do Norte, onde concluiu o bacharelado em Letras. Em 1940, defendeu seu mestrado em educação pela Drew University, em Nova Jérsei, com a dissertação Contribuição dos colégios evangélicos para o desenvolvimento da educação no Brasil. Em 1971, defendeu seu segundo mestrado, em literatura norte-americana, pela Universidade da Virginia, com a dissertação The Brazilian poetry of Elizabeth Bishop — the growth of sympathy.[1][3]

Pelas Universidade de Cambridge (1966), Universidade de São Paulo (1972) e Universidade de Brasília (1973), fez especialização em língua inglesa e pela Universidade de Nova Iorque (1939) e pelo Instituto Ecumênico da Faculdade de Teologia da Universidade de Genebra, (1961) especializou-se em teologia.[1] Foi professora de inglês, dança e sapateado no Instituto Gammon. Entre 1965 e 1968 lecionou Língua Inglesa na Universidade de Brasília (UnB), da qual assumiu a cadeira da disciplina e de literatura inglesa e norte-americana.[3]

Criada na Igreja Presbiteriana, desenvolveu trabalhos, em especial com a juventude, de 1946 a 1960. Foi secretária-geral da mocidade presbiteriana do Brasil entre 1946 e 1958, onde era responsável pelo planejamento, programação e orientação do trabalho da juventude presbiteriana no país. Entre 1958 e 1960 trabalhou no Departamento da Mocidade da Confederação Evangélica do Brasil, tendo um trabalho semelhante ao anterior. Participou de vários congressos e simpósios, encontros e eventos no Brasil e no exterior, publicando artigos sobre o trabalho com a juventude cristã, além de ser editora da Revista da Mocidade e Brasil Presbiteriano.[3]

Ditadura editar

Billie trabalhava com a juventude presbiteriana de maneira que desagradava aos líderes conservadores. Ensinava dança, o que era considerado "pecado" por outras denominações. Sua gestão democrática do ensino incentivava os jovens a estudarem a bíblia por si, de maneira contextualizada com a sociedade e se reunirem em retiros e assembleias, inclusive de estudantes. Ainda na década de 50, ajudou os jovens a criarem seu próprio jornal, o Mocidade, que se tornaria um órgão oficial da Mocidade Presbiteriana.[2][3]

O envolvimento com os jovens a levou a se envolver também com a luta contra a ditadura e à repressão. Em artigos publicados no Mocidade, os jovens criticavam a igreja e a estrutura eclesiástica presbiteriana. Os líderes da igreja acreditavam que Billy estava contaminando a juventude com pensamentos modernistas, mundanos e comunistas e após 14 anos de circulação irrestrita, o jornal foi proibido, a diretoria exonerada e Billy banida de qualquer outra função dentro da Igreja Presbiteriana.[1][3]

Mudando-se para Brasília, ingressou como professora de Ciências Sociais na UnB, onde ajudou a organizar o ensino e o currículo da universidade. Envolveu-se com os movimentos estudantis, como a UNE e a Aliança Bíblica Universitária do Brasil (ABUB), mas foi criticada por essa última por levar militantes contra ditadura para as rodas de estudo bíblico e por analisar a situação política brasileira nos encontros. Com o golpe militar de 1964, a pressão sobre os professores de esquerda da universidade aumentaram e ela acabou demitida da UnB.[1][3]

Fora da UnB, continuou lecionando, apoiando movimentos estudantis contra o regime e abrigando perseguidos pelos militares em sua casa. Trabalhou em cursos de alfabetização, abrigando pobres e necessitados, frequentando a igreja presbiteriana mesmo depois de banida da instituição.[1][3]

Morte editar

Billy foi vítima de um atropelamento em Brasília e foi encontrada no chão, próxima à uma padaria, gravemente ferida. Ela morreu no Hospital de Base do Distrito Federal, em 25 de setembro de 1974, aos 58 anos, depois de dois dias internada para tratamento e cirurgia. Billy foi sepultada em Lavras, no Cemitério São Miguel, no túmulo da família. Sua família e amigos nunca aceitaram a teoria de um acidente e pressionaram as autoridades a investigar o atropelamento como um homicídio.[1][3]

Ver também editar

Referências

  1. a b c d e f g h «Billy Gammon» (PDF). Koinonia. Consultado em 28 de janeiro de 2020 
  2. a b c Alderi S. Matos (ed.). «Para Memória Sua: A participação da mulher nos primórdios do Presbiterianismo no Brasil» (PDF). Fides Reformata. Consultado em 28 de janeiro de 2020 
  3. a b c d e f g h i Elinete Wanderley Paes Miller (2006). «Willie Humphreys "Billy" Gammon (1916-1974)». In: Rudolf von Sinner; Elias Wolff; Carlos G. Bock. Vidas ecumênicas: testemunhas do ecumenismo no Brasil. São Paulo: Sinodal. p. 195. ISBN 978-85-316-0189-7